Traker aperta seu celular na mão.

As coisas estão tomando rumos que jamais pensaria que tomariam.

Está surpreso por terem conseguido desarmar mais uma bomba não imaginava que tivessem ficado tão bons desde a ultima vez que topara com todos.

Sim, os quatro tinham passado por sua vida em momentos diferentes que escolhera.

Tal como sempre fazia quando queria jogar um pouco.

Pessoas são meras peças para si.

Seres sem qualquer vontade própria ou coisa parecida.

Sua mente vagueia por lembranças distorcidas.

Queria apagá-las, mas mesmo que tente não consegue se livrar delas.

Pede uma dose de uísque duplo.

A noite caia e isso lhe deixa bastante alegre.

Sua pequena brincadeira ganha novos artifícios.

As frágeis peças precisam conhecer o significado da palavra desespero.

A mulher coloca seu copo na mesa e depois sai rebolando.

Traker a olha de soslaio.

Nada atraente para si.

Pega seu palmtop.

Tinham errado dessa vez e isso lhes custou um grave preço.

Só que agora isso quase nem o importava muito.

Seu verdadeiro plano ainda está longe de ser destruído por apenas quatro pessoas que sequer notam que estão a caminho da morte.

Antes mesmo de completarem as quatro bombas, estariam dormindo tão profundamente que não se importariam com a destruição de Aldebaran.

O caos se instalaria e Traker apareceria para assumir o controle ordenando uma nova organização para os seres que ainda não sabe se poderiam ser considerados humanos.

Traker leva o copo à boca, sentindo um gosto amargo povoar sua garganta.

Logo depois vê um casal entrar no bar sorrindo.

Poderia muito bem deixar tudo de lado e curtir o que resta de seus anos antes que a leucemia tomasse as rédeas de sua mente e de seu corpo.

Ele sorri com escárnio.

Que estupidez.

Nunca faria algo do tipo.

Desfrutara o amor de Daphe com a mesma ingenuidade que ela depositou em si.

Compartilhara com Will as diversas idéias de como deveria ser o mundo, sobre as mais variadas ciências que existem na terra.

Trabalhara com Hirako por tempo suficiente para saber que frieza e perfeição deveriam caminhar juntos.

Topara sem querer com Kurt  que não imaginava que fosse ter um cérebro tão interessante.

Suspira enquanto seu dedo faz um circulo na borda do corpo.

É tão complicado se manter lúcido e frio diante de um dever que teve que pagar um preço tão alto.

Traker sorve o resto do uísque de seu copo em único gole.

Chega de pensar em coisas tão banais.

Deixa uma nota de cinqüenta dólares debaixo do copo e sai ajeitando seu casaco.

À noite de Nova York está convidativa demais para seu gosto.

Pega seu celular.

-Drew – sussurra rapidamente enquanto entra em seu Audi.

Escuta apenas um toque e logo depois a voz grave do assassino que deveria estar fazendo seu trabalho agora.

-Mudança de planos – diz ele serio – Mate-a quando tiver a chance.

-Ou seja, agora – diz Drew tossindo.

-Se é assim, que seja – diz Traker dando de ombros.

Ouvi então a risada sádica dele e logo depois o barulho de uma arma sendo engatilhada.

-Trate de fazer o trabalho direito – instiga Traker – Não quero que cometa o mesmo erro que seu parceiro.

-Um erro que custou a vida dele, mas não custara a minha – refleti Drew.

-Se é isso que pensa, vá em frente – diz Traker – Quero apenas saber de resultados.

Nisso desliga o celular.

Um jogo sem barreiras.