Caminhando nas Sombras escrita por Carol Campos


Capítulo 5
Descoberta


Notas iniciais do capítulo

Para a minha amiga Aline, que sempre me dá muito apoio...



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Corri como nunca havia corrido em toda a minha vida, me esforçando ao máximo para que as poucas pessoas que andavam pela rua não vissem o meu rosto, principalmente meus olhos que provavelmente estavam em um tom escarlate de sangue. Então eu era realmente uma aberração, não é? Um monstro? Talvez. Nem eu mesma sabia. A única coisa que pensava era chegar em casa o mais rápido que pudesse e tentar fingir que isso tudo não aconteceu, o que seria meio difícil. O que eu faria se encontrasse Johny novamente? Com certeza ele deveria estar morrendo de medo de mim, ou melhor dizendo, do que havia acontecido, a aberração que eu era. Minha mãe diria que eu tinha feito uma grande droga.

Minha mãe? Ai que droga, como eu iria contar tudo o que havia acontecido? Não posso chegar do nada e dizer “Ah mãe, sabe a novidade? Eu sou um monstro! Divertido não?”. Não sabia nem como ela iria reagir, nem se teria medo de mim também.

Chegando em frente a porta de casa, hesitei. Não sabia o que aconteceria, e tinha medo do que minha mãe acharia de mim. Minha pele queimava cada vez mais que o sol subia ao céu, mas não queimava no sentido literal, somente a sensação permanecia. Levei a mão ao rosto, que droga, estava chorando. Logo quando entrasse minha mãe começaria a criar milhares de hipóteses sobre o que tivera acontecido, o que só me faria chorar mais. Não podia enrolar mais, o sol estava me queimando demais, então entrei de uma vez.

Minha mãe estava na cozinha, provavelmente lavando os pratos e talheres do jantar como toda a manhã, mesmo só tendo nós duas em casa. Minha irmã viajava muito, então nunca estava em casa, mas nos fazia visitas de vez em quando. Meu pai? Nunca o conheci, minha mãe dissera que ele era das forças armadas contra os vampiros e morreu em combate, como um herói. Gostaria de tê-lo conhecido.

Corri direto para as escadas, rezando para que ela não tivesse percebido que eu estava ali e que tinha chegado horas antes, mas não deu muito certo. Ela largou os pratos na cozinha e gritou “Katlyn! O que aconteceu para voltar a essa hora?” e começou a vir. Corri ainda mais, e fui para o meu quarto.

Olhei-me no pequeno espelho que residia na parede ao lado da cama. Minhas pupilas estavam realmente vermelhas como sangue, e era assustador, imagino como Johny deve ter ficado quando me viu assim. A coisa boa é que meus dentes estavam na forma normal, e eu tinha certeza que eles haviam crescido naquele momento em que perdera o controle. Os passos estavam mais perto, e então me joguei na cama e fiquei com a cara no travesseiro. Não podia deixar ela me ver assim, nunca.

- Katlyn, querida – minha mãe disse atrás da porta, e abriu-a – aconteceu algo? Não é de seu feito chegar a essa hora da manhã em casa.

- Nada, mãe – disse ainda com a cara no travesseiro, reprimindo os soluços que insistiam em brotar de meu peito.

- Como nada? Você chegar chorando em casa não é nem um pouco normal – ela disse, e sentou aos meus pés na cama.

- Normal... huh... – sussurrei baixo o bastante para que ela não tivesse ouvido, ou eu espero que não – Você não entenderia, nunca entenderia... – o choro ficou preso em minha garganta, não iria chorar ainda mais.

- Como não? Eu já passei por isso, querida. Foi aquele garoto, o Johny, não foi?

- Não, mãe... – o choro estava cada vez mais difícil de segurar, logo não conseguiria mais – Não tem nada a ver com ele...

- Oras, mas então o que...

Ah, chega. Não agüento quando ela começa a fazer esses interrogatórios intermináveis, era totalmente irritante. Se ela iria me achar uma aberração? Talvez, mas não poderia esconder isso, não dela. Levantei e fiquei de joelhos na cama, de costas para ela. Tinha de tirar coragem para mostrar logo isso, então me virei de leve – o choro começava a brotar em meus olhos escarlates – até um ponto em que ela pudesse ver. Seu rosto mudou de pavor e horror para culpa e compreensão.

- Viu agora, mãe? – Não agüentei mais, o choro brotou e me desabei, virando novamente para ficar de costas para ela – E-eu sou uma aberração...

- Ah, minha querida... – ela colocou a mão em meu ombro, o que me fez parar de chorar por um instante e me virar totalmente para ela – Não esperava que este dia fosse chegar, mas seu pai tinha razão... Preciso lhe contar a verdade...

- A verdade...? – não estava entendendo. Ela havia escondido algo sobre mim esse tempo todo?

- Sim, a verdade – ela respirou fundo, e deu um pequeno puxão em meu ombro para que ficássemos realmente cara a cara – O seu pai não era um soldado como eu havia lhe falado. Ele é um vampiro. Um subordinado do rei dos vampiros, para ser mais exata. E ainda está vivo.

Parei de escutar a partir da palavra vampiro. Não, não podia ser. Todo esse tempo eu achei que meu pai tinha sido um herói de guerra, mas ele é um vampiro? Não queria mais ouvi-la, não queria que ela terminasse sobre o que estava falando, mas ela insistia em continuar.

- Ele era diferente dos outros vampiros, bem, a maioria deles é sanguinária e só pensam em matar, mas os vampiros de onde ele veio são diferentes – o seu rosto demonstrou como se ela quisesse relembrar o passado – Ah, ele era tão gentil... Mas teve que voltar á sua cidade natal, não poderia ficar na área humana por muito tempo, então ele me avisou sobre você e sua irmã...

- Que nós poderíamos ser metade monstro? – eu reclamei, transtornada – por que não aconteceu com Elizabeth também?

- As chances eram pequenas, e Elizabeth se safou pelo que parece. Você, por outro lado, ficou no meio dessas poucas chances. Pode ter sido puro azar, mas eu acho que foi uma pitada do destino.

Então o sonho que tive me voltou a mente mais uma vez, tentando me alertar sobre algo – e eu odeio quando fazem isso. Meu estômago roncou, pensei nas panquecas que minha mãe sempre fazia no café da manhã, mas parecia que elas não iriam satisfazer minha fome. Eu queria aquilo em que quase consegui com Johny, algumas horas atrás.

- Fome? – minha mãe supôs, como se tivesse lido meus pensamentos – Isto pode ser um problema, não tem como eu arranjar sangue por aqui.

A palavra sangue soou lindamente atraente aos meus ouvidos, e minha barriga roncou novamente.

- É, acho que sim... – disse, desanimada

- Bem, mas seu pai disse que se isso realmente acontecesse algum dia, eu deveria te mandar para a cidade onde ele vive, mais precisamente a escola de lá. Espere um instante – ela levantou-se e saiu do quarto. Pude ouvir o barulho de gavetas se abrindo e coisas sendo vasculhadas, até que finalmente ela voltou com um cartão velho e empoeirado em mãos – Aqui, tome.

Assoprei e limpei de leve o cartão para que pudesse ler as letras escritas em dourado, com detalhes em vermelho e prata.

- Umbrae School? – disse, lendo o cartão – tem certeza?

- Tenho, e acho que poderá ajudar bastante.



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Notas finais do capítulo

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