Eu posso tentar te esquecer,

Mas voce sempre será

A onda que me arrasta

Que me leva pro seu mar

–Você sempre será, Marjorie Estiano

Forget You

Seus olhos azuis percorreram a rua, onde no fim erguia-se imponente uma velha casa. A mesma velha casa de sempre. A mesma casa onde, tantos anos antes, ela brincara com o coração dos dois Salvatore. A mesma casa onde, quase um século e meio atrás, ela destruíra a vida dos irmãos. Não se orgulhava disso.

Na realidade, ela, tão fútil e mimada, jamais orgulhara-se dos olhares que as damas que trabalhavam na casa lhe lançavam. Não gostava da maneira como se entreolhavam e, apontando para ela com os olhos, sussurravam "é ela". Simplesmente não gostava dos olhares críticos que todas aquelas mulheres lançavam a seus belos cabelos dourados e seu decote ousado, como se pensassem "mas que oferecida!".

Tampouco orgulhava-se da dor que infligira aos irmãos. Da dor que infligira a Damon, mesma dor que o impulsionara a procurá-la durante tanto tempo. Mesma dor que fizera ele acreditar em promessas vazias desprovidadas de emoção. Que o fizera acreditar em mentiras. Aquilo a incomodava pois, apesar de tanto tempo, ela ainda o amava. Talvez fosse orgulhosa e convencida demais para ir atrás dele, mas o amava.

Mesmo que acreditassem que ela não estava nem aí. Mesmo que o desiludissem dizendo que ela jamais iria atrás dele, porque ela não se importava. Mesmo que agora ele a odiasse. Ela o amava. Ainda. Com todo o resquício de humanidade que seu coração assassino possuía, com toda a humanidade que lhe restara em meio aos instintos selvagens. Mesmo que vampiros não pudessem amar, mesmo que vampiros fossem cruéis e não sentissem... Ela o amava.

E nada mudaria aquilo. Nem mesmo Anna, ou Pearl, ou Isobel, ou Alaric, ou Stefan, ou Emily... Nem mesmo o próprio Damon.

Fechando os olhos devido às lágrimas, ela encolheu o corpo delicado enquanto se deixava escorregar pela parede de madeira do casarão. Olhara pela janela segundos antes e vira o sofrimento de Damon. E aquilo doera. Doera como se centenas de facas cegas perfurassem seu peito. Como se a tivessem colocado no fogo. Como verbena em seu organismo. Estremeceu ao ouvir passos, e, rapidamente, embrenhou-se nas sombras.

Logo, a porta foi aberta, revelando o Salvatore mais velho. Os mesmos cabelos escuros, os mesmos olhos de um negror sem igual. Viu ele vagar os olhos pela rua, como se procurasse algo. Sabia, pela expressão desconfiada no rosto dele, que ele se sentia observado. Mas ela simplesmente não conseguia sair do lugar. Então balançou a cabeça, tentando clarear os pensamentos e isso atraiu a atenção do vampiro. Ele virou a cabeça com uma rapidez impressionante e seus olhos negros como a noite cruzaram com os azul-elétrico dela. Em um arregalar de olhos, percebera a pequena diferença que havia no olhar dele. Negros como sempre, mas não eram calorosos. Era um negror frio, como se sua alma fosse a de um assassino. O único brilho em seus olhos era o ódio. Desesperada, percebendo ter sido vista, disparou noite adentro.

–Eu não te esquecerei essa noite Katherine. –ele sussurrou e ela sabia que ele sabia que ela ouvia– E mesmo que você tente, não pode fugir de mim. Eu irei atrás de você. E quando eu a alcançar eu te matarei. Porque...

Ele suspirou, cortando a frase no meio. Continuou:

–...se eu não posso esquecer você... Não é razoável que eu tenha uma vingança digna?

Um soluço escapou pelos lábios de Katherine e ela sussurrou, implorando ao vento para que carregasse suas palavras até ele:

–Também não te esquecerei essa noite, Damon. Se não esqueci em tantas décadas, por qual motivo haveria de esquecer essa noite?

Então, ela soltou um suspiro e continuou:

–Mate-me então. Peço-lhe que me mate, pois eu te amo, Damon. Mesmo que isso não signifique para você, significa muito para mim e, se você for feliz tendo me matado, faça-o. Eu não me importo.