[HIATUS]Metalinguagem escrita por MsWritter


Capítulo 1
Noite


Notas iniciais do capítulo

Hum, vamos ver se consigo mostrar a personalidade dele sem macular a estruruta do texto...



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Já estava cansado daquele maldito notebook. Tudo bem que era um excelente computador, prático, econômico, potente, seu instrumento de trabalho... e era exatamente por isso que já não o agüentava mais àquela noite!

Estava há horas na frente daquela porcaria e não tinha conseguido escrever mais do que uma página! Tudo bem, uma página tem lá suas quatrocentas palavras, e cada palavra sua valia lá por umas cinco de outro autor menos objetivo, mas também não é assim. Precisava ter pelo menos mais quatro páginas, para atiçar a curiosidade dos editores na manhã seguinte.

Atiçar a curiosidade mais porque ele queria mesmo, já que estava sob contrato e precisava urgentemente anunciar sua nova “obra prima” ou “Best seller” como gostavam de chamar. Tudo uma grande porcaria em sua opinião.

Tinha escrito um único livro de verdade. E por verdade deve entender-se aquilo que ele queria expressar, e não aquilo que queriam ler. Pois é. E esse bendito livro, que ele orgulhosamente havia batizado de “Inanição”, nunca estourou, nunca foi comentado, nunca foi nada. Estourou quando um roteiro que ele escreveu sob encomenda de uma banda de rock – isso mesmo, para um maldito videoclipe- virou mania entre os jovens e acabou sendo transformado em um longa-metragem. Foi a conta. Assinou um contrato milionário para continuar a escrever os roteiros dos clipes da tal banda – que agora, parando pra pensar, ele não se lembrava do nome – e ganhou a maior grana. Os clipes fizeram sucesso sim, mas a banda se desfez no lema “sexo, drogas e rock in roll” e a fama se acabou.

Anos depois tinha sido contratado por uma editora que estava começando, e o cabeçudo do dono, com o devido respeito, claro, o tinha contratado para escrever cerca de quatro romances por ano. No início ele se esforçava para faze rum bom trabalho, mas com os prazos o apertando, e depois que percebeu que podia escrever qualquer porcaria que a editora ia anunciar tanto que acabaria entrando pros mais vendidos de qualquer forma, acabou desistindo.

Não que a crítica fosse boa, mas percebeu que “crítico” era o último adjetivo possível para descrever seu público.

Já estava tão cansado de olhar para a tela do computador, com aquele arquivo de edição de textos aberto, praticamente vazio, com aquele maldito risco preto piscando em sua frente... Era quase como se ele estivesse lá só pra lhe mostrar o quanto ele não foi capaz de escrever.

Fechou o notebook com violência, e ainda irritado, ligou a televisão, que ficava exatamente ao lado da cadeira onde estava sentado. Ele gostava de trabalhar, ver TV e às vezes até mesmo comer ao mesmo tempo. 

Quase morreu de desgosto quando viu a si mesmo em um programa de entrevistas, falando sobre seu último livro. Livro aliás que ele queria morrer ao se lembrar que escreveu. Viu na legenda do programa seu nome que corria às vezes: Alexis Basiliatis Hadji, autor d o grande sucesso...

Ah, ele se recusava a ler o título do próprio livro. E odiava ter seu nome exaustivamente escrito em extenso. Ele assinava suas obras como A. B. Hadji justamente para não ter que falar o nome inteiro. Tá certo, era um nome grego, cheio de significado e origens mas... sério? Ele achava que Alexis era um nome meio feminino... sei lá. Estranho, incomum! Não podia ser Alex? Ou Alec? Qualquer coisa menos ambígua.

No fundo sabia que o nome era muito bonito, era só implicância por SEMPRE ter sido zoado.

Já ia levantando a tampa do computador para tentar escrever alguma coisa, quando ouviu a si mesmo na televisão:

– Qual autor eu mais admiro? Camões serve? – Riu-se divertido.

“Cara de pau” – Pensou para si mesmo, pois se lembrava claramente de estar odiando fazer aquilo, apesar de parecer tão feliz e brincalhão em frente às câmeras.

– É uma ótima escolha Alexis, mas não teria algum mais atual? – Perguntou a apresentadora, uns dez anos mais jovem que ele, bancando a intelectual no programa. O que havia de errado com Camões? Ele era um gênio!

– Acho que não. – Continuou, bebericando um copo d’água. – Mas se me perguntassem onde encontrar um, diria para procurar um escritor de fanfictions.

– Como assim? – Ela se retorceu, virando seus óculos, claramente desconcertada com a afirmação.

– Oras, eles escrevem com emoção, com vontade. Escrevem sinceramente tudo aquilo que os verdadeiros autores não viram como potencial em suas histórias. Eu já vi algumas fics em que a personalidade dos meus personagens foram milhões de vezes mais bem exploradas do que na minha história. Eles vêm coisas que a gente não vê! Depois de ler, acabei ficando orgulhoso de algumas das minhas criações!

– Você lê esse tipo de coisa? – A cara dela era de nojo. Bem feito, devia ter aceitado Camões como resposta.

– Algumas são ruins, fracas e feitas só pra chamar a atenção. É verdade. Mas outras são excelentes. Acho que é como tudo na vida...

 

Tudo bem, chega disso! Chega de ver o que falou semana passada quando gravava um programa que você já sabia, passava às quatro da manhã.

Mas até que foi legal rever o esporro público que deu na adolescente metida a intelectual e Cult. Tipo, ele não era tão velho, tinha seus vinte e sete anos, mas era claramente envelhecido emocionalmente. Irritava-se com as futilidades da vida. Quando era mais jovem se irritava com a chamada “ignorância política”, mas depois de ver o tanto de merda que acontecia nas eleições acabou desistindo. Não se meteria mais em assuntos ligados à política e não se importaria mais!

Estava particularmente irritado naquela noite. Aquela semana tinha sido difícil. O problema era que, no fundo, sua irritação era só uma forma de se proteger de um outro sentimento que o assolava. Estava em depressão. Já tinha recebido o diagnóstico do médico, mas não aceitou a verdade, e estava irritado desde então. Melhor passar raiva que sentir dor, na sua opinião, claro. E ainda tinha que ficar ali, escrevendo aquela coisa inútil, que além de ser algo claramente inútil para a sociedade, ainda nem estava saindo.


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Notas finais do capítulo

Hum, que medo. Primeiro original e meu personagem já saiu fazendo o que queria, contrariando o que me propus... sinistro...



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