Namoro. Aquela palavra já estava começando a fazer a cabeça de Emi ferver. Estava deixando-a maluca. Desde alguns meses atrás, quando ela havia aceitado o pedido de namoro de Grimmjow, tudo, mas tudo mesmo havia virado de cabeça para baixo. Não que antes não estivesse, mas piorou.

    Para começar, o homem de cabelos azuis, exótico, de personalidade forte e dominadora, tinha um ciúme exagerado. Tudo bem. Emi conseguia contornar a situação, dando provas concretas de que ele não precisava fazer cena e, muitas vezes, omitia alguns pequenos, míseros detalhes que sabia, fariam um estrago gigantesco, caso Grimmjow soubesse. Um bom exemplo fora quando Emi resolvera passar um tempo com seu melhor amigo: Hisagi. Ao invés de dizer que estava na casa dele, sozinha com ele, Emi simplesmente disse que iria conversar com seu amigo e, provavelmente, ficariam em um bar ou iriam para um Shopping Center.

    A idéia de ter pessoas ao redor de Emi, já ajudava a deixar Grimmjow menos ciumento. Não que ele ficasse como um gatinho domado. Não, de maneira alguma. Grimmjow apenas ficava mais aliviado, o que não significava dizer que ele não discutisse um tanto com Emi para fazê-la mudar de idéia.

    Emi sempre teve uma personalidade forte, irredutível, teimosa, cabeça-quente e irritadiça. Por apenas esses detalhes, ela nunca voltava atrás com suas decisões. Portanto, Grimmjow podia ficar a vida inteira reclamando do que Emi fazia, porque nada mudaria. Emi bateria o pé, enfrentaria a fera e, mesmo sabendo das conseqüências de seus atos, faria o que bem entendesse. Até porque essas conseqüências não eram das piores. Emi gostava das explosões de ciúme que acarretavam em alguns amassos mais violentos e marcas visíveis por seu corpo. É. Ela não era a pessoa mais puritana que existia.

    Um sádico e uma masoquista. Estar com Grimmjow implicava em ser, no mínimo, um pouco masoquista e muito, mas muito submissa. Entretanto, de submisso total, Emi só tinha quando estava, literalmente, sob as garras do outro.

    Essa era a vida que Emi tinha quando eles estavam apenas tendo um caso. Um pouco casual. Mas muito mais constante do que um caso qualquer. E agora com essa idéia de namoro tudo estava ainda mais sufocante. Ficava mais difícil a cada dia dar voltas e omitir aqueles mesmos pequenos detalhes. Grimmjow havia virado uma pantera silenciosa que mostrava as presas e atacava quando menos esperava. Em outras palavras, Grimmjow praticamente vigiava tudo o que Emi fazia, desde a mais simples mensagem trocada por celular até ir ao mercado.

    Sair com Hisagi ou qualquer outro amigo ou inclusive sozinha era quase impossível. É. Emi até podia. Entretanto, sempre com o guarda-costas ao lado, cuidando e protegendo-a de tudo e qualquer pessoa que resolvesse aproximar-se mais do que o necessário.

    Liberdade? Emi não conhecia mais.

    Ficar sozinha? Impossível. Grimmjow praticamente morava em seu apartamento. Auto convidou-se para morar por lá.

    Manter seus pensamentos para si mesma?

    - Hei, o que está pensando?

    Não, em definitivo.

    - Nada de mais...

    Individualidade?

    - Eu sei que deve ser algo importante. Você está com aquela cara... Aliás! – deitou-se no sofá, a cabeça sobre o colo de Emi – Eu vou fazer uma cópia da chave do portão de lá de baixo. Esqueci de fazer naquele dia, quando fiz a cópia da chave do apartamento.

    - Hm.

    - Emi.

    -... Oi?

    - Vai falar ou não?

    - O que?

    - A merda que ta pensando! – levantou abruptamente do sofá, ficando de frente para a morena.

    - Argh! Cale a boca Grimmjow! E me deixe quieta um tempo!

    - Ta certo.

    Grimmjow saiu da frente de Emi e logo a porta do apartamento se fechou num estrondo.

Emi suspirou. Apoiou a cabeça no encosto do sofá e ficou olhando para cima.

    - Mas que droga! Ainda vou descobrir como consigo aguentar tudo isso...

    Como diria uma boa psicologia: nós continuamos do jeito que está porque alguma coisa está nos agradando.

    - Argh! Tenho certeza que sou uma masoquista, isso sim!

    Emi levantou-se com agilidade e saiu pela porta como um furacão. Desceu as escadas correndo e antes que chegasse ao terceiro lance de escadas viu aqueles cabelos azuis começando a descer o próximo lance de escadas. Antes que Grimmjow saísse de sua vista gritou:

    - FIQUE ONDE ESTÁ SEU DESGRAÇADO!!!

Grimmjow se virou e aquele sorriso satisfeito estava estampado na cara dele. Emi o alcançou e os olhos de ambos se cruzaram. Um se divertia e a outra estava irritada.

    - Que merda foi essa de sair daquele jeito!

    - Vai me responder?

    Emi desviou os olhos e foi se afastando até encontrar o corrimão atrás de si. Escorou-se nele e manteve a cabeça abaixada.

    - Ótimo. Foda-se o que está pensando. – Grimmjow falou autoritário. E aproximou-se consideravelmente da outra.

    Emi abriu a boca para dizer algo, mas nada saiu. Então olhou para a figura a frente. Apenas viu aqueles olhos predadores e em seguida sentiu o corpo de Grimmjow se colar ao seu. E sua boca foi invadida com violência.

    Acompanhar os beijos de Grimmjow sempre era um desafio para Emi. Para conseguir manter o ritmo e toda aquela urgência e intensidade Emi precisava já ter perdido todas as suas preocupações e incertezas, e estar envolvida demais para parar qualquer movimento que fosse. Grimmjow dominava totalmente Emi. E aquele beijo já havia se tornado erótico demais para um corredor. Nenhum deles, porém, quebrava aquele contato.

    Entretanto, Grimmjow partiu o beijo antes do que Emi planejava. E em tom baixo e rouco, ainda com as bocas próximas uma da outra, falou:

    - Tem alguma coisa que não gosta? Ou algum problema?

    - Não. Nenhum. Nada. Só quero relaxar um pouco. Sem preocupações ou estresse. Eu não quero discutir mais. – Emi estava embriagada com todo aquele contato e perfume. Os pensamentos já estavam ficando distantes demais para dizer tudo o que precisava e pensava. Preferiu apenas resumir naquelas palavras. E completou com a voz mais rouca do que imaginava – Vamos subir.

    Grimmjow sorriu de canto. Não disse nada, apenas começou a puxar a morena escada à cima com pressa e em poucos segundos a porta do apartamento de Emi se fechava com força e um baque surdo pôde ser escutado no corredor, seguido de gemidos e pedidos por continuidade.

    Emi podia odiar aquela personalidade dominadora e possessiva tão constante. Mas tinha certeza que não conseguiria viver sem ele. Simplesmente não conseguia não se render ao charme de Grimmjow e aquela preocupação toda que era sempre direcionada para si.

    Emi gostava de ser bajulada. Grimmjow sempre soube disso.

    Gostava de se sentir amada e protegida. Grimmjow sabia que podia dar isso e muito mais.

    Precisava desesperadamente ter alguém que estivesse sempre ao seu lado. E Grimmjow tinha certeza que nunca a deixaria.

    Enlaçados estavam e mesmo com divergências conviveriam. Afinal omissões, ciúme e algumas discussões fazem parte da vida de um casal.

The End