Um Verão Inesquecível escrita por GiullieneChan


Capítulo 19
Capítulo 18




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Sounthapton

Assim que terminaram de conversar com o Dr. Hopkins, Annely acompanhava Kamus até o portão. O silêncio da jovem começava a incomodar o Visconde que não se deteve mais em perguntar:

— O que a incomoda, Annely?

— Sua Graça não faz ideia do que seja o motivo de meu silêncio?

— Sei que quando me chama dessa maneira, está furiosa com algo que eu fiz. –suspirou. –Acaso seu descontentamento tem algo a ver com a chegada da senhorita Heinstein?

Todo o ciúme que tinha pela morena pareceu aflorar e tomar conta dela, deixando-a trêmula, mas disfarçou apertando as mãos diante do corpo, dando alguns passos diante dele, parando próximo ao pequeno portão de madeira.

— Acaso sua Graça acredita que ela veio a Sounthapton pelo clima aconchegante dessa época do ano? –apontou com o olhar o céu. –Acho que irá chover ao fim do dia.

— Está com ciúmes de Pandora? –ele segurou um riso. Se ela sentia ciúmes significava que o amava.

— Quanta presunção! Lógico que não! - sentiu ciúme sim. E esse ciúme a machucava.

A imagem da alemã veio a sua mente. Linda de corpo, rosto perfeito, pele alva e parecia suave. Pelas vestes era uma dama da alta sociedade, pelos adornos que usava e na companhia de um criado bem vestido, era muito rica. Talvez da nobreza de seu país.

Que chance tinha de competir com uma mulher como aquela?

— Quando minha avó me enganou, me deixando acreditar que você me traia... eu fiquei perdido! –Kamus começou a falar, andando devagar até ela, com as mãos atrás de seu corpo. –Aceitei sua sugestão de visitar outros países para esquecer você.

Annely virou-se devagar, fitando-o.

— Conheci Pandora Heinstein em minha viagem. A bela e amada filha de uma família rica e poderosa de Berlim. Confesso que me envolvi com ela. -ele baixou o olhar, apertando os lábios por um instante e continuou. –Confesso que nos tornamos ...amantes. Ela me mostrou um mundo novo para mim, e me entusiasmei com as festas, bebidas e a vida sem sentido que isso tudo proporcionava.

Annely sentiu um nó em sua garganta, mas queria ouvir mais.

— Um dos primos dela achou boa ideia casá-la com um nobre como eu. Mas acabei criando problemas para ela, pois o pai já havia prometido a dama a um militar, um herói de guerra influente em seu país. Então fui embora sem me despedir dela, no primeiro trem para o sul. Conheci Milo nessa viagem, e como bem sabe, nos tornamos amigos inseparáveis. Achava que não esqueceria Pandora também, mas logo ela se tornou uma lembrança distante de dias de farra em minha juventude. Nada mais.

— Aparentemente ela não o esqueceu.

— Irei conversar com Pandora. Explicar que a vinda dela a esse lugar foi uma perda de tempo.

— Sozinho com ela? Nunca! –disse tão rapidamente e com um tom ameaçador que assustou o Visconde. –Digo... quando for conversar com ela, eu devo estar junto. Como sua noiva!

— Claro. Eu fui um idiota, Annely! Te magoar novamente é a última coisa eu quero nessa ou em outras vidas. - parou diante dela.

— Eu acredito em você. –ela deu um suspiro. –Bem, agora precisamos contar à sua avó sobre nós.

— Eu contarei a ela assim que ...

Kamus parou de falar ao ver que o criado de Pandora se aproximava correndo, em sua mão havia um envelope. O rapaz parou e pediu por um instante ao Visconde, recuperando o folego. Ele consertou sua postura e entregou a Annely a carta, retirando o chapéu e falando em um tom formal:

— Peço desculpas, milady. Minha senhora a convida para tomar um chá em sua companhia logo mais, na pensão em que está hospedada.

Surpresa pelo convite inesperado ela pegou a carta e olhou para Kamus antes de abrir o envelope e confirmar o convite que o jovem havia lhe dito. Este ficou parado, esperando por uma resposta e tentando não fitar o rosto do Visconde que parecia insatisfeito por isso.

— Avise à sua senhora que irei com todo prazer! –respondeu com um sorriso.

— Danke, meine Dame. –inclinou-se e voltou correndo pela rua, na direção da pensão.

—Ela não perde tempo. –Annely passou por Kamus, dando-lhe um esbarrão por querer, revelando seu humor.

Kamus ficou parado, achando melhor não dizer nada para não irritá-la mais ainda.

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Lucy inspecionava os últimos preparativos do passeio, verificando se havia lanches e bebidas suficientes para todos quando notou que era alvo do olhar do jovem tibetano que tentou disfarçar em vão que a admirava.

A dama sorriu, relembrando as horas agradáveis que passaram conversando e do quanto o considerou belo. Sim, o tibetano com olhar sereno era muito atraente e ela já se encantou pelo olhar que possuía.

— Ele é muito bonito! –o comentário de Vanessa fez a jovem assustar-se.

— Q-quem é muito bonito?

— O amigo de meu primo. –ela sorriu e apontou com o olhar o tibetano. –Mu.

— Realmente ele possui uma beleza exótica! –disfarçando, mas arrancou um risinho discreto de Vanessa. –Não é o que pensa!

— Não pensei nada, senhorita. –Vanessa dá alguns passos e observa Giovanni aproximar-se de Mu e ambos começam a conversar sobre os cavalos. Desta vez foi Lucy quem deu uma risadinha, deixando a outra sem jeito.

— Realmente não tem como ficarmos indiferentes a presença dos amigos de meu irmão. –ela suspira.

— Quem? Indubitavelmente que não! –apressou-se a dizer. - Aquele italiano é o homem mais irritante e desrespeitoso da face da Terra. Diria que se vissem qualquer dama de respeito na companhia deste cavalheiro em Londres, sua reputação estaria manchada para sempre!

— Não está exagerando? Afinal... ele não parece ser tão ruim assim...

— Ele é horrível, senhorita Lucy! Arrogante, sem pudor e canalha! -nesse instante, Giovanni espirrava. –Um homem horrível!

Lucy sorri e balança a cabeça. Notava que as palavras de Vanessa não eram totalmente verdadeiras. Mais alguém no entanto havia notado o mesmo.

Malloren havia escutado a conversa das damas e sorria. Seu lado “Cupido” dizia que deveria agir logo, pois naquela fazenda haviam muitos casais que precisavam vencer as barreiras da timidez e dos fantasmas de seus passados para se declararem! E estava na hora de ajudá-los.

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Da sacada de seu quarto a Viscondessa observava a movimentação. Desde o ocorrido em seu baile de aniversário evitava os convidados, tanto pela vergonha quanto pelo fato de que não se sentia bem.

Afastou-se da janela e sentou em seu leito sentindo a cabeça pesa. Pensou em pedir para chamar o Dr. Hopkins, mas o orgulho e o temor falaram mais alto, e ainda sentia mágoa por seu neto a tratar com frieza desde o “incidente”.

— Madame? –ela virou-se e viu seu criado com uma bandeja de chá e biscoitos. –Por favor, posso entrar?

— Ah sim... pode. Mas eu não tenho fome, Antonny.

— A madame deveria se alimentar. A senhorita Lucy pediu que eu cuidasse da senhora até a sua volta. A senhorita Lucy acha que não é de bom tom deixar os hóspedes sozinhos, já que o Visconde saiu e a senhora está indisposta. –dizia o criado colocando a bandeja numa mesa. –E a senhora Arnold mesma fez o seu chá. Do jeito que a madame gosta! Todos estão preocupados com sua saúde, madame.

A idosa dá um sorriso triste.

— Nem todos... –suspirou. –Meu neto não ligou muito não é?

— Madame... acredito que o Visconde também se preocupa, mas do jeito dele.

— Talvez... deixe o chá e pode se retirar, Antonny. –o criado a olhou com desconfiança –Prometo que quando buscar terei lanchado.

O criado concorda com um aceno de cabeça e se retira em seguida dos aposentos da Viscondessa. A idosa suspira e decide que talvez fosse melhor comer algo e em seguida sair do quarto, aproveitando que os hóspedes iriam sair em breve e poderia usufruir de um pouco de paz.

No corredor fora do quarto da Viscondessa Antonny surpreende Edgard que parecia querer abrir a tranca de um dos quartos.

— Com licença! –diz Antonny que o assusta. –Perdeu algo, senhor?

— Ah, não... não. –apressou-se em pensar em alguma desculpa. –Uma criada disse que viu um rato nesse andar, senhor! E um dos grandes!

— Um rato?! –horrorizou-se. –A madame odeia ratos! Ao trabalho então para achar essa criatura antes que a madame perceba!

— Sim, senhor!

— E não deixe a madame ou seus hóspedes perceberem o que procura! –advertiu o criado mais velho deixando-o para trás.

Edgard sorri:

— Não se preocupe, senhor! Não deixarei.

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Julie cavalgava devagar, perdida em seus pensamentos sobre as nuvens escuras que estava sobre sua cabeça, até perceber que Saga a havia alcançado.

— Aparentemente irá chover. – o grego comentou apontando com o olhar nuvens distantes e escuras.

— Foi imprudência sair.

— Não precisa se apressar, Milady. Acredito que apenas ao fim do dia irá cair os céus sobre nós. –ele riu.

— Não me refiro ao tempo, senhor. E sim ter saído e ter sido seguida por ...

Ela não conseguiu terminar sua frase quando uma pequena raposa passou correndo a frente de seu cavalo fazendo-o se assustar e derrubando-a de sua cela. Julie perdeu o ar com a queda, mal conseguiu perceber que seu cavalo já estava longe até sentir as mãos forte de Saga a amparando-a e ele a fitando com preocupação.

— Senhora? Está ferida? Não se mova, por favor. Sente dor?

— Eu...estou bem. –Gemeu sentindo dor em uma área inapropriada de ser dita por uma dama a um cavalheiro. –Estou bem.

— Já vi quedas de cavalo se tornaram mortais à muitos homens! –retrucou ainda preocupado, principalmente por ela tentar se levantar.

— Mas estou bem... Só me ajude a me levantar, por favor.

Contrariado, ele a ajudou a ficar em pé e a baronesa deixou escapar outro gemido de dor.

— Não se esforce, Julie! -A baronesa corou levemente por ele a chamar pelo primeiro nome, com total intimidade.

— Asseguro que não quebrei nada, senhor. –observou desolada o cavalo distante. –Animal medroso!

— Tem certeza?

— Sim. –olhou diretamente para o rosto do homem, ficando mais corada ainda. –Não me machuquei seriamente.

— Venha comigo. –ele pediu segurando sua mão e a levando até uma frondosa árvore, com várias raízes enormes espalhadas pelo solo. –Descanse antes de prosseguirmos de volta à Fazenda.

Ela o obedeceu sentando em uma das raízes, soltando as fitas de seu chapéu e repousando em seu colo. Estremeceu quando sentiu que Saga sentava ao seu lado.

— Sinto se o assustei, senhor.

— Pelo visto está bem. –Um sorriso enfeitava o rosto de Saga ao tocar em seu rosto. –Graças a Deus.

Ela assustou-se e fez menção de recuar, mas Saga puxou-a para si, e beijou-lhe a testa, esperando com esse gesto que sua resistência terminasse. A reação da dama foi a de cerrar os olhos sentindo aquele toque carinhoso.

— Milady... Até quando vai resistir?

Os olhos dela se abriram.

— Estou cansada de resistir...

Foi quando as mãos firmes do grego segurou-a firmemente pela cintura e puxando-a para seu corpo de encontro ao dele. Nesse momento Saga notou que algumas mechas ruivas de seus cabelos haviam se soltado e caíam pelo pescoço e molduravam sua face. Ele se aproximou.

— Por Deus, como você é linda, Julie!

Capturou os lábios rubros com um beijo apaixonado, deleitava-se com a doçura deles e aprofundava o beijo para explorá-los a fundo. Não tinha mais auto controle de seus atos, precisava sentir a maciez de seus seios em suas mãos. Impaciente, começou a soltar os laços do vestido.

— Linda...

Por um instante ela hesitou, mas em seguida o ajudou na tarefa retirando o corpete, logo em seguida voltou a permitir que a beijasse, deitando-a na relva sob a sombra da enorme árvore, enquanto as mãos brincavam com os seios. E ficou paralisado quando a baronesa cuidadosamente desabotoou sua camisa e revelou o tórax. O corpo feminino estremecia a cada carícia, se entregando de corpo e alma àquele homem.

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Na Fazenda...

— A baronesa ainda não retornou, Igor? –Vanessa perguntava ao se deparar com o fiel mordomo de sua família, já começando a se preocupar.

— Não, senhorita Dawes. Devo ficar e espera-la? Ou devo sair e procura-la?

— Não. Nenhuma das alternativas. –suspirou Vanessa, observando que o jovem mordomo ficava bem vestido com roupas de montaria. –Não seria justo com você.

— Isso é uma bobagem, senhorita. É meu dever cuidar do bem estar da baronesa, da senhorita e de suas irmãs!

— Eu soube que não há necessidade de preocupações por parte de ninguém. –avisou Thatiane, saindo do quarto com uma garrafa de leite vazia e acompanhada por Amanda.

— Segundo os cavalariços, o senhor Saga... foi acompanha-la e ela prometeu retornar bem antes do almoço. –disse Amanda dando um risinho.

— E eu ficarei aqui com a Viscondessa e outros convidados a esperando. - completou Thatiane.

— Gostaria que eu pegasse mais leite para seus pequenos inquilinos antes de sair, senhorita Thatiane? –Igor perguntou, pegando a garrafa da mão da jovem. –E suas palavras não me tranquilizam, senhorita Amanda.

— Há algo que eu não estou sabendo? –Vanessa sorrindo.

— Talvez... –Amanda riu e se afastou. –Igor, não se preocupe com a baronesa!

— Irei me preocupar... com os cavalheiros que irão ao piquenique. –Igor comentou, caminhando atrás de Amanda. –Principalmente os gregos.

— Gregos? –Thatiane olha para a irmã. –Aiolia não representa perigo algum! Ao contrário, tem sido muito prestativo e bom amigo.

— Só porque ele a está ajudando com seus inquilinos? –Vanessa sorriu.

— Talvez. –voltando para o quarto, temendo que sua ausência fizesse os cachorrinhos latirem e chamarem para si a atenção da criadagem.

Discretamente alguém os observava. Edgard maldizia sua sorte, esperava que todos saíssem para o tal piquenique, ficando apenas a velha viscondessa e alguns criados. Agora teria que lidar com alguns hóspedes indesejados.

— Paciência. –dizia a si mesmo com a voz baixa.

Teria que procurar o tal baú que seu patrão queria de modo mais cuidadoso possível, talvez perguntar a alguma criada se sabe da existência dele em algum dos aposentos. Então, silenciosamente, voltou para a cozinha da Fazenda para procurar informações, e se necessário, olharia nos aposentos vazios primeiro.

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Os últimos detalhes para o passeio já estavam prontos e todos se preparavam para partir. Alguns mais entusiasmados que outros. A própria Viscondessa não achava adequado que saíssem, mas ficou mais tranquila com a presença do futuro barão, lorde Furneval e do reverendo Malloren no passeio.

O rapaz de longos cabelos loiros parecia muito honrado e certamente não permitiria qualquer abuso da parte dos demais cavalheiros com as jovens. E a presença de um homem religioso deveria refrear qualquer ato indiscreto que pudesse partir dos jovens. Observou a neta que se estava com seu traje de montaria conversando com o jovem amigo do Lorde Furneval e isso a preocupou. Pareciam muito amigos e não achou adequado. Talvez deveria conversar com ela mais tarde sobre como uma dama deveria se comportar ao conversar com um rapaz.

Viu a neta aproximar-se animada.

—Tudo pronto para o passeio? –perguntou a avó. - Providenciou o almoço para todos?

— Eu imaginei uma coisa especial para hoje, vovó.

— O que é?

—Estava pensando em conseguirmos nosso próprio almoço. -a avó não entendeu. - Vamos pescar uns peixes no lago!

— Como podem fazer isso?

— Um dos criados disse que o lago está cheio de trutas. Se os cavalheiros concordarem, poderemos levar algumas cestas de piquenique e pegar algumas trutas.

— Você quer dizer que os cavalheiros irão pescar?

— Algumas damas ficaram entusiasmadas também com a ideia. –A Viscondessa não escondeu a surpresa com o comentário. -Eu sei como cozinhá-las. Ludmila também! Eu sempre fazia isso com meu irmão quando éramos crianças.

Lucy estava entusiasmada que ignorou o olhar reprovador da avó e foi providenciar as varas de pesca e cestos, enquanto um criado levava as cestas de piqueniques para a carroça. Finalmente todos saíram carregando as cestas e varas apoiadas nos ombros.

— Ninguém nunca me disse que havia trutas em um lago e que se podia comê-las. –comentou Kanon a Giovanni. Ele não fazia ideia de como pescar.

— Pode ser que a gente não pegue nenhuma. –respondeu o italiano. –Pelo menos de fome não morreremos, já que há comida nas cestas.

— Isso não vai acontecer. –disse uma entusiasmada Louise se aproximando dos cavalheiros. -Pegaremos um peixe, nem que tenhamos que ficar aqui a noite inteira.

A risada de Shaka a deixou vermelha, mas sorriu para o loiro que começou a participar da conversa:

— Você vai achar muito cansativo ficar pescando tanto tempo, milady.

— O senhor pesca? –perguntou a dama curiosa.

— Não. Eu não sei se chegaram a reparar, mas eu não como carne. –naquele instante todos perceberam que o Shaka, ou melhor lorde Furneval, realmente não consumiu nenhum tipo de carne desde que chegara a fazenda. –Prefiro ver os animais soltos e crescendo saudáveis, tal qual seria o desejo de Deus e...senhorita? Porque chora?

— É lindo o que disse... eu devo ser um monstro aos seus olhos tentando matar uma truta para o almoço!

— Não! Não! De modo algum pensei em algo assim da senhorita! –Louise se controlava, enquanto Shaka ficava sem graça em ter feito a dama se emocionar.

E o alegre grupo foi sendo conduzido ao local do piquenique entre risadas e conversas. Ludmila acompanhava o grupo em silêncio, apenas apreciando a oportunidade que as suas senhoras lhe davam de usufruir do mesmo divertimento com elas. Estava tão absorta em seus pensamentos que se assustou ao perceber que Shura aproximava sua montaria da dela.

— Esse traje de montaria ficou bem na senhorita. –comentou, sem desviar o olhar da trilha que seguiam.

—O-obrigada, milorde. –ficando corada e olhando disfarçadamente o espanhol e refletindo o quanto estava belo com suas vestimentas de montaria.

— Algo a incomoda?

Shura perguntou de repente e ela ficou sem saber o que responder por alguns segundos e em seguida Ludmila disfarçou:

— Não...nada. Apenas reparando as nuvens! Acho que choverá mais ao fim do dia.

— Sim, mas já estaremos de volta a Fazenda antes que os primeiros pingos de chuva caiam sobre nós.

—Sim.

—Senhorita... –ele parecia querer dizer algo a Ludmila. A jovem o olhou curiosa, esperando que continuasse a falar. – Eu... quer dizer...Nada.

Shura incitou seu cavalo para que aumentasse o ritmo e assim se distanciava de Ludmila. A jovem ficou olhando-o sem entender nada.

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Sounthapton

Milo não acompanhara o grupo para o piquenique, na verdade saira bem cedo da Fazenda para encontrar alguém em especial na pequena cidade de Sounthapton naquela manhã. De longe viu o amigo entrar na propriedade do Doutor Hopkins e sair acompanhado pela filha mais velha do médico, mas nada da pessoa que ele queria ver.

Deu um suspiro desanimado.

—Senhor Alessandros? –a voz jovial de Luna lhe causa uma agradável surpresa e se vira, sorrindo ao fitar o rosto inocente da jovem. –Veio procurar o Visconde? Ou está vigiando seu amigo e minha irmã?

—Senhorita Luna! Eu não a vi saindo... estava aqui esperando e... bem...

—Eu saí bem cedo de casa hoje, estava na casa de uma amiga, ajudando-a com o enxoval. Mas o que faz aqui?

—Eu...-ficando nervoso diante da menina. -Não estava vigiando o Kamus. Queria ter a oportunidade de conversar com a senhorita!

—Então veio me ver? –a jovem sorri graciosamente, deixando Milo sem fôlego por um instante.

—Parece que tenho notícias maravilhosas, senhorita Luna. -disse apontando com o olhar Kamus parado na calçada da residência da família de Luna.

— Gosto de notícias assim.

— O Visconde e sua irmã parecem bem mais próximos. Ao menos foi o que senti ao vê-los daqui, conversando em seu portão.

Luna deu um gritinho de felicidades, isso chama a atenção de Kamus que olhou ao redor, mas nada viu pois Milo havia puxado Luna para esconder-se ao seu lado, abraçando-a. A menina ficou corada até a raiz de seus cabelos loiros com a proximidade tão íntima. Quando o cavalheiro notou afastou-se visivelmente sem graça pelo constrangimento que a fez sentir.

— Perdão, senhorita! Agi por instinto! Não queria que ele nos visse.

— E-está tudo bem, milorde! –ainda vermelha.

— Fica ainda mais ... –Milo para de falar ao reconhecer um homem que descia a rua na direção dos arredores da cidade. – Miserável!

— Do que me chamou? –Luna pergunta, não acreditando na indelicadeza de Milo.

— Não! Não me refiro a senhorita! –a virou para que visse o homem de quem falava. – Sutclife!

— Quem? –ela não estava entendendo.

— O ser mais miserável que tive o desprazer de conhecer, senhorita! –disse dando um passo à frente e tencionando segui-lo. –Senhorita, tenho que ir agora. Esse homem estar aqui não pode ser coincidência! Ainda mais com a senhora Baronesa em visita à propriedade da Viscondessa.

—Mas...

Sem dar-lhes chances de falar ele se afasta, mas volta correndo e em seguida deposita um rápido, mas ardente beijo nos lábios rosados de Luna, pegando-a de surpresa com seu gesto. Em seguida ele se afasta sorrindo, dando uma piscada. Luna fica alguns segundos sem reação, apenas tocando os lábios com a ponta dos dedos, tentando em vão acalmar as batidas de seu coração.

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Em outro ponto da propriedade Rural do Visconde.

Com a cabeça repousada no peito musculoso de Saga, o homem que a fizera experimentar sensações nunca antes imaginada. Sentiu as mãos dele obrigando-a a se levantar e ele a encarava com os braços cruzados. Ele parecia incomodado com algo.

— A senhora... –Julie percebeu que suas coxas estavam manchadas de sangue. –A senhora nunca... quero dizer... Era virgem? Como pode estar casada com o barão e nunca ter sido sua mulher?

Lembrando que estava nua Julie segura o corpete que jazia próximo contra o corpo, evitando olhar para o rosto dele envergonhada.

— O falecido barão nunca me tocou.

Um toque em seu ombro a fez pular, e notou que Saga lhe estende um lenço para que se limpasse.

— Não consigo imaginar algo assim. Um homem não a desejar...

— Ele era gentil. –ela sorriu triste. –Amava a falecida esposa e foi fiel a ela mesmo depois de sua morte.

— Então porque se casou com ele?

— O barão era um bom amigo de meu avô materno. –disse se vestindo, permitindo que ele a ajudasse. –Meu pai infelizmente era um canalha, que mergulhou a sua família em dívidas pelo jogo e pela bebida. A única herança de minha mãe, uma pequena propriedade rural em Cheltenham foi parar nas mãos de credores e minha mãe... bem, ela morreu de desgosto. Quando o barão soube o fim da família de seu velho amigo veio me procurar.

Julie fechou os olhos e esfregou as têmporas, como se as lembranças fossem dolorosas demais.

— Ele me encontrou perdida entre os credores de meu pai, e prometeu cuidar de mim. –ela sorri triste. –Ao anunciar que era sua noiva, me dando a proteção de seu nome e título, aqueles homens horríveis me deixaram em paz. Ele sabia que meu pai se arruinaria de novo, e ele estava velho demais. Temia não estar por perto quando eu precisasse de novo. Então me propôs um acordo.

— Um casamento?

— Sim. Seria sua esposa apenas diante da sociedade e da lei, apenas isso. Algumas semanas depois que nos casamos meu pai foi morto numa briga por causa de bebidas e dívidas. –a lembrança a fez derramar uma lágrima que prontamente a enxugou com mão. –Eu... Ajudaria o barão com as filhas e quando elas tivessem seus futuros garantidos eu retornaria a Cheltenham, para a única propriedade que ele deixou em meu nome.

— Ele comprou a propriedade de volta dos credores de seu pai.

— Sim. –Julie encarou Saga. -Nunca fui uma esposa. E tinha a intenção de nunca me casar novamente! Nem de... experimentar a paixão que os livros sempre falavam que poderia haver entre um homem e uma mulher...-depois se afastou com a mão sobre a boca. –Por que, meu Deus? Por que eu permiti que nós...

Ele a abraçou com tanta força que a silenciou.

— Pare de se recriminar. Não fez nada de errado!

— Milorde... preciso ir embora! Antes que notem nossa longa ausência! –disse, desvencilhando dos seus braços com delicadeza, pegando suas roupas para começar a se vestir em seguida.

—Sim, tem razão.

— E milorde... –Saga a fitou, estranhando que ela permanecesse de costas para ele. –Vamos esquecer o que aconteceu aqui, por favor...

Falou com frieza e sem dizer mais nada, começou a andar para aumentar a distância entre ambos, deixando Saga atônito com suas palavras. Como assim, esquecer tudo o que houve? Isso jamais poderia prometer. Uma vez apenas era muito pouco. O grego já havia decidido que ainda precisava daquela mulher para saciar seu desejo.

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Ruínas Romanas.

Finalmente chegaram ao local onde fariam o piquenique. Reverendo Malloren desce da carroça fazendo comentários de que sua idade já não permitia mais certas aventuras, arrancando risadas de quem estava próximo, ao ser ajudado por Igor a descer.

Em outros tempos ele teria evitado esse passeio, mas queria arriscar realizar seu passatempo preferido, juntar jovens casais. Então começou a colocar em prática seus planos. Sem que os cavalheiros e as damas percebessem as reais intenções do reverendo, começaram a seguir suas instruções para organizarem os passeios e até mesmo a pescaria.

Giovanni, Aiolos, Aldebaran e Mu passaram a acompanhar Vanessa, Melissa, Agatha e Lucy ao lago para que se divertissem pescando. Kanon, Shaka, Afrodite ajudavam Amanda, Louise e Helena começavam a arrumar o local onde almoçariam mais tarde, à sombra de um frondoso carvalho.

Igor permanecia atento a tudo e a todos, vigiando com os olhos de uma águia, cada passo das damas que deveria proteger.

—Senhorita Ludmila. –o reverendo chama a distraída criada que prontamente vai até o idoso com a intenção de ajudá-lo em algo. –Não queria conhecer as ruínas romanas?

—Sim, mas o senhor não quer minha ajuda?

—Para ficar à sombra? –ele ri divertido. –Não, minha cara. Hoje você está desfrutando de um belo dia de passeio. Ouvi da senhorita Lucy que se seguir aquela trilha entre as árvores terá uma visão privilegiada da antiga estrada romana. São pedras agora, mas ainda assim é possível distinguir seu desenho.

—Talvez mais tarde, reverendo! Com licença. –a jovem sorri e em seguida vai fazer companhia a Louise que cuidava de fazer alguns sanduíches.

Malloren notou que Shura permanecia afastado de todos, braços cruzados e expressão taciturna. O oposto dos demais jovens que pareciam se divertir com os momentos de descontração.

—Este será mais difícil do que imagino. E não deveria. São casados. –Malloren suspira, falando consigo mesmo.

O restante do dia transcorria em profunda harmonia. Malloren satisfeito percebia que os casais aproveitavam o momento de descontração e se divertiam entre si, esquecendo os momentos de discussão que houveram no passado entre eles.

Ao menos a maioria esquecia. Houve um incidente com Giovanni “Máscara da Morte” envolvendo a senhorita Vanessa, motivado pelo excesso de vinho tomado pelo italiano, que resultou em um banho no lago providenciado pela dama e motivo de risos para todos.

Em um determinado momento, Igor permanecia como uma sombra próximo a senhorita Amanda, não permitindo que ela e Kanon tivessem momentos a sós, para a frustração de ambos.

Já o amigo de Kanon, o senhor Aiolos, parecia se divertir em discutir sobre os mais diversos assuntos com a jovem Melissa. Apesar da diferença de idade entre ambos, era possível reparar a admiração no olhar do rapaz para a sagacidade e inteligência da mais nova das Dawes. Talvez no futuro, imaginou o reverendo, eles fiquem mais próximos.

As horas passaram e o cansaço tomou conta do idoso após um almoço, onde os frustrados pretendentes a pescadores não conseguiram pegar uma truta sequer. O reverendo escolheu encostar no tronco da árvore e cochilou.

O vento soprou mais forte, fazendo o idoso despertar. Todos olhavam preocupados para os céus, com uma tempestade se formando a aproximar-se.

—É uma pena, mas teremos que voltar. –comentou Aldebaran, ajudando Agatha a se levantar.

—Decerto. –comentou Afrodite, olhando para Helena que corou. –Uma pena, estava uma tarde agradável!

—Não tão agradável! –resmungou Kanon, tendo Igor sempre perto como uma sombra.

Foi quando Louise notou a ausência de uma pessoa.

—A Ludmila? Onde está? –perguntou olhando ao redor.

—Ela disse que iria explorar a antiga estrada romana. Mas que não demoraria. –comentou Shaka preocupado.

—Devemos procura-la. –avisou Aiolos, quando um relâmpago cruzou os céus e o som estrondoso do trovão assustou as damas e os cavalos.

—Acho prudente levarmos as senhoritas de volta à Fazenda antes. –comentou Afrodite.

—Cáspita! E deixou a outra mulher sozinha aqui? –questionou Giovanni, percebendo a preocupação de Vanessa com a amiga. –Eu vou procura-la e vocês levam as mulheres e os velhos pra casa.

—Velho? –questionou Igor apontando para si mesmo. –Senhor, devo avisá-lo que sou responsável pela jovem Ludmila e irei ajudar nas buscas.

—Que busca? Ela deve estar a uns três quilômetros daqui! –refutou o italiano.

O tempo tornou-se mais assustador. Sem dizer nada, Shura pegou as rédeas de seu garanhão negro e montou, ditando ordens de modo que não permitia qualquer tipo de réplica da parte de seus amigos.

—Eu vou atrás dela. Vão para a fazenda. Nos veremos mais tarde.

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Nos estábulos da fazenda da família Chanttél.

Apesar de estar escovando os pelos de um velho cavalo, a mente de Ikki estava distante naquele momento. Ora pensava em seu dever com o Imperador e com sua família, de como era necessário cumprir logo sua missão e salvar a vida de seu irmão mais novo e recuperar a honra dos Amamiyas. Ora sua mente o levava a bela dama inglesa que o havia encantado com seu sorriso, sua gentileza e coragem.

Embora soubesse que não havia futuro algum para ambos, não conseguia deixar de imaginar como seria desfrutar de uma vida ao lado de Carla. Certamente não poderia ser em solo inglês a realização desse sonho, uma vez que jamais veriam com bons olhos um relacionamento de uma dama de família nobre do ocidente com um oriental, mesmo pertencente a uma poderosa família no Japão.

O preconceito enraizado naquela cultura falaria mais alto.

Dohko parecia que era assolado pelos mesmos pensamentos, enquanto permanecia deitado em um monte de feno. O chinês havia dito que estava traçando os próximos passos de um plano para entrar na pousada onde Sutclife estava hospedado, mas cada ideia não parecia satisfazer ao exigente japonês.

—Um tostão pelos seus pensamentos.

Aquela voz suave, que pertencia a dona de seus pensamentos, o sobressaltou fazendo o japonês assustar o velho animal, mas logo o acalmou com carinhos e palavras doces, acompanhado por Carla que o ajudava. Ao seu lado, Inis permanecia parada, com um tipo de diário em suas mãos, olhando para Dohko.

—Desculpe.

—Não há necessidade de se desculpar, Carla-dono. O que fazem aqui? Achei que estariam no passeio!

—Sinceramente, odeio piqueniques! –disse Inis encostando na parede. –Se ao menos fosse uma tarde de carteado.

—Um dia falaremos de seu vício por cartas, senhorita! -Dohko sorriu, levantando-se de onde estava e caminhando até elas.

—Não vi motivos para ir. -disse Carla, acariciando o pescoço do cavalo. -No entanto, vejo motivos para permanecer aqui com você. –Ikki ficou corado com aquelas palavras. —Temos que achar o tesouro do seu imperador, não temos?

—Ah, sim! E não, não temos. –ela ia falar algo mas Ikki a calou. –Eu que tenho que encontrar o tesouro do meu imperador. A senhorita não vai se envolver mais com essa história. Eu devia ter me calado sobre ontem com você e sua irmã.

—Não os deixaríamos em paz até nos contar tudo. –ela sorri e Ikki teve que concordar em pensamento. –Eu posso ajudar! Meu pai tinha anotado todo um inventário de suas viagens, eu o ajudava com isso. Lembro que não havia nada sobre espadas escrito nelas.

—Então é inútil!

—Seu amigo é muito impaciente. –disse Inis, entregando o caderno a Dohko. –Mas encontramos algo nos registros do meu pai. Carla é muito sentimental e sempre carrega o diário de viagem de papai com ela.

—Gosto de ler sobre as viagens dele. Me faz sentir que ele está perto. –Carla diz com uma pontada de tristeza, mas pega o diário de Dohko que parecia não saber o que procurar nele. –Meu pai escreve aqui sobre o retorno dele do Japão.

Ikki pareceu mais interessado.

—Conte mais.

—Fala dos tesouros que trouxe, dos presentes que ganhou e de como Sutclife foi um péssimo companheiro de viagem. –comentou Inis. –O que não é uma surpresa.

—Ele descreve um baú de madeira nobre e com entalhes bem feitos a mão. Elogiou os artesões japoneses pelo trabalho. –continuou Carla.

—E? –Ikki pareceu não entender.

—Não havia nenhum outro objeto grande o suficiente para esconder uma espada. –comentou Inis.

—A não ser o baú. –concluiu Dohko. –Onde ele está?

—Lembro que ele foi vendido em leilão após a morte do papai. –explicou Carla. –O dinheiro foi usado para ajudar a pagar dívidas deixadas pelo Sutclife que tentou roubar os negócios de nossa família.

—Comprado pela Viscondessa. –completou Inis com alegria. –Agora... onde em suas dezenas de propriedades espalhadas pela Inglaterra ou França ela o levou?

Os dois se entreolharam sentindo o desanimo tomando conta de seus espíritos.

—Pelo amor de Deus! –exclamou Inis. –Não perceberam que estou exultante? Está bem aqui!

Dentro da casa, Edgard consegue entrar nos aposentos da Viscondessa se aproveitando que todos estavam na varanda, aproveitando a tarde após o almoço e vê o objeto que tanto procurava e sorri. Precisava avisar ao seu chefe imediatamente.

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Em algum ponto, longe da Fazenda da família Chanttél.

E enquanto punha o cavalo em marcha, Ludmila pensava na atitude do senhor Mendonza durante o passeio. Ele parecia ansioso, inquieto, como se quisesse lhe contar algo e no entanto não teve a oportunidade para tanto.

Lembrou-se de sua gentileza em no baile a protegendo daquele rapaz inconveniente. Será que...

— De modo algum!

Balançou a cabeça em negativa e com a mente fervilhando com tais pensamentos incitou o cavalo a continuar a cavalgada. Foi quando notou os céus e a proximidade de uma tempestade, ficando tensa. Olhou ao redor e percebeu que estava bem longe da fazenda ou dos demais.

— Não devia ter me afastado para cavalgar sozinha... –gemeu, respirando com dificuldade. –Não vamos chegar a tempo de evitar a chuva.

Viu o cruzamento na estrada e lembrou de ter ouvido a senhorita Lucy falar de propriedades vazias naquela direção e que era um atalho até Southampton. Talvez um abrigo estivesse próximo, apesar de ter percebido que teria que ir na direção da tempestade. Um trovão a sobressaltou e o cavalo se moveu assustado, com dificuldade tentou acalmá-lo.

Assim que ele se acalmou incitou o cavalo a ir em frente. Ansioso, o animal ficou em marcha e a levou pelos campos dourados, cada vez mais escuros à medida que as nuvens se faziam mais densas. Seguia pensando no belo cavalheiro espanhol quando chegou ao bosque que tornava o ambiente mais escuro e assustador ainda, devido aos ventos que se tornavam mais fortes e agitavam a vegetação violentamente.

O cavalo se agitava e ela mantinha tensas as rédeas, forçando-o a seguir adiante a passo mais lento. De repente o cavalo se agitou com os ventos fantasmagóricos e os batimentos do coração da jovem se aceleraram e ela obrigou o cavalo a parar. O animal ficou imóvel, trêmulo. Ela não conseguia identificar qual caminho deveria seguir até a pequena cidade.

— Estamos perdidos? –sussurrou, já sentindo medo.

Ela percebeu que o cavalo se recusava a sair do lugar. Desceu com a intenção de puxar as rédeas e levá-lo para algum abrigo. Os primeiros pingos de água tocaram em seu rosto, logo a chuva forte cairia sem piedade sobre eles.

Sua mente era um vazio de inquietação, que de repente se encheu com um ruído de cascos. Primeiro pensou que estava sonhando, mas o ruído soava cada vez mais forte e próximo, estavam cada vez mais perto.

Virou-se. O estouro do trovão a envolveu. Elevando a cabeça, contemplou um grande garanhão negro que relinchou e se empinou diante dela, com seus cascos de ferro no ar a poucos centímetros de sua cabeça.

O garanhão posou as patas no chão e não a alcançou por um palmo e meio. Furioso, o animal atirou das rédeas e tentou golpeá-la com a cabeça. Não conseguindo, tentou empinar-se de novo.

Os braços do cavaleiro se esticaram e o homem pressionou suas longas coxas no lado do cavalo. Durante um minuto que pareceu eterno, o homem e a besta lutaram, até que o animal reconheceu a superioridade do cavaleiro com um bufo trêmulo, se acalmou.

—Santo Deus! –exclamou com medo do animal.

—Por todos os demônios, o que faz aqui, mulher? –foi a resposta ríspida que recebera.

Com o coração disparado, elevou o olhar para o rosto do cavaleiro e seus olhos se encontraram.

—S-senhor Shura? –perguntou trêmula.

Continua...


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