Comentários em Inferno

teratomaquia

13/09/2020 às 11:35 • Inferno
A trama da história é bem interessante. A escrita não é ruim, mas muitas vírgulas estão no lugar errado, ou então substituindo pontos. Uma revisão tonaria o estilo mais agradável e apropriado ao tom da história.

Eu não consegui me conectar com os personagens. Aqui eles não parecem protagonistas, mas alguns arquétipos que foram colocados para preencher o vazio. Eles não são desenvolvidos, não existe uma história ao redor deles, algo que os faça ter substância. Eles parecem usados pela trama e é isso.

Achei as trechos com Luna um tanto machistas. Pela atitude dela, não faz sentido "inferno" dela ser o que é essencialmente libertação sexual. Na tradição cristã até é possível isso ser um pecado, mas em pleno 2020, numa história cuja única menção religiosa é um artifício para a trama andar, isso acaba sendo forçado e machista. Todas as mulheres que aparecem no conto são sexualizadas, até mesmo o cadáver. Isso me incomoda, mas não da maneira que o conto quer que me incomode, o incômodo do horror, do gore; é o incômodo de misoginia. O conto parece ter algum tempero do "ero guro", mas isso não foi bem utilizado porque, apesar do "inferno" das personagens, todas as mulheres ainda são idealizadas: todas são atraentes; Luna é descrita como "voluptuosa" e Yumi, apesar de ter uma figura "infantil", também é descrita como atraente; a garota-cadáver também. O fato de ela não ter nome, aliás, também é incômodo: isso tira a humanidade dela e a reduz a apenas um corpo.

Outra coisa que me chamou atenção foi o processo de análise dos negativos. Se entendi bem, o filme foi tirado da câmera e colocado direto em máquina. Isso não é verossímil porque o filme ao sair da máquina queimaria. Mesmo com o avanço tecnológico, nos dias de hoje não existe jeito de revelar filme analógico sem químicos. Faria sentido se o detetive dissesse que o filme passou por um processo de relevação, e então ser colocado na máquina.

As referências literárias me agradaram, mas em alguns momentos elas começaram a pesar. A reflexão que Cornelius faz sobre Sartre ficou um pouco mal direcionada, especialmente no contexto sobrenatural da história. Também achei a enucleação um pouco forçada; ficaria mais verossímil se Yumi tivesse cravado algum objeto nos olhos. O epílogo também não me agradou, mas provavelmente é por conta das mulheres usadas como objeto outra vez.

No mais, a história teve sutilezas agradáveis e o clima foi bem construído.