Senão o caos, o que mais pode ser capaz de sustentar o homem ao longo da vida? Eu gosto de pensar que as dicotomias não são reais, e que a beleza é só mais uma criação da qual o animal de duas pernas foi treinado para precisar, não seria maravilhoso, grande? Livre. E ao sofrer para fazer brotar beleza e poesia (esta que, por favor, existe independente de beleza) no caos e desespero, é quase um ato de covardia, é quase não conseguir existir fora da bolha de vidro, é reduzir a agonia a algo tão menor que ela. Somos treinados. A beleza não é mais que o caos, e o caos não precisa dela para ser quente, carente e sedutor. O caos puro e sem gelo não sustenta: mata, e a culpa nem dele é. Treinados. Pequenos.
Gosto da (des)ilusão-Marcelly, e gosto da tua forma ácida e sincera de brincar - brincar parece errado, melhor seria "arriscar", "harmonizar acidentalmente", "oscilar" - com as palavras, mantendo essa sobriedade engasgada e dolorida (mas que lhe serve de alguma coisa no final). Apoiar-se em transtornos faz ver a fragilidade do ser e metamorfosear essa fragilidade em alimento é um combate melindroso, sinto que devo agradecer por não me fazer duvidar sequer um instante da inquietação desordenada de Heráclito (ótimo nome, aliás).
Obrigada também por forçar a minha empatia.

Com carinho,

Yulia.

Resposta do Autor [Agony]: Grata pelo comentário.