Quando foi a última vez que eu vi Sebastian eu não lembro. Ou minha avó, ou minha mãe. Ninguém. Nada. Não me restara nada.

A não ser o pequeno que esta crescendo em meu ventre. Eu não reclamo, eu não julgo nada, nem o que aconteceu. Eu quis, eu aceitei, é meu destino. Tenho que ser paciente. Sei que tudo tem uma explicação. Que tudo vai se acertar da melhor forma possível, e que tudo tem seus motivos para acontecer. Eu não posso mudar as coisas que já estavam escritas assim para serem realizadas. Somente aceitar.

Aprendi uma coisa depois do que aconteceu dos altos e baixos da vida, apesar de serem mais baixos do que altos. Aprendi, que não basta você querer um coisa, ou rezar por ela, você tem que correr atrás, ir em busca de algo que te faça alcançar mais e mais seus objetivos. Aprendi então que, para que eu seja feliz eu tenho que ir atrás dessa felicidade. E é isso que eu estou fazendo. Ou tentando, pelo menos.

Ao passarem três meses que estou na casa de Alan, que ele mentira para a mãe dele dizendo que este bebê que estou esperando é dele, a vida meio que tomou outro caminho para seguir.

Descobri que mesmo que não apareça ninguém, eu posso senti-los me observando de alguma maneira. Guinando-me da melhor forma possível ao próximo caminho trilhar. O mais curto, porém, cheio de obstáculos. O primeiro foi: onde eu moraria afinal?

– Vic, qual o problema de você ficar aqui? - perguntou Alan, vendo-me decidida a sair da casa dele.

– Estou aqui há muito tempo Alan, preciso seguir o caminho que estão impondo para mim.

– Quem Victoria? Quem está impondo que caminho para você?

– Eles. - falei-lhe cheia de fé e esperança que não tenha sido deixada para trás.

– Vic, eles se foram. Você não os vê. Você nem tem sonhado com eles.

– É isso que eu não entendo Alan. Por que todos sumiram assim? Nem mesmo um fantasma? O que será que aconteceu comigo?

– Não aconteceu nada com você. É só mais um mistério que você tem que desvendar. E pra você isso é fácil.

– Não dessa vez. - parei de arrumar minha bolsa e fechei meus olhos, suspirando.

– Você quer mesmo ir?

– É preciso.

– Você confia nele? – perguntou ele.

– Sim. Tem algo nele que irradia confiança. E eu sei que eu posso confiar nele de todo o coração.

– Não suma também, por favor. - pediu-me ele. O olhei cheia de rancor por ter que sair de sua casa, deixá-lo, mesmo sabendo que estarei a poucas horas dele. Fui até Alan e o abracei forte. Sentindo seu cheiro, a lembrança, que eu teria em momentos difíceis, dele. Ouvi uma buzina lá fora e afastando-me de Alan, peguei minha bolsa e sai com ele de casa. A mãe dele nem Andy estavam em casa, seria duro me despedir deles também.

– Agradeça a sua mãe por tudo. E diga a ela, que o netinho estará em boas mãos. - sorri. Alan acariciou meu rosto, e aproximando-se me beijou os lábios. Nosso primeiro e último beijo. Julian saiu do carro e veio até nós, pegando minha bolsa e a colocando na parte de trás do carro. Sei que pode parecer confuso, mas, depois de tudo, da morte da minha mãe, minha depressão, minha angustia, minha gravidez, Julian havia se tornado mais do que meu medico, havia se tornado meu amigo, um pai que eu nunca tive.

Sabendo que eu morava na casa de um amigo, que supostamente é o pai do bebê que carrego, Julian se viu integrado em minha vida como mais um anjo que aparece para me tirar das profundezas da escuridão, me levando em seus braços ate a superfície de um mar revolto, dando-me oxigênio para voltar a respirar. Dando-me a luz.

Entrei no carro de Julian, me despedi de Alan em um aceno e ele partiu com o carro. Olhei para trás, vendo mais um amor partir. Mas sei que este não desaparecerá. Sei que este não vagará eternamente, deixando-me ao léu, sozinha e machucada. Alan pode ser tudo, mas, nunca foi de partir corações. E ele, seria meu futuro. Sei disso.

– Espero que não esteja arrependida. - disse Julian tirando-me de meus pensamentos.

– Não, não estou. Sei que é o melhor a ser feito.

– Você vai entender tudo com certo tempo. Explicarei tudo.

– Você é algum tipo de Salvador?

– Estou mais para Professor. Tem muitas coisas que você tem que aprender Victoria. Não é só o fato de você poder ver fantasmas que estará tudo bem, agora que você está grávida, muitas coisas irão decorrer na sua vida, transformando-a.

– Eu tive um sonho. Vi minha vó, minha mãe, meu pai e Sebastian. Eles disseram que meu bebê terá todo meu dom, que eu não poderei mais vê-los, e que ele terá algo a mais.

– Sim. Eles estão certos. Mas não se preocupe, eu vou guiá-la no caminho certo, e seu bebê não sairá prejudicado.

– Me diga, o que você é?

– Eu sou seu amigo. Eu sou seu irmão. Eu sou seu pai. Eu sou a luz. Eu sou a escuridão. Eu posso ser muita coisa Victoria, mas entrei em seu caminho para levá-la a um só lugar. - ele me fitou, acelerando com o carro.

– Para onde?

– Para a luz.