Escolhas... escrita por Borboleta Negra


Capítulo 1
Convite para o baile




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Capítulo 1

Convite para o Baile

 

 

_Cada um come uma parte da maçã._Eu falei._Nada de comer uma parte muito grande, tivemos sorte de conseguir uma maçã inteira.

Passei a maçã redonda e vermelha para Edmund, que comeu um pedaço e passou para Daniel. Daniel comeu e passou para Peter. Peter comeu e passou para Frederic. Frederic comeu e passou para Michael, que a comeu e deu para mim. A maçã estava na metade, pude observar. Passei direto para Edmund.

_Emilly._Michael me chamou, fazendo Edmund parar._Você tem que comer, está ficando muito magra.

Michael tinha 17 anos, como eu. Seus olhos eram amendoados e os cabelos eram negros. Ele tinha rosto bem moldado, firme, que faria qualquer mulher cair em seus pés de desejo. Seu semblante era sério e ele me olhava num misto de preocupação e raiva.

_Emilly..._Ele murmurou._Coma.

Eu fiz que não com a cabeça e fiz um sinal para Edmund.

_Vá em frente Ed.

Ele comeu meio hesitante. Edmund tinha olhos incrivelmente azuis e pele clarinha, como neve. Seus cabelos eram dourados, mas o que mais nos fascinava eram seus lábios. Carnudos e convidativos. Não para mim, é claro, afinal o tratava como irmão, ou até mesmo filho. Nos encontramos no mesmo lugar que estávamos naquele momento, eu tinha 7 anos, ele tinha 4. Desde sempre, ele me ajudou, sendo carinhoso e acolhedor. Um menino de poucas palavras, mas encantador. Ele passou a maçã para Daniel.

Daniel, o mais esperto do grupo, além de mais inteligente, mesmo que tenha apenas 11 anos. Seus cabelos eram ruivos, olhos azuis, sardas na bochecha e no nariz, fazendo com que ele ficasse fofo demais para ser verdade. Após comer mais um pedaço, passou a maçã para Peter.

Peter, o mais irritante e rebelde. Com apenas 16 anos, fez mais baderna do que eu em toda a minha vida. Seus cabelos eram loiros e olhos azuis. Ele tinha a irritante mania de sair para o Mundo Superior apenas com uma calça jeans e tênis, ou em dia de inundação, com botas, apenas para provocar as mulheres. Essa mania se tornava ainda mais irritante quando eu era obrigada á tapar os ouvidos das crianças para não ouvirem os gemidos da sua parte do esgoto.

Sim, morávamos em um esgoto. Inativo, é claro. Ele era sempre limpo por mim, eu deixava aquele metal que recobria as paredes brilhando. Peter ás vezes me ajudava (é, ás vezes alguns pirralhos metidos tem serventia), soldando algumas placas de metal sobre algumas ferrugens que eu encontrava, para não machucar as crianças. Após Peter dar uma mordida, passou para frente.

Frederic. Ele era lindo, parecia um bonequinho, cabelos loirinhos e olhos azuis esverdeados. Tinha poucas sardinhas sobre o nariz, o que fazia o menino de 8 anos parecer mais fofo do que o normal. Seus olhos demonstravam absolutamente tudo que ele não podia dizer, tudo que ele não podia converter em palavras. Ele não falava, um grande trauma fez isso com ele. Sua mãe foi brutamente assassinada, esquartejada e estuprada em sua frente. Apenas eu sabia o que ele havia passado, ele havia confidenciado para mim esse segredo e eu não revelaria á ninguém. Com seus pequenos e finos lábios, ele mordeu a maçã e passou para Michael.

Ele olhava para mim. Daquele jeito, com o olhar que ele reservava especialmente para os meus olhos. Um olhar de amor, carinho... Sem tirar os lindos olhos de mim, me estendeu a maçã.

_É o ultimo pedaço._Ele disse._Coma Emilly.

_Não, eu não estou com fome._Falei olhando para o chão que estava entre minhas pernas abertas.

Meu estomago roncou, me entregando ruidosamente, sem vergonha nenhuma. Todos soltaram risinhos meio contidos. Olhei para Michael que agora me olhava sério e todos os ruídos que ecoavam por ali pararam. Quando “papai” estava bravo, não há quem o segure... Nem mesmo eu.

_Papai, Fred perguntou por que a mamãe não quer comer._Daniel falou.

“Papai”. As crianças nos chamavam de “papai” e “mamãe”. Talvez por causa do filme Peter Pan que eles haviam visto certa vez, em que os meninos perdidos o chamavam de pai. Isso foi se espalhando pelo nosso grupo, até eu ser mãe pela primeira vez mesmo não estando grávida. Mas o meu amor com eles era muito grande, talvez até tão grande quanto uma mãe com seus filhos.

Sem parar de me fitar, Michael respondeu num murmúrio rouco.

_Eu não sei.

O olhar lascivo que ele me lançava fez meu coração pular mais alto e borboletas alcançarem meu estomago, fazendo cócegas lá dentro.

_Emilly. Se realmente me ama, coma essa fruta..._Ele disse.

Droga, meu ponto fraco. Ele havia descoberto há muito tempo. Eu detestava ser desafiada. Odiava. Eu pularia do Monte Everest se duvidassem que eu fizesse tal feito. Sim, eu tinha certa obsessão sobre isso. Peguei a maçã de sua mão e dei uma mordida, saboreando a fruta úmida em minha língua e a água doce descendo por minha garganta, o exterior sendo rasgado por meus dentes. Olhei para o chão novamente, jogando a maçã no lixo ali perto.

_Está feliz agora?_Perguntei olhando para meus dedos.

Michael fisgou meu queixo com a mão e, com um sorriso malandro e ao mesmo tempo doce respondeu-me.

_Estou.

Então descobri o que seu olhar pedia. O que ele realmente queria. Beijar-me. O único contato que nós tínhamos, além de abraços. Michael gostava de mim, ou até um pouco mais, me amava. Eu compartilhava aquele sentimento doce, mas nunca pensei em passar das preliminares. Eu não queria que se eu fosse raptada ou coisa pior, ele sofresse muito. Eu não queria que ele se sentisse culpado demais se eu desaparecesse, se eu morresse. Pois no final, eu não morreria de velhice mesmo... Eu iria morrer assassinada, pois tinha coisas á pagar que não podiam ser pagas com dinheiro.

_Crianças, vamos, está na hora de dormir._Peter falou, indo com as crianças até seus quartos.

Michael se aproximou e eu deixei que seus lábios encontrassem com os meus. Abracei seu pescoço, deixando o beijo mais intenso e ele abraçou minha cintura. Meus dedos percorriam pela extensão de seu pescoço, até eu me desequilibrar e cair em cima dele. Rimos e ele se levantou.

_Vamos á nossos aposentos, nobre donzela._Ele falou, estendendo a mão para mim.

_Por que?_Perguntei enquanto me levantava com sua ajuda, limpando os olhos que estavam lacrimejando um pouco.

_Ainda pergunta?_Ele respondeu com outra pergunta._Você está com os olhos vermelhos de sono. Vamos.

Ele foi me levando pela mão até o colchão velho coberto por um fino lençol e se deitou lá, deixando um espaço para mim. Deitei-me e ele nos cobriu com um edredom quentinho, que aqueceu completamente meu corpo.

Ele começou á acariciar meus cabelos enquanto eu lutava contra minhas pálpebras, que queriam se fechar.

_Amanhã é feriado._Relembrou-me sussurrando._Você pode acordar na hora que quiser.

_Sim..._Murmurei._Podemos levar as crianças para passear.

_Aonde?_Ele murmurou de volta.

_A Praça de São Marcos?_Perguntei e sorri, relembrando do brilho no olhar de Frederic enquanto ele corria para espantar os pombos.

_As crianças vão adorar._Ele falou, descendo seus dedos suaves para minhas bochechas._Eu te amo._Sussurrou.

_Eu também._Murmurei de volta e ele selou meus lábios.

Ele me beijou uma, duas, três, quatro vezes, apenas parando para respirar. Minhas pálpebras foram ficando cada vez mais pesadas. Michael murmurou um “boa noite”. Eu iria responder, se o sono não me engolisse tão rápido.

 

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Acordei lentamente, tentando lutar contra o ímpeto de ficar deitada o dia inteiro. Senti o braço de Michael sobre minha cintura, o que me deu mais vontade ainda de ficar deitada ali, mas eu tinha de levantar. Saí da “cama” quentinha com cuidado e quando ia para o centro do esgoto, ouvi um barulho. Peguei um taco de baseball e, com cuidado, fui na ponta dos pés até lá.

Suspirei aliviada ao reconhecer a silhueta feminina, vendo que não era nenhum dos Armands e relaxei meus ombros, pousando o taco de baseball na parede.

_Rachel..._Á cumprimentei.

_Emy!_Ela falou animada e veio me abraçar._Como vai bambola di porcellana?

_Vou bem, e você?_Perguntei saindo de seu abraço lentamente.

_Estou ótima! E, aqui, trouxe alguns presentes!

Rachel era uma mulher da alta sociedade, morava no mundo superior. Seus cabelos sedosos e ruivos caiam em cachos artificiais até os ombros. Seus olhos eram grandes e bonitos, azuis celeste. Tinha um corpo lindo e sua pele parecia macia ao extremo. Bochechas levemente coradas e lábios vermelhos, somente por causa das maquiagens.

Éramos amigas desde os 7 anos, ela tinha a mesma idade que eu, um pouco mais nova. Desde aquele dia em que nos conhecemos no parque, ela me ajudava, levando para o meu lar mantimentos e roupas para as crianças e para eu e Michael, além de roupas de cama. Só não me dava mais coisas porque eu recusava.

_Olhe o que eu trouxe, achei perfeito para você Emilly!_Ela falou, pondo um vestido estendido á sua frente.

Era um vestido vermelho. Parecia ter o exterior macio, fazia-me querer tocá-lo. Tinha mangas soltinhas, para se colocar abaixo do ombro. Ele tinha uma saia meio colegial, de pregas, até uns três dedos acima do joelho.

_É perfeito._Murmurei, finalmente tocando no tecido de cetim.

_Eu sei!_Ela falou animada, mas baixo para não acordar as crianças.

Guardei o vestido na minha parte do armário que tínhamos ali, era um dos presentes de Rachel.

_Não acabou._Ela falou e levantou em frente ao seu corpo um sobretudo nude._Não é lindo? É para usar com o vestido.

O sobretudo era reto, sua cor era meio café-com-leite. Continha botões grandes e da mesma cor que o sobretudo. Ele ia até aparentemente os joelhos, tinha mangas cumpridas e um laço na altura do umbigo.

_É lindo também._Aprovei, o pegando para guardar._Já acabou, não é?_Perguntei acariciando minhas mãos, temerosa.

_Não, claro que não!_Ela falou e estendeu uma caixa._Acho que isso combina com o sobretudo e com o vestido ao mesmo tempo!

Abri a caixa e visualizei ali uma bota de cano alto e bico fino, com um salto de aproximadamente 5 cm branco.

_Vai ficar perfeito._Murmurei._Mas pra que tudo isso?_Perguntei guardando a caixa.

_Oras, não é obviu?_Perguntou colocando as mãos na cintura e rolando os olhos._Estou lhe convidando para um baile! E..._Ela estendeu um terno e uma calça social._Michael também!

_Ah, obrigada amiga._Falei, pegando as peças e as colocando na parte reservada á Michael.

_Também trouxe um café da manhã descente, dinheiro para vocês almoçarem fora, roupas para as crianças e o ultimo, mas não menos importante..._Ela fez suspense._Um emprego!

_Sério?_Perguntei._Oh, Deus, é perfeito! Para quem?

_Você, é claro. Enquanto Peter e Michael cuidam das crianças você vai ser minha empregada lá em casa! Estamos precisando de uma, mas juro que não pego pesado com você, vai apenas servir os pratos e nas horas vagas, ir ao meu quarto conversar comigo!_Ela disse enquanto colocávamos as roupas no armário, além dos sapatos e botas de borracha para as famosas enchentes de Veneza (onde morávamos).

_Claro!_Falei animada.

_Ah, e sobre o baile, já ia me esquecendo._Bateu com a mão levemente na cabeça._Olhe, chegue á minha casa ás 19:00. Michael e você vão tomar um bom banho e depois se arrumar. Vou te maquiar, vai ficar linda! Mas claro, só no rosto e bochechas, pois vai ser um baile de máscaras._Estendeu para mim uma mascara branca e outra preta, minha e de Michael respectivamente, com alguns enfeites pequenos e brilhantes, além de no meu ter uma pena no canto superior direito.

_Tudo bem, mas e as crianças?

Ela sorriu maliciosamente.

_Peço para Peter.

Peter tinha uma verdadeira queda por Rachel. Também, não é para menos, ela era mais bonita do que todas as mulheres que ele trazia. Então, ás vezes Rachel se aproveitava do poder que tinha sobre ele para fazer algumas coisas, como pô-lo para cuidar das crianças.

_Agora, tenho de ir. Meu irmão deve estar uma fera, você sabe. Aquele livro de cantadas ambulante não pára quieto.

_Ei, você que é a mais nova._Eu falei._Ele tem 20 anos, sabe se cuidar.

Ela revirou os olhos.

_Vai conhecê-lo no baile. Aquele pirralho é a peste.

Rimos juntas.

_Obrigada Rachel.

_Não há de que, tome o dinheiro._Ela me estendeu algumas notas.

_453 Euros (n/a: Representa R$990,00)?_Praguejei-me mentalmente de ter falado tão alto._É muito dinheiro!

_Não, não é._Ela disse._É só um... Salário adiantado. Você ganhará isso todo o mês, sendo que é só de entrada. Se você se esforçar no trabalho, irá aumentar bem esse salário. Tenho dinheiro para dar e vender, acha que vou economizar? Não. Ganho muito dinheiro de meus pais, acho que é melhor dar uma vida boa para meus empregados.

_Obrigada novamente._Falei, á abraçando.

_De nada. Agora vou embora, tchau Emy._Deu dois beijos em minhas bochechas e começou á subir as escadas.

_Tchau._Murmurei antes de ela fechar a tampa.

Tranquei a tampa do esgoto e fui ao quarto meu e de Michael. Ajoelhei-me ao seu lado e selei seus lábios. Ele resmungou.

_5 minutos mãe...

_Desde quando sua mãe lhe dá beijos na boca?_Perguntei.

Ele abriu um dos olhos e me olhou de soslaio, para depois se virar de barriga para cima.

_Você é linda Emy.

_Obrigada._Sorri._Você também não é de se jogar fora._Brinquei.

Ele riu e se levantou.

_Vá acordar as crianças._Falei enquanto ia ao “quarto” de Peter.

Joguei-me sobre seu corpo. Após eu ouvir um gemido de dor, falei animadamente.

_Bom dia!

_Você me paga._Ele falou meio grogue.

_Cheque ou cartão?_Perguntei brincando._Vá acordar o resto das crianças._Falei enquanto ia á divisória de Frederic.

Ajoelhei-me ao seu lado e comecei á dar vários beijinhos em sua face suave. Ele deu risadinhas roucas, mas mesmo assim gostosas e eu parei de brincar com ele, para olhá-lo nos olhos.

_Hora de acordar, bebê._O peguei no colo._Sabe quem veio aqui hoje?_Perguntei andando com ele._Tia Rachel! Deixou várias roupinhas aqui para você e o resto dos seus irmãozinhos e sabe o que mais?_Perguntei olhando para ele, que dava de ombros._Ela trouxe bananas! Fred adora bananas, não é?_Olhei para ele e ele concordou com a cabeça._E a mamãe vai trabalhar! Estou animada._Eu falei.

Ele chamou a minha atenção com os braçinhos e eu o olhei. Ele apontou para si mesmo, para depois formar um coração com as mãosinhas e apontar para mim.

_Eu te amo também, meu amor._O abracei e logo Michael chegou ali e sorrindo, nos cobriu com os braços.

_Como vai meu garotão?_Perguntou enquanto bagunçava seus cabelos

Ele fez um sinal positivo com as mãos e rimos.

_Ótimo._Michael respondeu._Vamos tomar o café.

Sentamo-nos na mesa e eu arrumei o café da manhã, que eram rosquinhas, pães, leite e frutas.

_Quem veio aqui hoje? O Papai Noel, por acaso?_Perguntou Peter pegando um dos pães enquanto eu me sentava ao lado de Michael e Frederic.

_Não, foi a Rachel._Respondi._Ela trouxe o café, roupas para vocês..._Falei.

Todos ficaram animados e eu falei com Michael.

_Fomos convidados por ela para um baile._Acho que meus olhos brilharam.

_Mas não temos roupas e temos que cuidar das crianças._Ele me relembrou, mechendo no leite com uma colher.

_Eu sei._Falei._Quer dizer, ela trouxe roupas, o baile vai ser á mascaras. Chegaremos á casa dela ás 19:00 e deixamos as crianças sob os cuidados de Peter.

_E quem disse que Peter vai querer?

_Rachel._Disse com um sorriso, como se fosse obviu._Peter._O chamei._Rachel pediu para você ficar com as crianças a partir das 19:00, tudo bem?

Ele assentiu com os olhos brilhando e depois voltou-se para a comida enquanto eu sorria de lado. Todos acabaram o café da manhã e eu perguntei.

_E então, vamos á Praça de São Marcos?

 

N/A:

E então, gostaram?

Eu estou simplesmente super anciosa para continuar essa fanfic!

Adoro meus surtos de inspiração!

E então, mandem reviews por favor, ficarei muito grata

*-*


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