Um Verão Inesquecível escrita por GiullieneChan


Capítulo 3
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Betado por Arthemisys.



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Mansão Villers.

O baile transcorria com alegria. Os músicos tocavam valsas que incentivavam os pares em meio ao salão. Jovens senhoritas olhavam discretamente para os rapazes solteiros da festa, escondendo com leques os risos e cochichos cúmplices, quando algum deles as cumprimentavam.

Em um canto do salão de bailes, a Viscondessa de Chanttél se abanava com um leque, fingindo que prestava atenção aos diálogos das amigas próximas, mas com o olhar fixo em seu neto. Kamus estava em um canto, ao lado do amigo Milo, em uma postura aparentemente relaxada, mas a velha dama sabia que ele procurava uma desculpa para sair dali imediatamente.

-Não está dando certo. - Reverendo Malloren comentou, ao sentar ao lado da Viscondessa, com um prato de guloseimas retirado da mesa do buffet. -Ele não demonstra interesse algum pelas damas presentes!

-Eu avisei. -a senhora suspirou. -Mas... Ainda faltam chegar muitas convidadas, pois o baile começou há pouco tempo!

-Isso é verdade. Se esta noite ele não encontrar sua dama... Iremos para o plano B. - avisou o reverendo.

-Plano B? Que plano B?

-Ainda não pensei nele. -comendo uma tortinha de limão, e fitando a Viscondessa que tinha uma expressão incrédula. -Confie em mim, querida. Quando decido juntar um casal, eu não falho!

-Eu confio, Adam.


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Uma carruagem para diante da Mansão Villers, e de dentro dela Saga e Kanon saiam como verdadeiros cavalheiros, devidamente trajados. Saga então falou para o jovem que dirigia a carruagem.

-Você... errr...-tentando lembrar o nome dele.

-Amamiya Ikki. -respondeu o rapaz, com ar sério.

-Isso... Nome comprido e complicado. Vou te chamar só de Ikki. -ele colocou as mãos atrás do corpo. -Leve a carruagem para onde estão as outras e venha nos buscar somente mais tarde. Decerto compreendeu que não pode entrar conosco ali.

-Sim. -Ikki incitou os cavalos a galoparem, se afastando dos gêmeos. -Bakaiaro!

-Do que ele me chamou?-Saga perguntando a Kanon.

-“Bácaiarô“.-respondeu o gêmeo.

-O que isso quer dizer? Eu não entendo o idioma dele!-subindo as escadas.

-Deve ser "senhor" ou "lorde" em japonês. -concluiu.

-Será?-fez ar de quem não acreditava. -Ele não diria isso com deboche, diria?

-Não sei. -sorriu, entrando no salão e caminhando até a anfitriã, a Viscondessa, que recebia os convidados naquele momento. - Viscondessa de Chanttél! Está mais formosa do que da última vez em que nos vimos!

Dizendo isso beijou a mão da Viscondessa, que fez uma expressão de que não o reconhecia.

-De certo se lembra de mim, não?-Saga beija a mão da senhora. -Somos nós madame, Saga e Kanon Tassouli, de Athenas.

-De Athenas?-a Viscondessa estranhou.

-Sim. -Saga continuou. -Lembro do maravilhoso baile em Paris, onde meu pai... O embaixador Tassouli, dançou com a senhora. Lembra deste baile, Kanon? Éramos tão jovens!

-Ah sim. O embaixador Tassouli!-A Viscondessa fez ar de quem havia se lembrado. -Desculpe como está sua adorável mãe?

-Minha mãe manda saudosas lembranças. -Saga olhou ao redor, como se admirasse a decoração. -Ela aguarda ansiosa que a visite em Veneza neste verão. Como combinaram.

-Ah, creio que terei que adiar a visita. Minha idade não me permite realizar viagens tão longas!

-Ah, que pena!-Kanon pega a mão da Viscondessa. -Mamãe ficará sentida.

-Mas escreverei a ela explicando tudo.

-Ela ficará muito feliz com isso, não é Kanon?

-Certamente Saga.

-Por favor, entrem. E se divirtam. -ela faz um gesto e Kamus se aproxima. -Kamus, conheça os filhos de uma amiga querida de Athenas. Saga e Kanon Tassoulo.

-Tassouli.-Saga a corrigiu, apertando a mão de Kamus.-É um prazer conhecê-lo, Visconde.

-De Athenas? Tenho um amigo que nasceu em seu adorável país. -apontou para Milo com a mão, em um gesto amigável. -Milo Alessandros... Saga e Kanon Tassouli de Athenas.

-Muito prazer. -Milo os cumprimenta. -Sua família... Tassouli... São os Tassouli que vieram de Creta?

-Esparta, na verdade. -corrigiu Kanon. -Descendemos dos espartanos.

-Que interessante! Venham, juntem-se a nós. -Kamus vá a frente. -Podem falar mais de sua família enquanto bebemos. O que seu irmão tanto procura?

O francês pergunta a Saga, quando nota que Kanon olhava ansioso pelo salão.

-Ele anseia rever uma bela dama que conheceu há alguns dias. -explicou.-Ele tem esperanças de que a reencontre esta noite aqui.

-Espero que a encontre. Diga-me, Senhor Kanon... Quem é a dama? Talvez eu a conheça.

-Amanda Dawes.-respondeu Kanon e notou a surpresa em Kamus e Milo.-Disse algo errado, cavalheiros?

-Não. De modo algum. -Kamus apressou-se em esclarecer.

-É que as damas Dawes não saem de seu recluso lar desde a morte do pai. -Shura respondeu, ao se aproximar, acompanhado de Lucy. -Seria uma surpresa que elas aparecessem.

-Surpresa por que, Shura?-perguntou Lucy.-Não me diga que dá créditos aos comentários maldosos que fazem a cerca da baronesa viúva?

-De modo algum senhorita Lucy. Você me conhece bem e sabe que nunca dou atenção a fofocas de salão. -beija a mão da jovem que cora.

-U-Hum!-Kamus pigarreia, chamando a atenção do casal. -Esta delicada dama é minha irmã mais jovem, Lucy. -ela estende a mão aos gêmeos, e ambos a cumprimentam um de cada vez. -E este fanfarrão é meu amigo Shura Mendonza.

-Shura Joaquim de la Rocca Hernandez Mendonza. -deu uma leve reverência e sorriu.

-Nome comprido!-Kanon exclamou.

-Costume espanhol. -Shura sorriu.

-Lucy... Creio que há mais rapazes ansiando dançar com você. -Kamus disse a irmã, que entendeu que era para dar-lhes licença.

-Claro. Não posso deixá-los me esperando. -riu e se afastou dos rapazes.

-Uma jovem adorável, sua irmã. -Saga comentou.

-Obrigado. Bem, o que os traz a Londres cavalheiros?

-Negócios de família. -Saga tratou de explicar imediatamente. -Minha família é dona de uma grande frota mercante e queremos expandir negócios. A Inglaterra me parece ser um local ideal para encontrar investidores e futuros sócios!

-Entendo.

-Algo que eu ainda não entendi. -Kanon os interrompeu. -Por que seria algo assombroso assim a senhorita Dawes aparecer?

-Ela e suas adoráveis irmãs talvez nada. -respondeu Milo. -Mas a madrasta dela, carrega uma péssima fama!

-Já tive a oportunidade de conversar com a baronesa viúva e afirmo que tais comentários a respeito dela são maldosos! Nada verdadeiros!-diz Shura.

-Já conversou com ela?-Milo animado. -E como foi? É verdade o que dizem sobre a beleza dela? Quem dera ela me desse a oportunidade de conversar com ela também!

-Um momento. -pediu Saga, sorrindo debochado. -Nosso caro amigo Milo aprecia mulheres mais velhas e experientes?

-Não a conhece, não é?-Kamus perguntou, bebendo um gole de sua taça de vinho.

-Não. E...

De repente a música parou e um burburinho preencheu o salão. Os homens se aproximaram para ver o que acontecia. Na entrada do salão estavam sete belas damas. As mais jovens vestiam-se com cores claras, e mantinham uma expressão que iam do excitamento por estarem ali e do receio por terem chamado a atenção ao chegarem.

-Ela ousou vir...

-Eu pensei que somente as filhas do Barão apareceriam.

-Quem são aqueles?

-Soube que o primo do Barão retornou da Índia para cuidar da família.

Saga escutou duas damas comentarem. Estranhou isso. O que havia de errado ali?

Procurou com o olhar quem poderia ser a tal baronesa que tanto falavam. Não viu ninguém que pudesse ser uma beldade de idade madura. Quem acompanhava as jovens era um rapaz de longos cabelos loiros, e ao lado dele outro de aparência exótica.

Foi quando notou com clareza a bela jovem de cabelos ruivos que estava e braço dado com o loiro. Usava um vestido de cor verde, forte, e um decote até ousado, mas que em nada diminuía a sua postura nobre. Em seu pescoço um magnífico colar de esmeraldas, que em nada ofuscava a beleza dela.

Para Saga, ela era a dama mais bela que jamais havia visto antes em sua vida.

Kamus abriu passagem por entre os convidados, fez um gesto discreto para que a música voltasse a tocar, e o salão novamente foi invadido pela valsa. Ele parou diante da ruiva e do loiro, cumprimentou-os e dando o braço à dama ruiva, a levou ao salão. Ela era seguida pelas demais moças e pelos dois rapazes.

-Quem é aquela linda mulher?-e quando ouviu a risada discreta de Shura, percebeu que pensara alto demais.

-Aquela é a baronesa viúva de Blackmoore. -respondeu o espanhol e Saga o olhou incrédulo.

-Não é possível! Ela deve ter a mesma idade que a filha mais velha do barão!

-Soube que é poucos anos mais velha que ela. -Shura sorriu. -E sim. Ela é uma bela mulher que vive reclusa, para a tristeza de muitos jovens que se apaixonaram por ela ao longo destes anos. Mas soube que ela agora abandonou o luto. E fico feliz em ver que é verdade!

-Então, não faltarão cavalheiros a cortejá-la. -comentou Milo, ajeitando o casaco. -Devo me apressar e reservar a próxima dança com a baronesa!

-Esse Milo. -Shura riu ao vê-lo caminhar na direção da dama.

-Diga senhor Mendonza. -pediu Saga. -Que comentários maldosos podem haver sobre aquela bela dama?

Shura perdeu o sorriso no mesmo instante e ponderou sobre como responder.

-Que ela se casou com o Barão por causa do seu dinheiro. -bebeu um gole de licor. -E o matou.

-O que disse?

-São comentários maldosos de damas invejosas da beleza e da fortuna dela. -disse incisivo. -Infelizmente, muitos acreditam nisso.

Saga ponderou se a história pudesse ser verdadeira. Afinal, ela não seria a primeira e nem a última mulher a se casar com um nobre velho devido a sua fortuna. E imaginou se... Ela for exatamente como os comentários afirmavam ser... Poderia atrapalhar seus planos de casar seu irmão com a jovem Amanda.

Foi quando notou a presença de mais duas pessoas entrando no salão, que sentiu o sangue gelar. O que eles faziam ali? Iriam estragar tudo!

-Com licença. -Saga diz antes de deixar Shura sozinho e caminhar apressado até os dois novos visitantes.

O que diabos os irmãos Petronades faziam ali?

-Quantas pessoas, Thatiane!-Amanda diz excitada, olhando o salão.

-Sim. Nossa! Fiquei com tanta vergonha quando todos nos olharam. Vocês não ficaram assim?-a irmã pergunta curiosa.

-Eu morri de vergonha!-disse Melissa.

-Finjam que nada aconteceu. -avisou Carla. -E sorriam.

-Olhem! Inis já está sendo cortejada por alguns cavalheiros!-Louise apontou discretamente. -Aposto que logo ela terá todas as danças reservadas!

-Vanessa também. -apontou Amanda. -Ah, ninguém irá me convidar a dançar?

-Se me permitirem. -Amanda virou assustada, mal escondendo a sua surpresa ao ver Kanon diante dela. -Gostaria de reservar as próximas danças somente para a senhorita.

-Senhor Tassouli! Que surpresa!-Amanda sentiu um súbito calor.

-Lembrou-se de meu nome, senhorita Amanda. -sorriu.

-O senhor também se lembrou do meu.

-Impossível esquecer alguém como a senhorita. -estende a mão. -Me permite?

Amanda olhou para a madrasta e ela assentiu com um leve menear da cabeça. Kanon agradeceu com um aceno também e segurando a mão de Amanda a levou para o salão de danças.

-Quem é aquele?-Melissa perguntou espantada.

-Um deus grego... -suspirou Louise.

Lorde Furneval ouviu tal comentário e não apreciou nada.

-Está assim porque Amanda está dançando com um desconhecido ou porque Louise o considerou... "Um deus grego"?-Mu perguntou, sorrindo.

-Não diga tolices. Um baile é para que damas dancem com cavalheiros. E eu estou de olho em minhas primas!

-Vamos Shaka. Não tente me enganar meu amigo!

-Não me chame de Shaka aqui. -ele o advertiu. -Por enquanto, me chame pelo meu antigo nome.

-Esqueci. É que me acostumei a chamá-lo assim. Desculpe. -Mu olhou o salão e depois Louise. -Mas não me respondeu sobre ela, Shaka.

-Chega de tolices!-Shaka o advertiu falando baixo. -Me chame de Francis! E não, eu não me irritei com o comentário tolo de Louise!

-Então posso convidá-la para dançar?-o lorde o olhou sério. -Não? Bem, antes eu que sou seu amigo que outro não?

-Por que esta insistência com Louise?

-Porque em todos estes anos em que eu o conheço você nunca olhou para uma mulher da mesma maneira que olha para ela.

-E como eu olho?

-Como se quisesse protegê-la de tudo e todos. -diz sério.

-Não diga tolices, Mu. É claro que quero protegê-la. Ela e suas irmãs!-disse o lorde, voltando seu olhar para Louise, que naquele momento estava conversando com um rapaz.

Cerrou os punhos e caminhou até ela. Mu sorriu.

-Devo presumir que a chamará para dançar, Shaka?

-Francis!-ele o corrigiu, quase perdendo a pose.

-Como quiser... Shaka. Digo, Francis. - e se afastou imediatamente.

O lorde caminha até Louise, e com um olhar dispensa o jovem, intimidado pela presença imponente do lorde. Louise o encara sem entender bem, mas percebeu que ele estava irritado com alguma coisa.

-Não está apreciando o baile, senhor Furneval?-ela perguntou, com um sorriso, tentando aliviar a tensão.

-Considero bailes barulhentos demais.

-É o primeiro baile que participo. Estou adorando!-exclamou animada.

O rapaz olhou para Louise e em seguida para o salão, onde a garota olhava com total atenção os casais que se moviam de acordo com a música.

-Gostaria de me acompanhar em uma dança, senhorita Dawes?-o lorde perguntou, fazendo Louise o encarar espantada. -Somente se desejar, claro.

-Eu adoraria!-ela aceita a mão estendida do lorde. -Pensei que continuaria a me evitar.

-E por que eu faria algo assim, senhorita Louise?

-Bem... O que houve no café da manhã, outro dia... -fica corada. -Nestes dois dias, evitou fazer as refeições conosco... Sai e demora a voltar... Achei que nos evitava.

-Perdão se eu causei tal impressão. Na verdade, eu estava me inteirando dos negócios de sua família, com a ajuda da baronesa e dos advogados de seu pai. -explicou, começando a dançar com ela. -Estive tão concentrado nisso, que perdia a noção de tempo.

-Então não me evitava por causa... Do pão?

O lorde riu. Um riso discreto, mas cujo som Louise achou belo.

-Não. Decerto não foi por causa do pão.

-Fico feliz em ouvir isso!-ela sorriu e o rapaz se esforçava para não esquecer dos passos de dança, enquanto admirava o rosto dela.


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Em outro lugar... Em uma casa de reputação duvidosa.

Ela foi levada até madame Shannon por dois homens de aparência rude e nada amistosos há três dias atrás. Invadiram sua casa, ameaçaram sua vida ordenando que lhes dissessem onde estava seu irmão.

Helena Vernon se recusou a ajudá-los. Furiosos, afirmaram que seu irmão havia roubado o chefe deles, e se não pagasse a dívida seria morto! Desesperada para impedir mais esta tragédia em sua vida, afinal Gilen era seu irmão e mesmo que tenha errado não poderia permitir que o ferissem.

Até aquela manhã havia sido deixada em uma casa sem conforto nenhum. Até que o homem que afirmava ter sido lesado por Gilen lhe fez uma proposta. Deixar-se ser leiloada na casa de madame Shannon e pagar finalmente sua dívida.

Levada aquele bordel, a madame Shannon a examinou, em um dos momentos mais constrangedores de sua vida, para ter certeza de que iria leiloar uma virgem. Após ter confirmado aos bandidos sobre o valor que poderia alcançar com o leilão, eles saíram satisfeitos, deixando-a sob os cuidados da cafetina.

Lágrimas amargas vieram aos seus olhos. Helena amaldiçoou sua vida. Há dois anos atrás quando sua mãe ainda era viva, isso jamais iria acontecer. Havia prometido a ela em seu leito de morte que não permitira que Gilen tivesse o mesmo destino que o pai. Um viciado em jogos que destruiu todo o patrimônio que possuíam para pagar dívida de jogos. A ruína o levou ao suicídio e a família a miséria.

-Sinto mamãe... Eu vim a Londres procurar meu primo, mas ele não mora mais no endereço que me deixou. E ninguém quis me ajudar a encontrá-lo. -dizia a si mesma em um sussurro. -Desculpe mamãe.

Agora estava ali, para leiloar sua inocência pelo melhor preço, para salvar a vida de Gilen. Se ao menos tivesse encontrado seu primo... Ele era um homem que possuía muitas terras, e pelo o que se lembrava dele quando o viu ainda menina, era um homem de gênio forte e honra inabalável! Ele a teria colocado Gilen no caminho certo e a teria protegido disso tudo! Tinha certeza disso.

Ou então... O gentil cavalheiro que conheceu assim que chegaram a Londres, algumas semanas atrás. Se ao menos soubesse o nome dele... A única lembrança que tinha era de que era muito belo! Com uma rosa em sua lapela, quando a maioria dos cavalheiros preferia cravos.

Fechou os olhos, relembrando aquele momento.

O conheceu quando procurava a residência de seu primo em um bairro nobre da cidade. Ela estava exausta por ter caminhado a tarde toda em vão, e parou sob a sombra de um salgueiro, para descansar um pouco.

Foi quando sua atenção foi tomada por uma bela mansão, com o mais belo jardim de rosas que havia visto em sua vida. Nem mesmo os jardins que sua mãe tanto cuidava, eram belos como aqueles.

Curiosa, aproximou-se mais. Notou que o portão estava entreaberto. Olhou ao redor para ter certeza de que ninguém a veria. Empurrou o velho portão e entrou no jardim, apenas para admirá-lo. Sentou em um banco de mármore, próximo a uma estátua de anjo, que parecia vigiar e proteger aquele jardim.

Foi tomada pela tentação de levar uma daquelas rosas vermelhas consigo. Olhou para o anjo e disse-lhe:

-Se importaria se eu levasse uma delas?-nenhuma resposta. -Dizem que quem cala consente.

Estendeu a mão para pegar a rosa, mas reteve seu gesto quando ouviu uma voz.

-Cuidado com a Fera!

Assustada ela levantou-se, e ao virar-se ficou frente a frente com o dono da voz. Como não havia notado a presença dele? Tinha olhos claros, em um tom azul incomum, cabelos longos, cuidadosamente penteados. O cavalheiro estava à vontade, sem um casaco. Estava cuidando dos jardins e tinhas luvas que protegiam suas mãos.

Helena nunca imaginou que haveria alguém assim tão bonito neste mundo. Piscou várias vezes e finalmente conseguiu falar alguma coisa.

-O que disse senhor?

-Cuidado com a Fera. -ele sorriu, retirando as luvas. -Não conhece aquele conto de fadas, sobre um castelo com um belo jardim de rosas?-ela não respondeu. -Um comerciante tinha uma bela filha e queria presenteá-la com algo especial, quando retornasse para casa. Mas não encontrou nada que agradasse. Encontrou o tal casarão com o jardim. Sabendo que ela apreciava flores, resolveu roubar uma rosa daquele jardim e leva-lo a sua filha. Mas quem morava no casarão era uma fera temível...

-A Bela e a Fera!-ela respondeu, erguendo um dedo sorrindo. -Eu já li este conto, milorde. Acaso... Compara-se a Fera da história?

-Dizem que eu me torno uma quando quero defender o que me é precioso. -ele sorriu ao dizer isso. -Não queria uma das minhas rosas?

-Ah, me desculpe, por favor. Não tive a intenção, mas são tão lindas!-corada, envergonhada de seu ato.

Ele não responde, apenas com a ajuda de uma pequena faca retira uma das rosas do jardim e com cuidado a livra dos espinhos. Em seguida a entrega a Helena.

-Para você... Bela.

Ela aceita a rosa, ainda espantada com o rapaz diante dela.

-Quem é sua senhoria?

-Apenas um cavalheiro, senhorita Bela.

Em seguida, um homem que parecia ser o mordomo o chamou. O cavalheiro pediu que o esperasse, mas Helena foi embora. Temia chegar tarde no bairro em que estava morando. Ele era perigoso à noite. E temia mais ainda, ficar sozinha com um cavalheiro que mal conhecera, e fazia seu coração disparar.

"Esqueça-o."-dizia a si mesma, quando as lembranças deram lugar à dura realidade.

Duas garotas entraram no quarto para prepará-la. Banharam seu corpo e o perfumaram, depois a vestiram com uma roupa leve, que evidenciavam seu corpo jovem, com poucas curvas. Após concluírem o trabalho, saíram sem dizer nada. Em seguida, a própria madame Shannon entrou, trazendo uma bandeja com uma taça e uma garrafa de vinho. Olhou para o prato quase intocado de sopa e o pão que havia mandado para que jantasse.

-Sei que esta situação é horrível querida. -dizia a cortesã, depositando a bandeja na penteadeira. -Mas deveria se alimentar.

-Como comer sabendo que em breve... Eu... -engasgou. -Oh, Deus!

-O que é mais importante para você, Helena? A vida de seu irmão ou a sua inocência?-Shannon perguntou de repente. -Pense que esta noite irá terminar em breve e poderá voltar para sua casa. A vida de seu irmão será poupada e. receberá uma quantia pelos seus serviços, e poderá ir embora para sua antiga cidade, ou recomeçar em outro lugar. Não será muito, mas o suficiente para que não passe fome por alguns dias.

Helena desviou o olhar diante das frias palavras da mulher.

-Você é muito bonita. Tem o rosto de uma menina. -Shannon ergueu o queixo de Helena examinando-a. - Quantos anos disse que possuía?

-Dezenove.

-É velha demais! Em geral os nobres que aparecem na noite do leilão preferem mocinhas jovens e ingênuas do interior. -ela riu, pegando alguns objetos para fazer maquiagem em Helena. -No leilão, direi que tem quatorze anos, e que veio do interior tentar a vida nesta cidade. Para preservar sua identidade, direi a todos que possui outro nome.

-Outro nome?-estranhou, enquanto a mulher pintava seus olhos, destacando a cor natural deles.

-Sim. Não prefere assim? Prefere escolher um nome para o leilão?

Helena olhou no espelho diante dela.

-Bela.

-Bela?-Madame Shannon estranhou a escolha.

-Pode dizer a todos que me chamo Bela. -e fitou a cortesã. -Como a Bela dos contos de fadas. Só que não estarei indo ao encontro de um príncipe enfeitiçado... E sim a um covil de feras.

Madame Shannon concordou, e caminhou até a porta, antes de sair avisou:

-Eu coloquei um remédio no vinho. Recomendo que o tome. A deixará entorpecida e a experiência não será tão traumática... Bela.

Helena olhou para o vinho e recusou-se a beber. Iria encarar esta parte de sua sina, ciente de seus atos, e de cabeça erguida.

Continua...



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