Anjo da Noite escrita por MsWritter


Capítulo 31
Capítulo 31. Laços


Notas iniciais do capítulo

Ohhh long time no see
Espero que gostem desse capítulo. Perdoem-me os erros e trechos confusos, o texto não foi betado.A música de hoje é "Dust in the wind" de Kerry Livgren. Na verdade eu não sei se a banda é Kansas ou Scorpions... mas acho que é Kansas. Espero que gostem.



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I close my eyes
Only for a moment
And the moment's gone

I close my eyes
Only for a moment
And the moment's gone
All my dreams
Pass before my eyes, a curiosity
Dust in the wind
All they are is dust in the wind

Same old song
Just a drop of water
In an endless sea
All we do
Crumbles to the ground
Though we refuse to see
Dust in the wind
All we are is dust in the wind, ohh

            Integra, após solucionado o mistério da carta, tirou alguns raros segundos de paz em sua vida para racionalizar algumas coisas que se passavam dentro de seu peito, descobrindo duas coisas no processo: a primeira era que racionalizar um sentimento deixava tudo apenas mais confuso. A segunda era que não importava o que acontecia a sua volta, nunca teria paz.

            Olhando para trás, ela sabia que sentia falta do vampiro e que projetava isso em Vlad. Por isso exigia certo comportamento do rapaz e ficava seriamente irritada com ele quando não correspondia. Por outro lado, também sabia que não era justo exigir nada dele. Ele já lhe dava muito mais do que ela podia retribuir.

            Olhando para trás, ele era gentil, educado, inteligente. Perfeitamente apto e a fim de caçar vampiros, a par da organização e mais que se importava com ela. Mais de uma vez pôs a vida em risco para protegê-la. Até sua condição virginal parecia não afetá-lo de forma normal. Afinal, Integra já o teve literalmente entre suas pernas.

            Não duvidava que ele sentia algum tipo de desejo por ela, mas parecia haver uma forma de consideração que ia além do desejo carnal, quase como se o rapaz respeitasse algum tipo de aura pura que emanasse dela.

Literalmente como algo sacro em um pedestal.

E isso a assustava. Assustava porque a atraia. Mas a atraia pelos motivos errados. Aliás, ela sabia porque a atraia? Não, achava que era pelo eco de Alucard, mas sinceramente? Ela estava começando a se acostumar com a presença dele naquela casa. Gostava da forma como ele lhe tratava. O problema é que sabia que jamais poderia retribuir. De fato, era apenas injusto. Injusto e muito, mas muito confuso mesmo.

Acabou se vendo sentada na escadaria da entrada de sua mansão, ao mesmo tempo inutilmente desejando que o rapaz entrasse pelo portão e torcendo para que ele nunca o fizesse. A fuga era tão mais fácil.

No meio do turbilhão que estavam seus sentimentos, acabou ficando exatamente lá, parada, no frio da manhã, esperando por qualquer pouquinho de iluminação que pudesse conseguir. O que conseguiu foi uma nova carta, entregue pessoalmente por um dos nobres da távola redonda. Dessa vez ela leu sem rodeios e sem apreensão. A única linha da carta lhe dizia que seu tempo estava acabando.

Vlad estava com frio. Não se lembrava de ter sentido tanto frio em sua vida. Tentou fechar mais a roupa no corpo, manter o calor apenas para si, mas no fundo sabia que aquela medida de conforto não seria eficaz. O avião estava climatizado, não era a temperatura que não o agradava.

Eram seus pensamentos que congelavam seus ossos. Olhava pela janela, vendo as luzes da cidade aos poucos virarem vastos campos escuros e, finalmente, o oceano. Fechou os olhos, buscando encontrar paz na escuridão de suas pálpebras. Mas aquele dia não sairia tão fácil assim de sua memória.

–Não precisa me olhar assim, Milord. Estou conformada com a minha situação. – Ileana disse, olhando por cima de sua xícara de café enquanto encarava os olhos amarelos de Vlad, que havia esquecido a dele já há algum tempo, enquanto os dois estavam sentados em um pub.

– Não compreendo o que quer dizer com isso. – Vlad voltou os olhos para o líquido negro em sua xícara, tentando se lembrar porque diabos tinha pedido um café.

– Sabe, acho que foi Shakespeare quem disse que “se leva muito tempo para se tornar a pessoa que quer ser, e que o tempo é curto.” No meu caso, bom, o tempo é realmente curto. E eu tenho muita coisa para fazer.

Vlad ficou olhando para sua guia estático. Ileana, percebendo a reação dele, ficou em choque.

– Perdoe-me... Conde eu não... Eu nunca... Mas é que já faz algum tempo que o assunto da conversa sou eu e não...

– Acredito que eu não tenha moral alguma para lhe cobrar qualquer tipo de comportamento. – Vlad olhou para seu café já frio, decidindo que tomaria logo e de uma vez.

– E pensar que Richards te retratou como um...

– Um conde vingativo e arrogante. É, eu percebi. E no lugar disso aparece um homem frágil e ridículo.

Ileana sorriu.

– O senhor não é ridículo. Não sei bem pelo que está passando, mas está enfrentando. O tempo cura tudo.

Bom o frágil ficou mesmo no ar.

Vlad ergueu os olhos, olhando bem dentro dos olhos verdes da moça. Ela sustentou o olhar sem ao menos piscar. Era uma mulher forte, sem dúvidas.

– Vindo da senhorita isso me soa quase como que uma zombaria. Como você consegue encarar isso tudo dessa forma?

– Como eu encararia? Não se iluda Milord.Quando eu descobri eu chorei, esperneei e me desesperei. Pensei em jogar tudo para o alto e sim, por semanas estava decidida a esperar meu fim sozinha em meu quarto. Inclusive, a ideia de controlar minha própria morte foi tentadora mais de uma vez, e eu a vi refletida em comprimidos, em giletes e navalhas... Foi quando eu reparei que o que eu estava fazendo era apenas morrer ainda viva. Eu não tenho família, não tenho amigos próximos. Nem o nome do meu vizinho eu sei. O que ficaria de mim no mundo quando eu morresse? Ossos, despesas e um túmulo sem flores...

Ileana baixou a cabeça, escondendo o rosto nos cabelos armados. Vlad chegou a abrir a boca para lhe dizer alguma coisa, mas nenhuma palavra passou por seus lábios partidos. Foi Ileana, ainda com o rosto invisível sob os fios vermelhos quem continuou, falando tão baixo que Vlad tinha impressão que estava invadindo os pensamentos dela por ser capaz de ouvir.

– Mas se alguém puder ser pelo menos um pouquinho mais feliz, um pouquinho mais leve, mais livre por ter passado ainda que rápido pela minha vida... Ai pode ter valido a pena.

– Tem algo que eu possa fazer para...

– Também deve ter sido Shakespeare quem disse que devemos plantar nosso jardim e decorar nossa alma, antes que alguém nos traga flores.

            Aquilo fez Vlad se lembrar do monge, séculos atrás, que lhe pedia para sorrir, esperando que o sorriso atraísse felicidade. Foi quando ele entendeu: aquilo não era fingimento, não era a hipocrisia da qual ouvia nos lábios de Celas sobre seu outro eu Alucard. Não era fingir que a dor não existia. Não era passar por cima de si mesmo para parecer outro alguém para quem estivesse ao seu redor.

            Aquilo era para preparar sua alma para receber a alegria. Plantar as flores e os frutos para atrair abelhas e pássaros, que infalivelmente acabariam por semear seu pomar. Era libertação. Ele jamais teria controle sobre o que acontecia em sua vida, mas podia controlar como reagiria àquilo.

            –Bom, mudando de assunto, tem mais alguns papéis que o senhor precisa assinar para dar entrada à recuperação do castelo...

            – Aqui diz que terão de reformar as margens do lago... – Vlad disse, depois que seus olhos foram imediatamente atraídos para a linha em questão.

            –Sim. Ele foi dragado há alguns meses... Vai acabar erodindo com o tempo se não for feito nada.

            –DRAGADO?

            –Sim... Foi um plano horrível que Richards arquitetou com o governador. Propina, sem dúvidas...

            – Encontraram algum corpo? – Vlad perguntou, no impulso, esquecendo-se completamente que os restos mortais de Doamnei já teriam se desfeito há séculos.

            – Não. Não havia nada no fundo do fosso. As pessoas tem medo de chegar perto dele... ainda mais jogar o que quer que seja.

            – Como assim?

            – Há uma lenda que diz que uma rainha se apaixonou por um homem que não podia amá-la, porque esse homem tinha um futuro terrível pela frente. Era amaldiçoado a viver as piores dores do inferno em sua carne. Então, em um dia, tudo se tornou branco e a rainha pode ver e tocar na alma desse homem, ainda não corrompida. Ela decidiu que se o sofrimento fosse inevitável, que a alma dele jamais seria atingida, para que os dois pudessem permanecer juntos após a morte. Então ela roubou sua alma durante a noite e fugiu, escondendo-se do fogo e da fúria dos céus por ter feito algo tão não natural. Sem saída, ela se atirou junto com a alma no lago, esperando que as águas geladas preservassem suas almas puras e unidas pela eternidade. O homem, perdido, procurou sua alma no sangue de quem encontrava, mas ela não estava lá. Dizem que em noites muito frias e escuras, é possível vê-lo às margens do lago, procurando por elas, mas a água não o deixa passar. Ele não pode cruzar a água. Então ele fica lá, com seus olhos vermelhos esperando um mortal para buscar sua alma no fundo do lago.

            Vlad respirou fundo. Como havia verdade por trás de uma lenda tão absurda. Bom, mais ou menos. No fundo ele não sabia se era reconfortante ou não saber que Alucard visitava o túmulo de Doamnei. Pelo que sabia ele havia desistido de seus sentimentos, por isso se tornado o monstro que Integra conheceu. Agora, o que um ser sem sentimentos faria ali, no centro de seu passado era um grande mistério.

            – E então os dois deram um golpe e dragaram o lago na tentativa de destruir tudo mais rápido. Se não fosse a manifestação pública eles teriam destruído tudo no meio da noite, teriam sim.

            – Entendo.

            – Mas ninguém me tira da cabeça que eles só cederam porque encontraram alguma coisa lá e acharam que valia mais a pena que a venda do castelo em si. Algo que valia a pena proteger da manifestação.

            – O QUE?

            – Conde... O senhor tem antepassados romenos não tem? – Ileana continuou a tagarelar. Céus, ela não devia ter tomado tanto café.

            – Sim... – Vlad respondeu, ainda atônito com a história do lago.

            – São necessários apenas 5 ml de sangue para fazer o teste de compatibilidade de medula... Talvez não para mim... Mas para um outro alguém...

            – Bom... De volta ao hospital, então. – Vlad desistiu. – E depois eu quero falar com esse tal de Richards.

            Ileana só sorriu e concordou.

            Que bela epifania ele tinha tido. Mal acreditava que podia controlar como seus sentimentos o afetavam e já estava afetado de novo. Sentir dava muito trabalho. Mas ele já tinha entendido que se não enfrentasse seus sentimentos eles só cresceriam, escondidos em seu peito.

            Mas também, tudo o que aconteceu depois lhe era o suficiente para perder algumas noites de sono. Apertou com mais força o objeto que carregava na mão, como que para ter certeza de que ainda estava ali.

            Um crucifixo velho, enferrujado, de ouro e rubis, carregando o símbolo dos Draculs.

O crucifixo de Doamnei.

            Apesar de várias coisas que trazia do castelo (incluindo alguns diários de seu pai que jamais teve coragem de ler) havia apenas um tesouro que decidiu carregar junto a si. Mexer na peça fez sua mão quebrada doer. Naquele momento ele teve certeza de que se sua mão mais forte não estivesse daquele jeito ele teria matado um tal John Richards Jr. de tanto bater naquela cara gorda dele. Bom, foi um soco só que deve ter afrouxado os dentes daquele patife... mas isso não vem ao caso. A questão é que por um lado se sentia mal pela reação tão explosiva que teve quando encarou o homem que além de violar, havia saqueado o túmulo de sua esposa, e por outro estava satisfeito em saber que ele passaria a noite no hospital.

            Agora, o que faria com o crucifixo era outra história. Voltá-lo para o lago não fazia mais sentido. Doamnei não estava lá.

            O avião pousou. Vlad respirou fundo e levantou-se da poltrona, preparando-se para encarar o frio real do inverno londrino.

            Alguns minutos de táxi o levaram do aeroporto até a entrada da mansão, do lado de fora. Pensou umas cinquenta vezes antes de pedir ao guarda que abrisse o portão, carregando sua mala.

            No final, decidiu que tinha mesmo que entrar. De qualquer forma ele teria que pegar algumas de suas coisas, refazer sua mala e ir para outro lugar. Ou ficar. Ele bem que queria ficar. Mas não sabia como estavam as coisas lá dentro.

            Já estava escuro e apesar das lâmpadas acesas não conseguiu ver muito além de seus passos. Não que estivesse andando com a cabeça propriamente erguida. Pensava. Pensava no que faria com sua vida, o que faria com suas lembranças, o que faria com os sentimentos que deixou fluir e não sabia lidar. O que faria com os cacos de sua alma, ou o que faria com seu novo rosto. Dizem que o futuro a Deus pertence. Talvez fosse o caso mesmo. No momento, tudo o que sabia era que estava absurdamente próximo dos degraus que o separavam das respostas de suas dúvidas mais imediatas.

            Respirou fundo, tomando coragem para bater, ou abrir a porta àquela hora, sem ser anunciado, sem avisar que viria, apenas para descobrir uma Integra adormecida nos degraus, encostada no batente da grande porta da mansão.

            Por um breve instante sorriu, nostálgico com a situação, para em seguida percebê-la se movendo, abraçando se contra suas pernas, numa tentativa de se aquecer.

            Temendo ser rude, mais uma vez em sua opinião, aproximou as costas da mão esquerda da bochecha dela, despertando-a suavemente.

            Por um momento achou que precisaria ser mais enérgico no ato, até notar o olho azul se abrir por de trás das lentes dos óculos.

            – Alucard? – Ela perguntou, ainda um tanto sonolenta.

            – Não Milady. Sinto muito. – Vlad respondeu, ao mesmo tempo se escondendo por entre os cabelos e preocupado com ela. Por um instante quis ser Alucard. Alguém que estava definido, alguém cujo rosto ela conhecia e aceitava, e não ele. Não esse alguém com essa forma que ele não estava acostumado, que ele não sabia como seria recebido.

            – Que bom que voltou, Alucard....

            Antes que Vlad pudesse responder sentiu Integra agarrar seu pescoço em um abraço forte, apertado, inesperado.

            Após passado o susto, Vlad apenas fechou os olhos, pousando suavemente sua mão “boa” no espaço formado pelas omoplatas dela, enquanto a outra pendia ao lado de seu corpo. No final, ele decidiu que não importava se Integra sabia quem era ele naquele exato momento. Não importava se Integra o queria ali ou não. Um toque humano era o que importava, um gesto de afeto, mesmo que não fosse realmente para ele.

            Alguns poucos segundos, ou muitas eras, se passaram, até que Vlad percebeu que os braços de Sir Hellsing aos poucos perdiam a força, exausta pelos dias de privação de sono. Ajeitando-a como podia com apenas uma mão, ajudou-a a ficar em pé, praticamente sustentando todo seu peso enquanto a conduzia até o quarto dela. A mala acabou sendo chutada até a entrada da mansão, e lá esquecida. A carta ele nem notou e o vento levou o papel ingrato para longe.

            Uma vez segura em sua própria cama, ouviu Integra murmurar:

            – A culpa não é sua...

            – Milady?

            – Não é pecado... Não precisa ter medo...

            – Milady? Não entendo o que...

            – Enosiofóbico... Eu não sabia...

            – Milady... – Vlad respirou fundo, tentando entender de onde toda aquela história tinha saído. Tudo bem que ele tinha aceitado fazer muitas coisas em sua vida que eram contra sua vontade... Mas não tinha medo de estar cometendo um pecado ou que Deus se vingaria, nada disso. Ele só... Ele só o que mesmo? – Não se preocupe com isso agora. Descanse por hora.

            – Não... Você está irritado. Vai embora de novo... – Integra murmurava, praticamente dormindo. Vlad não sabia mais se ela ainda achava que ele era Alucard e estava perdoando uma vida de atos, ou se tinha percebido quem ele realmente era e O estava perdoando. Ele realmente esperava que fosse a segunda opção.

            – Eu não estou irritado. Estou preocupado com a senhorita. E cansado.

            – Eu não...

            As palavras morreram em seus lábios enquanto ela definitivamente caia no sono. Vlad nunca soube o que ela diria, mas decidiu que não se importava. Só importava aquele eco de uma sensação de lar que encontrou novamente, tão longe da terra onde achava que estaria: da qual tinha acabado de voltar e apenas descoberto que tudo o que um dia acreditou ser seu não existia mais. Era apenas poeira, estruturas rachadas e memórias que ecoavam como história e lendas de um país antes soberano.

             Seu futuro ele não sabia onde estaria, mas por hora lhe era o suficiente saber que era bem vindo para passar a noite ali.

            Em alguns minutos encontraria Celas, responderia infinitas perguntas e perceberia no olhar dela a aprovação por ter voltado, sabia que ela não se importava como estaria seus sentimentos ou sua persona. Por hora bastava ele, respirando, lutando.

            Deixou o quarto da Hellsing, mas antes que encontrasse a vampira sentiu o celular em seu bolso vibrar. Nova mensagem, Ileana:

            “Saiu o resultado do seu exame de sangue. Precisamos conversar”.

Now, don't hang on
Nothing lasts forever
But the earth and sky
It slips away
And all your money
Won't another minute buy
Dust in the wind
All we are is dust in the wind
Dust in the wind
All we are is dust in the wind
Dust in the wind
Everything is dust in the wind
The wind


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Notas finais do capítulo

Sim, Vlad sabe mexer no celular e sim, depois que esbofeteou o mala do Richards Ileana ficou beeeeeeeeeeeem mais a vontade com ele.

E as frases são de Shakespeare msm,de "O Menestrel"

Bom, comentem por favor. Bjus



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