O Hueco Mundo escrita por AldoFernando


Capítulo 1
A solidão do Rei




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A areia afunda suavemente sob minhas patas. Sinto meus poderosos músculos se flexionarem e retesarem. Passo a língua pelos lábios. Meus olhos podem vê-la. Meu olfato toca suas carnes. Apenas a lua nos vigia.

 

“Devorar a carne só, a solidão do Rei.”

 

O meu primeiro aviso é um ronronado baixo, dado o intervalos cada vez menores, e de volume crescente. A presa já pode me ouvir. Suas pupilas se dilatam. Sua cabeça vira de um lado pro outro, enquanto seu corpo fica inerte. Posso saborear sua apreensão. Isto tudo nunca passou de um jogo. Eu estou chegando...

 

”Devorar a carne só, a projeção do Rei.”

 

Não me basta apenas dilacera-la fisicamente. Isso pode ficar pra depois. Quero também dilacerar sua alma. Rasgar o fino véu que separa a sanidade da insanidade. Quero fazê-la enfrentar o inferno sem porém tocar no fogo. Sentir a dor sem ser tocada. Eu quero seu desespero, e quero sorvê-lo em grandes goles.

 

”Devorar a carne só, a escuridão do Rei.”

 

Não nego minha perversidade. Não fujo do meu lado mau. Não suprimo minhas vontades. Faço o que quero sem me arrepender. Pois sou perverso, só um tenho um lado, e minhas vontades me guiam. Sou potência e força, rapidez e agilidade, performance de um caçador. Ouça-me, fuja! Ouça-me, fuja! Ouça-me, fuja! Ouça-me...

 

”Devorar a carne só, a expiação do Rei.”

 

A presa me vê. Finalmente me vê. Dei sinais inequívocos de minha presença, e espero o banquete se iniciar. Ela dá um passo, eu a acompanho. Dois passos, faço o mesmo. Três passos, AS ENGRENAGENS SE MOVEM! Ela anda rápido, tentando ganhar distância. Excitação é meu nome, e este desejo que me corrói até a alma agora instalou-se de vez. Passamos do momento da hesitação. Não há mais o que voltar atrás. As cartas foram postas e os papéis já foram distribuídos.

 

”Devorar a carne só, a espera do Rei.”

 

Ela corre. Em seu rastro a poeira se levanta. Somente seus músculos podem salva-la agora. Fico parado, lhe darei vantagem. Não há caçada sem emoção. Não há vitória sem luta. Não tem graça se for fácil. Eu quero sentir... principalmente sentir... Ela tenta correr. Fia-se numa esperança de fuga. Não vê que neste mundo o sofrimento anda ao lado da fraqueza? Não vê que este lugar não foi feito para a sobrevivência dos fracos, mas sim para o deleite dos reis?

 

”Devorar a carne só, a explosão do Rei.”

 

Reteso os músculos. Controlo a respiração. Aproximo minha barriga do chão, abaixando-me. A presa já desaparece no horizonte. Explodo em velocidade. A paisagem passa por mim como borrões. O vento me açoita ao me dar passagem em minha alta velocidade. Ela percebe que me aproximo, tenta ser mais rápida. Não há esperança pra você aqui, criatura, mas apenas eu. Eu sou a única certeza que você terá nos próximos segundos.

 

”Devorar a carne só, a supremacia do Rei.”

 

Agora estou por cima dela. Minhas patas fazem pressão sobre o seu corpo, a presa não vai fugir. Vejo um de seus olhos, uma órbita branca com um disco preto no centro, que insiste em se mexer. É por ali que a presa grita de aflição. Seus olhos agora exprimem um medo que se torna um verdadeiro grito na escuridão. Mas ninguém pode ouvi-la. Ninguém pode ver seu medo. O medo é o tempero da caça. Um tempero que só pode ser saboreado com a mente.

 

”Devorar a carne só, a refeição do Rei.”

 

Cravo meus dentes em sua cabeça. Com minha mandíbula mastigo uma mistura de carne, máscara hollow e miolos. O sangue escorre entre meus dentes, e cai na areia em respingos a cada mastigada. Saboreio cada segundo. Com as garras separo os melhores pedaços. Enterro os dentes na maciez de suas vísceras. Deleito-me com a suculência de suas fibras. Seu sangue é o único molho de que preciso. Seus braços ainda se movimentam, espasmos de alguém que acabou de morrer. Mas sua carne ainda guarda a temperatura de seu tempo em vida.

 

"Devorar a carne só, a constatação do Rei."

 

Devoro sua vida e sua morte. Comer e ser comido, o círculo vicioso do Mundo oco. Como para saciar minha fome infinita. Porém a fome do meu espírito, essa jamais será saciada. Se há ou não sentido nisso, deixo a quem quiser se ocupar de tal coisa. No mundo da prática, não há tempo para pensar. E não há muito tempo, pra o que quer que você faça.

 

"Devorar a carne só, a lembrança do Rei."

 

“Coma-nos e vá em frente. O nosso destino já é traçado antes de morrermos”, ele disse. “Coma-nos, Grimmjow, pois já sabíamos que seríamos apenas Adjuchas, e você seria o único que poderia ser mais do que isso”, ele disse novamente. E assim eu fiz. Esta é a lei deste mundo.

 

Devorar a carne, devorar a vida, engolir a companhia do medo...

 

E assim o Rei continuou. Vivia entre feras, e devorava as outras feras. A pantera seguiu imbatível. Mas sua solidão, mais do que qualquer coisa, o lembrava constantemente de sua condição...

 

Certa vez um homem perguntou:

“desejas a força e a supremacia?”

Interessada a pantera aceitou

Caminhava em direção à sua sina

 

Elevada de sua condição anterior

Superou os hollows de sua morada

Com o poder dominava o temor

Tornou-se o sexto espada

 

Grimmjow , a sexta pantera

Grimmjow, a onda de destruição

Montes escuros formam a serra

Enormes garras da revolução

 

 

 

 

...

 

“Devorar a carne só, a solidão do Rei.”

 

FIM

 

 


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