Seus dedos corriam pelas teclas amareladas do instrumento. A música já não era tão suave como antigamente. O negro piano de cauda tinha partes da madeira lascadas e tinta desbotada, além de um grande acúmulo de poeira por cima; contudo, o fato da menina de dez anos poder estar ali, recitando mais uma música neste, já lhe alegrava. Sentia a dança suave de sua mão junto às teclas do piano.

O palco no qual sempre tocava, as cortinas vermelhas de cetim, o piano, as pessoas, os aplausos. Tudo aquilo que sua mãe sempre lhe contava - de forma tão bela – vagava em sua mente, mesmo que nunca tenha visto nenhuma dessas coisas, já que fora privada de sua visão, e de sua vida.

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-Tem alguém ai? – entrara no salão um homem uniformizado com uma lanterna na mão. Jurava que estava ouvindo uma bela música - ou que estava enlouquecendo. Desligou a lanterna assim que acendeu as luzes do museu. Uma ala apenas para o piano do século XV com todo o salão reconstruído. Era como se o homem tivesse voltado no tempo. Correu os olhos pelo salão inteiro, e apenas viu um piano a tocar sozinho antes de sair correndo.