Inglaterra escrita por Anna


Capítulo 10
Ciúmes




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– De acordo com os psicólogos israelenses Ayala Pines e Elliot Aronson, ciúme é "a reação complexa a uma ameaça perceptível a uma relação valiosa ou à sua qualidade." – ele disse convicto - Provoca o temor da perda e envolve sempre três ou mais pessoas, a pessoa que sente ciúmes, sujeito ativo do ciúme, a pessoa de quem se sente ciúmes, sujeito analítico do ciúme, e a terceira ou terceiras pessoas que são o motivo dos ciúmes, o que faz criar tumulto*... – os alunos riram e o professor Owen gargalhou sua risada de porco também. – Quero as questões da página 13 respondidas pra amanhã, sem falta. – ele se sentou.

Sociologia era minha última aula antes do intervalo e parecia ser a que passava mais lerdamente. Eu me sentia preocupado, será que Isabella estava se dando bem com os alunos de sua sala? Com certeza não. Era melhor que ela estivesse dormindo... Ela não me parecia muito sociável.

Finalmente o sinal tocou. Saí rapidamente e segui pelo corredor cheio de gente até chegar ao refeitório, Isabella estava sentada em uma das mesas e havia três pessoas ao lado dela. Uma delas eu conhecia, era Jane, uma das inúmeras ex-namoradas de Emmett, e as outras duas garotas e o rapaz eu só havia visto algumas vezes pela escola.

– Ei Edward! – Isabella acenou pra que eu chegasse mais perto.

Caminhei desconfiado até a mesa onde eles estavam.

– Oi. – murmurei pra todos.

– E ai Ed! – Jane disse sorridente. – Como vai o canalha do seu irmão? – ela riu.

– Na mesma... Um canalha. – eu ri com ela.

– Então Edward, Jane disse que te conhecia. Essa é Bree – ela apontou pra pequena e infantil garota ao seu lado – essa é Angela – a outra garota simpática sorriu – e esse é Tyler.

– E ai. – o rapaz disse entusiasmado com uma voz estranha.

– Oi... – murmurei outra vez, um pouco mais confortável pra me sentar junto a eles. – E eu estava preocupado se você se enturmaria... Fez mais amigos do que eu tenho desde que entrei nessa escola... – gargalhei.

– Bella é bem legal. – disse Jane.

– Oh parem... – Isabella fingiu estar envergonhada.

A conversa estava animada, e até interessante. Pela primeira vez eu conversei durante o recre... Intervalo, - me corrigi - e gostei dessa experiência. Antes eu ia até a biblioteca e pegava um livro que, havia pesquisado na internet no dia anterior e lia durante os imensos dez minutos livres, que dessa vez se passaram tão rapidamente. Não demorou muito pro sinal tocar e eu Isabella, e Tyler, que também tinha aula de física conosco, irmos até a sala juntos.

POV. Bella

Tyler era o tipo de garoto engraçado que fazia as pessoas em volta rir o tempo todo, eu tinha severas suspeitas de que ele era gay, por causa da sua voz fina e seu jeito de andar, mas isso realmente não era importante. Eu percebi que Edward se divertia com ele tanto quanto eu, talvez ele nunca tenha tido um amigo que o fizesse rir, pra contar as coisas e bagunçar, como eu fazia com Jacob.

– Isabella, você viu Alice? – ele insistia em me chamar pelo meu nome inteiro.

– Na verdade, não. – olhei em volta por impulso – Por quê?

– Fico preocupado... – ele suspirou.

– Claro, porque a escola é um lugar tão perigoso... – ironizei e nós rimos.

– Não, não. É que, bem... Não comentem á ninguém, mas ela gosta de um valentão...

– Valentão? – perguntei estranhando a palavra tão correta.

– Jasper Whitlock. – Tyler falou nos assustando com a rapidez – Ele é um gato, mas é um canalha...

– Como sabe? – Edward perguntou o fitando surpreso com a palavra “gato” vinda dele.

– Ele e Emmett são os mais... Valentões daqui – ele riu ao dizer a palavra tentando imitar Edward – Mas ela não gostaria do próprio irmão, der!

– E qual o problema nisso tudo? – perguntei.

– O problema é que, assim como Emmett, Jasper é um mau elemento... Não o quero perto de Alice. – Edward parecia um pai autoritário.

– Vamos! – a professora baixinha gritou da porta da sala.

– Depois conversamos – Edward murmurou – Senhora Eloise... – ele a cumprimentou ao entrarmos na sala.

A professora gritava muito, eu cheguei a sentir gastura enquanto ela ditava o texto, Edward e Tyler pareceram estar acostumados, Tyler até tentou colocar um fone de ouvido, mas ela o retirou bruscamente.

– Ouch! – ele gritou e levou a mão até a orelha esquerda. – Como ela tem a coragem de interromper a Kylie Minogue? – ele murmurou assim que ela saiu de perto.

– Quem é... Ah deixa pra lá, eu não me interesso nem pela Katy Perry...

– OMG! Você não disse isso... – Tyler estralou o dedo três vezes fazendo um tipo de zig-zag no ar. – Como pode não ligar pra Katy e Kylie?

– Sr. Crowley, será que pode ficar em silêncio? – eu fechei os olhos quando a professora gritou com sua voz histérica pra Tyler.


POV. Edward

Física era realmente a pior aula, mesmo adorando a matéria, a Srta. Louise nos deixava com dor de cabeça, e ter duas aulas seguidas com ela já estava quase nos matando. Eu percebi pela expressão até um pouco engraçada no rosto de Isabella, que ela pensava o mesmo. A cada frase que ela falava, ou melhor, gritava era um gemido.

Quando o sinal bateu, eu pude sinceramente ouvir a maioria dos alunos suspirar aliviado.

– Não esqueçam o trabalho! – ela deu seu último grito antes que saíssemos.


– Alguém pode, por favor, falar alguma coisa? Eu preciso testar se meus tímpanos não foram afetados... – Isabella disse balançando a cabeça.

– O cabelo da Bree parecia um ninho de pássaros hoje... – Tyler falou na direção dela.

– O que você tem contra cabelos embaraçados? O meu não é uma coisa que se diga “Nossa que cabelo legal!” – ela riu.

– Na verdade, eu o acho bem macio... – murmurei e os dois me fitaram confusos. Isabella parecia ter corado – Quer dizer, é bem legal. Oh... – sussurrei tentando concertar.

O cabelo dela não era embaraçado, pelo menos pra mim, parecia bem bonito. A maioria das garotas inglesas tinha os cabelos claros, e os de Isabella tinha um tom chocolate brilhante que... Ah certo, agora eu estou discutindo comigo mesmo sobre cabelos!

Percebi que estava um pouco atrás de Isabella e Tyler, andei um pouco mais rápido pra os alcançar e Tyler parecia ter se lembrado de algo ao me ver.

– Voltando ao assunto da aula, Edward – ele colocou a mão sobre meu ombro – Como pode não saber nada sobre as divas do pop americano? – ele me perguntou como se eu tivesse cometido um crime.

Virei-me confuso pra Isabella, que ria um pouco.

– Ah... – me voltei pra ele – Eu não me interesso por isso, na verdade prefiro música clássica e...

– Que seja, vai precisar ter algumas aulas comigo sobre esse assunto... – ele riu – Se a Bella não se importar, óbvio... – ele a fitou desconfiado.

– Por que as pessoas ficam querendo me ensinar as coisas? – eu realmente não sabia, primeiro Emmett, agora Tyler. – E porque Isabella se importaria? – nós dois olhamos pra ela.

– Ah... – ela diria alguma coisa óbvia, pela sua expressão. Mas um tapa nas minhas costas a interrompeu.

– E ai Edzinho... – Emmett gritou colocando o braço em volta do meu pescoço. – Bella – ele sorriu pra ela, e aquilo simplesmente me incomodou – Criatura... – ele cuspiu pra Tyler.

– O que quer Emmett? – bufei.

– Bem... – ele olhou pros dois lados e deus alguns passos a frente me obrigando a acompanhá-lo – Hoje nós começamos nosso curso de “Como não ser um boiola” então, não falte!

– Ei, será que dá pra parar de me chamar assim? E eu não vou fazer aula nenhuma com você...

– Prefere ter aula de “Como ser mais boiola ainda” com o Tyler ali? – ele sorriu.

– Por que... Oh! – finalmente me toquei – Ele é...

– Ah qual é Edward? – ele fez um som com a boca de deboche.

– Certo. Agora eu entendi, ele acha outros garotos bonitos e gosta da Katy Perry...

– Ei, ei, ei... – ele me soltou – Gostar da Katy Perry não é sinal de ser gay, ela é muito gostosa! Mas, a outra parte sim...

– Bom, quer saber, não me importa a opção sexual dele, quer dizer, Isabella gosta dele e somos todos bons amigos... – tentei ver as coisas por outro lado.

– Nada disso. – ele disse tentando parecer sério – Primeira lição de “Como não ser um boiola”: Nunca ande com outro boiola, a qual é, essa é bem óbvia!

– Você é bem preconceituoso! – falei.

– Como lição de casa, pratique essa, e pare de andar com ele, ou a sua reputação vai ser manchada... Se é que ainda tem uma, né irmãozinho... – ele deu um tapa de leve no lado esquerdo do meu rosto e saiu atrás de Jasper que estava perto do estacionamento.

Eu acenei pra que Isabella pudesse vir até mim pra que nós fossemos embora. Tyler acenou de longe e nós respondemos pra ele.

– Ei, o que foi? – Isabella perguntou depois de alguns minutos de silêncio no carro.

– Nada... – dei de ombros.

– Sabe, parece que Emmett não te faz bem. – ela disse convicta.

– Não mesmo... – eu sorri – Mas nós não escolhemos a família. Quer dizer não que eu não o ame, mas... – suspirei.

– É, entendi. – ela balançou a cabeça em sinal positivo.

– Como é com a sua família? – perguntei quebrando o silêncio desta vez.

– Nada muito difícil... Só moramos eu e meu pai, minha mãe morreu quando eu era pequena. – ela sorriu, talvez se lembrando de algo – Eu sei, você vai dizer “sinto muito”, mas tudo bem, nós vivemos bem. Charlie até arrumou uma namorada depois de tanto tempo. Sue é ótima.

– Isso é bem legal... E seus amigos? – eu não sei bem onde queria chegar, só que eu estava curioso sobre aquilo.

– Ah, eu tenho um “bando” de amigos... – ela gargalhou – Sabe, eu me dou melhor com garotos... Jared, Paul, Seth, Quil, Embry e Jake... – ela disse o último nome mais devagar.

– Wow... Um bando realmente... Jacob é o Jake, certo? Ele chega em casa hoje? – perguntei ansioso.

– Sim. Ele é meu melhor amigo... – ela me fitou.

Engoli seco. Aquilo havia me incomodado, um pouco mais do que quando Emmett a fitou malicioso a pouco. Que coisa irritante, eu odiava sentir aquilo...

– Oh... – apenas murmurei.

– Quer dizer, ele é meu melhor amigo em Forks... – ela sorriu – Tenho um melhor amigo aqui também...

– Que bom... – eu ri.

Nós chegamos a casa e depois de estacionar o carro e sair, abri a porta pra Isabella que já estava quase fora.

– Eu tenho que me acostumar com o cavalheirismo inglês... – ela murmurou.

– Como assim? – perguntei ao bater a porta.

– Bem, nos Estados Unidos os garotos não fazem isso, na verdade, eles meio que querem chegar primeiro então, se você cair, eles provavelmente vão rir da sua cara!

– Verdade? – como eles podiam fazer isso com as damas, aquilo era repugnante. Apesar de que depois do meu comportamento para com a Tanya, eu não poderia falar muito... Na verdade ela bem que mereceu!

– Com certeza... – ela riu e jogou a mochila nas costas.


Seguimos até a porta da frente em silêncio e assim que eu a destranquei e nós entramos, parei no meu lugar sem poder falar nada. O garoto tremendamente musculoso, mais parecia um fisiculturista e a blusa gola V preta, mostrava que ele era bem bronzeado... Mas, Forks não é o lugar mais chuvoso que existe?

– JACOB! – Isabella gritou e correu em sua direção.

Ele a ergueu em um abraço de urso, pousando o nariz de leve em seus cabelos. Aquilo era o fim, como ele podia fazer aquilo? Um formigamento intenso me cobriu todo o corpo, eu queria tirá-la dali naquele mesmo instante, e fazer o mesmo que ele havia feito, mas mais delicadamente... Eu a levantaria, e olharia em seus olhos profundos e... OH CALE-SE EDWARD! Respirei fundo diversas vezes, parecia que me faltava o ar, que coisa mais estranha...

– Bells, você está ótima... – ele sorriu um sorriso brilhante pra ela a colocando de volta no chão, mas ainda segurava em sua cintura – Eu estava conversando com a senhora Esme enquanto você não chegava... – ele virou-se pra minha mãe.

– Oh estou tão feliz que veio... Você está mais forte ainda! – grande coisa, o que são alguns músculos? Quer dizer: Vários... Aquele garoto com certeza tomava anabolizantes. Oh Edward! Que coisa ridícula, você nem conhece o rapaz e...

– Esse é Edward. – Bella apontou pra mim se livrando dos braços dele em volta de sua cintura – Edward, esse é Jake de quem eu te falei... – ela sorriu.

– Ah e aí cara? – o garoto forte perguntou.

– Oi. Vou pro meu quarto... – murmurei e subi as escadas o mais rápido que pude.


Que coisa horrível, eu estava me tornando um completo anti-social mal educado, Esme chamaria minha atenção por isso, com certeza. Abri e fechei a porta do quarto rapidamente, em apenas um movimento e depois de respirar fundo, soltei um gemido de raiva ainda com os olhos fechados...

– É eu sabia que ia dar merda... – abri os olhos assustado, vendo Emmett jogando uma bolinha de baseball de uma mão pra outra, sentado largado em minha poltrona.

– Oh, por favor, Emmett, essa não é uma boa hora! – falei quase suplicando – Vá embora!

– Edward, eu vi o bombado aí na sala, e eu sei que ficou com ciúmes. Cara, ele agarrou a sua gata! – ele se sentou em um movimento.

– Ela não é minha... Gata, somos amigos...

– Mas você quer ser só amigo dela? De verdade Ed, de verdade mesmo? – ele se levantou vindo em minha direção com a mão no queixo esperando uma resposta.

– Eu... – suspirei – Caramba...

– É irmão, eu te entendo, é difícil perder uma garota... – ele deu um tapa de leve em meu ombro em sinal de apoio.

– Entende? – fiz uma cara.

– É claro que não... – ele riu – Eu só queria te apoiar, mas qual é? Sou eu, Emmett, eu nunca perco uma!

– Oh, é você Emmett: o modesto! – ironizei.

– Que seja, mas... Edzinho, a concorrência é brava! Você viu o tamanho daquele cara? – ele apontou pra porta – E você é só... Fofinho! – ele fez bico.

– Fofinho? – falei suavemente.

– É, quer dizer, você trata as garotas como se fossem rainhas, e elas não curtem isso! Elas gostam de caras como Jacob Black, como eu... Durões! Que tem pegada...

– Eu não sou um cachorro pra ter pegadas... – cuspi.

– Oh por Deus! Pois então seja um cachorro! – ele rodopiou e depois parou em frente a mim me fitando fixamente. – Quer ou não aprender como ser um homem de verdade? Não adianta mais negar, a garota te pegou de jeito...

– Ah... – abri a boca pra contestar, mas desisti. – Certo... Que comecem as aulas! – fingi entusiasmo.

Seja lá o que eu precisava aprender que fosse, eu não perderia mais nada mesmo. E o bom dessa experiência de ciúmes é que eu já tinha minha lição de casa de sociologia pronta. Eu o havia sentido na pele.

Se eu fosse a Lua, eu poderia pegar o seu olhar

Eu tenho ciúmes da Lua

Se eu fosse o Vento, eu poderia te fazer voar

Eu tenho ciúmes disso também

Eu gostaria de ser o Sol que brilha no seu rosto

Acariciando-te como um amante

Eu poderia te envolver num gostoso abraço

Nós abraçaríamos um ao outro...”

(I’m Jealous)


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Notas finais do capítulo

*Ciúmes - Essa definição de ciúmes não foi inventada por mim, eu a encontrei no site wikipedia.