This Is My Gang! escrita por Metal_Will


Capítulo 2
Capítulo 02




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Capítulo 02 - O estranho nascimento de uma amizade estranha

 

Pois é...eu não teria paz tão cedo...afinal de contas, o que era aquele Wilson? Bem, os comentários negativos dos outros colegas não ajudaram muito...mas aquele cara parecia mesmo animado. Muito animado. Animado demais.

 

- Hehehe! Então você também é da sétima série? E ainda somos da mesma sala? Haha! Assim as coisas ficam muito mais fáceis! - ele dizia, com aquele sorriso característico no rosto.

 

- Olha, eu realmente não quero...

 

- Shhh! - ele censura - Não vamos falar disso agora..sabe..essa sala tem muitos espiões

 

"Espiões?", pensei, cada vez mais pasmo com a doideira daquele moleque. "Céus...onde eu vim parar?"

 

- Bom dia, gente! Vamos sentando! - grita a professora, uma mulher morena, pele branca, óculos e provavelmente por volta dos quarenta anos.

 

- Bom dia, professora Margarida! Estamos juntos de novo esse ano, heim? - comenta o tal Wilson, todo animado.

 

- É, Wilson! Estamos juntos de novo - ela diz - Não que eu goste muito disso... - esse último comentário la faz em voz baixa, mas eu consegui ler os lábios. Parece que aquele cara também tinha contato com os professores.

 

- Ela é nossa professora de português - explica Wilson - Tenho aula com ela desde o ano passado! Adoro essa matéria!

 

- Ah, tá

 

- Vamos lá, gente...esse ano vamos ver, principalmente, classes gramaticais

 

Ela começava a explicar o que veríamos no ano e eu já me via entediado. Cara, já reparou que a gente sempre estuda a mesma coisa em gramática, todos os anos, mas essas malditas regras de português nunca entram na nossa cabeça? Malditos hífens e acentos...se bem que ainda vou melhor em português do que em matemática. A aula ia passando e a professora já começa tacando matéria.

 

- Muito bem, alguém sabe o que é essa palavra? - ela pergunta.

 

Wilson levanta a mão, todo sorridente.

 

- Mais alguém? - ela pergunta de novo. Ninguém fala nada. Wilson continuava com a mão levantada e balançando.

 

- Tá bom, Wilson! Pode falar!

 

- É um advérbio, professora! Acertou?

 

- Sim, acertou - ela fala, sem muita animação. Wilson parecia ser um bom aluno e ele respondia com frequência às perguntas de todos os professores. O pessoal do fundo era o que mais levava bronca, mas não pareciam estar nem aí. Dava para ouvir vários comentários do fundão sobre o Wilson, mas ele também não parecia ligar.

 

Depois daquilo ainda tivemos aula de matemática e ciências. E a aula seguia do mesmo jeito. Wilson era o único a responder espontaneamente às perguntas dos professores. O olhar de estranhamento dos outros alunos era evidente, mas Wilson parecia satisfeito consigo mesmo. Realmente, alguém sem medo de ser feliz. Sim, porque sorrindo daquele jeito, era óbvio que era feliz. Depois da terceira aula, teríamos o intervalo. Graças a Deus, não teríamos Educação Física naquele dia...mas isso não quer dizer que eu estaria a salvo.

 

- Intervaalooo!!! - grita o povo do fundão. Wilson se levanta. Tento sair sem falar nada, mas meu excêntrico colega de sala era animado demais para isso.

 

- E aí, Daniel? Bora pro recreio?

 

Ele falou o que? Recreio? Isso não é coisa do jardim de infância? Pena que ele disse isso um pouco alto demais, a ponto de alguns caras do fundão caírem na risada. Aquele cara...e minha vida naquela escola mal começou.

 

- Vamos logo, meu! Tenho muita coisa para te contar

 

- Err...não acho que eu possa te ajudar em muita coisa... - comentei, querendo me esquivar logo daquilo.

 

- Tá brincando? Você é justamente a pessoa que estou procurando! - ele dizia com toda a ênfase.

 

- Por que eu? - eu dizia, caminhando para fora da sala, mas ele insistia em me seguir.

 

- Eu já disse, não? Você e eu somos iguais! Precisamos nos unir!

 

Nota: eu não me achava nem um pouco igual a ele, mas...não parecíamos compartilhar da mesma opinião. A boa educação era um problema nessas horas, tsc.

 

- Ainda não entendi onde você quer chegar... - falei, embora provavelmente fosse me arrepender de dar tanta corda para ele.

 

- Bem, você é um aluno novo, não é?

 

- É...sou sim...

 

- Dá para ver por seu uniforme limpinho

 

- E..você não usa uniforme?

 

- Essa camiseta amarela? Ah, faz parte do uniforme antigo. Agora mudaram para esse vermelho, mas eu curto mais a amarela. E como a coordenação ainda deixa usar o antigo, tá beleza..hehe. Mas o agasalho do uniforme novo esquenta bem mais

 

Ele gostava mais daquela camisa amarela ridícula? Mesmo? Cada vez mais eu queria sair correndo dali...mas, parando e pensando agora, iria ficar sozinho, não? Bem, apesar daquele cara ser estranho, ainda era minha única companhia na escola. Enquanto discutíamos o uniforme, compramos um lanche na cantina e fomos para o pátio.

 

 Pátio na hora do intervalo. O ambiente das rodinhas. Cada grupo se une em uma rodinha para comer, conversar e aproveitar os poucos momentos de liberdade antes do retorno à sala de aula. Para alguns, um momento de lazer e descontração. Para outros, era um ambiente de guerra, onde cada grupo disputava seu território. Fazendo uma breve análise da geografia do pátio, o centro, onde haviam bancos com mesas, era a posição mais confortável...só que era dominada pelos esportistas fortinhos e as patys metidas (que se derretiam todas pelos mesmos esportistas fortinhos e playboys do gênero). A área descoberta, com alguns bancos, perto de um jardim, era um posição boa também, mas era dominada pelos ditos neutros, não chegavam a ser boys ou patys, mas eram em grande número e também olhavam pessoas como eu e Wilson com desdém. Considerando também que entre esses neutros e metidos, haviam pessoas de anos posteriores ao nosso, e tal hierarquia dava ainda mais poder a eles. O que restava para mim e meu estranho colega era apenas algum cantinho escondido pelo pátio. Tinhamos que ficar ali...andar sem rumo pelo pátio, principalmente com lanche nas mãos, não era uma atitude muito esperta e, se você for descuidado...ah, o negócio pode ficar feio pro seu lado.

 

- Ops...melhor a gente se apressar - Wilson toma uma atitude séria de repente. Estranhei, mas logo entendi o porque. Dois caras fortões se aproximam da gente. Não pareciam ser do nosso ano.

 

- E aí, Wilson? Belezinha?

 

- E aí? - ele responde, claramente tenso.

 

- Que salgado é esse aí? - continua o grandão.

 

- É só um croissant de calabresa

 

- E você, tem o que aí? - ele diz, olhando para mim.

 

- É uma coxinha - respondi, já sabendo o que estaria por vir.

 

- Aaah...vocês não se importam de dar um pouco para gente, importam?

 

- A gente? Bem... - mas mal Wilson para de falar, os dois pegam nossos lanches inteiros e comem como dois porcos.

 

- Pô, muito bom! A cantina tá cada vez melhor, fala aí, Digão?

 

- Podicrê, Maneco! Muito bom mesmo! Huahuaha

 

Os dois saem dali, dando risada e se cumprimentando, provavelmente comentando "otários". É. Essa é a triste realidade da vida escolar. É o que eu falei. A escola é uma selva...e é a lei do mais forte que predomina. Professores? Coordenadores? Inspetores? Todos cegos a isso. Contar a eles? Apenas resultado temporário! Dias depois tudo voltaria a se repetir

 

- É...isso acontece direto...nos distraímos e pegamos o caminho mais perigoso

 

- Hã?

 

- Precisamos ir por trás do outro lado da área da cantina para evitar de encontrar os ladrões de lanche do nono ano. Assim caímos direto no canto escondido

 

- Canto escondido?

 

- É onde a gente vai. É a parte mais desconfortável do pátio, mas ninguém presta atenção na gente lá

 

- Você...estuda aqui há algum tempo, não?

 

- Desde o jardim de infância

 

- E as coisas sempre foram assim?

 

- Olha, no começo nem tanto...mas conforme todo mundo vai crescendo e fazendo suas escolhas...as coisas começam a se dividir, principalmente pela influência dos outros anos

 

- E aí...essas coisas começam a acontecer?

 

- Pois é. Essa é uma escola técnica, muito mais voltada para o saber prático do que educar cidadãos ou coisa do gênero. Por isso, as medidas de disciplina são uma porcaria, mesmo que você conte o que aconteceu para a coordenadora, não muda muita coisa

 

"Caramba...então é ainda pior que a minha escola antiga"

 

- Os seus colegas de sala no jardim de infância começam a se dividir em grupos...você sabe, toda escola possui esse tipo de coisa. A sua sala é dividida em diferentes facções, cada uma querendo exercer sua influência! E não tem muito jeito: ou você pertence a uma tribo ou você está fora dela! E aqueles que são minoria, são os que mais sofrem!

 

- Minoria... - repeti, pela primeira vez achando algum sentido nas palavras daquele garoto.

 

- Sim. Estou falando de nós, os nerds!

 

 

- Espera aí...isso não é uma escola técnica? Como os nerds podem ser minoria?

 

- Esse é o ponto!

 

- Hã?

 

- É um fato que a informática é uma disciplina indispensável para o mercado de trabalho atual...então, houve um aumento de pais preocupados que seus filhos aprendam a mexer em computadores

 

- E?

 

- E foi assim que os bárbaros invadiram essa escola! Playboy, patys, esportistas e atletas malucos, começaram a se matricular em massa e, em pouco tempo, tornaram-se a maioria...

 

- Foram tantos assim?

 

- Não, mas...aos poucos, aqueles colegas que apoiavam o jeito nerd de ser, começaram a se autocriticar e se rebelaram, indo para o lado dos atletas. Eles pareciam mais descolados, mais legais, mais...populares...não demorou muito para aqueles que se aceitavam como nerds um dia, mudarem e tornarem-se adeptos do estilo "descolado" deles

 

- Acho que entendi - respondi, vendo que a situação era pior do que eu pensava. Uma rara esperança que eu tinha ao me mudar para essa escola era encontrar mais pessoas parecidas comigo, mas parece que não tem muitas. Um dos únicos é esse...Wilson...que parece não ter se rendido a febre da popularidade

 

- E é por isso que quero lutar a favor das minorias

 

- Hã?

 

- Exatamente! Quero provar que ainda é possível se aceitar como diferente dos outros e ser uma pessoa legal!

 

- E como você pretende fazer isso? Não me diga que...

 

- Sim! Criando uma gangue! Um grupo forte!

 

Grupo forte? Mas só tinhamos nós dois ali, dois bananas que apanhariam de qualquer outra pessoa do pátio! O que poderíamos fazer?

 

- Forte, é? Não sei se podemos fazer muita coisa...

 

- O que? Está pensando em força bruta?

 

- Mas não é essa a ideia da gangue? Assustar e espalhar o terror?

 

- Huhauhaha! Muito boa! Não, não! Jamais me igualaria a esses brutamontes sem cérebro!

 

Bem, nisso eu tinha que concordar com ele.

 

- Meu caro Daniel...vamos conquistar o poder...pela fama!

 

- Fama?

 

- Seremos o grupo mais bacana e popular que essa escola já viu! Todos ouvirão e respeitarão o nome da nossa gangue! E o melhor de tudo...conseguiremos isso do nosso jeito! Nossa gangue será no nosso próprio estilo de ser!

 

Aí ele já estava viajando demais...ei, espera, ele disse "bacana"? Ai, meu Deus...onde eu estava me metendo?

 

- Mas...só nós dois? Não acho que podemos arrumar muita coisa... - comentei. Ei, espera, o que eu estava dizendo? Não é como se eu tivesse topado essa ideia maluca! Na verdade, eu só queria paz...mas parece que já estava envolvido demais naquilo.

 

- Claro que não! Além de nós, tem mais uma pessoa

 

"Tá brincando que existe mais alguém em sã consciência que ouve esse cara?", pensei.

 

- Aliás...ele já devia estar aqui

 

- É alguém da nossa sala? - perguntei.

 

- Pior que não. Ele entrou ano passado na minha sala, mas esse ano nos separamos. É um grande amigo e até que é forte

 

"Ele tem amigos fortes?", pensei. Mas, logo saberia o que ele queria dizer com forte.

 

- Wilson! Desculpa a demora, cara! - diz uma figura claramente...gorda? Sim, era bem cheinho e alto. Deveria ser forte, mas acho que ele tinha mais gordura do que músculos.

 

- Jorjão! É você mesmo que eu estava esperando!

 

- Tava no banheiro...cara, a feijoada no fim de semana não me fez muito bem...tô sentindo os efeitos até agora

 

 E, realmente, ele comprova isso ao emitir um som não muito agradável de descrever (e muito menos de presenciar)

 

- Não falei? O negócio tá bravo...

 

- Eu que o diga - respondi, tapando o nariz.

 

- Ah, Jorjão! Esse é um aluno novo que entrou na minha sala, o Daniel

 

- Opa. E aí?

 

- Oi - cumprimentei. O cara tinha um aperto de mão forte.

 

- Daniel é um dos nossos! Ele já apoiou a nossa causa!

 

- Hã? Espera...eu não disse nada ainda e...

 

- Não precisa nem dizer! - interrompe Wilson, com aquele sorriso animado de sempre - Está no seu sangue! Eu sinto isso! Você não é do tipo que aceitaria se vender para os "descolados"!

 

Bem, não que eu quisesse ser um "descolado" como ele comentou, mas que futuro eu teria me unindo à causa daqueles dois? Como assim criar uma gangue que se tornaria a turma mais descolada do colégio inteiro? Como aqueles manés fariam isso? Ficava com vergonha alheia deles só de pensar..olhando para aquele sorriso irritante do Wilson...e olhando para aquele Jorjão, limpando o nariz no braço, já que parecia estar meio resfriado além de estar com problemas gastrointestinais...nunca conseguiríamos, nunca!

 

- Você já é um dos nossos, Daniel! Pode apostar! - dizia Wilson, me olhando esperançoso.

 

- Mas eu

 

Nisso o sinal toca. Ainda não tinha dado uma resposta.

 

- O intervalo é muito curto para eu explicar todos os detalhes para você... - diz Wilson, em tom pensativo - Já sei! Almoça na minha casa hoje! É perto daqui e dá para ir a pé! Lá eu te explico todos os detalhes!

 

Ir na casa daquele Wilson? Meu dia já começa assim? Ai, meu Senhor! Tudo bem, minha mãe com certeza iria me arranjar alguma coisa para fazer à tarde, não é? Nem que seja arrumar meu quarto. Na hora da saída, tentei sair correndo, mas Wilson me segue

 

- Então, Daniel? Bora almoçar lá em casa?

 

- Então...acho que não vai dar...minha mãe - tentei inventar alguma desculpa, mas minha mãe já estava ali no portão, bem atrás de mim.

 

- Oi, filho! Já arranjou um amiguinho? - ela diz, toda sorridente.

 

- Muito boa tarde, dona mãe-do-Daniel! A senhora daria permissão de seu filho almoçar na minha humilde casa hoje? Temos muito o que conversar

 

- Ora...que menino educado - ela diz, totalmente ignorante a meus olhares desesperados de negação - É claro que ele pode. Só me diga o endereço e...

 

- Não seja por isso! É logo ali - ele diz, apontando para uma sacada visível ali do portão da escola - Naquela sacada..Rua das Rosas, número 28

 

- Rua das Rosas, é? Perfeito! É só me ligar para eu ir te buscar, viu, Daniel? Tchauzinho!

 

- Mas..mas...

 

- Não é o máximo, Daniel? Agora a gente vai poder conversar em paz! Hehe!

 

- Vamos lá! - Jorjão também estava ali perto - A mãe do Wilson faz uma lasanha da boa!

 

- E hoje é lasanha! É com o Jorjão mesmo! Hehe!

 

- Demorou! - responde o gordinho, todo animado - Acho que já me recuperei da feijoada..hehe

 

Nisso, Jorjão emite outro daqueles sons não muito agradáveis...

 

- Esse foi o último! Tô pronto pra lasanha! Hehe!

 

E assim fomos, a pé, para a casa de Wilson. A quantidade de risadinhas de todo mundo olhando nosso distinto grupo era cada vez maior.

 

"Ai, caramba...onde eu vim parar?", pensei. Eu repito...eu só queria paaaz!!!!


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Notas finais do capítulo

Estreia em grande estilo com dois caps, heim? XD

Na verdade, era para eu ter postado antes, mas o Nyah! entrou em manutenção (sempre que eu crio uma história nova, ele entra em manutenção. Já virou lei!)

Reviews são bem-vindos, mas eu continuo a história com ou sem eles. Abraços!