PDV Alice

   Meu Deus, a culpa era minha! Bella havia sumido e a culpa era minha!

   Eu não conseguia pensar em outra coisa, não parava de me sentir culpada. Fui eu quem a vira por último, quem a deixou entrar na floresta e encobriu seu rastro, dizendo que ela estava no quarto. A culpa do sumiço dela era minha!

    -Alie você ta bem? – perguntou Emmett, me vendo chorar. Eu estava no meu quarto alternativo e ele havia vindo me fazer companhia, alegando que eu podia acabar entrando na floresta a qualquer minuto para procurar por Bella. Não era mentira.

   -Não. Não consigo parar de me sentir culpada pela Bella, Mett. E a culpa é minha! – desabei nos braços dele, chorando.

   -A culpa não é sua, Lice – ele tentava me reconfortar, afagando meu cabelo – A Bella é cabeça dura. Você sabe disso tão bem quanto eu. Quando ela cisma com algo, ninguém a faz desistir. Foi por isso que ela entrou na floresta. A culpa não é sua!

   Não sabia se ele estava tentando só me reconfortar ou se dizia a verdade, mas me sentia culpada de qualquer jeito. Quando enfim recobro as forças, digo:

   -Você acha que seria má idéia se fossemos pra casa? Ficar aqui só me deixa pior...

   Ele refletiu um pouco. Já era domingo. Passava da hora de almoçar e ninguém havia dormido ou comido desde a noite passada. Aquilo estava fazendo muito mal a todos nós.

   Sendo chefe de polícia, nosso pai havia acionado todas as autoridades locais e vizinhas para encontrar Bella. Eles não estavam ajudando em nada, principalmente a Renée. Ela gastara a maior parte do tempo conosco ou rezando para que Bella voltasse. E ela nunca fora uma mulher religiosa...

   Quando concluí que Emmett não responderia, ele se levantou e foi até o quarto dos nossos pais.

   Sem fazer barulho, o sigo e chego ao quarto a tempo de vê-lo se ajoelhar ao lado de mamãe, que estava rezando mais uma vez, e abraçá-la. Ela retribuiu ao abraço, chorando.

   -Mamãe, eu acho que é melhor irmos pra casa – ele começou

   Ela se desesperou.

   -O que? Não podemos! E se Bella voltar pra cá? E se seu pai encontrá-la aqui perto? E se...

   -Mãe, pense na Alie também! Você não sabe o que a gente daria pra que a Bella voltasse, mas Alice se sente culpada pelo que aconteceu! Dói muito nela ficar aqui! E não finja que em você não dói! Se Bella voltar pra cá, os empregados dos Cullen vão nos avisar, você não acha? – ele antes estava gritando, mas sua voz se suavizou – Papai e o resto da polícia vão continuar procurando, mas é melhor voltarmos.

   -Tem razão, me desculpe – ela respondeu – Alice! – ela me chamou e eu entrei – Prepare suas malas. Você também, Emmett. Vou avisar seu pai e vamos voltar antes do meio da tarde.

   Eu e meu irmão fomos para nossos respectivos quartos, mas antes que eu saísse, Renée me chamou

   -Alie você pode arrumar as coisas da sua irmã também? – assenti e fui primeiro para o quarto de Bella. Ela não havia trazido muita coisa, por isso devo ter demorado quinze minutos ou menos por lá. Mesmo assim, estranhei que o colar de diamante dela não estivesse lá.

   Deixei a mala dela na porta e fui para meu quarto. Nele sim eu demorei muito. Eu havia levado metade do meu closet. Ou melhor, um quarto dele, já que metade pertencia a Bella. Terminei de guardar as coisas encima da hora de irmos embora, e teria ficado pra trás se minha mãe não argumentasse que eu tive que arrumar as coisas da minha irmã, por isso me atrasei.

   Ela bem que podia ser advogada...

   Entramos na viatura de Charlie. Enquanto ele colocava as malas no porta-malas, me perguntei por que ele quase não conseguiu levantar a mala de Bella, que estava tão leve. Mas eu já sabia a resposta.

   Seguimos para casa em silêncio. Embora ninguém falasse, não era preciso ser médium para adivinhar no que eles estavam pensando. Ou melhor, em quem.

   Quando papai parou em frente a casa, peguei minhas coisas, as de Bella e fui para nosso quarto. Depois de tomar um banho bem demorado, fui para a cozinha. Ninguém fizera questão de cozinhar ou pedir comida. Eu mesma não estava com fome. Todos fomos nos deitar sedo. Naquela noite, tive um pesadelo.

   -Bom como vocês se intrometeram no meu caminho, não vão sair em punes – um mal encarado de cabelos negros disse. Eu estava perto do lago, na floresta, junto de Emmett.

   -Alice! Emmett! Fujam agora! – Bella saiu de algum lugar gritando. Nós nos olhamos e saímos correndo sem hesitar. Depois de três segundos de corrida, senti a mais profunda dor do mundo. Meus ossos eram esmagados eu gritava de dor. Emmett estava ao meu lado, também se contorcendo. Gritei ainda mais alto.

   Demorei alguns segundos para reparar que eu estava gritando de verdade.

   Levantei-me de um salto, ficando sentada sobre a cama.

   Ninguém havia acordado com meus gritos. Acho que agora sei o por que. Eu ainda devia estar dormindo para ver o que estava vendo.

   Bella estava na minha frente, usando seu vestido da festa, mas o mesmo estava todo sujo e rasgado. Sua expressão era de susto quando me viu acordada. Ela estava xeretando nas nossas coisas da penteadeira, procurando algo, acho. Não me importei.

   -Bella? – indaguei, eu não acreditava que ela realmente estivesse lá – Bella é você?

   -Alice – ela estava chorando – Sou eu

  Seu rosto havia assumido uma expressão culpada, como quem havia quebrado a regra que mais queria cumprir. Ela não podia falar comigo, mas o estava fazendo.

   Me levantei rapidamente e dei um abraço nela. Foi o abraço mais forte que já dei e recebi, pois ela o retribuiu. Comecei a chorar também. Perguntei-me por onde ela havia estado e me desvencilhei de seus braços.

   -Será que dá pra explicar por onde esteve? A cidade toda e mais algumas da região tão te procurando! Como entrou aqui e por que você desapareceu? Eu...

   -Alice, por favor, me perdoa! – ela suplicou – Não posso te contar o que aconteceu, mas, por favor, não conta pra ninguém que eu estive aqui! Preciso ir embora! Não tenho muito tempo!

   -Do que você está falando? Você ficou desaparecida por quase dois dias inteiros e já quer ir embora?! Bella, já vai amanhecer!

   Ela empalideceu.

   -Já.. Já vai a-amanhecer? – assenti e ela olhou pela janela. O sol estava quase aparecendo – Ah, meu Deus, Alice! Me desculpa!

   Ela saiu correndo pela porta e eu fui atrás. Emmett deve ter ouvido a gritaria e veio checar o que houve. O quarto dele era o mais pero da escada – os quartos ficavam no primeiro andar depois do térreo -, por isso quando ele abriu a porta e saiu, Bella bateu de frente com ele.

   -Bella? – ele se assustou

   -Emmett, me desculpe! – ela correu pelas escadas, estranhamente sem tropeçar. Eu e me irmão nos olhamos e fomos atrás dela, sem nos importarmos com o fato de estarmos de pijama ou não termos fechado a porta.

   Só queríamos saber aonde Bella fora e no que se metera.

   PDV Bella

   Ah, Pai Amado, o universo estava conspirando contra mim! Primeiro, o colar não estava lá. Segundo, Alice havia me visto. Terceiro, o sol estava nascendo. Quarto, Emmett havia me visto. Quinto, meus irmãos estavam me seguindo!

   Uma das minhas maiores preocupações naquele momento era como eu ia despistá-los. Como era quase de manhã – o que me desesperava -, a iluminação os ajudava a me ver. Por outro lado, havia muitas nuvens no céu e uma leve neblina naquela madrugada, ambos podiam me ajudar, me dando uma vantagem, mesmo que muito pequena.

   Quando cheguei à floresta dei uma olhada para trás. Eles ainda estavam no meu encalço, me seguindo involuntariamente de longe. Me desesperei; assim que cheguei na clareira, o sol terminou de sair detrás das montanhas. Todos estavam a minha espera e começaram a se contorcer com a dor. Quando ela me atingiu, também caí no chão, gritando.

    -Bella! – Alice gritou quando me viu e veio para junto de mim – Emmett, me ajude aqui!

    Emmett veio para junto de nós, se ajoelhando junto de Alice ao meu lado. Enquanto ela checava minha pulsação, ele checava a minha temperatura com a mão em minha testa. Ambos, em especial Emmett, ficaram pálidos.

   -Ela ta... tão quente... Ficou fria... Esquentou de novo... A temperatura dela não para de mudar – a ultima parte foi gritada

   -A pulsação dela ta acelerada... Emmett, vai pegar um pouco d’água!

    Emmett correu em direção ao lago e Alice ficou comigo. Quando me olhou, empalideceu ainda mais.

   Mas aquela era minha vez de se desesperar.

   Pois ela estava vendo minha transformação.

   -Emmett – ela sussurrou assustada demais para gritar – Emmett, esqueça a água e venha até aqui.

   O fogo parou completa e totalmente para o meu alívio. Esse alívio passou quando Emmett me viu e se debruçou do meu lado. A aquela altura, eles não viam mais a Bella. Só viam um cisne.

   -Bella é você? – Mett repetiu a pergunta que Alice fizera no quarto.

    -Me desculpem por não contar – completei a frase que eu tanto havia começado, mesmo que de modos diferentes – Sou eu, sim.

   Me levantei e olhei na direção de Liza e das crianças. Mett e Lice não os haviam notado, mas Bree e os outros sim. Fui para junto deles, tropeçando e quase caindo aqui e ali, mas sem me importar. Quando cheguei ao lado de Liza, me virei para ficar de frente para ela, que abaixou o olhar e me fitou.

   -Não estava lá – sussurrei – Eu chequei na casa toda e não estava lá

   -Tem certeza? – perguntou

   -Tenho. Absoluta – me sentia um lixo

   -Ah, céus...

   -Bella, o que está acontecendo? – Alie veio pra junto de nós, seguida de Emmett – Quem são esses animais? E como eles podem falar?

   -Ora, não se preocupe, Raposa – olhamos para cima e havia um gavião enorme nos sobrevoando. Aro havia voltado. O que ele tinha contra ficar longe de nós? – Você e seu irmão logo vão descobrir tudo, do mesmo jeito que sua irmã descobriu, certo Cisne? – ele pousou e se transformou. Espera! Ele estava querendo...

   -Por favor, não faz isso! Você já me transformou! Já tem o que queria! Deixe-os fora disso!

   Mas Aro apenas sorriu e se virou para eles. Isso era terrível!!! Eles não podiam sofrer o que eu tava sofrendo!!!

   -Por favor! Não os machuca! – gritei

   -Eu lamento, mas terá de ser assim. Eles se colocaram no meu caminho, não vão sair intactos

   Enquanto ele tirava o colar de dentro da bainha da blusa, o pavor me consumia

   -Mett, Lice, corram! – ordenei

   Eles não esperaram segunda ordem e correram em direção à floresta. Aliviei-me. Mas só por um segundo

   -É tarde demais pra vocês! – Aro berrou

   Os gaviões e as sombras saíram do colar em uma velocidade maior do que eu me lembrava e envolveram Alice e Emmett em uma grande nuvem de fumaça. Eles gritavam como eu, implorando para que aquilo parasse. Durou só alguns segundos, mas foi o suficiente para que eles sumissem e em seus lugares surgissem um urso pardo e uma raposa.

   Ambos caíram no chão, respirando com dificuldade. Arfar, naquele momento, lhes custava um esforço hercúleo, como para alguém que ficou muito tempo debaixo d’água, foi atropelado ou caíra de uma altura gigantesca. Olhando bem para eles, reparei que, principalmente Alie, estavam chorando. Como eu na primeira vez, eles choravam sangue.

   Olhei para Aro com o mais profundo ódio, mas ele apenas gargalhava, achando graça daquilo tudo, sem dúvida.

   -Só tenho a agradecer a você e seus amigos, Cisne. A cada novo prisioneiro do meu poder, fico mais forte. Então obrigada. – dizendo isso, Aro se transformou outra vez e saiu voando.

   Devagar, andei na direção de meus irmãos, que se levantavam com dificuldade. Mesmo estando a um metro e meio dos dois – um movimento planejado -, conseguia ouvir seus corações batendo freneticamente, palpitando como as asas de um colibri.

   -Vocês estão bem – que pergunta mais idiota de se fazer

   Ambos me olharam, com a interrogação estampada na face. Eu entendia os motivos deles. Era difícil no começo. Pra mim foi. Mesmo assim, só suspirei frustrada, enquanto eles se examinaram apavorados.

   -Eu... eu sei que dá medo, mais... mais eu posso explicar...

   -Explicar o que? – gritou Alice – Que nós estamos no meio da floresta? Que um cara vira uma águia ou sei lá o nome daquilo, e que nós viramos animais... – ela arregalou os olhos – E ainda por cima, falantes?!

   -Um gavião

   -O que?

   -Aquele “cara” virou um gavião

   -Que se dane! – esbravejou Emmett – Mas você tem muita, repito, muita coisa pra explicar pra gente

   -Vou dizer tudo, fique calmo. Mas vocês precisam entender que não podem me culpar por isso! Não sou eu quem está no comando da situação!

   -E vocês não podem descontar a raiva de vocês encima de Bella! – Bree interveio – Ela sofreu nisso tudo tanto quanto vocês! Na verdade, até mais!

   -Então contem o que está havendo! – gritaram

   -Liza, eles tem razão – admiti – Você... Você pode me ajudar com essa parte?

   Ela tombou a cabeça para a direita e pensou um pouco, então veio até nós. Parou no meio do caminho para admirar uma rosa desabrochada e pegar uma pétala dela. Sentou-se na nossa frente, estendeu-a ma palma da mão para que todos pudessem vê-la, e ela começou a brilhar, mostrando a cenas conforme Liza falava.

   Então, ela lhes contou tudo.