Inglaterra escrita por Anna


Capítulo 7
F.F.F (Fast, Fun & Food)




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O sinal pro fim da quinta aula estava prestes a bater e eu e Isabella passeávamos pelos corredores da escola. Minhas mãos tremiam cada vez que alguém passava e nos olhava como se fosse nos entregar. Com certeza eu levaria uma suspensão ou iríamos pra detenção. Isabella por outro lado, passeava despreocupada e acenava descaradamente pras pessoas que nem conhecia e que por outro lado me conheciam.

– Edward... – ela me chamou por entre os dentes – Você treme feito uma vara verde. As pessoas vão desconfiar, será que dá pra se controlar? – ela acenou pra uma garota do segundo ano, acho que se chamava Bailey.

– Como quer que eu me controle? Se formos pegos... Oh eu nem quero pensar nisso... – falei quase em um choro.

Isabella segurou em minha mão e me empurrou pra dentro do banheiro feminino em que nós passávamos na frente.

– Agora... – ela disse mais alto – Aja naturalmente! – ela me deu um tapa no rosto.

Não doía, ela era bem fraca aliás, mas eu ouvi o estalo e por incrível que pareça me senti mais calmo. Afirmei com a cabeça pra ela.

– Ótimo. Agora vamos... – Isabella saiu ainda segurando em minha mão.

Passei a outra mão sobre o lugar aonde ela havia batido e no mesmo momento me lembrei do tal “beijo-tapa” e de tudo com que eu havia sonhado. Fitei sua pequena mão se entrelaçando entre meus dedos e suspirei. Isabella havia percebido meu toque e largou a minha mão rapidamente, com uma expressão constrangida.

– Entre aqui... – pedi apontando pra porta da enorme biblioteca.

– Oh, mais livros... – ela resmungou, mas mesmo assim entrou.

A biblioteca da London High School era privilegiada. Colocada em um dos maiores cômodos da escola tinha todos os livros que se poderia imaginar. Corri até a prateleira dos romances e encontrei o livro que eu queria.

– Esse lugar me lembra Sue e... – Isabella fez uma careta se apossando do livro – O morro dos ventos uivantes... Oh que piada. – ela gargalhou.

– Não é não. – resmunguei – Eu o tenho em casa, mas só falta um pouco pra acabar então pensei que poderia fazer isso enquanto cabulamos... – ela me encarou – matamos aula – bufei.

– Que ótimo, você se livra da aula pra... Ler. Nerd... – ela riu fitando outra prateleira adiante. – Vou ver aqueles ali... – ela apontou.

– Gibis? – fitei a longa fileira de exemplares.

– É. Algum problema?

– Não. – me encaminhei pra mesa mais perto e comecei a ler o livro.


Depois de alguns minutos o sinal tocou e eu pulei assustado. Isabella nem se importou, ela lia o gibi atentamente e até entrava na história às vezes murmurando.

– Seu idiota, mate ele, mate vamos! – eu ri a fitando por um momento. Ela me viu e bufou – Aposto que o meu é bem mais interessante... Olha só – ela disse se preparando – “Seu bandido miserável, eu vou matá-lo agora e seu sangue vai jorrar... Vai sim, os vampiros da cidade farão a festa depois...” Sábias palavras, não acha? – ela riu com a própria imitação.

– Muito sanguinário... – sussurrei rindo – Agora ouça: “Se olho para essas lajes, vejo nelas gravadas as suas feições! Em cada nuvem, em cada árvore, na escuridão da noite, refletida de dia em cada objeto, por toda a parte eu vejo a tua imagem! – tentei interpretar a Heathcliff fielmente – Nos rostos mais vulgares dos homens e mulheres, até as minhas feições me enganam com a semelhança. O mundo inteiro é uma terrível testemunha de que um dia ela realmente existiu, e eu a perdi para sempre...” – levantei meus olhos pra Isabella que parecia hipnotizada. Olhei em volta e depois me voltei pra ela que balançou a cabeça, espantando pensamentos, como eu o fazia.

– Dramático... – ela disse como se quisesse dizer outra coisa. Isabella corou.

– Oh, mas é melhor que... – eu terminaria, mas avistei Tanya Denali parada na porta me fitando seriamente. – Droga... – murmurei.

– O que houve? – Bella se virou e a viu também – Certo, vamos só... Sair daqui normalmente. Devolva o livro antes que ela venha... – Isabella disse rapidamente.

Guardei o livro e ao me voltar pra mesa, ela segurou minha mão automaticamente me puxando pra fora da sala. Virei-me e Tanya vinha em nossa direção. Isabella havia percebido também e aumentou a velocidade dos pés.


Agora nós corríamos feitos loucos pelos corredores cheios de alunos, que abriam espaço pra que nós pudéssemos passar. A tremedeira havia voltado e Isabella apertou minha mão mais forte. Logo estávamos do lado de fora, ela parou tentando respirar, mas estávamos sem fôlego.

– Onde... Você colocou... O carro...? – ela perguntou com dificuldade. Apontei pro volvo parado em minha vaga de sempre.

– Por que você... NÃO! – tentei gritar – Ainda temos mais uma aula Isabella, pelo menos a última...

– Já matamos quase todas, uma a mais ou a menos não fará falta. Dê-me a chave – ela me estendeu sua mão livre.

– Você não vai...

– DÊ ESSA CHAVE DE UMA VEZ! – Isabella soltou sua outra mão da minha.

Entreguei o molho de chaves e ela reconheceu a do carro facilmente seguindo até ele. Eu apenas continuei parado.

– Você vem ou não? – ela perguntou, já distante.

– Oh... – bati os pés e fui em sua direção.


POV. Bella

– Vamos morrer, vamos morrer, vamos morrer... – Edward sussurrava enquanto eu dirigia.

– Ei, pare de ser tão pessimista... – bufei.

– Você corre como louca! Pare ai e deixe que eu dirijo. – ele ordenou.

– Nem em mil anos! Você deve ser todo prudente, desses que obedecem às leis de trânsito e nhénhénhé...

– Oh então certo. Vamos morrer, matando aula! Que irônico... – ele disse com um sorriso amedrontado.

– Ei isso é verdade! – eu gargalhei.

– OLHE PRA FRENTE ISABELLA! – ele gritou.

– Não seja tão medroso... – sussurrei.

Ao gritar meu nome senti um leve arrepio causado pelo sotaque inglês de Edward. Com aquele mesmo sotaque ele havia interpretado o tal do Heathcliff do livro. O modo como seus lábios formavam um beiçinho ao pronunciar algumas palavras e seu costume de deixar a boca entreaberta quando sorria era inebriante.


Encostei o carro perto de uma pequena lanchonete chamada Barney’s.

– Espero que não goste do dinossauro roxo também... – Edward caçoou soltando o sinto.

– Blé – lhe mostrei a língua – Corridas me dão fome. – afirmei.

Edward abriu a porta do carro pra mim, antes que eu pudesse ter a chance de fazê-lo e estendeu-me a mão pra que eu descesse do carro. Ele também, ao abrir a porta da lanchonete me deixou passar primeiro. Tanto cavalheirismo me parecia dele mesmo. Edward não fazia aquilo por obrigação, como um garoto que só quer impressionar, ele o fazia normalmente como se aquilo fosse um costume. O que não era muito normal em garotos de dezessete e então eu me lembrei que estávamos na boa e costumeira Inglaterra.

– Esse lugar é tão... Americano. – ele fez uma careta – Saudades de casa? – me perguntou com um sorriso torto.

– É. Eu amo comer besteiras... – sorri ao sentir o cheiro do hambúrguer na chapa

– Percebe-se – Edward puxou a cadeira pra que eu sentasse e então a empurrou lentamente pra depois se sentar.

Segurei o cardápio nas mãos e ao abaixá-lo pra fitar Edward ele fazia uma careta enojada enquanto lia.

– Gorduras e mais gorduras não é? – perguntei gargalhando.

– Deus do céu... É por isso que eu a imaginei obesa! – ele tapou a boca me fitando.

– Você o que?

– Bem, antes que você chegasse, eu a imaginei uma loira, obesa e chata. – ele riu – E então você chegou assim: Morena, magra e chata!

– Oh! – abri a boca rindo indignada.

– Perdoe-me. – ele gargalhou.

O fitei rindo por um momento. Se dentes perfeitamente brancos brilhavam enquanto ele ria, e seus lábios se mexiam sedutoramente.

– Não perdôo. Agora vai ter que comer o que eu pedir... – sugeri.

– É justo. – ele afirmou contendo o riso.

Levantei-me indo até o balcão e fazendo o pedido pra dois rapidamente. Edward me fitava da mesa e quando eu me sentei outra vez ele parecia curioso.

– Vai se arrepender... – murmurei.


O garçom magrelo trouxe nossos hambúrgueres acompanhados de duas porções de batatas fritas e dois copos de coca-cola. Edward fitava tudo como se fosse uma comida estrangeira e nojenta. Eu sorri com sua expressão. Ele deu a primeira mordida no hambúrguer e sua expressão mudou para satisfeita e até prazerosa.

– Muito melhor que chá não acha? – perguntei enquanto ele bebia a coca.

– Hum-hum... – ele murmurou e eu gargalhei com sua expressão – Acho que estou me simpatizando com os americanos... – ele sorriu torto depois de limpar a boca.


“Embora eu possa ser errada para o cara, eu sou boa para uma risada.

A menina deve ter um senso de humor

Isso é uma coisa que ela realmente precisa, com certeza

Quando você é uma garota engraçada...”

(Funny Girl)


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