Park of the Dead escrita por Lerd


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Enjoy ;)



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Os passos rápidos e incertos na lama faziam o coração de Nina bater mais forte. A cada novo fôlego tomado, a certeza cada vez mais latente da morte certa. Mas a mulher não se detinha. Corria como uma onça, sem nem ao menos se preocupar em tirar os fios de cabelo molhados de seu rosto. A visão começava a ficar turva, mas Nina não desistiria: tinha uma certeza, uma certeza muito maior que tudo. A certeza de que carregava, ali, em seus braços, a ruína total e iminente de toda a humanidade. Perdida em devaneios megalomaníacos e tendenciosos, ela só queria escapar ilesa com sua mais recente descoberta.

Atrás da desvairada fugitiva, doze ou treze homens armados corriam, com as fardas molhadas pela chuva incessante. Tinham um arsenal poderoso em suas mãos, mas, sobretudo, uma ordem: não matar Nina. Ainda. Queriam-na viva, para, quem sabe, a tortura. A única ressalva que permitiria a morte da mulher era a proteção do que ela tinha em mãos. Se os homens percebessem que, caso não a matassem, ela escaparia, deveriam fazê-lo. Mas todos os orgulhosos e sagazes militares sabiam que, no fundo, ela era só uma fraca e delirante fêmea, cercada por uma duzia de machos ferozes e famintos.

Nina sentia que não conseguiria correr mais. Ela estava correndo assim há vários minutos: fugira do complexo laboratorial e passara por uma densa e escura floresta que cercava o local. Floresta essa que, via a mulher, estava perto do fim. Uma luz fraca à frente indicava que a rodovia estava próxima.

Ao sair da floresta, a mulher percebeu que, no meio da rodovia, havia um corpo. Uma mulher, ensaguentada estirada no chão. Em cima dela, tentando em vão ampará-la, estava um homem de meia idade que suava nervosamente. A situação formou-se facilmente no quase brilhante cérebro de Nina: um simples atropelamento. O carro do homem estava estacionado ao lado, com um pequeno amassado.

A mulher não pensou duas vezes: correu, passando friamente pelo homem nervoso e entrou em seu carro. Em meio a protestos e socos na janela, Nina deu a partida, deixando para trás os machos ferozes que, ao ver o veículo se distanciando, atiravam freneticamente. A fêmea abaixou-se no banco até sentir que estava a uma distância segura das balas. Havia uma expressão de alívio quando Nina dobrou a curva que a separava da liberdade.

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Tiros no pneu, simples. O carro de Nina parou, incapaz de continuar andando com dois pneus completamente murchos. A mulher não deu tempo ao azar: saiu abruptamente do carro, sem nem ao menos fechar a porta. Abraçada a maleta prateada, seguiu a esmo. Observou que, há apenas alguns metros de onde estava, havia uma placa: Park of the dead. A placa, brilhante, era a indicação de um parque temático dedicado a zumbis. Irônico. De onde estava Nina conseguia ver os trilhos do ponto mais alto de uma montanha-russa e, mais ao longe, o topo de uma roda gigante. Todo o resto do parque era encoberto por uma fachada: uma versão aterrorizante (embora quase tão imponente quanto) do castelo de Magic Kingdom, um dos parques temáticos de Walt Disney.

Nina se mantinha absorta em pensamentos, lembranças e devaneios. O castelo, em tons negros e propositalmente com um aspecto sombrio, parecia ser a fuga perfeita para a garota. Ela se esconderia dentro do parque até que os machos que a perseguiam se acalmassem.

Correu para dentro do castelo, atravessando um longo e sofisticado tapete vermelho. Era noite e haviam várias pessoas por ali: a maioria turistas, visto que estavam todos com câmeras penduradas em seus pescoços. Crianças corriam de um lado para o outro e alguns atores cambaleavam e grunhiam, assustando os visitantes. A fila para entrar no parque, ironicamente, estava pequena. A maior parte das pessoas já estavam ali dentro: afinal, a noite já estava em sua metade. O calor era atordoante, e Nina sentiu que desmaiaria.

Correu ao guichê, onde uma atendente ruiva e cheia de sardas a esperava com um sorriso plastificado. Nina desembolsou oito notas de cem dólares e a atendente lhe devolveu uma. Nina sorriu, de canto de boca, cansada: o parque devia ser mesmo muito bom.

A fêmea instintivamente olhou para trás e viu dois homens despreocupadamente olhando para todos os lados. Eram eles. Mais machos. Esses, disfarçados de gente civilizada. Nina correu até a entrada e entregou o ingresso pomposo ao responsável: um garoto que não devia ter mais de dezoito anos. O coitado vestia uma espécie de farda vermelha ridícula que lhe conferia um ar teatral curioso.

—Seu kit de sobrevivência, milady.

Nina olhou para o que o rapaz segurava: uma mochila preta presa a uma espingarda de metal. Pegou os objetos, perguntando:

—Balas do quê?

O garoto pareceu não entender. Nina apontou para a arma.

—Sem balas, milady. Mas essa arma, ao entrar em contato com qualquer um dos mortos-vivos do parque, aumentará seu contador aqui —O rapaz apontou para um pequeno visor preso a espingarda —Com duzentos no contador, ganhará um prêmio.

Nina sorriu de canto de rosto. Abriu a mochila e encontrou alguns apetrechos: uma lanterna, uma bússola, um mapa, uma réplica de uma pistola, um espelho e um walk talk. A garota deu as costas para o recepcionista e entrou, ainda colocando a mochila nas costas. Em sua mão direita carregava a maleta prateada e a espingarda; já na esquerda, uma bolsa vermelha.

Dentro do parque, Nina seguiu calmamente, procurando se infiltrar na multidão sem ser percebida. Se aproximou de uma lata de lixo e jogou seu blazer preto dentro deste. Abriu a bolsa vermelha que carregava junto a maleta prateada e retirou um pente. Penteou rapidamente seus cabelos molhados, procurando esconder seu rosto. Os machos infiltrados já haviam entrado e passeavam tranquilamente pelo parque.

Após estar recomposta, Nina abriu a maleta prateada. Olhou ao redor, procurando se certificar que nenhum dos machos estava por ali. Retirou de dentro da maleta todos os três frascos e jogou dois em sua bolsa. O outro ela colocou no bolso de seu jeans. Após isso jogou a maleta em cima de seu blazer, no lixo.

Andava calmamente quando alguém a segurou pelo braço, sussurrando:

—Continue andando calmamente e não tenha nenhuma reação brusca. - Sugeriu ele.

Nina sentiu o metal frio encostando em suas costas, passando através do fino pano de sua camisa de seda. Uma arma.

—Eu sei que vocês vão me matar. Não tenho nada a perder. Vou gritar.

O homem riu nervosamente, dizendo ao ouvido de Nina:

—Isso é o que você pensa. Sabe, você pode nem lembrar, mas... Nós sabemos de alguém que poderia se ferir gravemente se você tentasse algo. Alguém que, embora você não pareça amar, importa-se com. Não gostaria de vê-lo mal, gostaria?

—Meu filho não! Seus filhos da puta...!

Nina tinha os olhos mareados. Como eles haviam descoberto que ela tinha um filho? O garoto morava longe, com a avó materna. Com a família. A família que Nina se abstinha de ter.

—Você só precisa entregar os frascos e vir conosco. Ninguém mais além de você precisa se ferir aqui.

A mulher não tinha alternativa. Murmurou consigo mesma, inaudivelmente:

—Guto, Guto, Guto... Meu amor... A mamãe te ama tanto...

Nina então, surpreendentemente, deu uma cotovelada na barriga do macho, que, distraído, deixou-a escapar. Nina começou a correr desesperadamente, seguida pelo homem. Aos poucos ele se aproximava, e, num determinado momento, a fêmea sentiu a respiração quente de seu caçador. Virou-se, sem parar, e jogou a mochila preta contra o homem. Um leve atraso. Jogou a espingarda, procurando acertar seu rosto, mas em vão.

—Você não vai conseguir escapar... - Ela podia ouví-lo dizer claramente.

Sem alternativa, Nina então jogou a mochila vermelha no chão. O homem pouco importou-se, continuando a persegui-la.

—Os frascos estão lá dentro. - Disse ela.

—Acha que eu acredito? - Perguntou ele, ofegante.

—Não tenho mais nada em mãos. Tudo o que eu tinha eu já joguei.

—Porra! - Gritou ele, parando.

Nina não ligou e continuou a correr. De repente sentiu algo quente entrando em contato com sua pele. As suas costas começaram a pegar fogo, a arder por dentro. Uma dor lancinante, e a mulher sentiu que iria morrer. Um tiro certeiro e silencioso.

Mas ela não parou. Continuou a corrida, ofegante. Pensou em pedir ajuda. Centenas de pessoas passavam a seu lado, distraídas, pouco se importando com sua presença sangrenta. Num flash de luzes, cheiros e sensações turvas, Nina caiu. Abriu os olhos. Estada deitada num ponto praticamente isolado do parque. À sua frente haviam duas portas. Os sanitários. Levantou-se com dificuldade e entrou no feminino. Bons modos.

Não havia ninguém lá dentro. O banheiro era todo pintado de preto, com lajotas pretas no chão. As paredes tinham manchas vermelhas com formatos de mãos, tentando fielmente reproduzir a imagem de manchas de sangue. Nina empurrou a porta de uma das cabines e entrou. Sentou no vaso sanitário e começou a chorar. As lágrimas saíam com facilidade, jorrando. Tocou as costas com a ponta dos dedos e sentiu a dor. Olhou suas mãos e as viu completamente rubras. Sentiu que estava morrendo...

Retirou o frasco do bolso. O líquido azul brilhava sob a luz fraca do banheiro. Aquela seria sua salvação. Sua chance. Ela precisa injetar aquilo em si própria. Para não morrer. Não tão rápido, pelo menos. Mas... Como? Ela nem ao menos tinha uma seringa para injetar em si própria. Não adiantava, Nina iria morrer de qualquer forma.

—Via oral. - Murmurou consigo mesma.

Sem pestanejar Nina abriu o frasco e bebeu seu líquido. Sentiu a garganta em chamas, o batimento se acelerando. Sentiu cada célula do seu corpo explodir em pulsos fortes e imprudentes. A pele ardia ao menor toque, e os olhos começavam a lacrimejar. Nina gritava, berrava. Tentava, em vão, se livrar da dor. Mas não foi suficiente. A força que repuxava seu corpo para todos os lados se intensificou, aumentando o martírio. Nina sentiu que estava morrendo. Depois não sentiu mais nada.


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