Capítulo 109 - O Golpe Crítico Especial

 Tá legal, eu achava que esse jogo não seria tão difícil, mas estou com a leve impressão de que Cássio está complicando as coisas para a gente. Seria uma boa pedir para a Karina ver o livro de regras? Jorjão está dominado pelo fantasma de algum guerreiro e não consegue controlar suas ações. E agora? O que podemos fazer para reverter isso?

- Ei, Jorjão! Para de atacar a gente! - gritou Wilson.

- Eu gostaria, mas tem um fantasma de controlando esqueceu? - respondeu ele - Não tem como eu me controlar!

- Alguém tem água benta aí? - perguntou Wilson.

- Isso é pra vampiro - falei.

- Nunca manjei muito dessas criaturas espirituais. Tsc. Sei lá. Tem algum pastor, padre ou algo que o valha aí para tirar o encosto!

- Adoraria ajudar - falou Karina - Mas estou quase sem poder mágico.

- É uma pena, mas parece que a jornada de vocês termina aqui. - lamentou Cássio com uma certa satisfação em sua voz - Esse mundo precisava tanto ser salvo da destruição.

- Não nos subestime - falou Wilson - Sempre tem uma saída.

- Tá. E qual é a saída? - perguntei, também sem nenhuma ideia do que poderia nos ajudar naquela ocasião.

- Cássio - falou Demi - Não é possível! Deve ter algo a se fazer nessa situação!

- Bem, talvez o fantasma suma se conseguirem nocautear seu amigo.

- N-Nocautear? - perguntou Jorjão, não gostando muito da ideia - Mas como vão me reviver depois?

- É verdade. Vocês vieram sem carregar muitos itens de cura, não é? Achavam que com tanto poder de ataque não precisariam se preocupar com nada...que pena.

- Bom, se a solução é essa...vamos tentar - disse Wilson.

- Vai mesmo arriscar o pescoço do seu amigo? Isso pode custar caro! - disse Cássio - Será que vai conseguir? Atacar um aliado também influencia as suas jogadas.

- Como assim? - questionou Demi.

- Simples - disse Cássio, arrumando os óculos e fazendo cara de sabe-tudo (como sempre) - Como vocês são aliados, atacar uns aos outros geraria uma carga emocional muito forte. Talvez Wilson não consiga atacar e, pior, possa receber dano devido a Jorjão estar fora de controle. Lembrem-se de que ele é Gladiador e, como tal, tem muitos pontos de ataque.

- Vai mesmo me atacar? - disse Jorjão.

- Se não tem outro jeito - respondeu Wilson dramaticamente.

- Ah! Pelo amor! É só o seu personagem! - retruquei - Vai logo, Wilson! Ataca com tudo!

- Então...deixa eu entender direito - falou ele - Se eu nocautear o Jorjão, ele volta ao normal?

- Se ele perder todos os pontos de vida...infelizmente não poderá continuar a jogar com vocês. Seria uma perda e tanto, já que seus pontos de ataque são bem altos - respondeu Cássio.

- E não existe outro meio de tirá-lo do transe? - perguntou Wilson - Droga!

- Se a sua maga tivesse pontos mágicos suficiente, seria fácil usar uma magia de recuperação de estado e retirar o fantasma dele, mas...como ela mesma disse, está sem pontos mágicos.

- Verdade - concordou Karina - No momento, sou praticamente inútil...

- Tudo bem - disse Jorjão - Eu me sacrifico pelo bem comum. Vocês conseguirão vencer o chefe final sem mim.

- Não diga bobagens - falou Wilson - Nós vamos te trazer de volta depois que resolvermos esse problema.

- Infelizmente, teriam que voltar tudo...mas será que aguentarão passar pela caverna de novo? E como voltarão sem pontos mágicos para usar teletransporte? - argumentou Cássio. 

  O pior de tudo é que ele tinha razão. Estávamos em uma situação complicada e apesar da minha ideia anterior ter parecido boa devia ter pensado melhor no resto da jornada. Pontos de ataque altos não significam vitória certa. Tudo bem que dificilmente perderíamos uma luta com o poder de ataque a nossa disposição, mas não imaginávamos uma situação como essa.

- Além disso - continuou Cássio -  Essa montanha fica muito isolada do vilarejo mais próximo e mesmo com altos pontos de ataque teriam problemas para voltar a pé...o caminho é cheio de monstros fortes. Como eu disse, parece que vocês não tem escolha!

- Não é possível - disse Demi - Deve ter outra saída.

- Acho que não - falou o mestre de jogo - Vão ter que arriscar isso.

- Será? - disse Karina, pegando o caderno de Cássio repentinamente.

- Ei! Só o mestre de jogo pode usar esse caderno!

- Ah, sim, tem mais uma saída sim - disse Karina - O Jorjão não precisa necessariamente ser nocauteado para ser liberto do transe, basta que receba um ataque crítico especial.

- Ataque crítico? - perguntou Demi - O que é isso?

- Ah, sim, tem essa possibilidade - disse Cássio - Mas as chances disso acontecer são extremamente baixas.

- Tá. Mas o que é ataque crítico! - insistia Demi.

- Em RPGs de videogame, vez ou outra seu personagem pode atacar mais forte que o normal do nível dele. Isso é um ataque crítico - respondi - Nesse jogo deve ser algo parecido, estou errado?

- É...isso mesmo. Só que nesse caso, golpe crítico especial é um golpe forte que quase destrói o adversário..deixa-o com apenas um ponto de vida. Parece útil na situação de vocês, não?

 Sim, seria muito conveniente. Mas não conseguiríamos fazer isso tão facilmente. E Cássio confirmou isso em suas próximas palavras.

- O problema é que para Wilson tirar um golpe crítico especial precisaria tirar números específicos nos dados - respondeu Cássio com tom sério.

- Que número? - perguntou Demi.

- Duplo seis! - disse ele - Pelos cálculos dos pontos de ataque e defesa do Wilson e do Jorjão, o ataque só será considerado crítico se Wilson tirar dois números seis nos dados.

- Tirar dois números iguais é muito difícil - disse Demi - Não tem outro jeito?

- Quer ainda mais chances? Mais moleza que isso só sentando no pudim! E recomendo que Wilson seja a pessoa a fazer isso

 O resultado foi obtido de análises matemáticas que provavelmente só Cássio e Wilson entenderiam, portanto, vou omitir maiores informações.

- Duplo seis, é? - falou nosso corajoso herói - Beleza! Vou tentar!

- Mas as chances são muito baixas! - falei - Com dois dados de 20 lados, a chance de tirar dois seis é...muito baixa!

- Uma em quatrocentas - disse Wilson - Sim. Baixíssima. Mas precisamos tentar...e se não der certo, é só voltarmos, encontrarmos uma cidade próxima, recuperarmos os pontos da Karina e revivermos o Jorjão.

 Nada como a fantasia para deixar as coisas mais fáceis. Tá. Mas eu queria sair dali hoje e pelo jeito vamos ter que enrolar mais . Tá bom. Vamos lá enfrentar o destino e ver se conseguimos tirar os números certos nos dados.

- Então tá legal - disse Cássio - Você tentará atacar seu próprio amigo Jorjão...primeiro, precisamos ver se irá conseguir, afinal, trata-se de um aliado. Será que seu personagem terá coragem para tanto?

  A resposta estaria nos dados. Wilson lançou os dois D20, mas não conseguiu nada. Por conta disso, Jorjão o atacou de novo. Pena que nossos pontos de defesa não estava tão altos...Wilson estava quase perdendo os pontos de vida.

- Foi mal - disse Jorjão.

- Tudo bem...ainda bem que de todos eu sou o que tem pontos de defesa mais altos. Ai! Se fosse o Daniel, por exemplo, já estaria morto.

- Devia ter investido um pouco mais em pontos de defesa - reclamei.

- Se continuar assim, vocês vão ter mais um para reviver..Hauhauhaha! - gargalhou Cássio, adorando aquilo - Então...admitem que não conseguem escapar da história que criei e que eu os venci nesse desafio intelectual?

- Enquanto há vida, há esperança! - disse Wilson, preparando para lançar os dados novamente - Vou tentar de novo!

- Que insistente - reclamou Cássio - Mas tudo bem. Manda a ver! Vamos ver se a sorte está do seu lado!

 Mas dessa vez Wilson consegue atacar Jorjão, mas a maior dificuldade estava por vir agora.

- Beleza! - disse Wilson - Posso atacar pra valer agora, não posso?

- Sim, pode - concordou Cássio - Mas...você pode ou matar o personagem de Jorjão ou conseguir um crítico especial tirando um duplo seis nos dados. Será que você consegue?

- Sem pressão psicológica, por favor! - disse Wilson - Se não der certo...é só voltarmos para a cidade mais próxima, certo?

- Você realmente quer ficar aqui até amanhã de manhã, não é? - reclamei.

- Calma, Daniel. Confie nos dados. Eles definirão nosso destino - disse ele dramaticamente e logo lançou os dois. Primeiro caiu um e, cacetada, por incrível que pareça caiu em seis. 

- Seis! - gritou ele - Isso!

- O outro dado ainda está girando - lembrou Cássio - Não comemorem antes da hora!

 Será que teríamos um milagre? Será que Jorjão seria apenas deixado com um ponto de vida, mas sairia do transe com o golpe crítico especial? Todas essa questões só seriam respondidas depois do rolar dos dados...muita tensão na jogada com apenas um em quatrocentos de sucesso! Será que conseguiríamos ou não? Aguarde o próximo capítulo e...

...ah! Para que fazer suspense com isso? Você acha mesmo que conseguiríamos uma jogada tão difícil em um momento tão conveniente? O segundo dado deu 13, um número bem longe do seis. Resultado: Jorjão foi jogado longe e o que é pior: sem nenhum ponto de vida. Perdemos nosso Gladiador.

- Oh, não! Eu perdi todos os pontos de vida! - gritou Jorjão - Tsc!

- Oh, droga - reclamou Wilson.

- Uma em quatrocentos? Você queria o quê?! - retruquei - E agora? Vamos ter que voltar tudo?

- Ai, não! Que saco! - reclamou Demi - Não dá pra gente brincar de outra coisa?

- Ah, nem pensar! Não vão sair daqui, enquanto eu não 

- Não - disse Karina - Ainda tem uma solução.

- Hã? Que solução? - perguntou Demi.

- Não é garantido - disse ela - Mas talvez dê pra tirar a gente dessa.

 Qual seria o plano dela? Agora sim um suspense bom para fechar o capítulo!