Não devia ter desgrudado um momento sequer de você, mesmo com todas aquelas brigas, todas aquelas guerras. Gostaria de ter passado mais tempo contigo, assim como gostaria de que aqueles tempos da nossa infância voltassem e eu pudesse novamente sorrir e conversar com você como se não tivesse acontecido coisa alguma.

     Posso dizer realmente que estava errada todo este tempo, que deveria ter escolhido a ti, porém escolhi outro. Você estava cego pela batalha, daria sua vida por ela, assim como o fez. Talvez, se eu estivesse ao seu lado, poderíamos ter vencido juntos ou, ao menos, morrido juntos naquela guerra.

     Agora, vejo seu rosto e seus cabelos grisalhos em um tom de cinza-avermelhado, sujos de sangue, escondidos em uma caixa de madeira à minha frente. Eu não poderia mais fazer nada, apenas contemplá-lo. Mesmo que eu o tire daí, não conseguirei acordá-lo, pois você já havia partido. Seus rubros olhos agora não mais demonstravam a vitalidade que irradiava em sua alma, já nem mais podiam ser admirados. Sua pele parece mais pálida do que era antes, mais seca e menos viva. Você se foi, querido amigo, antes que eu pudesse dizer que o amava.

     Se eu pudesse voltar um pouco no tempo, começaríamos de novo e eu o abraçaria, dizendo que poderíamos enfim ficarmos juntos. Enquanto não possuo esta habilidade, vou esperar até o dia em que morrerei de velhice ou, como você, em uma guerra sem sentido. E, então, nos encontraremos novamente em um mundo cujos acontecimentos não terão importância para nós e poderemos finalmente viver em paz.