A Mansão escrita por Kurt


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Agradecimentos à banda Iron Maiden, que me inspirou com algumas de suas fantásticas músicas para eu finalizar esse conto, tais como: The Number of the Beast, 2 Minutes do Midnight... Já dá pra reparar! Espero que vocês gostem!



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Eu e meus amigos, Daniel, Ricardo e Matheus, estávamos caminhando por um afastado bairro da cidade. Daniel, o mais velho, com seus 15 anos recém-feitos e seu grande espírito de líder, possuía cabelos castanhos desalinhados, e olhos azuis como o céu. Ricardo, o segundo, com seus cabelos louros, olhos azuis – mais claros que o de Daniel – e pele muito branca, era um pouco rude, estressado e sarcástico, mas era um bom amigo. Matheus, com cabelos negros e olhos castanhos escurecidos, era um pouco alto para seus 14 anos, sendo muito organizado. Por último, eu, Koltar, com meus 13 anos, cabelos castanhos e olhos – como minha mãe dizia – esmeraldados. Assim, formava a turma completa!

Andávamos com bastante tranquilidade pelas estreitas e sombrias ruas dali, quando Ricardo parou, pensativo, observando uma grande e horripilante construção ao fim de uma das mais tenebrosas ruas. Ele foi andando, com passadas lentas, sem tirar seus olhos da construção – uma grande e abandonada mansão. Parecia que ele estava hipnotizado. Daniel ameaçou falar algo, por fim hesitando. Todos permaneciam no mais completo silêncio, e Ricardo continuava a andar em direção à mansão, enquanto o vento passava por nós, como uma música de terror. Seguimos Ricardo, até, enfim, chegarmos à frente da mansão, e assim comecei a reparar melhor nos detalhes de seu antigo estilo arquitetônico: a pintura, incrivelmente, não estava gasta, e o jardim estava muito bem cuidado e a grama aparada, totalmente diferente do que eu observara há minutos atrás.

Eu podia jurar que também fora hipnotizado pela colossal construção. De repente, me tirando do transe, pude sentir uma fria mão em meu ombro esquerdo. Estremeci todo, enquanto descobria que era Ricardo aprontando uma das suas brincadeiras, e meus amigos rindo.

- Covarde! Ah, duvido que você entre lá na mansão – provocou Matheus.

Por um momento, virei-me para meus amigos, e, quando voltei a olhar a mansão, ela adquirira novamente todo o terror com que eu a observara no início da rua.

- Haha, seu medroso! – debochou Ricardo, imitando uma galinha para mim.

Eu enchi-me de uma coragem que não tinha, e estava disposto a entrar naquela mansão, pois não desejaria que meus amigos me debochassem como o “covardão” e “frango”. No mesmo instante, andei lentamente para alcançar a sinistra porta da mansão.

Meus amigos me encararam, abismados e boquiabertos, enquanto eu levava a minha mão à porta. Não houve tempo para eu encostar minha mão na maçaneta de ferro, ela se abriu um pouco antes.

- Isso já era de se esperar numa mansão dessas – pensei baixinho, bastante amedrontado.

Meus olhos não estavam acostumados com a sombria escuridão do local. Tentei esperar um pouco, caminhando vagarosamente na direção do desconhecido. Eu estava tão curioso e com medo, ao mesmo tempo, que não notei uma pequena e sinistra corrente de vento passando por mim, que fechou a porta. Corri de volta, mas, claro, ela estava trancada!

            Tentei, ao máximo, concentrar-me para escapar daquele horrendo lugar, no qual eu desejava jamais ter entrado.

            Eu estava ali, então era melhor me acostumar ao perigo eminente. Pela primeira vez depois de meus olhos terem se acostumado com o escuro, parei e respirei fundo, ouvindo atentamente a cada mísero som, desconfiado até de minha própria sombra. Examinei atentamente cada detalhe do lugar. Era um vasto salão de entrada, com pouca iluminação. A poeira bailava livremente em todos os cantos, e as teias de aranha, quase incontáveis. À minha frente, uma grande escadaria. Quadros, ocultos pelas teias de aranha, poeira e tempo, pendurado nas paredes, e toda aquela mobília de madeira bem antiga e o conjunto da tapeçaria ajudavam a criar o horripilante cenário. Mas um quadro em especial chamou-me a atenção. Era o busto de um homem, que parecia ser jovem. Tentei ignorá-lo em minha mente, totalmente sem sucesso. Martelavam-me seus profundos olhos me encarando. Um longo calafrio percorreu por toda a minha espinha.

- Credo – sussurrei comigo mesmo, caminhando tão vagarosamente para não fazer barulho algum, que se podia afirmar que eu estava praticamente levitando.

Parei. Assim, de repente. Eu senti algo segurando minha perna direita. Receei em olhar por um momento. Tive vontade de gritar, me jogar pela janela, mas meu medo era tamanho que havia um nó em minha garganta. Eu estava vivenciando um momento de completa insanidade, onde eu mesmo não sabia dizer se viver ainda valia a pena ou não.

Meus olhos, contra a minha própria vontade, começaram a se movimentar em direção ao chão, na bizarra curiosidade de espiar o que, ainda, me segurava. Uma risada sinistra ecoou por toda a mansão naquele instante...

Deparei-me com um terrível esqueleto, deitado no chão, de bruço, a cabeça me encarando, e... Sua mão me segurando!

Eu, por impulso, pensei em sair correndo o mais rápido possível dali, mas... Para onde eu iria? Decidi permanecer imóvel ali, até pensar na solução mais coerente possível. Era extremamente difícil, uma vez que minha cabeça doía, e nenhuma ideia sequer me surgia para salvar a minha vida.

Para piorar, os olhos do esqueleto brilharam azulados, e de sua boca, começaram a sair dezenas de cobras, a me encarar. Não hesitei nem por um segundo, saí correndo para subir a grande escadaria, que ligava o salão ao segundo pavimento da mansão. As cobras puseram-se a rastejar atrás de mim, com uma vontade incessante de me matar, mas, assim que alcancei a escadaria, notei que, enquanto elas alcançavam a escadaria, iam se transformando em areia e se dissipando pelo ar. O restante, como se possuísse inteligência, parou, e, encarando-me profundamente, retornou ao esqueleto, até que os olhos deste cessassem seu brilho.

Parei um pouco para tentar respirar, apoiando-me sobre minhas pernas. Senti, então, uma gota de algo molhado cair sobre minha cabeça, e logo depois sobre minha mão. Olhei: era avermelhado... como sangue! Instintivamente, olhei para cima, algo que nunca devia ter feito em minha vida. Ganchos de ferro pendurados no teto sustentavam dezenas de cadáveres escalpelados, respingando sangue fresco... E os ganchos perfuravam friamente seus pescoços, encharcados do líquido vermelho.

Aquela cena marcaria para sempre em minha vida, embora eu não soubesse se sairia vivo daquela mansão...

Amedrontado, e com um nó na garganta, e lágrimas quase a escorrer pelo meu rosto, andei até o final da escadaria, a procurar por algo que não sabia o que era. Gemidos puderam ser ouvidos enquanto eu alcançava o fim do corredor, vindos do começo deste. Ciente do perigo, eu olhei para trás, e uma lágrima umedeceu minha face.

Aqueles cadáveres que eu vira anteriormente andavam como verdadeiros zumbis, escalpelados, os ganchos a sangrar seus pescoços, vindo atrás de mim, e seu caminhar semelhante a um ser humano... vivo!

Eu estava no fim do corredor, de paredes amareladas pelo tempo, poeira pairando no ar e dificultando em parte minha visão e minha respiração. Ali seria meu fim, deduzi.

A cada segundo, a distância entre mim e os zumbis diminuía cada vez mais. Não haviam portas por perto, nem janelas, por onde eu pudesse pular. Preferia morrer caindo de uma janela, me esborrachando de cara no chão, a, possivelmente, me juntar a eles. Por ironia do destino, a alguns segundos de eles me matarem, o chão de madeira sob meus pés rompeu, desabando. Vi-me em uma espécie de “lugar secreto”.

Não houve tempo de pensar. A sala onde eu me encontrava estava completamente escura, até que notei o surgimento de uma fraca luz, a alguns metros à minha frente. Sob a luz, um homem... aquele que eu... vira no quadro, no salão principal! Aterrorizado, notei suas negras vestimentas, e, em seus braços, deitada... uma jovem donzela! Um grito foi proferido de sua boca – precisamente o último -, enquanto afiados, brancos e cintilantes dentes do homem penetravam suavemente no pescoço da jovem, até ela empalidecer completamente, e os dentes do homem se manchar de vermelho vivo. Concluí que ele era um vampiro, ao estilo Drácula, e se eu não morrera antes, agora minha morte era praticamente inevitável.

Meus olhos, então, encontraram uma porta, e minhas pernas, como se estivessem enfeitiçadas por uma espécie de magia negra – e eu, sem hesitar -, correu para a saída, enquanto o vampiro, novamente, gargalhava sinistramente. Repentinamente – tão de repente que meus reflexos quase não puderam me salvar -, o vampiro tentou se jogar contra mim, sedento de meu sangue ainda fresco, mas consegui me desviar. Mesmo assim, o vampiro conseguiu me ferir, com sua unha, meu braço, deixando um longo, fino e profundo corte em meu braço direito, de onde sangue começou a se extraviar.

Após atravessar a porta, que, por sorte, se encontrava destrancada, me vi novamente no salão principal, lembrando de, o mais rápido possível, trancar a porta, com a chave que ali estava. Fugindo desesperadamente, tropecei em algo, e, perdendo o equilíbrio, acabei pisando em um pedaço de madeira com um prego preso na vertical, perfurando o meu pé direito dolorosamente, e, mesmo chorando e aos prantos, e com o meu pé furado de fora a fora, encontrei a porta de entrada – no meu caso, de saída - entreaberta.

Corri, mancando e aterrorizado, até sair dali o mais rápido que meu outro pé, ainda intacto – por mais incrível que se podia imaginar -, podia aguentar. Soluçando, re-encontrei meus amigos, que ainda encontravam-se ali, parados, me esperando relaxadamente.

- E aí, Koltar? – riu Daniel, vendo-me mancando.

Não respondi. Estava chocado com tudo que vira naquela maldita mansão.

- O que houve, com medinho? Haha, volte lá! – debochou Ricardo. – Mal entrou na mansão, já saiu correndo? – dessa vez, fiquei paralisado. Como é que podia ter sido tão pouco tempo?

Um horrível palavrão já estava formado na ponta de minha língua, o ódio me dominava, mas, por fim, hesitei.

- Cale-se! – eu chorava, gritando desesperado, enquanto Ricardo gargalhava. Mas Daniel permaneceu sério: ele sabia que algo estava errado. Ou certo. – Tem horrores ali dentro! Cadáveres escalpelados, cobras, um vampiro...!

Dessa vez, nem Daniel pôde sequer abafar seus risos. Eu percebera que não se passara tempo algum ali fora enquanto eu enfrentava os perigos dentro daquela horrenda mansão.

- Seus idiotas! – eu ainda chorava, horrorizado e furioso.

- Mentiroso – riam meus amigos.

- Vejam meu braço!

Mostrei, confiante, o longo corte em meu braço direito, mas eles continuaram a rir, secamente. Queria saber o motivo. Era fácil: quando eu mesmo examinei meus braços, não havia corte algum!

- Mas... mas... eu podia jurar que... – gaguejei.

Rapidamente, pus-me a examinar meu pé: não havia ferimento algum em nenhum dos pés, e nem motivo para continuar mancando!

- Desgraçado! – amaldiçoei o vampiro, responsável por tudo.

- Vamos embora, deixem Koltar com seus delírios – disse Matheus, ainda rindo.

Sinistramente, eu ouvi novamente a maléfica gargalhada do vampiro, vinda de dentro das paredes da mansão, e, pela expressão estampada na face de meus amigos, que pararam de rir no mesmo instante, tremendo, que, dessa vez, eles realmente ouviram a gargalhada, e concluíram que eu falava a verdade desde o começo. Puseram-se a correr o mais rápido que puderam para afastarem-se ao máximo daquele verdadeiro inferno.

Examinei atentamente a mansão – provavelmente a última vez -, enquanto, vagarosamente, me afastava dali, e pude ver, do alto de uma das mais escuras sacadas, um vulto que me olhava. Sabia que era o vampiro, divertindo-se comigo e com meus amigos. Mas, estranhamente, lembrei que meus amigos acreditaram, finalmente, em mim, e tive vontade de dizer ao vampiro:

- Obrigado!

Eu me retirei dali, com memórias que jamais me seriam perdidas. Nunca mais voltaria ali, disso eu tinha certeza. Mas... quem seria a próxima vítima?


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Notas finais do capítulo

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