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Primeiro Capítulo

 

'Bella'

 

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"Eu estou sozinha precisando de você, e você não está por perto para poder me ajudar..."

 

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Caminhei irritada pelos corredores que me levavam até minha sala de aula, será que as pessoas não se envergonhavam de ficar encarando alguém assim?

 

Já estava a ponto de gritar com o próximo que se aproximasse de mim com as bochechas coradas para desejar um animado 'bom-dia'. Mas, então, eu respirava fundo e repetia comigo mesmo que não era culpa da pessoa.

 

Que culpa eles tinham se meu melhor amigo cansou de aguentar meus ataques depressivos? E daí se Jacob estava fugindo de mim como o diabo foge da cruz? Com certeza não era culpa de ninguém se ele preferia a companhia de antigos desafetos à minha.

 

Suspirei pesadamente, jogando-me na cadeira ao lado de alguém que eu nem reparei.

 

Mesmo sabendo que merecia o silêncio do Jake - se é que eu ainda tinha o direito de chamá-lo assim -, meu coração recém-curado sangrava.

 

Era como se uma mão cruel estivesse cutucando a ferida sem dar chance à ela de se curar.

 

Senti meu rosto se contrair em dor.

 

Mike - que estava sentado na mesa dupla à minha frente - se virou para trás e conversava animadamente com o menino ao meu lado.

 

Acho que era um aluno novo, não reparei muito nas coisas em meus meses de topor.

 

Pobre garoto, a única mesa vazia era a minha e eu tinha plena consciência de que meu silêncio não devia ter causado uma boa primeira impressão.

 

De repente, o rosto de bebê do Mike se virou para mim, um sorriso envergonhado enfeitando seus lábios.

 

- Hey, Bella! - retribui o sorriso do melhor modo que meu humor permitia. - Nossa, você está... - mordeu o lábio inferior coçando a nuca. - diferente. - minhas sobrancelhas se franziram em confusão. - Está linda! Quer dizer, não é como se já não fosse. - tropeçou tentando se explicar. - só parece mais definida, tem malhado? - prendi a risada.

 

Olhei para o meu próprio corpo, meu humor mudando totalmente. Eu estava desconfiada de que Mike só estivesse dizendo aquilo pra me agradar, mas seu amigo novato parecia compartilhar a opinião.

 

- Ah... - eu estava sem graça, ninguém nunca tinha dito que meu corpo era 'definido'. Isso vindo de um garoto é o mesmo que dizer 'gostosa'. - Obrigada, Mike. - debati por um instante se deveria acrescentar algo. - Você também parce ótimo!

 

Então, antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa, o professo entrou dizendo para todos se arrumarem na cadeira e abrirem o lívro.

 

Suspirei.

 

Hoje eu realmente não estava com saco pra isso.

 

xXxXx

 

As aulas passaram como um borrão pra mim, como se nenhum fato fosse significativo o suficiente pra despertar minha atenção.

 

Quando fomos liberados, segui para minha caminhonete ignorando os chamados de Jonathan Wayland - o novato loiro de olhos azuis que sentava ao meu lado.

 

Ben, o namorado da Angela, me contou no intervalo que o pai dele era um figurão de Los Angeles que o mandou para Forks como 'punição' por ter participado de pegas.

 

Sério, se os olhos dele não fossem azuis e sua pele não tivesse um agradável tom cremoso, eu poderia jurar de pés juntos que ele era um vampiro.

 

Pensar nisso abriu espaço para outros pensamentos começarem a me dominar, como a sequência de fatos acontecidos na minha vida. E pensar nisso fez minha cabeça latejar.

 

Todos os rostos apareciam sorrindo para mim, suas peles de diamante cintilando em minha mente mesmo que eu só tivesse visto Edward no sol.

 

Quando as faces cor de alabastro saíram de foco, vi o rosto lindo do Jacob.

 

Meu estômago embrulhou e eu tive que respirar fundo para conseguir colocar a chave do carro no lugar certo.

 

Só agora eu conseguia ver como sentia falta daquele moleque, do seu enorme sorriso reluzente, do brilho em seus olhos cada vez que algo o divertia ou quando tinha uma idéia...

 

Um soluço escapou de meus lábios e só então reparei que estava chorando.

 

Cocei meus olhos com a manga da blusa, desejando momentaneamente estar usando algo mais fresco. Mesmo sem casaco, eu estava sentindo um calor infernal.

 

Seria só impressão?

 

Olhei em volta, todos pareciam confortáveis em seus enormes e quentes trajes. Arregalei os olhos, será que eu estava pegando uma virose gástrica novamente?

 

Um riso cortante escapou de meus lábios enquanto limpava o suor em minha testa, ficar doente era só o que me faltava.

 

A má notícia era que eu me sentia pior dessa vez.

 

Acelerei para fora da escola forçando meus olhos a permanecerem abertos mesmo que a idéia de um cochilo fosse tremendamente tentador.

 

Sacudi a cabeça.

 

Eu estava tão absorta em meus pensamentos que levei um susto ao ver onde tinha ido parar: na clareira dos Cullen.

 

A dor - que já era grande - tornou-se quase insuportável.

 

Num instante, minha vida estava cheia de pessoas que eu amava e no outro não restava mais ninguém.

 

Eu estava sozinha.

 

Sozinha.

 

Doeu duas vezes mais dessa vez, só que meu cérebro de ameba não conseguia entender o motivo.

 

Tarde demais, quando já tinha saltado do carro, percebi que era Jacob. Se ele estivesse, eu não sentiria tanta dor porque sua mão estaria entrelaçada à minha, mantendo-me inteira.

 

forcei minha vista quando algo apareceu a metros distante de mim, tropecei algumas vezes na tentativa de me aproximar mais rápido.

 

O cheiro deliciosamente doce encheu meus pulmões e uma gama vertiginosa de emoções passou por mim em um segundo.

 

- Laurent! - gritei, quase me chutando ter ficado tão feliz.

 

- Bella? - ele parecia pasmo em me ver aqui. Sua expressão se contorceu em um sorriso malicioso. - Não esperava encontrá-la.

 

Dei um pequeno passo para trás engolindo seco, duas partes de mim duelavam entre si: A parte feliz por ele ser real, provando que eu não era uma louca. E a parte que se lembrava bem do fato dele só não ter me caçado como James e Victória por causa do medo que sentia da minha enorme família talentosa.

 

Aonde estava a maldita voz do Edward quando eu precisava? A humana doente aqui precisava de alguma idéia melhor do que 'corra'.

 

- Eu moro aqui. - respondi dando de ombros, se eu aprendi algo quando estava sendo caçada é que o medo excita os vampiros... E não é no modo pervertido. - Pensei que estivesse no Alasca.

 

Laurent deu um passo, inclinando a cabeça para o lado. Seu rosto lindo cintilando como diamante na pouca luz que conseguia ultrapassar as grandes árvores.

 

- Tem razão, - concordou. - voltei para fazer uma visita a pedido da Victória e estranhei achar a casa vazia. - meu coração martelava em meus ouvidos.

 

Entre meus pensamentos confusos, fiquei feliz por Jacob não estar aqui. A última coisa que eu gostaria é vê-lo morrer por minha causa.

 

- Sabe, Bella... - pisquei demoradamente, a vontade de dormir estava se tornando quase insuportável. - Victória me pediu para vir ver você.

 

Arregalei os olhos, o que diabos aquela louca estaria querendo comigo? Apertei minhas mão em punho tão forte que temi começar a sangrar.

 

Laurent deu mais um furtivo passo na minha direção.

 

- Não se mova. - rosnei ganhando um olhar curioso e incrédulo dele.

 

- Não seja ingrata. Acredite, o que eu vou fazer não é nada comparado ao que ela pretende. - fez uma careta. - embora ela vá ficar irritada comigo. - deu de ombros.

 

Reparei que minhas mãos tremiam quando o encarei, meu corpo inteiro queimava como se estivesse fritando de dentro para fora mas minha coluna congelava.

 

E ainda tinha o maldito cheiro enjoativo fazendo meu nariz arder.

 

Franzi as sobrancelhas puxando o ar lentamente para meus pulmões.

 

Estremeci levemente, cada vez que eu respirava ficava pior.

 

- O que Victória quer de mim? - perguntei tentando ganhar sua atenção, ele parecia tenso e concentrado em algo atrás de mim.

 

- Quer matar você. - ronronou sensualmente. Engoli seco, o calor se tornando insuportável. - Na verdade, Victória me pediu para testar o terreno para ela. Saber como chegar até você. - inclinou-se como se para compartilhar um segredo. - Ela está realmete aborrecida com você.

 

- Comigo? - guinchei.

 

Laurent sacudiu a cabeça e riu, acho que deliciado com meu terror.

 

- Eu sei, também achei sem sentido. Mas James era companhei dela e seu Edward o matou.

 

Mesmo prestes a morrer, o nome dele abria uma velha ferida em meu peito. Uma que já estava quase curada e tinha sido aberta novamente.

 

- Um parceiro pelo outro, entende? - continuou. - Tenho que dizer que fiquei chocado com a facilidade em chegar até você. - sorriu cruelmente. - Não entendi o porquê, depois de tanto trabalho, eles simplesmente deixaram o animalzinho de estimação deles para trás.

 

Mordi minha língua, lutando contra a vontade de mandá-lo para o inferno. Fiquei surpresa ao me sentir tão irritada quando ele me chamou de 'animalzinho de estimação', esse termo nunca tinha me encomodado antes.

 

- Porque não espera por ela? - engasguei tentando persuadí-lo. - Se vai ficar tão aborrecida, acho que devia esperá-la. - dei de ombros, curiosa em saber o que o tinha deixado tão ansioso.

 

- Não, eu sinceramente não esperava encontrá-la agora. - lambeu os lábios, seus olhos rubros cintilando. - Eu estava caçando. - prendi a respiração.

 

- Eles vão descobrir. - não tinha certeza se era verdade, mas não custava nada tentar. - Vão saber que foi você e vão matá-lo. - rosnei.

 

- Acho que não. - não consegui esconder minha confusão. - Essa é uma cidade interessante, na próxima chuva o cheiro vai ter sumido completamente.

 

Maldita Forks, porque não era ensolarada como Phoenix?

 

Eu podia sentir meu coração batendo velozmente em minhas costelas, o ar começando a faltar em meus pulmões. O que eu poderia fazer?

 

Se corresse, ele me alcançava; Se lutasse, ele me esmagava; e acima de tudo ele tinha a eternidade inteira para brincar disso. Já eu não. Que chance eu tinha contra ele?

 

- Qual é, Bella! Se você soubesse as coisas horríveis que ela me contou e que planeja fazer com você... - balançou a cabeça como se fosse demais para ele. - A mordida do James nem chega perto. - segui seu olhar e notei que acariciava a marca em meia-lua no meu pulso.

 

Lambi os lábios nervosa.

 

Eu não queria morrer, apesar de tudo. Depois de meses entorpecida eu tinha algo importante pra mim, que obrigava meu coração a continuar batendo e, mesmo que ele não se importasse mais comigo, meu corpo estava transbordando dele.

 

Jacob.

 

Meus olhos se arregalaram quando ouvi um estalo vindo da minha coluna, a dor foi tanta que eu caí de joelhos. Fechei meus olhos travando minha mandíbula enquanto sentia como se meus ossos estivesse se separando dentro do meu corpo.

 

Um grito agudo escapou dos meus lábios.

 

A sensação foi de que minha pele estava rasgando, que algo cavava uma saída de dentro de mim.

 

Fechei meus olhos lutando contra a dor e o calor opressor.

 

Então, quando abri os olhos, eu podia ver absolutamente tudo.

 

Cada grão de poeira, cada inseto que passava (parecendo alheio à nós), os tímidos animais mais perceptivos que nos encaravam com cuidado de dentro de seus esconderijos...

 

Pisquei vendo o rosto pálido de Laurent ficar praticamente transparente.

 

Abri a boca para perguntar o que diabos estava acontecendo com e ele mas tudo o que saiu foi um latido aborrecido. Mas que inferno...?

 

Deus do céu, porque eu tenho patas?

 

Ouvi risadas - meio aliviadas - dentro da minha cabeça.

 

'Ah, cara! Sério mesmo? Bella Swan?' escutei a voz seguida de um gemido divertido. Olhei para o vampiro a minha frente, desejando fervosamente que ele tivesse ouvido também.

 

'Quem é você? O que diabos está fazendo na minha cabeça?' gritei para quem quer que fosse.

 

'Bells...' meu coração falhou uma batida ao ouvir aquela voz.

 

'Jake?' engasguei, piscando meus olhos para me livrar das lágrimas.

 

'Sim, sou eu.' um soluço escapou da minha garganta. Eu queria dizer tantas coisas! Que sentia sua falta terrivelmente... 'Também sinto sua falta, querida.' e que iria capá-lo aqui e agora se ele não me explicasse o que estava acontecendo. Ouvi seu riso musical. 'Desculpe, não posso concordar com isso, bebê.'

 

Sentei no chão sobre minhas patas traseiras, Laurent completamente esquecido.

 

Podia ouvir o som de respirações pesadas e passadas velozes se aproximando de nós.

 

E, então, entendi o horror no rosto pálido dele.

 

Formas enormes e escuras se esgueiravam por entre as árvores, silenciosos apesar do tamanho e se movendo, decididamente, em direção ao vampiro.

 

Encaravam-o com o focinho comprido arreganhado, revelando uma fila de incisivos que pareciam adagas. Me perguntei mentalmente se parecia assim, tão ameaçadora.

 

'Na verdade...' forcei minha mente, já tinha ouvido aquela voz. 'Você parece mais um filhotinho peludo.' pisquei sem entender enquanto os outros riam e concordavam.

 

'Embry? Embry Call? Oh, cara! Eu juro que se achar você vou te dar uma mordida no traseiro!' uma risada escapou dos meus lábios enquanto levantava do chão abanando o rabo.

 

'Jacob, fique aqui com ela. Vamos pegar o sanguessuga.' olhei para a enorme forma preta, que deduzi ser Sam. 'Sou eu, Bella.'

 

Lambi meu focinho nervosamente sem saber o que fazer. Quando Sam me salvou no bosque, senti aquela estranha ligação inexplicável, como se o conhecesse minha vida toda. Mas depois de ver como Jacob sofria quando Sam recrutou Embry, eu o odiei. Agora estava confusa.

 

Observei-os dispararem atrás do Laurent, mais organizados que qualquer matilha que eu tenha visto na televisão. Só então reparei que uma enorme massa castanho-avermelhado tinha ficado.

 

Virei a cabeça com cuidado, para olhar dentro daqueles olhos negros.

 

Arfei.

 

Foi como se o tempo parasse e só existissem nós dois, era como se o mundo tivesse saído de órbita mas aquela pessoa me mantivesse com os pés no chão.

 

Eu queria encurtar a distância entre nós, rodear meus braços em sua volta e ter a certeza de que ele estaria protegido.

 

Porque ele era o meu mundo.

 

Quem era Edward? Quem era Victória? Ninguém significante.

 

Só o que me importava era ele, estar junto dele cada instante da minha vida.

 

Meu coração batia por ele, e viveria apenas para satisfazer cada desejo seu até o dia em que eu morresse.

 

Porque a felicidade dele era tudo o que eu precisava. Mais do que água, mais do que oxigênio, mais até do que mim mesma.

 

Meu coração não estava mais quebrado, estava inteiro e indestrutível.

 

Batendo em meu peito domente por aquela pessoa, que fazia meu corpo aquecer de um jeito resplandecente.

 

Aquele...

 

Um passo.

 

... Que eu...

 

Abri a boca.

 

... Amava.

 

Meu melhor amigo,

 

Aquele que era tudo pra mim.

 

Jacob Black.