Quando a suave aragem invadiu o cômodo através das cortinas de seda, ele se deu conta de que o que tentava fazer, o modo pelo qual esperava conseguir ignorar a presença do outro garoto, era inútil.

O arrepio provocado pela brisa fizera com que os pêlos de seu braço e de sua nuca se eriçassem e ele repousou o violino sobre o suporte, considerando que aquela reação tão espontânea não houvesse sido causada por outro motivo que não a criatura deitada em sua cama; ele que se espreguiçava felinamente, ronronando e bocejando alto como um adorável filhote.

Henry sentiu um aperto no peito – um aperto estranho – e essa sensação – nada além disso – fora a responsável pelo impulso que o levou a arriscar alguns passos em direção a cama. Entretanto, como se houvesse caído em si, estancou a poucos centímetros de RyeoWook. Pôs-se de joelhos, esticando uma das mãos a fim de tocar-lhe os fios castanhos que lhe caiam sobre a testa cinzelada.

O mais velho cerrou os olhos, deleitando-se com a carícia. O violinista então sorriu, enlevado, permitindo-se – daquela vez sem culpa – prosseguir. Seus dedos experientes passeavam pela tez sedosa de seu hyung, detendo-se demoradamente na ponta de seu nariz, no contorno de seus lábios, no desenho de suas sobrancelhas e nas maçãs proeminentes. Deixando-se admirar cada linha, cada mínimo detalhe que compunha aquela face tão adorada; Henry retinha para sempre em sua memória a textura e a aparência da pele tão aprazível a seu toque.

Como se precisasse preocupar-se em jamais esquecer RyeoWook! Bobagem... não era necessário. RyeoWook não era alguém a quem ele pudesse desprezar e, sim, RyeoWook estaria sempre consigo. Sempre. Que houvessem oceanos entre eles, milhas de distâncias, fronteiras físicas e todo o preconceito, intolerância e ódio que alguns dirigiam a Henry, não importava. Não importava porque – era coisa simples – o que tinham um para como outro facilmente superava os obstáculos que se lhe interpunham. Não importava porque Henry adorava os traços desenhados no rosto de seu hyung, Henry era um virtuose, Henry o dedilhava como ninguém jamais o faria. E, bem, isso não mudaria.

Não importava porque, sobretudo, RyeoWook nunca estivera menos disposto a retroceder, a deixar que a ponta dos dedos de Henry parassem de acarinhá-lo. De maneira alguma RyeoWook suportaria que o outro se afastasse.

Era isso o que importava.

Para o bem ou para o mal, eles estavam ligados, unidos por um laço cósmico, algo que atravessava os limites de sua compreensão. Uma amizade mais rígida que a força do tempo, oh, sim. Porém, ia além disso.

Henry não entendia ainda, tudo se confundia em sua cabeça de uma forma tão enleada e hermética, era impossível decifrar. RyeoWook, no entanto, já estava alguns passos a frente. E não querendo caminhar sem seu violinista, decidiu esperar. Os toques pudicos tão cedo não teriam outra conotação.