Capítulo 132 - Caça ao tesouro

  O tal jardim ecológico artístico tinha uma praça de alimentação bem ampla, ampla o suficiente para alimentar uma excursão de escola. O problema é que essa excursão escolar não era comum, afinal, o Jorjão estava com a gente e ninguém foi capaz de deixar de notar a quantia considerável de comida que ele pegou no almoço.

- Err...isso deve sair meio caro - comentei, ao ver o tamanho do prato dele enquanto andava pela fila do self-service.

- Talvez...ainda bem que meu pai liberou o cartão dele - disse Jorjão, orgulhoso de ter um apoio para sua alimentação. Eu só peguei o necessário e depois me juntei ao resto do grupo. Desnecessário dizer que Wilson estava super empolgado com as próximas atividades.

- Aqueles caras... - falou ele, referindo-se à nossa suspeita turma de monitores: Jonathan e cia. - ...o que eles estão planejando?

- Certamente nada de bom - falei, entre uma garfada e outra - Não dá pra confiar naquele povo!

- Mas ainda assim deve ser mais legal do que assistir palestras - comentou Demi - O Daniel dormiu o tempo todo.

 Verdade. Mas o que eu podia fazer? Se eu decidi ir para uma excursão foi justamente para não termos aula! Ou será que os professores querem que façamos algo educativo fora da sala de aula? Perai...tá querendo dizer que o que aprendemos na escola serve para alguma coisa fora dela? Será? De qualquer maneira, Wilson tinha seus próprios planos para essa excursão.

- Eu não sei quanto a vocês, mas eu tô querendo ver mais desse tal parque ecológico - disse ele - Num ambiente cheio de natureza, deve ter alguma coisa de diferente.

- Tipo o quê? - perguntei.

- Talvez algum duende ou criatura mágica da floresta! - respondeu ele.

- E ainda se diz um cara da ciência?! - retruquei.

- Mas o método científico não garante que tais seres não existem - argumentou ele.

- Bem, é fato que florestas são um bom ambiente para fadas e duendes - comentou Karina - Talvez possa até existir muitos deles juntos.

- Tipo uma vila? - perguntou Demi - Como naquele desenho dos duendes azuis?

- E que tinha um mago malvado querendo pegá-los - lembrou Wilson - Ah, sim, eu me lembro.

- Dizer que existe um duende aqui já é viagem - falei - Agora...dizer que existe uma vila deles já é muita viagem!

- Nunca saberemos - disse Karina - A menos que vasculhemos todos os cantos do parque. E mesmo assim, a vila pode ter uma barreira mística que a impede de ser vista por humanos.

- Ah, é, sempre as barreiras místicas - lamentou Wilson - Tsc. Nunca saberemos. Ao contrário da fábrica de chocolates, onde eu tinha certeza que havia mão-de-obra não catalogada pela ciência atual.

 Não havia mão-de-obra mágica na fábrica de chocolates do outro passeio e certamente não deveria haver duendes no parque ecológico. Mesmo assim, a discussão serviu para passar o tempo e não demorou muito para Jonathan assumir a palavra e anunciar o início da próxima atividade. Tá legal. Lá vamos nós de novo com alguma ideia maluca. E considerando que era aquele cara, não era apenas uma ideia maluca. Devia ter alguma maldade no meio.

- Muito bem, alunos do Megatec. Atenção. Poderiam me dar um pouco de sua atenção? - chamava Jonathan no microfone - Atenção..

 Mas chamar a atenção de alunos do Fundamental era algo que sempre demorava bastante. Para a sorte de Jonathan, ele tinha um bom recurso para chamar a atenção.

- Meninas - chamou Beto - Podem olhar aqui um instante?

- Aaaah! O Beto vai falar! - gritaram as garotas afobadamente. Meninas...De qualquer forma, todo mundo acabou voltando sua atenção para eles.

- Na verdade, o Jonathan é quem tem um recado para dar - disse Beto.

- Sim - disse ele - Terminamos de preparar a atividade da tarde. Aposto que todos vão se divertir bastante!

 Éramos todo ouvidos. Inclusive Wilson que aguardava as instruções com uma expressão desafiadora em seus olhos. Eu apenas estava curioso...quer dizer, nem tão curioso assim, mas seja lá o que fosse, seria mais emocionante que aquela palestra com o hippie (mesmo eu sabendo que aquela turma do Jonathan só aprontava).

- Bom - continuou Jonathan - O que vamos jogar é...Caça ao Tesouro!

- Caça ao tesouro! Como os piratas? - perguntou Wilson.

- Deve estar falando daquela brincadeira onde procuramos as pistas para no fim ganharmos um prêmio - falei.

- Nessa brincadeira - disse Jonathan - Espalhamos várias pistas pelo parque...e no fim entregaremos um maravilhoso prêmio ao vencedor!

- Que prêmio é esse? - Dimas perguntou lá da mesa do fundo.

- Ah, isso é surpresa - falou Jonathan - Mas aposto que vão gostar bastante!

- Heh..hehehehe - Wilson começou a rir - Gostei! Não sei que prêmio será, mas gostei do desafio!

- E tem algum desafio que você não goste? - retruquei.

- Parece legal..e qual é a primeira pista? - perguntou Demi.

- Ah, sim, vamos falar a primeira pista - disse Jonathan, pegando um pedaço de papel que Deisy entrega - Vamos ver...vamos ver..."estou em um lugar muito alto"

 Todos aguardavam alguma continuação daquela frase, mas ela não veio. Todos olharam para Jonathan com cara de paisagem, mas parece que ele não tinha muito mais a nos contar.

- É só isso - disse ele. Todos se tocaram e se levantaram imediatamente.

- Lugar muito alto...lugar muito alto...onde pode ser? - perguntou Jorjão.

- Tá na cara que é na árvore mais alta desse lugar, não? - comentei, correndo junto com todos os outros.

- Agora...onde fica a árvore mais alta mesmo? - perguntou Demi.

- Ah, é bem no centro do parque - falou Wilson.

- Como você sabe? - perguntei.

- Ué? Foi o que o cara da palestra falou.

 Claro! Os caras devem ter preparado as pistas baseando-se nos dados que foram transmitidos na palestra. Como ninguém deve ter prestado muita atenção (com exceção do Wilson) quer dizer que estávamos na vantagem. Fomos direto para o centro do parque (o local da árvore mais alta) e, como esperado, não havia ninguém por perto. E não é que ter prestado atenção na palestra serviu para alguma coisa? Aposto que se os alunos soubessem que haveria uma brincadeira dessas teriam ouvido melhor. O problema é que não fomos os únicos a prestar atenção na palestra.

- Chegamos e...oh, não! - exclamou Wilson ao dar de cara com outra pessoa ali.

- Hehehe! Como vai, Wilson e cia? - cumprimentou Cássio, a pessoa com o cérebro mais próximo ao de Wilson.

- Você...também prestou atenção na palestra? - perguntou Demi.

- É claro. Eu já suspeitava que haveria algo assim quando vi aqueles caras escondendo algumas coisas...não sabia o que era, mas agora tudo ficou claro. Então...achei melhor entender tudo sobre esse parque.

- Hmmm...e não precisa nem dizer que está competindo com a gente? - perguntei.

- Claro. Eu vou levar aquele tesouro sozinho! Hehehe! 

- Tá...mas...se esse é o lugar certo...onde está a pista? - perguntou Demi.

- Deve estar no topo da árvore - sugeriu Karina.

- Mas se essa é a árvore mais alta como vamos subir lá? - perguntei.

- Não sei. O desafio deve estar em descobrir como - falou Jorjão.

 Ótimo. Como iríamos subir em uma árvore gigante daquelas? Uma queda e estaríamos mortos! E mesmo que tentássemos, a árvore não tinha galhos baixos. Como iríamos subir? É...não seria uma caça ao tesouro tão fácil assim...