Por trás da dor, eu escutei vozes. Eu sabia que podia reconhecê-las, mas não queria. Eu queria apenas que aquela dor parasse. A queimação em minhas veias era tão forte, tão louca, que eu mal conseguia lembrar quem eu era. Eu mal conseguia respirar sem gritar. Eu queria apenas que me matassem logo e acabassem com toda aquela dor. Por que estavam me torturando daquele jeito? Por que não me deixavam morrer? 

 Depois de um tempo interminável, a queimação começou a sumir nas extremidades do meu corpo. Ela agora se concentrava completamente no meu coração, onde o fogo parecia ter ganhado força. Meu peito queimava tanto agora que eu nem sabia mais se estava sentindo dor. Aquela nova sensação estava tão acima da dor que eu conhecia que não podia nem mesmo dizer o que era. Eu não conseguia mais gritar, não conseguia reagir. Meu coração acelerou até parar, batida por batida, e eu achei que estivesse morta.

 Contra todas as minhas expectativas, meus olhos se abriram, visualizando a cena ao meu redor.

 Eu podia ver tudo. Cada partícula de poeira no ar, cada raio de sol. Tudo que me cercava se transformara em um espelho: uma porta para o desconhecido, mas também para algo que parecia mais interessante e vivo do que eu me sentira nas últimas horas. Ou dias.

 No meu colo, havia outro tipo de espelho, e desse eu tinha medo. Depois de toda aquela dor, eu nem poderia esperar ser como era antes. Meu rosto estaria arruinado pelo fogo, com certeza. Eu estaria destruída. Eu não seria mais Rosalie Hale. Eu não seria ninguém.

 Peguei o pequeno objeto entre minhas mãos e contemplei meu rosto. A mulher no espelho era ainda mais linda que aquela que eu conhecia, a pele branca e lisa como mármore, e os cabelos lisos e loiros como ouro. O corpo era longilíneo, e parecia leve demais, gracioso demais. Mas, onde estava o fogo? Eu sentira ele me queimando. Eu me lembrava de cada chama que havia passado por mim, em cada pedaço do meu corpo, destruindo tudo o que via. Então, por que eu parecia... inteira? E não só inteira, mas linda? Mais linda que jamais havia sido?

 Eu sorri para o espelho e meus dentes afiados reluziram na luz branca. Meus olhos agora eram de um vermelho sangue, um tom de rubi assustador. Mas, eu sabia bem o que fazer com eles agora, e disso eu não tinha dúvida, e nem sentia medo.

 Vingança.