Meu Pequeno Milagre escrita por Graziele


Capítulo 3
Capítulo 3 - Desistindo


Notas iniciais do capítulo

er... *esconde atrás do muro* oi, hehe.
é, eu sei que to sem moral nenhuma, por conta da demora. ei que tem gente querendo me matar, apedrejar, crucificar... Q Mas tudo tem explicação, certo? Pois bem,eu fiquei um mês sem pc. E, toda vez que eu tentava postar na lan house, alguma coisa impedia.

De qualquer forma, eu peço trilhões de desculpas e JURO que posto o epílogo ainda essa semana.

Espero que o capítulo tenha ficado digno de tamanha demora, rs. Preparem os lencinhos. q

Boa leitura, amores!



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Agosto - setembro.

Melanie não teve melhoras significativas nesses dois meses que se arrastaram, porém, em recompensa, também não obteve pioras. O tumor não regredia e não progredia. Tal como a dor. Rosalie se preocupava com isso, mas sabia que a dor não cessaria até que o tumor ficasse menor. Sua carga de esperança estava renovada, já que o doutor Whitlock dera algum destino. Algo que ela pudesse apegar-se.

No dia 12 de agosto, Isabella e Edward apareceram com uma bíblia, recomendando a leitura para Rose e Emmett, pois seria de ótima ajuda apegar-se a palavra de Deus, para ter alguma base. E, estranhamente, foi lendo Tiago 1 – 13 que Rosalie teve algum consolo. Pois naquele texto bíblico está gravado: “Quando posto a prova, ninguém diga: ‘estou sendo provado por Deus’, pois, por coisas ruins, Deus não pode ser provado e não prova ele a ninguém”. Podia, então, parar de culpar a Deus por seu sofrimento. Ele, como Senhor amoroso, jamais iria querer o mal para sua menina. Podia parecer bobagem, mas, se existia um culpado pelo sofrimento de toda a humanidade, esse culpado era Adão, que implantou o pecado e suas consequências em todos os viventes.

Agora, a mulher de cabelos loiros encontrava-se velando o sono de Mel e esperando Emmett voltar com notícias sobre o último raio-x.

Ela sorria para a garota adormecida, enquanto acariciava os cabelos da mesma com ternura.

Sobressaltou-se quando sentiu as mãos de Emmett lhe acarinhando a barriga e seus lábios quentes traçando um rastro em seu pescoço. Virou-se com um sorriso sincero nos lábios e se viu surpresa com o fogo que avistou nos olhos de Emmett. Abaixou a cabeça, corando, envergonhada pelo volume que lhe cutucava no estomago.

Afastaram-se aos sons dos pigarros encabulados do homem.

Ela se voltou para Melanie não entendo o próprio acanhamento, afinal eles já fizeram amor inúmeras vezes e ambos já conheciam cada pedacinho do corpo do outro. Não havia motivo para tanta vergonha.

- E aí, o que o doutor disse?

- Diminuiu – Emmett disse simplesmente.

Rosalie sentiu os olhos marejarem, enquanto os fechava e fazia um agradecimento silencioso.

- Vamos marcar a cirurgia para duas semanas, no máximo.

- Aí acabou?

- Aí ela vai passar por quimioterapia... E acabou. – Ele afirmou com um sorriso aliviado.

Rosalie sentiu como se estivesse vendo um filme de terror se encaminhar para o fim. Como se o assassino sanguinário estivesse prestes a ser aniquilado.

Ela ansiava que isso acontecesse logo. E sem maiores danos.

-

-

Passaram-se mais sete dias completos e finalmente os dois viram Melanie numa maca, trajando um robe verde, rumando para a sala de cirurgia. Rosalie sorriu para sua menina, tentando encorajá-la, mas suas lágrimas acumuladas denunciavam seu próprio medo.

A cirurgia demorou exatas três horas e, enquanto isso, Rosalie torcia a barra da camisa de Emmett nervosamente, tentando aplacar a agonia.

O doutor Whitlock saiu da sala cirúrgica revelando uma careta nada animadora ao tirar a máscara esverdeada. O médico de cabelos loiros a aparência terna acabou por arrancar mais lágrimas do jovem casal dizendo que o tumor era maior do que pensavam e que, por isso, não fora possível a retirada completa. Teriam de voltar à radioterapia, mas com a quimioterapia também, para não correrem o risco do tumor progredir.

A cirurgia fora cansativa para todos, mas a diferença era que Rose ainda tinha que lidar com a dor, enquanto sua pequena, graças a Deus, ainda não estava sofrendo, de dores, pelo menos.

- Tudo vai acabar bem – Emmett prometeu, com um sorriso triste.

- Eu acredito em você.

Outubro - Novembro.

- Mã?

- Hm?

- Pega – Melanie apontou para a caixa de gizes coloridos.

- Ta enjoadinha?

- Aham.

Rosalie não sabia que os efeitos colaterais do tratamento afetariam tanto sua filha.

Depois de muita ponderação, Melanie acabou por fazer radioterapia e quimioterapia juntas e, claro, tudo isso era evasivo demais, até para um adulto. Mesmo com a dosagem do medicamento sendo baixa, Melanie ficava enjoada todo o dia e não conseguia comer nada sem botar pra fora. Jasper, como sempre, tentava tranqüilizar dizendo que tudo isso era comum, resultante da radiação que era implantada nas células, mas isso não servia de consolo, já que todas as agonias do casal só se aquietavam quando viam um sorriso de Melanie.

Rosalie e Emmett tentaram convencê-la a cortar os cabelos porque eles, eventualmente, iam cair, mas ela se negou veemente a fazê-lo. Isso já era de se esperara já que, na cabeça dela, o padrão era meninas terem cabelos longos e meninos terem cabelos curtos.

- Mel, o que é que você ta desenhando? – Rose perguntou franzindo as sobrancelhas para o rabisco da menina.          

- É você e o papai – a menina anunciou com um sorriso deslumbrante.

- Oh, e estamos abraçados? – a mãe voltou a perguntar, realmente sem compreender as formas.

- Ah, é que vocês tão andando mais assim... E eu gosto mais.

Rosalie sentiu a garganta fechar forte.

A reaproximação dos dois já era notória. Qualquer um mais próximo já via que eles estavam trocando mais beijos e que os toques eram mais constantes., mas o que chocou Rosalie foi Melanie ter percebido isso. Ou mais, ter percebido a diferença desse comportamento para o anterior.

- Eu acho que vocês se abraçam mais putê eu vim pra cá – ela refletiu. – Se for pra vocês continuarem assim, eu quero fica aqui pá sempe!

Rosalie arfou com o último comentário da filha e, automaticamente, esmagou-a num braço sussurrando:

- Não fale isso, meu amor... Por favor, não fale.

-

-

Com um suspiro cansado e as palavras de Melanie na cabeça, Rosalie apertou o botão do elevador que a levaria para o quarto 231.

Sentia-se uma idiota por não ter percebido como a frieza de seu casamento estava afetando sua menina. Ela mesma sofrera com a separação dos pais no passado e, ironicamente, estava causando quase o mesmo na filha.

Melanie era inteligente e, obviamente, queria ver os pais juntos de verdade.

O que estava acontecendo ultimamente.

Estavam apoiando-se um no outro para conseguir superar o momento difícil e, conseqüentemente, estavam mais próximos. Era como se, nessa situação desagradável, eles estivessem redescobrindo o amor.

A mulher balançou a cabeça negativamente e, enquanto abria a porta do quarto, sorriu abertamente ouvindo as gargalhadas da filha. Seu sorriso tornou-se travesso com a idéia de encher Melanie e Emmett de cócegas, entretanto, seu sorriso desapareceu, assim como todas suas forças quando os olhos caramelados focaram a cena.

Um rastro de cachos escuros estava espalhado pelo chão fantasmagórico do quarto hospitalar levava o olhar até a uma garota magra, pálida, sem cabelos, sentada na cama assistindo animadamente uma enfermeira acabar com os últimos fios de um homem com olhar desmoronado.

Emmett estava sentado numa cadeira no meio do quarto, tendo sua cabeça segurada por uma enfermeira desconhecida que, por sua vez, segurava uma máquina de barbear. Melanie batia palmas e gargalhava gostosamente a cada fio preto feito piche que caia no chão.

Emmett mirou a mulher, que tinha os olhos arregalados piscando-os insistentemente, e sorriu torto.

- Olha, mã, o pai num ta nindo? – perguntou Melanie sorrindo inocentemente – eu to bunita que nem ele!

- Lindo... – Rosalie concordou rapidamente.

Sentindo-se estapeada, ela fechou a porta do quarto e saiu dali, a fim de assimilar as coisas.

Ver sua pequena sem cabelos fora a cartada final para que suas forças, dolorasamente agrupadas, fosse aniquiladas. Era o inferno.

- Rose, me desculpa – A voz de Emmett surgiu de repente, enquanto ele inumava o rosto na curvatura do pescoço da mulher. – Ela não ia cortar se um de nós não o fizesse primeiro... Ia ser pior se deixássemos que tudo caísse aos poucos...

- Eu amo você – as três palavras sussurradas voaram pelo ar antes de pousarem, feito música, nos ouvidos do homem.

- Repete – ele ordenou olhando intensa e seriamente nos olhos dela. – Por Deus, Rosalie, repete!

- Eu amo você – ela sorriu em meio as lágrimas feito uma idiota. – Céus! Eu amo você!

Emm riu debilmente, distribuindo beijos por toda a extensão do rosto dela até, delicadamente, chegar aos lábios.

O beijo, apesar de urgente, durou pouco e transmitiu tudo o que eles precisariam dali pra frente: força.

Dezembro.

- Mã? – a menina chamou, com a voz arrastada.

- Oi?

- Qué fazê pipi – Melanie pediu pela centésima vez.

Rosalie olhou para a filha embrenhada nos lençóis brancos do quarto e teve de engolir em seco, para segurar as lágrimas, pois a visão que estava tendo era exatamente a realização de todos os seus pesadelos, desde que chegara naquele hospital, materializada em sua única razão de viver. A menina tinha um pano fino cobrindo-lhe a cabeça sem cabelos e adornando um rosto pálido, abatido. A fraqueza da pequena chegara a um nível tão elevado que nem mais andar sem o auxílio de uma cadeira de rodas ela conseguia. Para completar, Melanie tivera uma falha leve no fígado, devido aos tratamentos evasivos.

No último mês, Rosalie e Emmett tiveram que tomar uma decisão importante, que poderia interferir em toda a frágil saúde da menina: para com os tratamentos, e dar tempo para que o fígado maltratado dela se regenere, ou continuar com os tratamentos, já que faltava pouco para a retirada completa das células restantes.

Mesmo com as advertências do doutor Whitlock, eles optaram por continuar com o tratamento, o que acabou sendo a pior opção, já que o fígado dela era frágil demais e não estava conseguindo se recuperar. O que causou duas pequenas falhas seguidas.

- Eu sei, meu amor, mas lembra que temos que esperar a tia vir com o potinho? – Rosalie respondeu por final, acarinhando as bochechas febris da menina.

Ela assentiu fracamente e se aconchegou ao peito da mãe, que, por sua vez, quase derramou as lágrimas contidas quando sentiu a quentura extrema da pequena.

Era impressionante. Parecia que alguém havia lhes rogado uma praga, pois, no mês passado mesmo, Melanie estava reagindo ao tratamento e estava quase curada, mas, de uma hora pra outra, tudo desmoronou e ela ficou pior do que antes. Emmett fora a uma loja qualquer comprar mais cadernos de desenho pra filha, e ainda não estava sabendo das complicações.

Rosalie apertou fortemente os olhos, ao ouvir o choramingo esganiçado de Mel.

- O que foi, meu amor?

- Fiz pipi – admitiu envergonhada, esfregando as pernas magras uma na outra.

Rose suspirou e afastou os lençóis, a fim de tirá-los, para que Melanie não ficasse deitada no xixi, mas acabou arfando desesperada ao ver a coloração escura que tingia o tecido.

- Tem certeza que fez pipi, princesa? – Rosalie perguntou, torcendo para que Melanie não tivesse percebido que aquilo eram fezes.

- Tem! – Mel confirmou.

Rosalie já estava desesperada quando, por força do destino, Jasper estava passando pelo corredor, parando no quarto 231 para checar os sinais vitais de Melanie. A mulher explicou o que acontecera e o médico, depois de fitar longamente a mancha escura, recomendou exames de sangue a garota. Rosalie observava o médico falar com as enfermeiras de uma maneira rápida e incógnita com os olhos arregalados e brilhando em angustia, quase implorando para que o doutor confirmasse que aquilo eram fezes. Mas, antes que ela pudesse de fato fazê-lo, dois homens de verde adentravam o quarto, para carregar Melanie numa maca, para o laboratório de exames.

Para deleite do demônio, Jasper encontrou mais pontos de sangue no corpo de Mel, e não pode dar outro diagnostico, se não uma hemorragia, que avisava uma falha hepática grave, caso não fosse contida.

Jasper impediu que Rosalie acompanhasse, já sabendo que seria melhor ao notar o semblante perdido da jovem.

- Fique aqui. – Ele recomendou. – Vai ser melhor.

Rosalie assentiu de forma automática, sem forças nem para enxugar as lágrimas. E foi só quando viu sua menina arfar agoniada, antes de começar a tossir incontrolavelmente que ela pressentiu que algo de muito ruim iria acontecer que, novamente, ela não poderia fazer nada. 

-

-

Quando Melanie estava a meia hora no laboratório de exames, Rosalie orou. Orou para que nada de ruim acontecesse, e para que sua menina voltasse viva. Quando a pequena estava a quase uma hora no laboratório, Rosalie gritou, com o rosto enterrado num travesseiro. Ela sabia que não podia culpar a Deus, mas a necessidade de responsabilizar alguém por todo aquele sofrimento era avassaladora. E, infelizmente, a única pessoa que lhe vinha a mente era o Todo Poderoso. O que a mulher usava como mantra – enquanto derramava suas ruidosas lágrimas – era que não era Deus quem governava esse mundo, e sim o iníquo¹.

Sentiu o coração constringir ao ter que comunicar ao marido a repentina hemorragia. Ela viu o estranho sorriso de Emmett desaparecer lentamente, dando lugar a lágrimas acumuladas. Ela engoliu em seco antes de abraçar Emmett, tentando reconfortá-lo – o que não deu muito certo, já que nem ela mesma conseguia se acalmar. Era desesperador ver tudo desmoronando. Rose soluçou e abraçou o marido fortemente, mesclando as dores.

- Emm, ela vai ser curada, não vai? Por favor, promete pra mim – Rosalie pediu debilmente. A voz abafada pelo choro e pelo tecido da camisa de Emmett quase inaudível.

- Por Deus, Rosalie... Ela vai... Prometo.

E, mesmo sabendo que, naquelas circunstâncias, o cumprimento da sua promessa seria quase impossível, ele tentou colocar o máximo de segurança na voz.

-

-

Uma hora e meia depois Jasper apareceu no quarto 231. Com o rosto inchado, jaleco amassado e sozinho.

- Unidade de Tratamento Intensivo – o médico disse simplesmente.

- Por quê? – Emmett sussurrou, quase que necessitando daquela informação.

Jasper suspirou cansado e passou a mão pelos cabelos, não sabendo realmente como dar aquela notícia aos pais.

- O fígado dela parou de funcionar.

O coração forte e destemido do doutor apertou forte em seu peito ao ouvir o ofegar incrédulo e fraco da mulher. Ele avistou o inferno acomodar-se a terra. Lamúrias incoerentes eram murmuradas por Rose, enquanto, como sempre, Emmett a amparava, tentando mantê-la sã.

- Nós... Vamos tentar limpar o organismo dela, tirando todas aquelas substâncias fortes, mas, se não conseguirmos... Teremos que colocá-la na lista de doadores.

Lista de doadores. E, assim, toda a raiva que Rosalie sentia, tornou-se um desespero sem tamanho, porque ele vira tudo ruir diante de seus olhos e não fizera absolutamente nada. Desespero por, agora, ter que simplesmente assistir a razão de sua vida definhar na espera de um fígado.

- Testa o meu, por Deus... – Rosalie implorou, quase incoerentemente. Um fígado, um pulmão, um coração... Ela doaria sua vida, se fosse preciso, para Melanie ficar bem.

Jasper per engoliu em seco e fechou os olhos, evitando olhar para o fogo contido nos olhos da mãe. Ele era experiente, mas não era frio. Tinha sentimentos. E, por isso, poderia afirmar que aquele caso estava acabando com suas forças. O caso mais grave que pegara naqueles cinco anos de experiência na oncologia, fora o de uma menina que tinha apenas 5% de chance sobrevivência, mas, ainda assim, conseguira a cura de uma leucemia grave. O caso de Melanie era o pior, pois ele sabia que, bem provavelmente, esses 5% não existiam.

Diferentemente do todos pensavam, a estadia de Melanie na UTI só piorou tudo. O fígado dela não estava mais suportando mais – tendo duas falhas seguidas Jasper ordenou a diminuição do remédio da quimioterapia para dar tempo do fígado se recuperar de verdade das toxinas. Mas o órgão já estava debilitado demais e, sobrecarregado, falhou por completo. No meio tempo em que a medicação fora diminuída, o tumor cresceu e com mais força, já que ele adquiriu certas defesas contra os princípios médicos.

Emmett e Rosalie estavam entorpecidos.

Viam a morte eminente da pequena com uma raiva mesclada ao desespero. Raiva deles mesmos por terem feito a escolha errada ao optar pela continuidade do tratamento evasivo. Desespero por não poder voltar atrás.

Jasper, desesperado, foi a diretoria do hospital e pediu uma recomendação de transplante para a menina para que, dessa forma, eles avançassem significativamente na fila de espera. Mas a atitude do médico fora em vão. Melanie, por ser criança, tinha vantagens sobre outras pessoas, mas o fato de estar com um câncer maligno, por estar parcialmente cega e por ter tido uma falha completa do fígado, sem contar várias falhas leves, deixava-a numa lista de menor prioridade, já que, de qualquer forma, pra eles, Melanie já estava morta.

-

-

- Ela está vomitando sangue – Rose sussurrou três dias depois da internação na UTI.

Segurou a bacia novamente em frente à filha, chorando copiosamente. Ela achava que era impossível sofrer mais, porém, todo dia que passava ela percebia quão errado aquele pensamento era. Jasper fazia tudo que estava em seu alcance para tentar salvar Melanie, mas ele sentia-se impotente ao ver que nada resolvia. O organismo da menina fora parcialmente limpado, mas o fígado não se recuperava. Estavam num beco sem saída. Não podiam para com a quimioterapia, porque, com isso, corriam o risco do tumor progredir até a área que comandava a visão, mas não podiam continuar ministrando esse tratamento porque o fígado não agüentava mais. Naquele último dia 9, Melanie teve sua primeira parada cardíaca, e, quando se achava que nada mais podia acontecer, o mesmo ocorreu duas vezes seguidas.

- Meu amor... – Emmett começou, entre soluços contidos. Ele simplesmente soube, junto com seu repentino gelo na barriga, que não mais veria o sorriso contagiante da filha. E que, nunca mais, a carregaria nos braços.

- Chama o Jasper, Emm... Por favor... – Rosalie pediu. Ou implorou. Ou orou.

Rosalie abraçou Melanie com todas as forças, cônscia de que aquilo poderia ser uma despedida. Fechou os olhos e lembrou-se das palavras de Isabella tanto tempo atrás. Agora ela entendia as palavras da cunhada. Via que não podia mais lutar pela vida da filha, porque ela mesma já não agüentava mais lutar. Ela não podia mais obrigar Mel a continuar vivendo, sabendo que aquilo era doloroso. Não podia ser egoísta, mantendo-a viva em condições agonizantes só para ela mesma manter-se inteira.

Céus! Ela não podia aceitar essa idéia! O ciclo natural seria ver sua menina na escola, na faculdade, no casamento, nos filhos... O ciclo natural seria Rosalie não ver a morte da filha!

Rosalie sentia-se morta. Sem razões para continuar.

- Mã... Ta doeno, mã... – Melanie reclamou agoniada.

Rosalie negou veemente com a cabeça, já vendo os batimentos cardíacos da menina diminuírem e os olhinhos lutarem para continuarem abertos.

- Por favor, meu anjo... Ainda não... Fica com a mamãe... – Rosalie implorou, abraçada ao corpo quase inerte de Mel.

- Eu amo você, mamã...

Piii...

Rosalie enterrou o rosto na curvatura do pescoço da menina, lembrando-se dos primeiros meses com Mel e de como tudo o que aconteceu a partir dali parecia ter sido abençoado.

Piii...

Rose acariciou o rosto fervente de Melanie e agradeceu por aquele pequeno milagre ter vivido com ela. Agradeceu por conseguido superar todas as dificuldades desde o nascimento da pequena. Agradeceu por ter sido abençoada com um anjo.

PI, PI, PI...

Rosalie tentou imaginar como seria sua vida a partir dali.

Derramou suas últimas lágrimas pesarosas em cima do corpo inerte da Melanie e fez uma oração silenciosa.

Orou por ajuda. Orou por piedade. Orou por forças.

- Minha... Minha menina... – ela balbuciou acarinhando o peito paralisado de Melanie. Melanie estava imóvel. Morta.

Sua razão de viver estava morta.

Quando Emmett retornou ao quarto acompanhado do doutor Whitlock, já era tarde. Ele viu sua esposa jogada sobre Melanie e já soube o que estava acontecendo ali. Já soube que tudo acabara.

Emmett viu desespero. Viu agonia. E viu lágrimas. Muitas lágrimas.

- Ela... Não está respirando, Emmett... – Rosalie disse incoerentemente, olhando para todas as direções perdida em si mesma. Arrastou-se até o homem e o agarrou, manchado toda a camisa dele com a água salgada que caia de seus olhos caramelados e sem vida.

Emmett assentiu, com os olhos marejados perdidos, sem coragem de mirar sua menina morta naquela cama.

- Jasper, traz minha filha de volta, por favor... Minha filhinha... – a mulher pediu, com um sorriso triste nos lábios, como se tivesse a certeza de seu pedido poderia ser realizado.

Jasper sentiu as lágrimas caírem e ele não se preocupou em limpá-las.

- Traz! – Rosalie gritou, esmurrando o peito do marido. – Minha menina...

- Shi... – Emmett disse apertando uma Rosalie desesperada contra si.

Jasper observou o casal desesperado na sua frente, sentido-se perdido também. Sentia-se derrotado. Mesmo tendo salvo várias crianças desse fim trágico, aquela vida não fora salva. E isso o matava. Estava se sentindo culpado pelo sofrimento, mesmo sabendo que aquilo era inevitável. Era como se ele pudesse fazer algo, mas tivesse se negligenciado a fazê-lo.

Demorou algum tempo até que tudo pudesse ser acertado quanto ao enterro de Melanie. Quem cuidara de tudo aquilo fora a mãe de Rose, pois a mesma havia se fechado para o mundo. Parecia que ela ainda não havia assimilado tudo o que ocorrera, e ninguém ousava abrir os olhos da mulher para a realidade. Emmett ficava com ela o tempo todo, tendo que suportar sua dor mutiplicada duas vezes.

Toda a família Hale e Cullen estava de luto. Algumas lágrimas eram torrenciais, outras contidas e outras compreensivas.

Naquele 15 de dezembro de 2002, Emmett estava deitado ao lado da esposa na cama de seu quarto, observando-a enquanto ela olhava para uma foto de Mel, sem sorriso nostalgico e sem lágrimas dolorosas. Os ossos da mulher estavam proeminentes, os olhos desfocados e o coração despedaçado.

- Não vou viver sem ela, Emm... Não vou suportar...

- Eu sei...

- Não dói em você?

- Dói, mas eu não deixo sangrar.

- Então, me ensina a estancar meu sangue?

Emmett mirou os olhos avermelhados de Rose, e depositou um beijo cálido na testa dela, derramando as lágrimas silenciosas que tanto guardara naqueles últimos três dias, tentando manter-se são.

- Vou ficar com você – ele prometeu.

- Não me deixa também... Não vou aguentar.

- Eu não vou.

E o tom seguro ajudou Rosalie a juntar seus últimos cacos.


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Notas finais do capítulo

¹: Pra quem acredita na Bíblia, em 1 João 5-19 ta escrito que quem governa esse sistema de coisas é o iníquo (diabo, no caso) e que, portanto, Deus não causa o sofrimento. E só o permite por não governar este mundo :DAntes, eu queria agradecer a miojo e a JessycaSantiago pelas lindas indicações :) Vocês quase me fizeram chorar, sério.Eaê? *roe as unhas* Ficou bom? Não me matem, por ter matado a Melanie, por favor. Mas, pensem, a história não teria o mesmo ~sentimento~ se eu simplesmente curasse a Mel.Vou deixar tudo por conta de vocês. Digam-me sua opinião :)Eu penso em postar outra história, mas bem mais romantica e sem muito drama... Alguém aí leria? HUAUAAUAU'Beijos, amores. E, juro que ainda essa semana tem o epílogo! O/Deixem reviews, por favor.