Deixando a chatice da depressão de lado, estamos no meio do mês de outubro, perto do dia das crianças. Seus avós e seus pais o consideram uma criança ainda, então eles se juntaram para te dar um presente, uma coisa que você sempre quis.

Você ganhou um órgão eletrônico, com direito a aulas gratuitas de piano no conservatório local. Sempre fora seu sonho, e agora se tornava realidade. Você passava o dia sentado em frente ao instrumento tocando partituras baixadas da Internet.

Isso tirou um pouco a decepção das férias da cabeça, mas não completamente. Na verdade, seu subconsciente continuamente lançava mão do acontecido para mandar sinais, como a preferência quase que exclusiva por melodias tristes ou com andamento lento. Também se emocionava muito com filmes desse tipo, ou músicas, ou peças teatrais.

Mas isso teve fim em meados de novembro. Você fora aprovado para o oitavo ano, e por isso viajaria para o Rio de Janeiro para conhecer a cidade.

Você viu muitas garotas bonitas lá no Rio, mas nenhuma se comparava a sua pequena. Sua pequena desilusão. Seu pequeno pedaço de maus tratos. Sua nova desilusão.

E, não raro, o amor desprezo vira.

Você passa a não querer mais pensar nela. E não é só sua cabeça que sofre esse mudança: de repente, todo o mundo passou a ser mais rebelde, as músicas ficaram mais agressivas e até os filmes falavam mais de vingança e guerras.

Então você começou a aproveitar a coisa mais bela do Rio de Janeiro: as mulheres. Você deve ter ficado com aproximadamente sete garotas na sua estada, coisa até então inédita na sua vida.

Como diriam, você voltou do Rio "novo".

Agora você frequenta o oitavo ano, penúltimo. Você começa a se sentir parte da elite escolar. As aulas parecem mais chatas, você fica um pouco mais rebelde e, por isso, mais popular, porque todo mundo sabe que na escola só os irreverentes são famosos. Todas as garotas agora olham para você de modo diferente.

Mas você só olham para uma. Seus passos são como notas de violino, seu andar, uma sinfonia. Seus olhos transmitem a mesma pureza da lua, e seus cabelos são da cor do Sol. Tem a pele alva como o floco de neve e o sorriso brilhante como cristal puro. Tem o aroma da orquídea eo frescor da brisa do mar Seu corpo é esguio como o curso do rio, assim como seus olhos são negros como suas águas, e grandes como o próprio Amazonas.

Há agora tanta evidência aos olhos para realçar-lhes a beleza. Eles são o que há de mais bonito na natureza. Se Deus criou os homens, ela é sua obra-prima.

Seu nome é Yasashii¹, evidenciando também sua doçura de temperamento.

Você de alguma forma sente seu olhar sempre preso a ela, como se nada mais no mundo existisse.

Enfim, começa uma nova era.