Esme cuidando do jardim, Alice ganhando de Jasper no xadrez, Emmet babando na Rosalie, que por sua vez está praticamente se jogando em cima de mim. Tudo completamente normal, ou quase. Carlisle estava trancado no escritório, isso também seria normal se ele não estivesse lá há uma semana. Ele ficou assim depois de um telefonema, do qual só Esme sabe do que se trata.

Os dois estão visivelmente tristes, porém Esme não fala nem pensa nisso e Carlisle bom, ele entrou em “pani”, não fala nem pensa nada, simplesmente fica sentado olhando para parede do escritório. Estão todos muito preocupados por mais que não deixem transparecer.

Fui tirado de meus devaneios internos por uma Alice super animada

“Ele voltará ao normal logo, e irá querer falar conosco” Disse ela, referindo - se creio eu à Carlisle

Esme que estava lá fora entrou e rapidamente acomodou – se no sofá ao lado de Rose, Alice e Jasper também levantaram e sentaram – se no sofá, Emmet já estava em uma poltrona que tinha ao lado do sofá. Em seguida Carlisle apareceu na nossa frente.

Ele estava visivelmente abatido, com os cabelos bagunçados, grandes olheiras e com os olhos estremamentes negros. Mas o que mais me deixou preocupado foi o jeito como seus olhos estavam opacos. Aquele homem alegre, aquele médico dedicado, simplesmente não existiam mais.

E parece que não fui só eu que percebi, pois ao olharem para ele todos ficaram tensos.

Carlisle pareceu notar nossa tensão, seus ombros caíram e ele soltou um suspiro num misto de tristeza e cançasso.

“Não me olhem assim” - Suplicou ele. Todos nós abaixamos a cabeça em desculpas mudas. - “Está tudo bem” - Disse ele um pouco cabisbaixo

“Carlisle....tem certeza de que está tudo bem ?” - Perguntou Alice um pouco hesitante.

Ele sentou no sofá que ficava de frente para nós, respirou fundo, fechou os olhos e esfregou os dedos nas têmporas, para se acalmar. Finalmente ele abriu os olhos e virou – se para nós.

“Bom...tenho que contar uma parte da minha história que vocês não sabem.” Jasper ia cortar – lhe, mas ele levantou a mão, pedindo silenciosamente para que se calasse. - “Peço que escutem até o final antes de tirarem conclusões.” - Novamente ele suspirou, dessa vez em um misto de nostalgia e tristeza. - “Quando era humano tinha um irmão, seu nome era Charlie. Quando acordei depois da transformação ele estava me procurando e infelizmente me encontrou.” - Em seu rosto formou – se uma careta de arrependimento - “Eu tinha acabado de acordar, estava faminto e não consegui me conter” - Ele abaixou a cabeça, envergonhado, como se estivesse prestes a confessar o pior dos crimes. - “Eu o mordi” - Ele deu um sorriso triste - “Até hoje eu não me decidi se foi bom ou ruim eu ter parado a tempo de não chegar ao ponto de matá – lo, apenas transformá – lo. Isso pode parecer insensível, mas eu não desejava essa vida para meu irmão.”

Esme foi rapidamente para seu lado e o envolveu pelos ombros - “Querido, não se martirize por isso, todos nós cometemos erros” - Ela disse enquanto afagava seus ombros. Ele a abraçou pela cintura.

“Obrigado” - Ele deu um pequeno sorriso - “Mas isso já passou, mesmo depois desse incidente nós continuamos nos dando muito bem. Ele dizia que estava feliz por poder continuar cuidando do seu irmãozinho.” - Seu rosto tornou – se sério novamente - “Mas, voltando à história. Nós permanecemos na cidade até nosso pai falecer. Quando saímos da cidade já tínhamos adotado a dieta que sigo hoje.” - Percebi que ele ficou um pouco incomodado quando disse “sigo”- “Ficamos um tempo juntos após sairmos da cidade, mas eu quis fazer faculdade, enquanto ele queria continuar sendo nômade, então nos separamos.”

Ele fez uma pequena pausa e depois continuou - “Depois conheci Edward” - Ele olhou para Esme e deu um pequeno sorriso - “Conheci Esme” - Nos fitou novamente, sem o sorriso no rosto - “E o resto vocês já sabem. Mas não é a minha história que eu vim contar, e sim a de meu irmão“ - Nesse momento eu vi algo que jamais imaginei que veria. O rosto de Carlisle estava sombrio, em um misto de tristeza, compaixão e ódio - “Peço que não alterem – se com o que vou lhes contar e espero que me entendam” - Ele olhou para todos nós, como que pedindo consentimento para continuar.

“Pode dizer Carlisle” - Eu disse incentivando –

Uma grande tristeza passou pelos seus olhos antes de continuar. - “Á uns vinte anos atrás, recebi uma carta do meu irmão, a primeira coisa que pensei foi como ele tinha me achado, mas minha dúvida desapareceu depois de ler a carta, nela ele dizia que descobriu um dom, que ele era um rastreador, mas não era esse o conteúdo principal da carta e sim a parte em que ele se dizia apaixonado por uma humana. - Carlisle deu uma pequena risada com a lembrança – No primeiro momento eu fiquei muito preocupado, ele não podia contar nada a ela, seria perigoso demais. Mas eu não podia falar isso para ele, sabia que o remetente era falso e não fazia ideia de onde ele estava.” - Ele deu um suspiro de puro cançasso - “Na carta também dizia que ela tinha vinte anos, e como ele tinha “trinta” anos não se aproximaria dela por enquanto. Mas eu sabia que ele não desistiria dela e tive a confirmação disso quando cinco anos mais tarde. Nessa carta ele dizia que tinha conhecido ela, e depois de um tempo sendo amigos ele havia lhe contado tudo e dito que a amava, e mesmo sabendo de tudo ela o aceitou. Dizia também que no começo havia hesitado em saciar seus prazeres carnais” - Ele disse a última parte um pouco constrangido- “Mas que depois de um tempo aconteceu e ele tinha conseguido se controlar. Ela teve alguns ematomas, mas nada grave. O que realmente me preocupou nessa carta foi ele dizer que ela havia engravidado...dele.” - Rosalie que estava ao meu lado ficou com o corpo tenso e deu um sorriso esperançoso e preparou – se para falar, mas antes que pudesse dizer algo Carlisle emendou - “Ele tinha uma teoria, de que as vampiras não podiam ter filhos pois seu corpo não poderia mudar para a gestação” - Rose desistiu de falar, visivelmente frustrada e triste. Mas ele não parou de contar a história. - “Ele também disse que ela estava bebendo sangue e que tinham combinado que se algo desse errado ele a transformaria. Depois disso não tive mais notícias, até semana passada.” - Nesse momento ele ficou muito abalado e não conseguiu mais falar.

Passou – se um momento de silencio. A tensão era tão grande que eu sentia como se pudesse tocá – la. Percebendo que Carlisle não tinha mais condições de falar Esme continuou para ele

“Eles ligaram semana passada e disseram que Aro havia descoberto sobre sua filha híbrida e por ser talentosa e fértil ele pediu – a como esposa e eles negaram.” - Ela fez uma pausa e suspirou fundo - “Um dia caçando eles encontraram uma criança imortal na floresta e não tiveram coragem de mata – la” - Ela parou para que pudesse - mos digerir suas palavras e depois de um tempo continuou - “Eles sabiam quem a tinha deixado lá, e sabia que logo iriam atrás deles, então pediram para mandar as duas para morar conosco, e nós permitimos”

Rosalie levantou – se abruptamente - “Carlisle você está louco? Eles virão atrás de nós também, você não podia fazer isso...” - E ela continuou falando indignada coisas que eu nem fiz questão de ouvir.

Carlisle pareceu retomar sua força, levantou – se e disse - “É exatamente por isso que estou falando isso para vocês. Sei que é muito perigoso e não obrigarei ninguém a ficar, então se alguém quiser ir embora, essa é a hora” - Ele foi nos olhando um por um, pedido uma resposta com o olhar.

Primeiro foi Esme - “Sabe que estarei sempre com você” - Ela respondeu ao seu olhar.

Alice e Jasper se entreolharam e uma Alice alegre levantou - “Nós também ficaremos, afinal é para isso que serve a família.” - Ela disse e Carlisle a olhou emocionado.

“Legal, nada como uma boa luta para levantar os ânimos” - Tinha que ser o Emmet. Limitei – me a revirar os olhos, enquanto todos riam.

“Sabe que pode contar comigo Carlisle” - Eu disse convicto. Ele apenas lançou – me um olhar de agradecimento.

“Se o Edie vai ficar eu também fico” - Disse Rosalie, com sua voz fina e irritante.

“Muito obrigado a todos, agora eu e Esme vamos caçar, pois estou faminto” - Eles se dirigiram para a janela e quando estavam prestes a pulá – la Carlisle virou – se e disse - “Preparem – se, ela chegam amanhã”

“AMANHÃ ?!” - Gritamos todos em coro, mas eles já haviam saído.