Dossiê Bleach escrita por Pedro_Almada


Capítulo 3
Hisagi Shuuhei


Notas iniciais do capítulo

espero que gostem, amigos leitores, e que comentem, com toda sinceridade.
Abraço a todos xD



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Acredito eu que, de todos os shinigamis existentes, nenhum conhece a morte tão bem quanto este. Hisagi Shuuhei. Tenente do 9º Esquadrão e considerado um dos mais equilibrados em toda a Soul Society. Dono de uma zampakutou de hostilidade própria, Hisagi não gosta muito de sua shikai, Kazeshini.

            E, ainda que toda essa pose de importância seja grandiosa aos olhos de muitos, não é nada comparado às façanhas de Ihiro Kannagi. Não preciso dizer que Ihiro era o próprio Hisagi antes de... Bem, vocês sabem.

            Os registros são vagos, não relatam muito e, suspeitas minhas, acredito que os dados não tenham se perdido ao acaso. Mas, ao que tudo indica, muito antes de shinigami, Hisagi parecia ser um humano com habilidades incomuns. Por isso vou logo avisando: conhecer a história do Tenente do 9º Esquadrão só irá despertar mais perguntas e dúvidas. Mas se você é capaz de viver com isso, ouça bem o que tenho a lhe dizer. Apresento-lhes a história de Hisagi Shuuhei.

Faz muito tempo, sabem? Não do tipo, cem anos, ou duzentos anos. Eu digo muito tempo como algo quase milenar.

            Meados de 1280. Há quase oitocentos anos. Ihiro Kannagi. Esse era o seu nome. Vivia em meio aos campos orientais, na companhia de lótus cintilantes e uma natureza de tirar o fôlego. Mas havia um problema. Kannagi não tinha tempo para admirar o mundo a sua volta. Estava ocupado demais decepando as cabeças de seus inimigos.

            Um chefe de guerra. Conhecido por Herói da Guerra, Ihiro tinha ao seu lado uma tropa de quase dois mil homens, todos submissos às suas ordens. Mais do que um chefe, um líder... O Herói era um poço de confiança. Em sua província todos acreditavam em suas palavras, eu sua integridade.

            Filho de camponês, Ihiro foi criado para manejar uma espada com maestria. Sua mãe era uma simples lavadeira, mas tinha um amor desproporcional a sua pequena estatura. Pais jovens e imaturos com a responsabilidade de cuidar de uma prole de oito filhos. Ihiro era o mais velho.

            Imagine você sendo responsável por oito irmãos encrenqueiros e baderneiros. Não, não eram pessoas ruins. Eram apenas crianças tentando superar a guerra que estava instalada à sua porta. A Guerra de Pandor, conflito que, mais tarde, receberia a célebre presença do guerreiro mais temido entre os continentes.

            Ihiro cresceu com essa responsabilidade e não tardou a admirar os cavaleiros do império, os Sibilos, assim conhecidos pelas nações inimigas. Eram famosos por atacarem em completo silêncio, sem deixar que seus adversários sequer gritassem. Sabiam manejar o elemento surpresa. Carregavam suas espadas afiadas, longas lanças pontiagudas e escudos adornados com presas de tigres ferozes, símbolos regionais de coragem e determinação. Aos seis anos, Ihiro sabia o que queria. Uma espada, um cavalo, uma tropa e muitos tigres para provar sua astúcia.

            Bem, não sejamos afoitos. Como falar sobre um grande guerreiro sem, antes, contar como ele chegou a esse ponto? Pois bem.

            Aos dez anos, todas as tardes após os afazeres domésticos, ele corria até as montanhas e lutava com galhos retorcidos e troncos apodrecidos. Sua espada era uma vara de pesca. Foi com ela que Ihiro matou seu primeiro inimigo. Um tigre. O animal era jovem, mas isso não o tornava menos faminto. Kannagi sabia que só tinha uma opção. Vencer o animal. Naquela mesma noite, o Sr. Kannagi castigou o filho por quebrar a única vara de pesca que tinham. O garoto nunca disse como tinha feito, apenas se certificou de enterrar o animal em um lugar longe dos olhares curiosos.

            Assim ele viveu o decorrer dos anos. Todos os dias corria até as montanhas em busca de um tigre. Aos quatorze anos quase morreu. O tigre era grande, feroz e não parecia temer a nenhum inimigo. Sua sorte foi o aparecimento repentino de uma espada. Ela se projetou no céu, cortando o ar como uma dança belíssima. A ponta da lâmina atravessou o crânio do animal, que pendeu, morto. O tigre não teve tempo nem de chiar. Ihiro, apavorado, procurou pela mata em busca de seu provável herói. A julgar pelo ataque, sabia que era um cavaleiro, um Sibilo.

            Das sombras das árvores surgiu uma armadura negra e lustrosa. O som metálico imperava na selva, agora subitamente deserta. A simples presença daquele cavaleiro misterioso espantara qualquer sinal de vida. Curiosamente Ihiro, mesmo apavorado, não era capaz de desprender seus olhos daquela figura deslumbrante.

            Observou o cavaleiro caminhar até o tigre e remover sua espada, guardando-a mais uma vez na bainha. A única coisa visível de humano no ser misterioso era a longa cabeleira escarlate.

            - Quem é você? – perguntou Hisagi... Ou melhor, Ihiro.

            O elmo girou em direção ao garoto, provavelmente os olhos por trás das fendas do metal estavam encarando o pequeno camponês a sua frente.

            - Você é um sibilo?

            Não houve resposta. O cavaleiro simplesmente parecia encarar o garoto.

            - Você é um Sibilo? – Ihiro apertou o punho. Estava começando a ficar com medo – Você é? Porque, se não for, não devia estar aqui. Não permitimos que nossos inimigos invadam nossas terras.

            Ihiro quase ouviu um chiado de espanto. Não medo, apenas surpresa. De fato, o cavaleiro curvou-se em direção ao garoto, como se tentasse observá-lo melhor, como se, pela primeira vez, o menino do campo fosse interessante.

            - Vejo coragem – uma voz rouca e severa ecoou de dentro do elmo de metal.

            O menino piscou duas vezes, fascinado. Uma voz de dar medo, o que era algo quase tão essencial quanto uma lâmina afiada.

            - Vejo coragem em seus olhos – repetiu o cavaleiro – e algo mais.

            - Algo... Mais? – murmurou o menino.

            O cavaleiro não concluiu.

            - Como é o seu nome? – perguntou o garoto.

            Silêncio. Havia hesitação na respiração do cavaleiro.

            - Seu nome – insistiu o menino – diga seu nome.

            - Meu nome... – o cavaleiro olhou para o céu. Naquele momento, uma rajada de vento tomou conta das copas das árvores, espalhando as pétalas de cerejeira pelo campo – Me chame de Kazeshini.

            Bem, é isso. Nossos dados sobre esse acontecimento terminam aqui. Mesmo depois de muitas décadas de pesquisa, não conseguimos descobrir quem seria esse misterioso guerreiro, ou seu paradeiro. Aquele foi o único encontro que conseguimos registrar em nossos arquivos. Não sabemos o que houve depois, se Ihiro e o misterioso guerreiro se tornaram amigos, ou se o cavaleiro simplesmente deu as costas e se foi. Essa foi a única vez, na história do passado de Hisagi, em que ouvimos o nome da zampakutou ser mencionada.

 

Os arquivos nos lançam três anos a frente, quando Ihiro kannagi contava com dezessete anos. Ainda nessa época ele ajudava o pai no corte de lenha, carregava os cestos de roupa da mãe e educava os oito irmãos homens, sendo que o mais novo deles tinha sete anos. Havia, no entanto, algo de diferente no irmão mais velho. Não era apenas seu cuidado, ou sua preocupação com a disciplina dos mais jovens. Ihiro os liderava e, respeitosamente, os irmãos o seguiam. Sem questionar.

Permito-me afirmar que liderança é algo que nasce com a pessoa. Hisagi, o Shinigami pode não ter esse talento tão bem aflorado mas, certamente, ele o teve quando ainda era apenas um camponês.

Treinou os irmãos. Levava-os para o monte, ensinava manejos singulares com espada (embora usassem apenas galhos e lascas de árvores), atirar objetos cortantes e subir em obstáculos. Em pouco tempo, suas façanhas se espalhou pelo vilarejo, que alcançou todo o condado e, no mais tardar, chegou aos conhecimentos do chefe da cavalaria, Kyoga.

Numa tarde, o pasto da pequena casa dos Kannagi stava infestada de cavalos e homens vestidos de metal e lâminas. Os pais de Ihiro ficaram espantados quando ouviram, da própria boca de Kyoga, que estava ali para conhecer o garoto mais velho da família.

Não precisou dizer duas vezes. Imagine você, em sua casa, desejando desesperadamente ser um cavaleiro e, de repente, surgir um amontoado deles de frente a sua casa, querendo te ver... Vejam só, até eu perdi o fôlego. Ignorem meu romantismo para essas histórias. Fico feliz que não possam ver minhas lágrimas de satisfação. Acabei me apaixonando por essa história.

Enfim, deixarei de divagações. Pois bem, Ihiro foi conversar com Kyoga. O obvio aconteceu, ele fora convidado a se alistar na grande Guerra de Pandor. Os inimigos estavam se aproximando e precisavam de homens o mais rápido possível, e sua nação estava em desvantagem. Eles viam em Ihiro um trunfo, uma última chance de encher o povo de coragem e esperança.

- Eu aceito – falou Ihiro sem demora – mas eu quero meus irmãos ao meu lado. Quero eles como os meus soldados.

Você acha essa atitude presunçosa? Certamente. De qualquer forma, o pedido foi aceito. E não parou por aí. As conquistas do jovem rendeu-lhe seguidores, muito além do que oito irmãos. Com o tempo, ele se tornou chefe da sua própria cavalaria, contando com mil soldados, os melhores e mais fieis à nação. Suas proezas deram a ele o título popular de Herói da Guerra. Sozinho, ele tinha salvado mais de oitocentos camponeses, e derrubado o dobro desse número em inimigos...

Até aquela noite de primavera. Todos estavam bem. A esquadra estava acampando em um dos vales circunvizinhos, esperando a chegada do inimigo. Contavam, como sempre, com o elemento surpresa. Ao invés disso, apenas um número pequeno de aliados voltou, aos frangalhos. Traziam, além das feridas, uma triste notícia.

- Kyoga... – murmurou um deles, caindo, trêmulo no chão, fitando Ihiro nos olhos – Kyoga está morto. Nosso líder está morto.

- Morto? – a voz de Ihiro falhou – Kyoga... Quem fez isso? Quem o matou?

- Foi o novo líder da cavalaria inimiga...

- Quem é esse infeliz? Quero o nome do homem que irei decepar-lhe a cabeça.

- Não é um homem, senhor... Trata-se de uma mulher...

- Mulher? Como uma reles mulher pode matar um cavaleiro?

- Ela não é uma mulher comum, capitão Kannagi...

Os olhos de Ihiro ainda guardavam a surpresa em saber que uma mulher matara seu chefe. Não julguem o jovem rapaz por isso. Naquela época o sexo feminino não era valorizado como merecido, os homens se consideravam superiores. Culpe os princípios medievais, deixe o jovem Hisagi isento dessa culpa, sim?

O cavaleiro balbuciou, temeroso. Ao que parecia, a mulher era, não apenas expert em duelos, como era capaz de causar pavor, mais do que qualquer ser agourento.

- O nome – insistiu ele – quero o nome dessa guerreira.

- Seu nome é... Suzumebachi.

Esse nome não lhes parecerá estranho se forçarem um pouco suas mentes. Ah sim! Vejo que reconhecem Suzumebachi de algum lugar. Naquela época, era uma guerreira temida pelo seu povo. Segundo dados antigos, ela nunca tinha sido derrotada. Com um único golpe de espada, eliminava seu inimigo. Era conhecida como “A Vespa”.

- Vou esmagar essa mulher – avisou Ihiro – antes que ela o faça com o meu povo!

           

            O jovem guerreiro havia desperto sua tropa e, naquele momento, estavam marchando em direção ao norte dos vales Idae, antigo território inimigo, dominado por Ihiro meses atrás. Sabia que a cavalaria inimiga estava estabelecida naquele lugar e, com menos de um dia de caminhada, estariam cara a cara com a adversária impiedosa.

            Peço, nesse momento, que ignorem completamente a história de Suzumebachi. Aqui sua existência post mortem é irrelevante. Quero que a vejam como uma imperadora cruel, uma mulher única em sua época, fria, superior. Mas também peço que não gravem essa imagem em suas mentes, não quero que odeiem essa nobre zanpakutou, ou admirem essa figura de igual pavor. Na verdade, não lhe atribuam valor algum, apenas deixem que ela seja quem deve ser na história: uma líder da mais fria espécie. Assim como Ihiro Kannagi.

            Enfim, as tropas já haviam cruzado o vale. Não demorou a avistarem, ao horizonte manchado do dourado entardecido, uma enorme quantidade de guerreiros com suas espadas empunhadas, os grossos escudos reluzindo o metal, as expressões de ódio e fúria. Suzumebachi já esperava a provável retaliação.

            Ihiro permitiu que seu olhar cruzasse o da imperadora. Sentiu a espada ficando cada vez mais leve, como se, inesperadamente, o vento estivesse a seu favor, removendo todo o fardo e dando-lhe a vantagem que precisava.

            Entendam, agora. Hisagi nunca voi normal, mesmo ainda sendo um humano. Havia algo que ele escondia dele mesmo, uma essência e guerreiro quase sobrenatural. Aquele conflito seria a última. Mais uma vez, a espada do nosso nobre tenente seria manchada de sangue.

            As tropas dispararam umas contra as outras. A densa cortina de poeira subiu, acinzentando o ar, enquanto o cheiro de terra pairava no ar. Ninguém havia parado para sentir a suave brisa atiçar as copas das árvores, ou arremessar as pétalas de cerejeira para todos os lados. Bem lá em cima, sobre as nuvens, era possível presenciar aquela cena sem nenhum ruído, formigas silenciosas aproximando, chegando perto, cada vez mais perto...

            E o choque! As espadas ricocheteavam uma nas outras, os escudos eram arremessados pelos ares, os cascos dos cavalos esmagavam os estilhaços de armaduras. O trotar era intenso, o tilintar quase harmônico de metais se chocando no ar soava como uma música brutal. Se eu pudesse tocar algum instrumento naquele momento, seria o meu bom e velho piano, daqueles de cauda. Eu tocaria algo suave, que combinasse com a dança das pétalas de cerejeira. Seria maravilhoso, sabem.

            Corpos caíam, inertes, esvaziados de qualquer fôlego, cavalos eram atingidos impiedosamente. Havia muito sangue. O dourado da tarde parecia intimidado naquele momento, tentando se esconder atrás do altos montes. Já não sabia-se mais quem era aliado ou inimigo. Todos gritavam eufóricos, ou poderia ser apenas a dor de sentir uma fria lâmina atravessar-lhes o ventre.

            Ihiro, naquele instante, não se importava em ser líder. Kyoga estava morto e, em suas mãos, havia o compromisso de vingar a morte de seu tutor de guerra. Suzumebachi iria pagar... Bem, em uma guerra, quem não paga?

            O cavalo de Kannagi passou pelos guerreiros, esquivando-se dos ataques com bastante eficiência. Tudo o que Ihiro queria era atravessar aquela mulher com sua espada, fazê-la sentir a dor que Kyoga sentira. Ingênuo nosso herói, não? Mesmo com tanta habilidade com a espada e seu espírito de liderança, ainda era jovem e, não desprezando a juventude, ainda havia muito da rebeldia da mocidade em seus olhos. Mas foi belo, devo dizer. Muito belo. A forma como Ihiro conduziu sua vida até aquele instante. Ainda que seus irmãos caíssem a sua volta, mortos, Ihiro não parava, não naquele momento. Queria, a todo custo, derrubar Suzumebachi.

            A Vespa percebeu a aproximação. Sabia que assim seria, e não esquivou. Apenas ergueu sua espada, bloqueando o ataque perito do chefe Kannagi.

            - Você! – ele rugiu – matou Kyoga! Pagará o preço!

            - O sangue dele não era responsabilidade sua, menino! – bradou ela – Se gostava tanto assim dele, permita que eu o leve a ele! Da maneira mais fácil!

            Posso notar o olhar de Suzumebachi. Olhos castanhos astutos, uma expressão anciã, mas com uma juventude de seus quase quarenta anos. Seu corpo delgado delineado por uma armadura de metal denso, seu longo cabelo castanho escorregando por baixo do elmo.

            As espadas atiçaram fagulhas e, saltando se seus cavalos, pularam um contra o outro. Era quase uma brincadeira, uma dança bem elaborada. As lâminas sempre cortavam o ar, sem nunca atingirem um ao outro. A menor aproximação era bloqueada pelo escudo.

            Assim eles duraram por quase uma hora. Os guerreiros estavam pela metade, muitos cansados, alguns fugiam. Mas Suzumebachi e Ihiro permaneciam ali, como se estivessem sozinhos.

            - Seu ódio por mim é imenso! – falou a mulher, assim que tomou distância – Não compreendo...

            - Você tirou a vida de um líder! É justo que perca a sua!

            - Por isso me aflige? – vociferou ela – vingança pessoal? Não seja ingênuo, criança! Isso é uma guerra, não há espaço para sentimentos tolos!

            - Minha espada não irá parar, até que sua vida seja extirpada dessas terras!

            - Então é bom fazer suas palavras valer, rapaz! Sou conhecida por eliminar meus inimigos com um único golpe!

            - Você não corta o que não pode tocar!

            As palavras animadoras deram-lhe um pouco mais de força, Ihiro tomara sua investida e, novamente, as espadas estavam cuspindo faíscas.

            Mais uma hora se passou. Estavam exaustos, e a chacina ainda acontecia na orla daquela atmosfera particular. Era como se todos a volta soubessem, “não interrompam a luta dos imperadores da guerra”.

            A luta continuou. A lua foi erguida no firmamento, assistiu ao conflito, e partiu sem cerimônia. Estava para amanhecer, Ihiro e A Vespa continuavam lutando. Quase não havia mais homens de pé, todos foram derrubados pelo cansaço. Mas, afinal, o que mantinha aqueles dois de pé.

            - Desista! – gritou Ihiro – Eu pretendo continuar pelo resto da vida, se for preciso!

            - Você não é o único a assumir um compromisso, tolo! – ela chiou em resposta, enquanto se afastavam por um breve minuto – Também tenho a responsabilidade de manter minha palavra, minha honra... Sei que não está lutando pelo seu povo, mas por uma única pessoa... Acredite, se existe algum motivo que me faz erguer essa espada, não é o meu povo... Mas uma garotinha... Preciso voltar viva, ela me espera! Por isso não vou desistir! NÃO VOU!

            Sabe aqueles momentos em que dois olhares se cruzam, e, de repente, as respostas abandonam as sombras? Aquele foi esse momento. Sim, Ihiro percebeu, eles eram iguais. Muito parecidos. Mas havia um pequeno erro nas palavras de Suzumebachi. Ihiro não estava lutando por ninguém, senão por ele mesmo.

            Talvez tenha sido esse o erro do jovem rapaz. O erro que causou sua queda, o erro que permitiu a aproximação de Suzumebachi... A espada da Vespa havia atravessado Kannagi, como uma tesoura em folha de papel. Simples e rápido que não poderia ser considerado um golpe de guerra.

            Ihiro caiu de joelhos, encarando sua adversária. Ela removeu o elmo, encarando o rapaz com um olhar inexpressivo. Não havia orgulho na morte. Ninguém morre se sentindo herói, sentido que fez o melhor que podia. Dizem por aí que viver é difícil... Não... Morrer é abrir mão de conquistas... Como Ihiro sofreu ao abrir mão das suas... Não queria morrer, queria voltar ao seu povo com o corpo ferido, suas marcas de vitória. Mas isso não era uma promessa que poderia cumprir.

            Kannagi ergueu sua espada. Tolo, devia saber quando desistir. Num único movimento em direção a sua inimiga, ele cortou o ar com a própria lâmina. Não perguntem como, mas algo aconteceu.

            Suzumebachi sentiu seu ventre se partir. Ela caiu de joelhos, sentindo a leveza da morte. De um jeito muito misterioso, Ihiro usara o vento a seu favor, convertendo-o em uma lâmina, abatendo seu inimigo.

            Há quem diga que Kazeshini vingara a morte do rapaz... Mas eu acho que só não querem acreditar que alguns humanos, poucos humanos, possuem dons que se equiparam ao de um shinigami. Se querem a minha opinião, Ihiro era bem mais que um simples líder.

            Kannagi deitou-se na grama, sentindo o sangue esvair de seu corpo. Já não conseguia mais ver sua inimiga, mas conseguia ouvir a respiração pesada da mulher. Sentiu gotas acertarem gentilmente seu rosto. Que belo, estava chovendo!

            Ihiro fechou os olhos, rendido. Não poderia gritar vitória, mas sabia que não fora derrotado. Seu coração deu sua última batida, sinalizando o fim de uma vida de mártir... Hisagi estava para chegar.


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Notas finais do capítulo

Amigos, não tive tempo de revisar, então, qualquer erro, me avisem, ficarei muito feliz

valeu...

ah, comentem! xD