Pain Is Just a Simple Compromise escrita por rocknrollbby


Capítulo 33
Capítulo 34


Notas iniciais do capítulo

OLHA, NÃO DEMOREI UM MÊS.



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– Ei, Josh. O que é isso ? - assim que chegamos na casa, na quinta-feira, notei um amontoado de folhetos em cima da mesa. Todos eles impressos com a palavra “CONCURSO” em destaque no alto da folha.

– Ah, é que anualmente, lá na escola, tem esse concurso. Eu vou ter que distribuir os folhetos para os alunos... - Ele respondeu, sem dar muita atenção, e sem perceber meu olhar curioso pairando sobre cada palavra no folheto.

– E o que você recebe se ganhar ?

– Bem, depende. O concurso é dividido em dois: um para os alunos, outro para os pais e professores. Se for aluno, ganha um desconto para quando fizer a próxima matrícula, e se fizer. Se for pai ou professor, bem... não ganha nada. Essa parte é só por diversão mesmo.

– Mas... e quem não é nada disso ?

– Pode ser um convidado de algum participante, mas no caso o participante tem que ser um professor ou pai, pra que não haja nenhuma acusação de “vantagem”, já que ninguém vai ganhar nada mesmo. Mas... por que você quer saber disso ?

– Nada, só estou perguntando... - é, eu estava cogitando a hipótese de participar disso com ele. Josh me lançou um olhar de descrença.

– Sei, sei... vai logo, Hayles, o que você quer com isso ?

– Já disse, não é nada...

– Eu te conheço e sei muito bem que está mentindo.

– Tá, certo. É só que... eu fiquei pensando: se a gente pratica tanto, deveria ter um finalidade pra tanto...

– E tem. Te ajudar.

– Mas... você entendeu.

– Você quer participar, é isso ?

– ...eu não sei... hm... você quer ?

– Contigo ? Seria uma honra! Claro que quero! Já estava até pensando em falar disso com você, mas não sabia como... Mas você tem certeza ? Acha que já está pronta pra isso ?

– Nunca vou saber se não tentar. E, no final das contas, eu vou ter você lá, eu não vou precisar de mais nada. - Josh abriu um sorriso radiante e chegou mais perto. - Então começamos a praticar hoje ?

– Mas já ?

– Hayles, faltam um mês e meio pro concurso, temos tempo de sobra pra isso. Não podemos só tocar e deixar essa história para as próximas semanas ?

– Tudo bem...

De fato, foi tão normal quantos os outros, mas tinha uma coisa que gotejava constantemente na minha cabeça: se eu deveria ou não dizer a Josh que semana que vem eu iria me atrasar, ou até não iria aos ensaios. Não sabia se dizia a verdade, contava a ele tudo que eu pensei sobre as atitudes de Jeremy, e sobre toda a história de Sara e Kath; ou se mentia, dizendo qualquer bobagem de trabalho. Odeio mentir. Ainda mais pra ele, apesar de já ter feito isso antes. E falar para ele sobre Jeremy não era muito agradável. Optei pela mentira. Uma pena. Josh foi compreensivo, tratando-se de assuntos de trabalho...

Os outros dias seguiram-se normais.

Até que segunda chegou. Eu não sabia oque fazer quando fui dispensada, se deveria ir embora sozinha, ou se deveria esperar Josh, correndo o risco de Kath ou até mesmo Jeremy já estar esperando em frente a minha casa. Ou eu abusaria da minha condição física precária ou abusaria da sorte. Tudo menos envolver Josh.

Quando cheguei, Kath já andava em direção a porta com Sara agarrando sua mão. Assim que me viu, Sara abriu um sorriso e veio me abraçar. Kath se despedia de ambas nós e Sara, de novo, assim que entramos, pediu para que eu cantasse. Comecei a me questionar se eu não conseguiriam converter esses pedidos delas em algo positivo...

Não via a hora de Kath buscar Sara. Sabe, eu gosto muito de Sara, muito mesmo, mas... queria ver Josh o máximo que pudesse durante a semana, essa principalmente. Corri para o estúdio assim que o carro sumiu de vista, e, quando cheguei, fui recebida por um sorriso caloroso do Josh. Ele não pensava duas vezes antes de mostrar que também queria me ver. Com ele por perto, tudo de ruim que cantar para Sara músicas do Paramore trazia era exterminado.


No dia seguinte, depois dos ensaios, Josh sugeriu que amanhã saíssemos para fazer alguma coisa. Dessa vez tive que falar a verdade.

– Amanhã podíamos, sei lá.. sair.

– Err... Josh, eu... bem... não vai dar. Kath já marcou comigo de sair amanhã e não sei nem quando vou estar em casa. E acho que nos ver juntos, por mais que já tenha passado quase uma semana da entrevista, não pegaria muito bem. Desculpa não ter te avisado antes, eu... deveria saber que você pediria isso, mas... não sei, saia com alguma outra pessoa.

– Não tem outra pessoa com quem eu queira sair.

– Isso não é possível, Josh. Eu não sou a única pessoa no mundo com quem você possa se divertir.

– Pra mim, você é. Mas se você não está disponível, tudo bem. - ele pareceu um pouco desanimado.

– Que tal no sábado ?Podemos jogar boliche , faz tempo que não fazemos isso...- ele ficou mais animado e aceitou na hora. Se quer saber a verdade, eu deixaria de sair com Kath para ir com Josh a qualquer lugar.


Sair com Kath foi bem divertido, mais do que eu esperava. Era a boa a sensação de ter alguém por perto, e poder falar de coisas que provavelmente soariam bem estranhas para Josh, por exemplo. Eu tinha me esquecido do quão simpática era Kath... Andar até sentir os pés dormentes, falar até cansar, mais e mais assuntos femininos. Eu adorava aquilo e foi ótimo me lembrar disso.

Mas definitivamente, nada iria bater a vontade de estar com aquele-que-não-preciso-nomear-porque-chega-a-ser-óbvio. Aproveitando que tinha saído, comprei um novo celular. Sentia falta de trocar algumas mensagens com Josh, apesar dele ainda nem saber do meu ex-celular afogado. Assim que cheguei em casa, tratei de de ligar pra ele, do telefone mesmo(Josh ainda não tinha meu novo número).

Hayles! Como foi o dia com Kath ?– ele atendeu no primeiro toque. Deu pra perceber um ar estranho quando ele disse “com Kath”.

– Melhor do que eu esperava. E você ? Saiu com alguém ? - queri ouvir um 'não'.

É... hoje é quarta, então eu fui naquele restaurante, você sabe... e também sabe quem estava lá.– ah, eu odeio esse nome. - Meg viu que você não estava comigo e ficou bem intrigada com isso. Então, aproveitou sua ausência, eu acho, e me convidou para dar uma volta por ai. Eu aceitei. Você disse que eu poderia sair com outra pessoa, e eu não vi nenhum problema em sair com ela.– Meg ? Tanta gente pra ele sair, e tinha que ser justo com ela ? - Foi divertido, devo confessar, mas nada que se compare a sair com você, só pra esclarecer porque eu sei que você não gosta muito de Meg.– Josh riu. - Mas... como eu posso dizer isso ? Ela me distraiu por um tempo. “Um tempo” significa uns 5 minutos, talvez. Então me lembrei de você, e pelo resto do dia, fiquei pensando que eu só teria que esperar algumas horas pra te ver de novo. E percebi que a palavra “horas” me incomoda quando tem esse tipo de relação com você. É tanto tempo, e eu estava esperando para estar com você há tanto, não é justo, mas é a vida. E temos amanhã fazer valer a pena, certo ? Queria estar perto de você agora, mas como sempre acontece, eu não posso. Queria poder dizer “boa noite, Hayles. Eu te amo”pessoalmente.

– Bom, não precisa ser pessoalmente. Contanto que eu saiba que você quis mesmo dizer essas palavras, pode ser de qualquer jeito. - Mas é claro que pessoalmente você gostaria mais.

– Sério ? Então eu dirigi até a sua casa pra nada ? Desculpe.

– O que você quis dizer com isso ?

– Ei, Hayles, olhe pela sua janela.

E lá estava Josh, com o celular na orelha e seu sorriso me iluminando mais do que a lua fazia com o céu negro. Eu não tive dúvidas, de moletom velho e tudo, escancarei a porta e atravessei a rua deserta, me jogando contra Josh tão violentamente que o fez cambalear, lhe dando o abraço mais apertado que eu já dei em alguém. Ele retribuiu com a mesma intensidade, me tirando do chão.

– Não foi em vão. Nada que te envolva será em vão.

– Estou feliz que você esteja aqui... Veio aqui só pra falar “boa noite” ?

– E te ver. É oque eu tenho ao meu alcance.

– Não... por favor, fica. - pedi, fazendo bico. Josh sorriu, demonstrando que aceitava o pedido, e eu o arrastei para a varanda, fazendo-o sentar-se num banco que eu tinha ali. Já era tarde, ninguém nos veria lá...

Ficamos fazendo o de sempre, conversando, rindo, às vezes em silêncio, olhando um para o outro, ou admirando o nada, pensando...

E claro, chega a hora de ir embora.

– Eu te amo, Hayles, nunca se esqueça disso, acima de tudo. Amanhã nos vemos.

– Não se esqueça de sábado, boliche às oito. Te amo, Josh.

– Boa noite. - nos abraçamos mais uma vez, mais forte. Devíamos ter ficado assim por minutos, que mais pareceram segundos. Ainda me sentia meio culpada por ter que menti pra ele, por mais que a mentira fosse safá-lo de boas brigas, talvez.

A quinta-feira foi exatamente igual a terça ou segunda. A diferença perceptível era que eu estava mais disposta com Sara, feliz por ela estar ali, porque eu comecei a me apegar à menina. Eu podia descrever isso e justificar o fato com saudade de família. Sim, saudade de família. Analise os fatos. Tanto tempo sem saber nada sobre minha família, sem ver a cara de ninguém, ouvir as vozes, estar na presença desse espírito acolhedor e carinhoso... Sara era a representação disso. Ela me chamando de “tia Hayley”, ela dizia isto com um amor tão grande que tinha vezes que me dava a impressão de que eu realmente fazia parte da família dela. E Sara de um jeito bem estranho e um tanto grosseiro e inconsciente, me ajudava na recuperação. Eu até previra isso. Não vou recusar. Se eu nunca parar pra encarar isso, eu nunca vou passar por cima. E não adianta adiar mais ainda.

Mas a melhor parte do dia eu não preciso falar qual foi.


Enfim, logo chegou sábado. Como havíamos combinado, fomos a um boliche. Só que dessa vez, tomando um grande cuidado pra que o lugar fosse bem pouco frequentado. E conseguimos tal façanha. Não importava se o lugar era isso ou aquilo, importava que eu estava me divertindo com ele. Eu senti falta disso durante a semana e tirei sábado pra botar minha conta com a felicidade em dia. Claro que valeu a pena. Ainda aproveitamos e fomos pra minha casa, onde ensaiamos e demos um geral no que poderia vir a ser a setlist para o concurso, com uma limitação mixuruca de 3 músicas. Josh ficou lá até “ser seguro sair pela porta da frente”.

No domingo, tudo correu bem. Por um tempo. Eu estava ligeiramente aliviada de que a semana havia passado e que recuperaria minhas horas de ensaio com Josh, apesar de que no fundo, isso era meio triste por eu estar me apegando a Sara, como dito anteriormente. E então, Jeremy liga. Ele parecia bem mais animado do que na última vez em que nos falamos, e não escondia que esse fato tinha relação com que Sara havia dito a ele que “o Traidor” (tinha medo de que ele estivesse ensinando Sara a chamar Josh assim) não me visitou durante a semana. O “plano” dele, se é que havia algum, estava indo bem e estava tudo pronto para que o próximo passo fosse dado. Kathryn aparentemente arranjou um emprego. Isso é muito bom, estou feliz por ela, estou mesmo; mas não muito com a proposta que ele me deu. Sabe, me fez sentir como se eu fosse uma babá, mesmo que eu goste de crianças e tal, mas... pedir pra que eu fique com a filha dele durante 6 semanas, (aparentemente, até que os avós maternos voltassem de uma viagem à Portugal e ficassem com ela), todos os dias, por uma hora e meia, isso já não era um pouco de abuso da condição de amizade ? Considero Jeremy como um irmão, adoro Kath, e Sara é como se fosse minha sobrinha, mas... eu não sei.

Ai surge a dúvida: devo falar para Jeremy que eu não posso porque eu e Josh entramos/entraremos para um concurso e que eu preciso desse tempo, ou simplesmente dizer sim, que estou disposta, e esconder e mentir para Josh também ? É bem estranho. Eu os coloco como prioridade, sempre a frente de tudo e todos, inclusive de mim.

Perguntei a ele o porque de uma hora e meia.

– Bem, conseguimos arranjar alguém pra ficar com ela, mas temos que paga por hora. Eu chego tarde do trabalho e Kath também, provavelmente. Então só podemos pagar por duas horas, porque, você sabe, daqui a pouco teremos que colocar Sara numa escola e vamos começar a juntar tudo a partir de agora, então só podemos encaixar isso no orçamento. Sara fica sem companhia por umas 3 horas ou mais, entende ? Se você aceitar, poderemos pagar a babá pra ficar o resto do tempo. Hayley, eu não me sinto bem te pedindo isso, e não te dando nada em troca, mas... as coisas estão difíceis ultimamente e você é única pessoa em que confiaríamos nossa preciosa Sara.

Eu aceitei.
No dia seguinte, as semanas com Sara já começariam. No início do dia, quando vi Josh, ele parecia bem animado, sabendo que os dias em que eu teria de ficar mais tarde no trabalho tinham acabado e “tudo voltaria ao normal”. Não demorou para que eu desmanchasse significativamente o sorriso dele ao arranjar a desculpa esfarrapada de que teria um evento na empresa daqui a um mês e meio e que eu teria de ficar mais tarde durante as 6 semanas. Não me sentia muito bem em mentir.

Mas ele, como geralmente fazia, arranjou uma sugestão/solução para esse “problema” (não era bem um problema): aos sábados e domingos, ficaríamos duas horas no estúdio. Não quero nem pensar no quão cansativas essas semanas serão.


Tudo estava correndo bem, muito bem por sinal. Nenhum dos lados estava sendo prejudicado, nenhum dos lados sabia do outro. Baseava-se em: acordar; ver Josh; trabalhar; correr pra casa feito uma condenada; cuidar de Sara (e ficar mais próxima dela a cada dia); correr pro ensaio; Josh; dormir. Estava indo conforme o planejado. Até quinta-feira.

Eu estava calmamente me despedindo de Jeremy (ele tinha que correr do trabalho dele, aproveitar os minutos de folga que ele tinha entre alguns períodos, e levar Sara até casa dele, onde a babá o encontraria), estávamos dentro da minha casa, conversando um pouco, quando a campainha toca. Normalmente, eu atendi. Era Josh.

– Hayles, preciso falar com você. - ele logo disse, quando abri a porta. Ele aparentava urgência.

– Josh, por favor, espere um minuto... - Josh se desviou de mim e foi entrando, e parecia ter levado um choque quando viu quem estava ali comigo. Jeremy, que já estava de saída, reagiu a sua presença lançando um olhar venenoso.

– Ah, olá, Jeremy. - Josh disse, mantendo os nervos no lugar, seriamente.

– Ah, oi, Traidor, como anda a vida na hipocrisia ?

– Jeremy, sem brigas. - o adverti.

– Já estava de saída mesmo, Hayley, não se preocupe, não vai acontecer nada ao seu amiguinho. Até amanhã. - assim, ele foi embora, sem nem esperar uma resposta.

Me virei e Josh estava me encarando. Era agora, Josh descobriu. Descobriu porque eu não vou mais para os ensaios nos horários. Eu to ferrada. E agora, oque eu faço ? Invento alguma outra coisa (lê-se mentira) ou conto a verdade de uma vez por todas e a posto na confiança que ele tem em mim ? Vai pela verdade, por favor.

– Você mentiu pra mim. - odeio quando ele afirma essas coisas. Ele transparecia compreensão, mas arrependimento. Eu assenti. - Por que não me contou a verdade ?

– Eu não podia te contar, você viu oque acontece quando vocês estão próximos...

– Eu não faço nada. Eu fico na minha. Sabe, eu não acho que mudaria alguma coisa se você me contasse a verdade desde o princípio. Você sabe como eu sou, quem eu sou, Hayles.

– Josh, eu.. me desculpa. É que... eu não queria arriscar que nada disso acontecesse, eu odeio ver vocês dois brigando...

– Não vai ter evento nenhum, não é ? - Josh estava pensativo. Eu confirmei.

– Como descobriu ?

– Ontem. Eu fui te buscar, já também tive que ficar até mais tarde lá na escola, pra ajudar com as inscrições para o concurso e tudo mais, e aliás, não estaremos concorrendo, seremos responsáveis por uma apresentação avulsa, tipo “banda convidada” espero que não se importe, e pensei que você iria gostar de uma carona até sua casa então fui te buscar no seu trabalho. Fiquei uns minutos esperando, até que alguém veio me avisar que você já tinha ido fazia tempo. E também fiquei sabendo que você não ficou nenhum dia até mais tarde, estava saindo no horário normal. Preferi não falar nada no ensaio, esperando que você fizesse isso, mas não aconteceu. Hoje vim esclarecer, te perguntar sobre oque estava acontecendo realmente, mas acabei descobrindo eu mesmo.

Fiquei um tempo de cabeça baixa, pensando no que responder. Eu expliquei toda a história para Josh, que ouviu em silêncio. Disse da semana passada, falei sobre o telefonema de Jeremy, contei sobre as semanas, as explicações de Jeremy, e como tudo andaria daqui pra frente. Só não disse do “plano”.Ele prometeu ser paciente, não reclamaria, e até e apoiaria e ajudaria se fosse necessário. E eu prometi que desde então, só contaria a ele a verdade. Eu, assim como ele, espero cumprir essa promessa.


As horas foram correndo, os dias foram passando, as semanas, uma a uma, chegando ao fim... E isso nada nem ninguém pode mudar. Mas, durante isso, outras coisas mudam. Jeremy visivelmente mudou sua estratégia de jogo.

Na segunda semana, ele começou a aparecer logo cedo em casa, “oferecendo carona”. Não eram todos os dias, geralmente era Josh, como de costume. Às vezes eu aceitava, apesar de saber que era de propósito, e ver que Jeremy olhava para os lados, alerta, para ver se Josh iria chegar. Ele parecia querer isso, só pra mostrar pra ele que “eu agora estava indo com outra pessoa” ou simplesmente queria que ele chegasse para provocá-lo ainda mais, apesar de fazer questão de insultar Josh sempre que tivesse uma chance, e parasse no exato segundo em que eu o lançava um olhar mortal. Isso e as mini-discussões-sobre-o-mesmo-assunto quando ele resolvia continuar com os insultos. Josh nunca aparecia quando Jeremy “chegava primeiro” (sim, porque aquilo estava parecendo mais uma corrida). Por mais que eu dissesse que dessa vez eu podia ir sozinha, ou logo respondesse com um “Não”, Jeremy nunca saia de lá até me colocar dentro daquele carro.

Jeremy também parecia prolongar propositalmente o tempo dele na hora de buscar Sara. Ele sabia que depois eu ia encontrar Josh e sempre acabavam se encontrando nas sextas ou nos dias que Josh por uma razão que desconheço resolvia me buscar, ou ver oque estava acontecendo, apesar de sempre saber a resposta. Ele também me ligava à noite, todas elas, mesmos horários, pra não falar nada, às vezes, e não importava quantas vezes eu dissesse “tchau, eu tenho que ir” sempre prolongava, sempre arranjava alguma coisa pra me deixar lá por mais alguns minutos. Claro, tentando me distanciar de Josh. E parecia surgir efeito, já que as conversas noturnas que antes tínhamos ou duravam menos tempo ou não tinham nem começo, não sei se era por horário ou qualquer outra coisa...

As coisas boas, as realmente boas, ou pelo menos uma parte delas, era que Sara e eu estávamos criando uma ligação incrível. A garota... ela me ajudava em tudo, todos as aspectos, assim como Josh, me ajudava a superar tudo que era preciso. Em relação a música, principalmente ao Paramore, eu nem acredito que cheguei tão longe em poucos dias. Não vou dizer “Ei, não tenho problemas em tocar e cantar música da banda” porque ainda tenho, ainda dói. Mas menos. Bem menos. Exercitar minha capacidade, colocá-la em prática todos os dias, por uma grande tempo, juntando as horas de Sara e de Josh, estavam tendo um maior efeito. Além disso, Sara estava mesmo virando uma espécie de sobrinha pra mim. Como eu havia dito, Sara estava me apresentando a relação família que há muito eu perdi, e por causa dela, de Jeremy e Kath, eu agora estava me lembrando de como era isso.

Eu não sabia dizer quem eu quera ver mais, qual era minha parte favorita do dia: Sara ou Josh. Classificava assim.

E também não sabia descrever oque foi acontecendo entre Josh e eu durante as semanas.

No começo, todo mundo estava feliz, todos de acordo com as coisas que estavam acontecendo, era fácil levar tudo do jeito que estava. Ou pelo menos... eu pensava assim. No decorrer dos dias a “competição” que se criava entre Josh e Jeremy estava ficando mais acirrada, a cada dia, uma chegava mais cedo que o outro, teve vezes que eu nem estava pronta ainda, já tinha alguém buzinando lá fora, ou batendo na porta. E não adiantava dizer para pararem, que da próxima vez que acontecer, eu não vou ir com ninguém, porque continuavam. À tarde, chegou dias que Jeremy me atrasou horas em casa, antes de ir para os ensaios, dias em que Josh resolvia dar as caras em casa, e mesmo com Jeremy ainda lá, ele parecia que ia me amarrar, jogar no porta-malas e me levar a força para os ensaios. Os preparativos para o concurso, agora que viramos uma espécie de “banda convidada”, mesmo nem sendo mais uma banda, já haviam começado e isso exigia mais responsabilidade e treino, mas com Jeremy me prendendo dentro da minha própria casa, perdíamos horas, e tentávamos recompensar nos sábados e domingos. Só que foi outra coisa que Jeremy previu. Então resolveu apelar para usar Kath para me manter entretida nos sábados, seja me ligando, seja me convidando pra “sair um dias desses”. Um dia desses = sábado/domingo. Mesmos nas sextas, quando minha casa servia de lugar de ensaio, Josh teve que esperar do lado de fora, porque Jeremy não queria que Josh entrasse em contato com Sara. Nem ocular.

Jeremy estava tentando ocupar todos os horários do meu dia. E eu estava deixando. Quer dizer, eu cansei de dizer “Não” pra ele, eu quera ficar com Josh, eu queria um tempo só pra mim, mas ele parecia não entender isso. Ele nem ao menos tentava enxergar pelo meu ponto de vista. Eu não vou dizer que eu não gostava de passar um tempo com ele, porque se não vou mentir, mas eu queria pelo menos refreá-lo. Eu gosto muito de toda a família Davis.

Mas indo para o ponto que eu queria chegar: Josh e eu. Ele estava me apoiando e se mostrava compreendedor todas às vezes, mas era só ele desviar o olhar, ou virar o rosto, que o sorriso que ele me mostrava desaparecia e ele era envolvido por um sentimento de tristeza. Eu percebia como ele ficava quando eu chegava nos ensaios falando sobre Sara, e Jeremy, e Kath... Sabe, eu de um jeito, estava extremamente feliz em poder ter todas essas pessoas na minha vida, e queria compartilhar disso com Josh.

As semanas foram passando, os horários apertando, e eu e Josh cada vez mais longes... não, não era nem um pouco agradável de ver isso acontecer e ser idiota o bastante pra não fazer nada, mas toda vez que nos encontrávamos, minha mente estava em outro lugar, bem longe de um estúdio, e geralmente, agora que todo dia eu não tinha sequer um hora comigo mesma, nos encontrávamos só pra ensaiar. Viraram quase raras as vezes que saíamos juntos. Eu sentia tanta falta dele... Não que ele tenha deixado de me tratar como antes, nesse aspecto nada mudou, nada que eu sentia sobre Josh mudou, e meu conceito sobre ele continuava o mesmo. Ainda queria vê-lo todos os dias, ainda queria ter a chance de ficar ao lado dele por horas, queria um tempo só nós dois. Mas o espaço na minha mente tinha se divido, não o lugar dele no meu coração. Acho que eu meu coração é que nem de mãe, sempre cabe mais um. Eu amo Josh e isso nunca nem ninguém vai mudar. Ou não...

Tempo, tudo se resume a tempo.


Era o final da quinta semana, sexta-feira, 28 de setembro. Minha mente estava totalmente bagunçada. Sara e eu estávamos no porão, eu tinha acabado de tocar um pouco de piano pra ela, depois de insistir muita a ela que me ouvisse alguma coisa diferente. Bem, ela se demonstrou bem paciente e disse que adorou, mas era perceptível seu desânimo.

– Me dá mais uma chance, vai, Sara. Você tem que gostar de mais alguma coisa além de Paramore... só temos que descobrir do que você gosta.

– Só se a próxima for Paramore.

– Ok. - essa sou eu, sendo chefiada por uma criança.

Peguei o violão, e toquei a primeira música que me veio a cabeça.


Merrily we fall out of line

Out of line

I'd fall anywhere with you, I'm by your side

Swinging in the rain

Humming melodies

We're not going anywhere until we freeze


I'm not afraid anymore

I'm not afraid


Forever is a long time

But I wouldn't mind spending it by your side


Carefully wew placed for our destiny

You came and you took this heart and set it free

Every word you write or sing is so warm to me

So warm to me, I'm torn

I'm torn to be

Right where you are


I'm not afraid anymore

I'm not afraid


Forever is a long time

But I wouldn't mind spending it by your side

Tell me everyday I'd get to wake up to that smile

I woulnd't mind it at all

I wouldn't mind it at all


You so know me

Pinch me gently

I can hardly breathe


Forever is a long, long time

But I wouldn't mind spending it by your side

Tell me everyday I'd get to wake up to that smile

I wouldn't mind it at all

I wouldn't mind it at all


– Tia Hayley, posso te fazer uma pergunta ? - ele parecia meio envergonhada, corava.

– Claro, Sara.

– Essa música é pro seu amigo ?

– Amigo ? De que amigo você tá falando ? - ah, eu sabia a resposta.

– Aquele lá que vem aqui de vez em quando, que o papai não gosta...

– Hm... - é, a pequena sacava oque se passava comigo. - É, é pra ele.

– Você gosta dele, não gosta, Tia Hayley ?

– Em que sentido de gostar, Sara ?

– Ah, não sei explicar. O papai gosta da mamãe. Você gosta do seu amigo ?

– Nesse sentido... você ainda é nova demais pra entender. - Mas parece que não é tão nova pra entender melhor você do que você mesma.

Sara não fez mais perguntas.


Naquele dia de ensaio, eu cheguei feliz. Mas parecia que esse estado de espírito não era mútuo entre eu e Josh. Me lançava resposta diretas e frias até demais. Não me olhou nos olhos uma vez durante o dia inteiro, e perguntar pra ele se tudo estava bem se demonstrava inútil. Demonstrações de afeto ou carinho não existiram. Conversas prolongadas eram impossíveis. Então podíamos chamar aquele ensaio realmente de ensaio, porque não passou disso.


O dia seguinte foi a explosão de tudo. Jeremy resolveu me levar pra “passear com eles”. O passeio durou a tarde toda. Eu estava extremamente atrasada para os ensaios. Se Josh ontem estava estressado por nenhum motivo, imagino agora, que tem um.

Já dava pra perceber todo o nervosismo dele pelo lado de fora. Era como se dentro daquela sala pulsasse puro stress. Estava pior que ontem, ah, estava. Respirei fundo e com muito calma, pra disfarçar o fato de estava ofegante. Talvez ele nem tivesse me visto lá, já que continuava tocando o violão, de costas para a porta. Girei a maçaneta bem devagarzinho, tentando não fazer som, e entrei aos poucos, me adaptando ao clima primeiro. O silêncio de palavras continuou, só as notas lentas e ritmadas preenchendo o vazio entre nós. Eu explodiria a bomba dentro dele se falasse alguma coisa ? Só saberei testando.

– Boa tarde, Josh. - disse, arriscando um tom de casualidade.

– Boa tarde, Hayley. - ele nunca me chamou assim, desde que nos re-encontramos. “Hayley”... sempre foi Hayles. Ele deve estar bravo mesmo... - Como foi seu dias com eles ? - o jeito dele de dizer essa palavra... eu odeio.

– Foi ótimo.

– Ótimo o bastante para te fazer esquecer que dia é hoje ?

– Hm... 29 de setembro. Por que ?

– Não tem nada importante hoje ?

– Ah, cara ! Não acredito que esqueci ! A apresentação da setlist, o ensaio oficial...

– É, né, não tem nada mais importante do que isso hoje, não ? - o tom irônico...

– Hm, não. - Josh se virou. Será que alguém já viu a Morte ? Porque era Josh nesse exato momento. Ele me metralhava com os olhos, mais do que isso, me jogava bombas, inúmeras. E eu o encarava com um grande ponto de interrogação estampado na testa. Eu não sabia mesmo, não me lembro de nada mais nessa data. 29 de setembro, 29 de setembro... procure nos meus mais antigos arquivos, mas não achei nada. Continuei assim por um bom tempo, e a Morte, que dizer, Josh, me encarando... Não. Não não não não. Me diz que não esqueci! Como pude ?! Idiota Idiota Idiota– Josh... - Sussurrei, me apressado para alcançá-lo, mas ele se levantou e desviou de mim. Não consegui distinguir se estava bravo ou magoado.

– É, não é mesmo importante. Certo, Hayley ?

– Josh, me desculpa... - tentei de novo uma aproximação, mas ele se afastou mais ainda. Estava enfurecido e mais do que ferido emocionalmente. Pegou uma mochila num canto e socou, literalmente, as coisas dele dentro dela.

– Tínhamos combinados isso há semanas, tem noção do quão ansioso eu fiquei ? Aquela semana da entrevista, tudo bem, não deu mesmo para ficarmos juntos, eu entendo, mas nesses últimos dias... O que ele fez em você ? Lavagem cerebral ?

– Ele é meu amigo também, e não, ele não fez nada em mim.

– Seu amigo ? - Josh se virou e me encarou de novo, quase bufando. - Há, que belo amigo... - ele ria, mas de nervosismo. Ele não parou de socar suas coisas por um segundo sequer.

– Não precisa ficar assim, eu estou aqui agora! - eu gritei.

Não. Você não está.– ele disse, grosseiramente. - Está em outro lugar, está pensando na Sara agora. - ele modificou a voz ao dizer o nome dela. Seria engraçado o tom dele se por trás daquilo não estivesse uma raiva disfarçada. - Não vê o que está perdendo aqui ?

– Eu não estou perdendo nada! - Ah, que legal! Uma conversa a base de gritos agora. - Eu não posso ser eu mesma, então ?

– Você mesma ? - Josh falou numa mistura de mais raiva e desprezo. - Essa não é a Hayley que eu conheço. É um projeto de alguém feito por aquela família de merda!

– Olha o jeito que fala deles!

– Por que os defende agora, hein ? Por que ?! Eles mudaram sua vida, não é ? Foram eles que te ajudaram com todos os seus medos e problemas, não é ? São eles que se preocupam com você todos os dias, hã ? Foram eles que te apoiaram quando o mundo inteiro te virou as costas ! Ah, então me desculpe, eu devo total desculpas àquela família!

– Também não é assim, Josh! Tenha paciência, né! Eles estão ajudando também, pensa que não ?

– É, eles estão ajudando. - Santo sarcasmo! - Te privando de viver sua vida!

– Eles nãos estão me privando de nada, eu não sou exclusiva deles!

– Pois parece! Bando de sanguessugas do caralho...

– Eles estão me ajudando tanto quanto você!

– Não ouse me colocar juntos a eles numa mesma frase! Eu não desejo nem que meu pior inimigo seja comparado a eles! Ah, eu esqueci, eles são meus piores inimigos.

– Você tem noção do quanto magoa ver que as pessoas que eu mais amo na verdade se odeiam ? Você sabe ?

– E você sabe como eu me sinto ao ver que a pessoa que eu mais amo ama àqueles que me odeiam ? O bom é que esse sentimento é retribuído!

– Josh, cala a boca, por favor!

– Por que eu tenho que os tratá-los bem, hein ?!Por que eu tenho que fingir indiferença ? Eu cansei de ter que engolir sem poder falar nada em volta. Eu sei sim que isso dói em você, mas, acredite, em mim também!

– Josh, por favor. Eu não quero discutir com você.

– Por que ? Está se sentindo ofendida com a verdade ? Me desculpe se você não enxerga! Me desculpa se hoje dói! Me desculpa por fazer você provar do que eu senti todos esses dias!

– Qual é o seu problema ? Eles não fizeram nada pra você!

– Ah, não ? Toda vez que nos encontramos, ele me chama de alguma coisa nada agradável. Traidor, hipócrita, falso... Me acusa de ter destruído a vida de todo mundo. Eu tenho minha parte nisso e assumo ela, mas você acha que eu gosto de ser lembrado, de ser visto como o vilão da história quando o que eu tento fazer é justamente o contrário ?Ele diz que eu acabei com o futuro dele. Oque você acha que ele anda fazendo com o meu ? A cada dia, você fica mais distante. O cara diz “Saia de perto dele, Não vê que ele fará o mesmo com você?, Ele vai te deixar” e. Você. Ouve.

– Não é pra tanto. Nos vemos todos os dias, Josh! Continua a mesma coisa...

– Você não está entendendo a importância que tem pra mim. Eu tenho você. - Josh pegou o violão, já guardado, e pendurou-o num dos ombros. Respirou fundo uma vez e se virou para me ver, finalmente, com um pouco mais de calma. - E, não, não continua mesma coisa. Ele, ao menos, tem a família dele, que aliás, era onde ele deveria se concentrar, não na vida dos outros. E eu não tenho mais nada além de você. Eu pensei que pudesse confiar em você, Hayley, que dessa vez seria diferente, por ser uma dia especial, mas não! Ele ganhou de novo. Mais do que isso. Ele ganhou você de novo. Era pra ser um dia diferente dos outros, onde eu finalmente conseguiria umas horas, ou nem que fossem minutos com a única pessoa que eu julgava estar do meu lado. Caramba, você entende ? Há três aniversários seguidos, eu não recebo um abraço, um sorriso, uma simples “parabéns” decente. Você tinha me prometido que iria ficar comigo hoje.

– Você também prometeu que seira paciente com ele.

– E eu fui, até o último segundo. Até que isso começou a se tornar uma competição ridícula. E eu entrei nela. Mas eram três contra um. Uma esposa controlada pelo marido, uma criança “maravilhosa”, e o chefe, o grande líder. E do outro lado, eu. É, lutei. Mas de nada adiantou. E, Hayley... Faz um favor pra mim ? Quando sair daqui, avise-o que eu desisto. O jogo acabou, ele ganhou.

– Eu não vou sair daqui, Josh.

– Pois deveria, porque eu não tenho mais nada a tratar com você.

– Nós ainda temos tempo para comemorar esse dia, eu ainda estou disposta a fazer valer a pena!

– Não temos, eu já não quero mais. Só pensei que uma vez sequer você fosse pensar em mim do jeito que eu penso em você. Mas parece que não tem mais nada aqui pra mim. - Josh pegou a mochila, e se dirigiu a porta, todo estressado.

– Tem, tem sim. Tem alguém pronta pra mostrar que fará de tudo e mais um pouco pra te fazer feliz. Alguém que topa qualquer coisa pra provar a amizade incondicional que tem por você. Eu nem sei se é certo chamar de amizade, porque nunca foi só isso, mas essa questão não vem ao caso agora. Tem sim alguém do seu lado, seja lá qual for a situação. Jeremy fala essas coisas pra você, pra você. Porque ele sabe que se eu estivesse por perto, eu te defenderia até a morte, ou até além disso. É batalha perdida. Acha que eu gosto de te ver assim ? Acha que eu também não sinto sua falta ? Não consigo me lembrar de um só minuto em que deixei de pensar em você. Pensa que é o único arrasado aqui ? Sei que está magoado agora, e dói mais ainda em mim por saber que a culpa é minha. Nunca fui boa com palavras, mas eu penso sim em você do jeito que pensa em mim. Com um carinho enorme, respeito, admiração e... amor. É, amor. Eu amo você, Josh. Mais do que pensa. Mais do que eu penso. Por favor, me deixe consertar isso. Ficar nesse clima com você é... a pior coisa do mundo. Você vale mais pra mim do que pensa. Cometi alguns deslizes...

Alguns ? - Josh parou na soleira da porta, de repente, e se virou para me ver de novo. Ele soltou uma risada irônica. - Digo vários. Por que acha que quero ir embora agora ? Não quero me magoar ainda mais. Não há nada que você possa fazer contra isso.

– Me deixe tentar. - me apressei para alcançá-lo. Dessa vez, ele não fugiu, mas assim que toquei seu braço, ele reagiu como se aquilo tivesse queimado.

– Não, Hayley! Me deixe em paz! Esquece esse dia, me esquece por hoje ! Preciso pensar um pouco, esclarecer oque se passa comigo, ok ?! Você por perto não ajudaria em nada. Eu não quero saber de você. Só... não espere mais nada de mim hoje. Não mesmo. Aproveite o resto do dia. Faça oque quiser, com quem quiser.

– Eu vou aproveitar, pode ter certeza. E com você.

– Não ouviu oque eu disse ? Eu-não-quero-saber-de-você. Me esquece !

– Como você quer que eu te esqueça ?!

– Do mesmo jeito que fez durante esses dias! Corra pra eles, porque lá pelo menos alguém te fará feliz, não é ?

– Por que você não cala a boca e me escuta ?!

– Porque você só fala essas coisas, só me dá atenção quando vê que está perdendo! Eu te dei o melhor que pude, e oque eu ganhei ? Isso! Agora, POR FAVOR, não me procure.

– Por que você recusa oque tanto quer quando consegue ?!

Você não ouviu nenhuma palavra do que eu te disse ? Eu não quero saber das suas palavras, do que você fez ou deixou de fazer, do que você sente ou deveria sentir, de você. Eu não quero saber da sua vida, dos seus problemas, de qualquer merda que você queira me falar. Não quero saber do seu dia, dos seus planos, dos seus pensamentos, FODA-SE. Você não significa mais nada. TCHAU. - Ele disse tudo com a maior grosseria que eu já tinha visto, vindo dele. Fiquei paralisada, assistindo Josh ir embora. As palavras dele me machucaram. Se eu parasse pra rever tudo que ele tinha dito, eu choraria. Desci as escada, tentando me segurar e continuar firme. Assim que passei pela recepção, Ester percebeu meu estado e ficou assustada.

– Está tudo bem, srta. Williams ? Eu ouvi você e o sr. Farro gritando e...

– Está sim, Ester. Não precisa se preocupar... - eu disse, com a voz trêmula, sem ao menos olhar na cara da recepcionista.

Por sorte, consegui achar um táxi vazio próximo a escola.

Assim que paguei ao motorista e entrei em casa quase arrombando a porta, desmoronei. As lágrimas rolaram, da pior maneira que eu já vi, minha voz falhava, meu queixo tremia quando eu tentava parar, minha visão ia ficando embasada, a cabeça ameaçava explodir. Respirava fundo várias e várias vezes, eu pressionava os lábios um contra o outro para prender os soluços, tentei me convencer de que ele estava estressado demais para dizer coisas racionais. Mas era tudo verdade. As palavras dele continuam indo e vindo na minha cabeça.

“Eu não quero saber de você”

“Me esquece !”

“só me dá atenção quando vê que está perdendo!”

“Você não significa mais nada”

Ele tinha a verdade nas mãos quando disse que eu eu só dei atenção a ele quando vi que estava perdendo. Eu vi que o estava perdendo assim que ele atravessou a porta. E mesmo assim, não fiz nada para mudar isso.

Eu não queria esquecê-lo, e nem que quisesse conseguiria. Impossível não chega nem aos pés da palavra que consiga descrever o quão difícil isso é. Mesmo que seja “por hoje”, como ele disse.

As outras duas frases... eu preciso mesmo falar sobre elas ?

E as palavras passaram de novo, cada vez com uma maior violência, fazendo com que mais lágrimas transbordassem dos meus olhos. Conseguia ver o ódio queimando por dentro dele quando ele me olhou, o dor em sua voz nas primeiras perguntas, e o arrependimento... por ter confiado em mim. Eu me perguntava se ainda existiam mais lágrimas. Não sei a razão pela qual eu insistia em repassar toda a conversa, se eu sabia que no final de cada palavra, eu iria encontrar mais um erro meu, mais uma verdade dele, mais uma justificativa pra me sentir pior ainda. Eu devia ter dito algumas coisas, eu devia não ter dito outras...

Ele não podia estar mais certo. Eu prometi pra ele. Quantas promessas foram quebradas até agora ? Quantas vezes eu fiz alguma coisa certa ? Eu sou a pessoa mais monstruosa existente na face da Terra. Eu não tinha esse direito de me sentir mal, quando a verdadeira vilã aqui sou eu. Eu não tinha direito sobre nenhuma lágrima derramada. Eu sou a causadora de tudo que está acontecendo.

Por que eu tenho que ser tão idiota ? Eu poderia ter evitado isso, e Josh e eu agora estaríamos rindo em algum lugar por aí, felizes. Mas é muito pelo contrário: os dois estão mais longes do que nunca(em todos os sentidos) e ambos arrasados. Por que eu não consigo fazer alguma coisa certa, ao menos uma vez ?

Eu decidi ir para o meu quarto, ver se as coisas iriam acalmar se eu me deitasse um pouco, mas não, não mudou nada. Eu puxei uma velha poltrona que eu tinha no canto do quarto para perto da janela e nela fiquei encolhida, sufocando o choro. O tempo não parecia muito bom, o céu estava de um cinza claro, mas ameaçador e triste, sem nenhum raio de luz passando entre as densas nuvens. Chovia. As gotas tamborilavam na janela, só que mais pareciam tamborilar na minha cabeça. Josh Josh Josh Josh; era o barulho que elas produziam pra mim. Só pra me ajudar mais ainda. E as lágrimas a escorrer, minha mangas já estavam encharcadas de tanto tentar secá-las, minha aparência deveria estar horrível. Mas quem liga pra aparência ? Eu que não. Eu só ligava pra ele. Eu queria ele, mesmo assim. Queria poder abraçá-lo, queria poder simplesmente olhar pra ele. Queria poder voltar no tempo, só algumas horas atrás, e concertar tudo, porque talvez assim, eu pudesse estar perto dele. Essas são as consequências para quando se ama alguém. Mais do que devia. Mais do que se pode julgar saudável.


Já era noite quando meu estado voltou ao “normal”, apesar do ainda presente bolo na garganta. Ele ainda persistia em minha mente, sem nenhuma mudança nos pensamentos. Eu ainda me sentia arrependida. De tudo. Amanhã ainda teríamos que nos encontrar, essa é a parte pior, ter que encará-o depois de tudo. Eu tinha medo de errar novamente, ou de desabar na frente dele; não sei qual deles seria pior.

Me deitei e me preparei para dormir e finalmente ter paz depois daquelas intermináveis horas. O relógio na cabeceira estava pronto para bater meia-noite. No momento que ele assim fez, o celular tocar. (1)Nova Mensagem. Era Josh. “Eu não quis dizer nada daquilo.” Já era um novo dia. “me esquece por hoje”. Já era tarde. Tarde demais pra que qualquer palavra fosse me ajudar. Pra fazer voltar toda lágrima que eu derramei por ele. Mas não era tarde pra me fazer derramar outra. E outra, e outra, e outra, e outra...

Eu não respondi.


Domingo chegou. Como previsto, Josh não falou comigo. A única tentativa que eu tive de falar com ele foi perguntado “Vai estar livre amanhã a tarde ?” e tendo como uma resposta “Não. Tenho compromisso com alguém. E aliás, não vamos ensaiar amanhã”. E o resto resume-se aos dois, cada um no seu canto, praticando suas respectivas partes, sem ritmo, sem interação, sem emoção. Pelas horas que me restavam do dia, fiquei refletindo sobre tudo que fiz na minha vida inteira. Fiquei imaginando se alguma coisa teria mudado se em certas situações eu tivesse dito “sim”... “talvez”... “não”... “nunca”... “pra sempre”. Eu fiquei me perguntando onde eu estaria se cumprisse com todas as minhas palavras. Como estaria não era surpresa...

Sara tinha acabado de adormecer no sofá, o dia tinha sido movimentado demais para nós duas. Eu arrumava as bagunças que tínhamos feito na casa, rindo a cada vez que me lembrava do dia de hoje. Mas ainda tinha uma coisa que me incomodava.

Eu tinha o convidado para sair hoje, depois que Jeremy buscasse Sara aqui, e ele recusou, o que me fez questionar oque tinha acontecido entre a tarde de domingo e a de ontem. E oqeu podia estar acontecendo nessa tarde. A ideia de Josh rindo com oura pessoa me causava repulsa e... ciúmes. Para tanto discurso sobre nossa relação, ontem não foi nada, literalmente. Talvez ele tivesse mesmo desistido. E pensar nisso era pedir para se sentir mal. Josh se esqueceu de mim ? Resolveu se entregar às indiretas insistências de Jeremy que se distanciasse ? Ele escutou oque eu tinha dito a ele ontem ? Talvez não. Afinal, eu me recusava aceitar oque ele tinha dito.

Eu tinha prometido que nada iria abalar oque tínhamos, e que isso de 'cuidar' de Sara alguns dias da semana era por algumas semanas. Correto que eu acabei me concentrando mais nela do que em Josh e nos ensaios para um futura apresentação, mas de qualquer jeito, nós tínhamos ensaiado durante todos os dias, praticamente, só que com algumas horas a menos. Mas ele não entendeu nada. E também não estava me ajudando a cumprir minha promessa. Nenhuma das duas. É certo que eu também sentia falta de passar o resto dos dias com ele, deixando preocupações e obrigações de lado por algumas horas. Mas às vezes, deixar seu lazer de lado para ajudar alguém é o mais certo a se fazer. Sara era quase uma irmãzinha agora. Eu também não podia deixar Jeremy e Kath na mão. Já pensou que está deixando Josh na mão, agora ? Eu tinha dito a ele que iria fazer isso. E ele pareceu concordar. No início. Ele não achava que iria acontecer isso, e que vocês dois iriam se distanciar tanto assim. Eu também não sabia disso, mas não vai durar por muito tempo. Eu não quero que dure, mas pelo jeito que ele tratou os Davis aquele dia... Eu não sei se tenho mais tanta vontade assim. Hayley, tenha uma certeza nessa vida: nós não sabemos de nada. Consciência, acalme-se. Eu fiz tanta coisa pra fazer vocês dois ficarem juntos e ver Jeremy surgir, assim, do nada, dizendo que Josh é tal e tal coisa, é extremamente ridículo. O pior é que você ouve ele. Eu não estou ouvindo Jeremy! Ele não é meu pai pra me dizer oque devo e oque não devo fazer ! E... Não é ? Então por que você começou a se distanciar de Josh justo quando ele apareceu ? Não era você que era dependente dele ? Eu não vejo mais isso. Porque... porque... hm... Eu sabia que você não teria respostas! Assuma, você mudou. Mudou de lado na história. Não! Eu... ainda gosto muito dele, mais do que eu pensei que iria, em tão pouco tempo, mas isso está acontecendo porque eu fiz uma promessa, de que iria ajudar Jeremy e Kath durante essas 6 semanas! E Josh também não está ajudando em nada. Você também prometeu a Josh que não deixaria ninguém interferir ! Eu quero saber oque você sente sobre ele agora, sinceramente, porque oque você disse há um tempo atrás, não faz mais sentido. Josh é a pessoa mais especial pra mim nesse momento, e talvez sempre tenha sido, não vou negar. Quero estar com ele a cada segundo que passa, a todo instante, e por mais que eu tenha isso todos os dias, nunca é suficiente pra matar a vontade, e quando o último segundo juntos que nos temos cessa, eu quero mais. Eu quero que ele me abrace, que ele ande por ai comigo, de mãos dadas, e que a todo final de conversa, que nós troquemos um “eu te amo”, porque sei que tudo que fazemos um com o outro é sincero, é verdadeiro. Eu amo Josh. Eu. Amo. Josh. Eu sou apaixonada por ele. Eu quero ele aqui, e agora. Satisfeita, Consciência ? Satisfeito, Bom-Senso ? Eu admiti oque sinto por ele. Mas a pior parte disso é que tudo que ele a faz ou diz tem mais consequências para mim. O que ele disse naquele dia doeu muito, então eu não tenho certeza sobre quem ele é de verdade. Nós tivemos tanto tempo juntos e eu acabei percebendo que, por mais amigos que tenhamos sido, melhores amigos, ou mais até, eu ainda tenho muita coisa pra descobrir sobre ele, com ele. E eu estou completamente disposta a passar por tudo isso, para que sejamos com éramos antes, e e tenho que admitir que quero mais. Ter que perdê-lo, ou estar perdendo-o, é doloroso. Mas, estar com ele, pelo menos, também foi. Eu sei que posso fazer a situação se reverter, talvez até em pouco tempo. Mas eu não tenho só ele, não agora. É claro que eu era igualmente feliz quando não passava de nós dois juntos, e tenho certeza que o índice tende a aumentar, mas... agora eu tenho mais pessoas com quem partilhar essa felicidade. Sabe, ele continua sendo aquele que faz ter um início de infarto com um sorriso ou que poderia, e fez, toda solidão da minha vida desaparecer com um olhar. E que com algumas palavras, parte meu coração. Mas eu tenho mais pessoas na minha vida, que, de uma maneira menos influente e forte, mesmo assim relevante, fazem a mesma coisa. Eu sinto falta dele. E eu quero fazer as coisas voltarem a ser oque eram antes, eu digo, eu e ele. Mas tem coisas que eu não posso fazer. E essa é uma delas. Vou interferir um minuto, é coisa rápida. Tem coisas que já deveriam ter sido feitas. Como o conflito entre Josh e Jeremy. Não sou eu que posso resolver isso. Claro que pode, Hayley. Você é a mais afetada entre todos. Jeremy tem uma vida, uma distração pra isso e outras preocupações para ocupá-lo. Josh também. Mas você... eles são sua vida, e estão se destruindo. Você vê que são poucos os esforços deles para fazer a situação melhorar, e muitos os problemas criados por causa disso. Está na hora de você fazer alguma coisa pra melhorar tudo. Com urgência. Você só me deixa mais confusa...

Ele tinha razão, eles estavam se destruindo, oque, consequentemente, me atingia muito. Eu acabei de ter parte da minha vida de volta, ou pelo menos, duas dela, que se recusavam a se juntar e formar uma só. E eu era como um elástico entre eles, estava dos dois lados. Se um deles soltasse, o outro poderia até se machucar, mas não tanto quanto eu. E parecia que eu estava mais a ponto de arrebentar do que eles a ponto de soltar. E era como se eu estivesse prestes a (ou ter que) me dividir em duas. E alguns já tinham ideia de pra qual lado eu estava, subconscientemente, indo. Mas, conscientemente, eu não queria. Eu queria ser a linha que iria unir essas duas partes. E o Bom-Senso estava certo. Eu tinha que agir. De alguma maneira, eu tinha. Começando por Josh, o que estava em estado mais crítico. Iria começar ligando para ele, talvez ele ainda estivesse em casa, se preparando para o compromisso que tinha hoje. De qualquer jeito, amanhã eu falaria pessoalmente.

Nesse momento, a campainha toca. Deve ser Jeremy, vindo buscar Sara, então fui atender.

Não era Jeremy.


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Notas finais do capítulo

TAN. TAN. TAAAAAAAAANNN. ei, eu avisei que TALVEZ, COM UMA REMOTA CHANCE, NÃO IRIA SER NESSE CAPÍTULO. é. eu torturo vocês. KEKEKEKEK mas fiquem calmas e anotem: Treça-feira, 12 de julho, às 19h, horário de Brasília (~olha que f*** isso, "horário de Brasília") capítulo novo e tão esperado que eu resolvi adiantar.SEM ATRASO, EU JURO. Não me matem. Porque se vocês fizerem isso, não terão capítulo 35 MUAHAHA. ESTOU IMUNE. fuck yeah