14 de agosto de 2026 * sexta-feira

Casa de Marcelo Scarpari - 04:45 da manhã

            Um choro. Aquilo fez com que os instintos a despertasse. Acordou sobressaltada e sentou na cama, queria ouvir mais uma vez. Apenas para ter certeza que era ela chorando. Um choro. Respirou fundo e olhou para o lado. Ele não estava ali. O lado dele bem arrumado e um cartão em cima do criado mudo dele ?eu te amo?. Pequeno, mas que fez com que seu coração se enchesse. Olhou para a janela e viu a lua. Cheia.

            Ouviu novamente um choro. Olhou no relógio. 04:45. Merlin... Ela respirou fundo e preguiçosa e lentamente ela foi jogando as cobertas para o lado. Ouviu um rosnado. Aquilo fez com que seu coração batesse descompassado e expulsasse a preguiça dali. Rapidamente viu uma cena estranha.

            Dallas estava no berço, chorando. Histericamente irritante. Ao lado do berço, uma mulher. Alta, magra. Estranha. Tinha serpentes em vez de cabelos. Serpentes que se chicoteavam uma na outra tentando jorrar sua fúria ali. Na sua boca, presas enormes como as de javali. Foi subindo os olhos, para terminar de analisar a pessoa quando se lembrou que não podia.

            Olhou para o animal que estava a sua frente. Um lobo. Estranhamente conhecido.

- Marcelo. - murmurou ela. Viu a mulher andar em direção do berço. Parecia que ninguém notava sua presença na porta. O lobo se atirou sobre a mulher e rosnou, talvez numa tentativa de proteger Dallas, talvez numa tentativa de matar. Mas, independente para que foi aquela ação, Marcelo não teve muito tempo. A mulher o olhou profundamente e Marcelo virou pedra. - Não! - gritou Rafaela correndo em direção da estátua do lobo. Ela se virou e viu que a mulher encarava o bebe que chorava histericamente. Logo o choro cessou. Rafaela viu a mulher rir e sumir depois.

            Com lágrimas nos olhos se levantou e foi até o berço. Dallas estava imóvel. Estava petrificada. Lágrimas brotaram ao dobro em seus olhos. Tanto pela perda da filha quanto pela perda de Marcelo. Se jogou novamente em Marcelo. Agarrou o pescoço da estátua do lobo e chorou.

            Merlin, sua vida não podia ser simples? Por que ela não podia engravidar? Por que diabos seus pais tinham que partir assim? Por que diabos Amanda teve de partir? Por que diabos aquela mulher teve que aparecer. Chorou novamente. Queria chorar, gritar, chutar, estraçalhar algo. Assim como a mulher fez com a sua vida.

            O coração a mil e a vontade de que aquilo era um sonho. Um sonho e nada mais. Que ela despertaria com Marcelo do seu lado e vivo. Dallas rindo e engatinhando até ela. Sonhos que foram petrificados por aquela mulher. Tentou beliscar o braço e viu que era um sonho. Tinha que ser.

Será?