Era uma noite fria, isso com certeza. Desde que ele havia isso, tudo estava uma bagunça, inclusive ele mesmo. Ele se amaldiçoava por ter demorado tanto a admitir seus sentimentos. Ele se amaldiçoava por não ter passado tempo o suficiente com ele, mesmo que ele soubesse que jamais seria o suficiente.

O moreno acordou no meio da noite e agarrou o travesseiro ao lado de sua cabeça, soluçando baixo. Ele conseguia sentir seu coração afundando na tristeza. Se ele ia sentir isso, ele preferia nunca ter amado a ninguém. Ele preferia ter continuado amando todos os humanos, como ele dizia que fazia. Se Shizuo nunca tivesse lhe mostrado o que é amor, ele jamais sentiria falta disso.

Mas ele tentou afugentar esse pensamento. Porque ele se sentia no paraíso quando estava segurando as mãos dele; amava seu sorriso, suas risadas, havia aprendido a amar seu rosto enfurecido, tudo. E uma vez na sua vida, Izaya desejou que ele jamais fosse viver para sempre. Nunca. Não se as pessoas que ele gostasse continuassem morrendo ao redor dele. Ele não agüentaria passar mais um segundo sequer sem estar com as pessoas que ele ama. Mas ambos sabiam que isso aconteceria. Cedo ou tarde, o corpo de Shizuo iria quebrar. Iria degenerar. Mas os dois mantinham suas mentes longe disso.
Agora ele havia sido deixado sozinho. Totalmente sozinho…

Shizuo…

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Repentinamente, ele sentiu algo quente… Muito quente, e abriu seus olhos. A primeira coisa que viu foram os olhos cor de chocolate do coletor de dívidas.

“Izaya? Você está bem?”

Agora, o informante se partiu em lágrimas, abraçando-o, pressionando seu rosto contra aquele peitoral que ele tanto amava e sentiu seu corpo magro sendo abraçado também. Shizuo afagou seu cabelo, sua voz soando cada vez mais preocupada.

“Hey... Me diga o que está errado...” Izaya ergueu sua cabeça, tomando os lábios alheios em um beijo desengonçado. Shizuo o correspondeu, cuidadosamente, mas logo Izaya interrompeu o beijo, já que ele sequer conseguia respirar corretamente.

“S-Shizu-chan... Me prometa que nós vamos morrer juntos.” Ele murmurou, soluçando constantemente. Shizuo ficou em silêncio, acariciando as mechas negras enquanto se decidia como colocar o que queria em palavras.

“Izaya… Não posso prometer isso. Eu vou morrer quando eu tiver que. E você também. Eu não quero que você fique tão apegado a mim. Se eu morrer, eu quero que você supere. Quero que seja feliz.”

“Não,  Shizu-chan.” Ele ergueu uma de suas mãos, limpando o caminho de lágrimas incessantes de seu rosto. Então, usou seus antebraços de apoio, ficando meio deitado. “Agora que eu sei como é estar com você, eu não posso me imaginar vivendo sem isso.” Shizuo imitou seus movimentos, seu olhar preso a Izaya. O moreno agarrou o cobertor, puxando-o para cima de si; estava frio e ambos estavam nus, afinal.

“Porque você está pensando nisso tão de repente?”

“Eu tive um pesadelo… E eu estava sozinho.”

Após alguns segundos em silêncio, Shizuo novamente o abraçou. “Izaya... Eu sei que você não acredita nisso, mas eu acho que todos têm uma razão para estarem vivos. Minha razão era te encontrar, te odiar e depois aprender a te amar. Viu? Eu nunca alcancei nada grande na minha vida. E nem pretendo, porque te amar é mais que o suficiente.”

Izaya não tinha forças para falar mais nada, portanto Shizuo apenas prosseguiu. “E eu acredito que vim para esse mundo para te conhecer. Para aprender sobre você... E para te tomar para mim. E a partir de agora, estaremos sempre juntos. Se houver uma vida após a morte, seja lá qual for, estaremos juntos, mas eu quero que você aproveite sua vida terrestre antes. Eu estarei te esperando lá.

Talvez nós vamos renascer em outro tempo. Outro lugar e outros corpos. Mas nós vamos nos encontrar de novo e de novo. Eu prometo, eu sempre vou te amar.”

Izaya estava chorando mais e mais, mas Shizuo beijou todas as lágrimas dele lentamente.

“E se não houver nada depois da morte...

Nós vamos só ter que criar nosso próprio mundo.”