Caminhando nas Sombras escrita por Carol Campos


Capítulo 25
Desconfiança




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A cada momento em que corria os gritos ficavam mais altos do que nunca, fazendo eco em toda a floresta. Mary e Dan corriam atrás de mim, mas não conseguia vê-los. Meus sentidos estavam ligados ao máximo. Nathale estava em perigo, e eu precisava achá-la.

Pude ouvir Mary gritando meu nome, mas ainda estava muito longe.

E então, os gritos cessaram. Não sei o que houve, mas qualquer que seja a coisa que a assustou deve ter ido embora sem causar danos. Certo?

Pude começar a ver uma claridade a frente, um grande espaço aberto entre as árvores, ela só poderia estar lá. Apertei o passo e corri naquela direção.

A clareira era tão grande quanto a que nós estávamos, só que totalmente tomada pela grama e plantas que cresciam de todos os lados. O sol havia sumido no meio das nuvens, e com ajuda do globo mágico ao redor de tudo – me impressionava a grande extensão que aquilo alcançava – criava um ambiente noturno com um toque sinistro. Eu diria que estava abandonado a séculos, mas então vi alguém deitado do outro extremo com marcas de sangue fresco ao redor. Eu conhecia aquele cheiro. Droga.

– Nathale! – gritei exasperada, indo em direção a ela. Isso não pode estar acontecendo, ela estava com o disfarce, ninguém sabia que ela era humana. Mary e os outros estavam chegando perto, Caleb também tinha percebido que algo estava errado e corria em nossa direção.

Cheguei onde ela estava e tive que controlar minha súbita vontade de beber seu sangue, mas o cheiro estava diferente, e isso deve ter ajudado a controlar meu lado instintivo. Coloquei sua cabeça em meu colo, ela ainda estava viva, ainda bem. Mas algo estava errado.

A tatuagem queimou em meu pulso, fazia algum tempo em que não dava atenção para ela, mas puxei a manga da blusa de frio que vestia e vi que estava normal, pelo que parecia. A estrela principal do redemoinho, a maior que ficava ao topo de todas, estava brilhando em um tom escarlate impressionante, só que deveria ser alguma peça pregada pela minha mente, pois logo esta parou de brihar. Voltei a atenção para Nathale, temendo o pior.

Ela estava desacordada, seu rosto pálido possuía uma pura expressão de dor que jamais a vira fazendo, e apertava os punhos firmemente. Virei sua cabeça de lado, e não estava crendo no que via. Não poderia ser real, não.

Um grande machucado estava ainda fresco na base de seu pescoço, quase como a mordida de algum animal de porte médio, mas parecia que estava cicatrizando aos poucos, mas rápido demais para uma humana normal.

– Katlyn, o que... – Mary gritou do outro lado da arena com Dan ao seu lado, mas parou no mesmo instante em que viu a cena. Podia ver em meu rosto que era algo sério, e correu para nossa direção – ah, meu deus...

– E-este lugar não deveria estar protegido por alguma coisa? Vampiros comuns não podem entrar aqui... – eu disse, abismada. Ainda não havia caído a ficha. Aquilo não estava acontecendo, não podia ser.

– Você está certa. Vampiros comuns não podem entrar, mas qualquer um outro que tenha permissão ou que seja poderoso o bastante entra com facilidade – Dan me respondeu, severo – devemos levá-la para os alojamentos, a pior parte da transformação ainda não aconteceu...

– Então é verdade? – eu disse, trêmula – ela está mesmo...

– Sim – disse o velho – ela está passando pela transformação para vampira.

***

Quando chegamos quase na metade do caminho na floresta, encontramos Caleb. Ele estava preocupado, mas então viu que eu carregava Nathale em minhas costas, e percebeu o que acontecera. Ficou em silêncio, e continuou conosco até chegar a Spiral Hall.

Ao chegar lá, Dan a tomou de minhas costas e disse para que esperasse ali, que ia ajudá-la. Poderia negar, dizendo que eu iria ficar com ela, mas não estava preparada para aquilo. Não havia percebido antes, mas estava trêmula, então sentei com Mary nos sofás enquanto Caleb acompanhava o avô.

Mary não disse nada nos primeiros momentos, mas então fez uma tentativa de quebrar o gelo.

– Ei, Kat – disse ela, colocando a mão em meu ombro – ela vai ficar bem, não se preocupe.

– Foi culpa minha... – disse em um sussurro, apoiando a cabeça nas mãos, prestes a desabar – se tivesse um pouco mais de controle... ela não teria corrido até lá...

Ouvi gritos vindos da enfermaria de onde eles estavam, e fiquei rígida. Nathale gritava de pura dor, podia até ouvir Dan dizendo para o neto “Segure ela, essa é a pior parte”, mas não conseguia ouvir. Minha vontade era de arrombar aquela porta e ficar lá, mas não podia fazer isso, não poderia encará-la novamente. Ela estava enfrentando uma das piores dores que um ser humano poderia sofrer, e é tudo culpa minha. Chorei em silêncio, mas Mary não disse mais nada.

Passados alguns minutos, ainda estava com Mary sentada ao sofá. Havia parado de chorar, mas meu rosto estava com um fraco tom de vermelho e em meus olhos estava claramente óbvio que havia chorado rios.

Dan abriu a porta. Olhamos para ele, estava totalmente sério, e nos chamou para entrar. Fomos até lá.

O quarto era de um tamanho razoavelmente pequeno, porém aconchegante. Haviam três macas encostadas a parede, e dos outros lados haviam bancadas com todos os tipos de remédios, ataduras e coisas de médico. Caleb estava sentado em uma cadeira, com algumas gotas de suor salpicadas no rosto, e olhava diretamente para o chão, pensativo. Virei-me e olhei para ela.

Sua pele estava mais pálida do que nunca vi, muito mais suada do que Caleb estava. Estava com um curativo grande no pescoço onde fora mordida e agora estava com uma expressão serena no rosto. Porém, parecia fraca.

– Ela está bem, a pior parte já passou – disse Dan, colocando algo na bancada. Era as presas postiças de Nathale – mas ainda falta uma parte crucial na transformação.

– Qual? – perguntei séria.

– Bem, geralmente quando vampiros puros mordem humanos, não os transformam, simplesmente os deixam morrer, pois para a transformação começar, o sangue de um vampiro puro precisa ser dado ao humano – explicou Dan, paciente – quem quer que a teria transformado, só deu algumas gotas, o suficiente para iniciar a transformação

– Resumindo... – disse Caleb, do canto da sala – Precisamos dar a ela o sangue de um vampiro puro, se não ela morre

– Mas não temos nenhum aqui no momento – o velho se virou para mim – ou esperamos que não

– Eu? – disse, confusa – não, não pode ser que eu tenha sangue de um vampiro puro... – então pensei em minha tatuagem. Será?

– Não sabemos quem é seu pai, então tudo pode ser possível – disse Dan – ou prefere que ela morra?

Não poderia pensar nem duas vezes. Eu tinha feito aquilo com ela, e se não tentasse, ela iria morrer. E por minha culpa.

– Ok, o que preciso fazer?

– Ela precisa sentir o cheiro do seu sangue para te morder, já que ainda está inconsciente, então – ele pegou um punhal de seu cinto, incrivelmente brilhante – me dê seu pulso

Quase dei a ele o pulso onde residia minha tatuagem, e no último instante mudei de braço. Dan passou a lâmina do punhal de leve em minha pele e cortou. Um fio de sangue escorreu, enquanto a dor era aguda, porém suportante.

Coloquei o braço na frente do rosto dela, hesitante. Não aconteceu nada de início, mas então ela respirou fundo e abriu levemente os olhos. Eles estavam vermelhos escarlate, e claramente não eram as lentes. Antes que pudesse ver, agarrou meu braço com força e mordeu.

A dor era latejante, como se alguém cortasse sua pele e jogasse ácido dentro da carne. Poderia ter gritado de dor, mas agüentei. Podia sentir o sangue sendo drenado de mim, mas não conseguia olhar diretamente para ela. Fiquei de olhos fechados até que ela soltou meu braço e desmaiou novamente.

Dan colocou uma faixa com gaze em meu pulso.

– Como pensei – disse ele – você tem o sangue de um vampiro puro. Se fosse sangue de um vampiro comum, ela teria recusado no mesmo instante, mas seu tipo de sangue é irresistível a qualquer um.

– Ela vai ficar bem agora? – disse, apertando o pulso e sentando-me ao chão, exatamente onde estava.

– Sim, agora a transformação está completa. Só vamos esperar e ver onde aparece a...

Todos estavam olhando pasmos para Nathale, acima de mim. Levantei com dificuldade, e antes que pudessem me impedir, vi o que olhavam. A tatuagem em preto-e-branco começava a aparecer na base de seu pescoço. Uma rosa.

– Não pode ser... – Mary começou a falar, mas eu a interrompi

– Sim, pode – eu disse, então fui até a porta – estou de saída. Preciso falar com uma pessoa.

***

Caminhei pela cidade por alguns minutos, e graças a minha grande velocidade, cheguei mais rápido que o esperado. A grande mansão do lado mais rico da cidade havia a mesma aura sinistra de quando eu estivera ali havia alguma semanas. Estava com um mau pressentimento, mas precisava fazer isso.

Subi os degraus de madeira, hesitante, toquei a campainha e esperei. Sabia que aquilo era quase impossível de se acontecer, mas precisava tentar, ao menos uma última vez, falar com ela...

Alguém atendeu a porta, abrindo-a. Minha tatuagem queimava em meu pulso, muito mais do que antes, agora doía de verdade. A garota que atendeu a porta, a quem eu não via fazia algum tempo, estampava um sorriso em seu rosto, só não sei se era de felicidade ou outra coisa.

– Alice... – disse, olhando para ela

– Katlyn! – ela exclamou, avançando para me abraçar, mas recuei. Ela percebeu a indireta, e voltou a sua postura anterior – bem, faz algum tempo que não te vejo. Entre!

Ela fez um gesto para que eu entrasse e eu, hesitante, adentrei a casa. Estava do mesmo jeito que vira fazia algum tempo, quando ainda era nova naquela cidade, quando tudo estava quase “normal” em minha vida. Alice fechou a porta a minhas costas e me empurrou de leve.

– Ora vamos, entre – disse ela, sorridente – você já é de casa. Temos muito a conversar.


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Notas finais do capítulo

Ora ora, o que será que aconteceu?
Até o próximo capítulo :3



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