O Poder do Sangue escrita por Ryoko_chan


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Fiz para um concurso de fics de RPG, por isso não tem Lemon, sorry.... ~_~
(Mas pelo menos eu ganhei um livro =D)



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-Gostaria de agradecer-vos por me receber, meu príncipe. –O pequeno vampiro falou com sua costumeira voz calma e melodiosa, encantadora como sua aparência, pode-se dizer. O corpo delicado e delgado, face de traços finos e andrógenos. Os delicados cabelos loiros combinavam com a palidez mórbida de sua pele, e o azul sem vida de seus olhos.

-Eu que agradeço por sua tão agradável presença, meu caro Bernard. Mas o que o traz até mim? –O príncipe falava de maneira majestosa e teatral, um verdadeiro membro da realeza. Os compridos e lisos cabelos longos caiam muito bem com sua bonita face e o sorriso elegante, e conferindo-lhe a digna aparência de um nobre. Henri era seu nome, e não poderia haver nome mais adequado para o príncipe poderoso. Ele dominava toda a região do reino da França, manipulando os reis que passavam, e mantendo os senhores feudais sob seu controle. Era um ancião temido por seu poder e sua influência, que se estendia por partes da Europa ocidental e até setores mais corruptos da Igreja.

-Um pedido, meu príncipe. Quero autorização para ter uma progênie.

O sorriso do príncipe pareceu se desfazer por um instante, mas logo foi recomposto.

-Imagino que saibas de nosso problema com a Igreja... Estamos cheios de caçadores de bruxas vagando de feudo em feudo... Uma criança a mais pode ser perigosa à manutenção da Máscara, uma vez que costumam ser tão descuidados... Por que não simplesmente crias um carniçal? -Fez pouco caso, mas a verdade é que aquele pedido o incomodara.

-Estou ciente disso, meu príncipe. –Estava, de fato. Não pensou que seria fácil ter o que queria, mas foi preparado para fazer o príncipe conceder-lhe aquela permissão. -Mas ainda assim peço que consideres meu caso. Por causa de minha aparência, tenho muitas dificuldades, não só para caçar, mas também para me socializar com os outros membros, inclusive os de meu clã. Sofro muito com minha solidão, e gostaria de alguém para me acompanhar pela eternidade, e não apenas um carniçal sem cérebro que virará pó com o passar sem fim dos anos. Desses já me bastam os que tenho.

-Não entendo o porquê de sentires solidão. Tua linhagem invejável, e tens a beleza que os Toreadores tanto apreciam, e sei que és um excelente musicista. Dizem que nunca se ouviu alguém toca vielle como tu... Todos sabem que tu tens muitos admiradores. –A fala dele era um pouco maliciosa, sendo um tanto desagradável de se ouvir. –Além disso, poderias vir morar em meu castelo. Minhas portas estão abertas para você.

-Desculpe-me recusar tão gentil e generosa oferta, mas não me sentiria a vontade vivendo em outro lugar senão meu castelo. Ele tem lembranças às quais sou muito apegado. E pode ser verdade que tenho admiradores, mas com este corpo infantil, não tenho como sair livremente pelas noites, aproveitando minha imortalidade como os demais, indo às raras festas e eventos sociais. Estou destinado a uma vida patética e reclusa em meu refúgio, escrevendo livros e fazendo musica. Gostaria de ter ao menos uma companhia, entendes, meu príncipe? –O vampiro utilizava-se de todo seu charme e capacidade de fascinar que os anos e aquele sangue amaldiçoado lhe deram.

-Compreendo. Deve ser cruel ser abraçado em tão tenra idade. Seja sincero comigo, não tens ódio de teu senhor por não ter deixado teu corpo crescer? –Os olhos daquele vampiro pareciam brilhar um pouco.

-Oh, eu nunca teria raiva de meu antigo senhor... Von Forngrants foi sempre muito bom comigo. –O pequeno sentiu certa dor ao falar o nome do antigo senhor, pelo qual ele parecia ter um amor verdadeiro, apesar de isso provavelmente ser impossível para alguém com o coração e alma definhados pela maldição. Mesmo que a morte do seu mentor tivesse desfeito o laço de sangue que mantinham, parecia haver algo mais, que acompanharia Bernard pelo resto de sua não-vida, e ele se perguntava se isso não poderia ser amor de fato... Ou apenas a solidão acumulada fazendo-o imaginar absurdos. –Eu morava em um pobre orfanato, mas mesmo assim ele era capaz de sair da dignidade da alta-sociedade para pintar quadros meus. Dizem ser quadros muito belos, e eu sinto muita angustia por não ser capaz de vê-los. Oh, desculpe-me por começar a falar de assuntos assim, é que eu apenas gosto de conversar, embora não tenha muitas oportunidades. –Fingiu-se arrependido, mas a verdade é que estava satisfeito ao notar a mudança na aura do príncipe. Uma pálida inveja, e uma sutil raiva mostravam o que o príncipe pensava a respeito do laço que o jovem ainda tinha pelo seu falecido senhor. Isso só confirmava o que Bernard já sabia: o príncipe era um dos seus adoradores, e isso fazia seu ego inflar-se de maneira exuberante.

-Oh, quer dizer que tu não tens sangue nobre?
-Sinto decepcionar-lhe, mas eu apenas herdei o status de meu antigo senhor.

-Não me decepcionastes. –A verdade é que ele já sabia. Ele sabia muitas coisas a respeito daquele pequeno vampiro. Um Ventrue como ele dava muita importância à nobreza, mas no caso de Bernard ele não pareceu se importar muito. Toda vez que via aquela face inocente do pequeno Toreador, ele tinha os mais perversos pensamentos, uma vontade louca de corromper. –Tu tens a aparência e dignidade de um nobre, portanto tens meu apreço. Prossiga com tua história.

-Meu antigo senhor abraçou-me para salvar-me da morte iminente causada pela peste. Seu abraço foi gentil, e seus ensinamentos preciosos. Serei eternamente grato a ele. -As cores da aura do príncipe se intensificaram um pouco mais. -Foi uma grande perda para mim quando ele foi morto pelo Santo Oficio... Desde então convivo com a solidão.

-Compreendo seus motivos para querer uma progênie. Mas diga, a quem queres abraçar?

-Meu criado, um homem muito fiel e discreto, que me ajuda em muitas coisas. É um talentoso pintor, segundo alguns me afirmaram, além de ser muito belo.

-Não negas mesmo ser de teu clã... Toreadores e suas paixões... –Falou com desdém, mas Bernard nem se importou, contanto que conseguisse o que queria, engoliria aquelas palavras, pois sabia que no fundo elas eram pura inveja. –Mas como podes saber que ele é belo?

-Eu sinto a beleza dele, meu senhor, assim como sinto a vossa. –Resolveu agradá-lo um pouco.

Mas a verdade é que o orgulho daquele príncipe havia sido ferido, pois o jovem vampiro nunca se mostrara interessado por alguém desde a morte de seu senhor, mas estava agora prestes a criar um companheiro para si.

-Tudo bem, dou-lhe permissão para ter sua cria... Apenas não traia minha confiança.

-Jamais, meu príncipe.

-Pode retirar-te.

-Muito obrigado. –Disse satisfeito por ter conseguido o que queria.

***

Do lado de fora daquele castelo Jean o esperava. Bernard estava aliviado ao ter certeza de que seu servo estava seguro. Mesmo sabendo que naquele Elísio não era permitido se alimentar, temia pelo comportamento de alguns membros que vinham visitar o príncipe, ou que viviam naquele castelo.

-Jean, venha aqui, por favor. –O vampiro o chamou sorrindo.

-O senhor parece feliz. –O criado constatou. Ele era de fato muito belo. Alto e forte, gestos e fala elegantes, apesar de não passar de um servo. Bernard fez questão de ensinar-lhe etiqueta, a ler e escrever, e a apreciar as artes, sendo este mesmo um artista nato na pintura.

Desde que o conheceu, há três anos, Bernard planejava transformar Jean em um vampiro como ele. Ele se sentia atraído pelo servo, e este por sua vez se mostrara fiel e carinhoso, tudo o que desejava ter como companheiro.

-Sim, e estou, de fato. Tive uma ótima resposta. Podemos voltar casa agora.

-Sim senhor. –O criado então cedeu seu braço para que Bernard pegasse, guiando-o até a carruagem.

Embora o vampiro tivesse uma percepção sobre-humana, ele apreciava os cuidados de Jean. Eles o faziam se sentir humano novamente.
Mas em breve ele perderia boa parte daqueles cuidados que normalmente eram dirigidos àquela criança cega que ele aparentava ser; em troca, ganharia um companheiro para aplacar sua solidão pelos séculos que estavam por vir.

A viagem demoraria uma noite e um dia, e durante essa noite, Bernard identificou a aura de um vampiro na estrada, como se esperasse por ele. Talvez fosse uma emboscada, então era melhor mostrar-se logo e evitar maiores problemas.

-Pare a carruagem! –Falou mansamente, saindo em seguida, dispensando a ajuda de qualquer dos servos que o acompanhavam. –Jean, leve-me até essa pessoa e deixe-nos conversar.

O servo obedeceu, sem entender como seu mestre sabia que tinha alguém no caminho. Ao aproximar-se daquele que atrapalhava o caminho, Jean notou que vestia um capuz que escondia seu rosto. Seu corpo era visivelmente deformado, mesmo sendo escondido pelas vestes, e o cheiro proveniente dele não era nada bom. Parecia ser algum indigente, expulso de qualquer lugar onde tenha ido, ou quem sabe um bandido.

-Pode deixar-nos, Jean.

-Senhor, tem certeza? Não me parece seguro. –Ele cochichou para seu mestre.

Jean estava preocupado com a segurança dele. A verdade é que aquele vassalo tinha sentimentos profundos por aquele senhor. Era uma gratidão verdadeira por ter sido salvo por ele, e um sincero sentimento de carinho.

-Não se preocupe, sei o que faço.

-Sim senhor. -Retirou-se de perto deles, desconfiado.

-Oh senhor Bernard, então esse é o criadozinho que você quer abraçar... –Falou sarcástico, com sua voz grotesca e gutural.

-Como sabes? –Perguntou sem demonstrar sua surpresa. Pelo cheiro daquele ser, pode notar ser um Nosferatu, o que já lhe trazia antipatia. O inicio daquela conversa já não fora bom.

-Eu sei de muitas coisas. Não sou como os de teu clã que falam de meras fofocas. Tenho fontes de informações amplas...

-Noto pelo teu fedor que não és em nada parecido com os de meu clã. –Falou orgulhoso, provocando o monstro.

-Olha seu fresquinho, deveria ser mais cuidadoso com suas palavras. Minhas mãos podem facilmente quebrar esse teu pescocinho de menina, aí.

-Por que não tentas, então? –Desafiou.

-Humf. Porque não faz parte dos meus planos. Eu ia te dar umas informações muito preciosas, mas por ser tão mal-criado, merece um sofrimento... Mesmo tendo a idade que tem, parece uma criança da noite ainda, que não sabe nada sobre como as coisas acontecem de fato. Não sei se isso é patético, ou se seria pior se tu fosse como os outros degenerados do teu clã... Só vou dar duas dicas: Nem sempre usar esse teu charme para conseguir o queres com o aquele principezinho de merda é bom negócio. Ele é mais perigoso que tu imagina, e puxar o saco dele não é garantia que conseguir o que queres. E outra, tome muito cuidado com tua cria.

E assim sumiu diante dos olhos de todos, de uma maneira tão surpreendente que para os mortais, parecia que ele nunca havia estado lá.

Bernard sentiu muita raiva. Quem aquela besta desprezível pensava que era para falar com ele daquela maneira? Ah, ele certamente se vingaria daquele Nosferatu.

Seguiram o caminho, e depois do sol nascer e se por novamente, chegaram ao belo castelo que um dia pertencera a Von Forngrants. Aquele era um lugar especial para Bernard. Ele guardava muitas lembranças, cheiros e sons. Naquelas paredes repousavam os quadros que seu senhor pintara, e naqueles quartos estavam as camas que foram testemunhas de suas luxuriantes e infindáveis noites de paixão. Depois da morte de seu criador, Bernard assumiu o posto de Senhor Feudal. Era um feudo pequeno, mas lhe conferia status e sobrevivência. Tinha seu próprio refúgio e seu próprio rebanho crescendo lá, e era isso o que importava, além de um castelo imponente para impressionar a todos, é claro.

-Jean, acompanhe-me até meu quarto, sim? –Era a hora. Ele finalmente teria a companhia que há tempos desejava.

-Claro, senhor.

O quarto era luxuoso, algo muito raro naquela época.

As cortinas e estofados eram todos em veludo. A cama era grande e confortável, coberta por lençóis de seda negra que inspiravam a luxúria. Velas iluminavam o local -embora fossem totalmente dispensáveis para Bernard, ele sabia que Jean necessitava delas.

-Jean, meu caro. O assunto que tenho a tratar contigo é muito sério, por isso quero que acredites em todas minhas palavras, pois eu serei sincero contigo. Também não quero que sintas medo, pois eu gosto ti, e não quero te fazer mal nenhum. Esqueças que sou teu senhor, ou que um dia salvei tua vida, pois não quero nada influenciando em tua decisão, sim?
-Sim senhor. –Disse um pouco desconfortável, pois a seriedade de Bernard sempre o incomodara. Como podia alguém tão novo falar palavras como aquelas? O conhecimento de Bernard e seu estilo de vida em nada condiziam com sua aparência, e o servo sempre estranhou aquilo.

-Sei que estás te sentindo desconfortável, mas tente relaxar, sim? Estou ciente de que também gostas de mim mais do que apenas como seu senhor. E sei que muitas coisas em meu comportamento te incomodam, assim como te incomoda muito o fato de eu não tem mudado de aparência desde que nos conhecemos. –Jean abriu a boca para falar algo, mas Bernard prosseguiu. – Como sei disso? Simplesmente ‘leio’ a tua mente, simples assim, espero apenas que não te ofendas por minha invasão de privacidade, mas é uma questão de sobrevivência para mim. –Respondeu a pergunta que Gerard, antes mesmo dela ser feita, deixando o servo atônito. - Geralmente quando descubro que meus servos estão começando a achar essas coisas de mim, livro-me deles. Mas contigo foi diferente, Jean. Não consegui me livrar de ti, pois meu desejo é ficar para sempre do teu lado. Tu és especial para mim. És belo, agradável, gentil e doce, além de ser fiel e de sempre me fazer companhia. Diga, Jean, também sou especial para ti?

-Sim... O senhor foi o único que me ajudou na vida, por isso sou muito grato... Também és gentil comigo, sábio, e muito bonito... –Dizia envergonhado e um pouco apavorado.

-E será que tua opinião sobre mim mudaria se eu dissesse que sou um vampiro?

O choque era inevitável, mas a reação foi menos energética do se esperaria.

-Bem... Isso explica muita coisa, como tua aversão ao sol... E o fato do senhor não ter crescido...

-Estás com medo? –O vampiro perguntou, sabendo que a resposta era ‘sim’, uma vez que podia sentir na aura dele seu pavor.

-Um pouco, mas o senhor disse que não quer me fazer mal, então acho que não vais me matar.

-Não mesmo, nunca, pois o que quero é a tua companhia, e de preferência para toda a eternidade. Entendes, Jean? Estou te oferecendo a minha maldição, pois não quero te ver morrer como todos os outros que passaram por minha existência... Não quero que o tempo te tire de mim. Será que você está disposto a compartilhar a eternidade comigo, Jean?

O servo pensou um pouco. A idéia o aterrorizava. A própria presença de um vampiro era assustadora, que dirá ser transformado em um deles, ser amaldiçoado, ter que esconder esse terrível segredo de todos... E nunca mais pintar o por do Sol...

Mas olhou para Bernard, e... Como ele era lindo. Jean não conseguia evitar sentir-se atraído por aquele vampiro. Seu rosto possuía toda a encantadora delicadeza e inocência de uma criança, mas eu gestos e fala tinham uma graça sedutora, quase indecente de tão provocante.
A verdade é que há anos Jean desejava seu mestre, mesmo sabendo que aquilo era pecado, e que mesmo se não fosse, eram homens e de classes diferentes. Tinha se conformado com a idéia de nunca tê-lo, mas agora surgia essa chance, e ainda mais junto do presente tão almejado pelos homens, que era a imortalidade! Seu desejo, amor e ambição eram mais fortes que seu medo.

-Eu aceito, senhor... –Falou incerto, um tanto apavorado, mas parecia decidido.

-Ótimo. –O vampiro sorriu, satisfeito com a resposta que recebera. Mesmo que Jean não tivesse aceitado, ele o faria aceitar. Mas o fato de seu criado querer espontaneamente ficar eternamente ao seu lado, já lhe deixava muito mais contente.

Bernard levantou-se e pôs-se de frente a Jean, sentando-se em seu colo de forma sensual, e se debruçando sobre ele em seguida, fazendo-o se deitar.

-Diga Jean, você me ama? –Perguntou sussurrando em seu ouvido, um sussurro sedutor.

-Sim, amo.

-Que bom, não queria que teus sentimentos por mim fossem apenas por causa de um laço de sangue. Prometa que vais me amar para sempre, e que será sempre meu e só meu.

-Eu prometo.

-Que bom. Então feche seus olhos, meu querido.

Jean obedeceu, e em seguida pôde sentir o Beijo de seu senhor rasgando-lhe a pele e delicadamente sorvendo-lhe o sangue. Aquilo lhe provocava um intenso prazer, jamais experimentado antes. Era diferente de tudo que já havia vivenciado.

Bernard também aproveitava o momento. Era a primeira vez que tomava o sangue de Jean, pois havia prometido a si mesmo que só experimentaria o sangue de seu ‘favorito’ quando fosse dar-lhe o Abraço. Por ser tão especial, e por ter esperado tanto tempo para provar daquele sangue, ele parecia diferente dos demais, muito mais deleitoso que qualquer outro vitae humano que tenha provado.

E quando a ultima gota foi retirada, o vampiro apressou-se em cortar os próprios lábios com seus afiados caninos, beijando em seguida os lábios do rapaz que já se encontrava inconsciente, deixando as gotas de seu sangue escorrerem pela boca até a garganta de seu futuro ‘filho’.

Chamou um carniçal e o ordenou que fosse em busca de alimento para a primeira Fome de Jean, e rápido, pois ele logo acordaria.

Ficou então apenas observando Jean retorcer-se e dor enquanto cada uma de suas células morriam. O Abraço era um processo muito intenso e doloroso, mas os gemidos incontidos de Jean indicavam que ele também estava sentindo algum tipo prazer voluptuoso em seu renascimento.

“É um pervertido como eu.” –Pensou divertido.

Depois de algum tempo, tudo cessou e a nova criança da noite abriu os olhos e contemplou a realidade de uma maneira totalmente diferente. Para aquele recém-criado vampiro, o mundo havia mudado completamente, e ele se sentia perdido, aterrorizado e faminto.

-Eu tenho muita coisa para te ensinar. –O pequeno sorriu, já tendo em mãos uma jovem adormecida que seria a primeira refeição de seu progênito.

***

Apenas uma semana desde seu abraço, e uma tragédia daquelas já estava acontecendo com ele? Como pudera ser tão imprudente a ponto de deixar Jean sozinho? Era óbvio que ele ainda não tinha como se defender sozinho de algum outro vampiro.

Bernard corria furiosamente atrás de uma vampira guiado pela aura dela. Ela fugia com Jean desacordado no colo, após ter sido surpreendida tentando atacando-o. Definitivamente mataria aquela que tivera a audácia de invadir seu domínio enquanto caçava, e ainda por cima atacar sua querida criança.

Utilizando-se de toda sua velocidade, ele conseguiu alcançar e parar bem na frente daquela quase matou seu filho.

Vendo que não tinha mesmo como fugir, ela resolveu preparar-se para a batalha, fazendo suas unhas transformarem-se em afiadas e perigosas garras. Seu olhar selvagem e sua metamorfose deixavam evidente que se tratava de uma Gangrel.

Ela investiu para cima de Bernard, mas esse não se moveu. As garras acertaram-lhe nos ombros, causando um grave ferimento. Mas ele parecia não se importar, apenas permaneceu sério, e com uma voz tão fria e aterrorizante, que fazia ela se sentir como se tivesse prestes a morrer novamente –e estava de fato-, ele falou:

-Prepara-te para a morte final.

Aquela simples frase, aliada à expressão séria e cheia de ódio que o vampiro mantinha, continham todo o poder de intimidação de Bernard, e com um medo miserável, a vampira caiu sentada no chão, tentado arrastar-se para longe do Toreador.

Bernard deu um passo na direção dela, e a vampira, desesperada para fugir, transformou-se em um morcego. Enquanto ela batia vigorosamente as asas na tentativa de ganhar altitude, o vampiro irritado apenas tirou uma adaga que mantinha escondida em suas roupas e a arremessou, guiado pela direção da aura dela e o movimento de suas asas que conseguia sentir no ar, acertando-a em cheio.

Ela caiu no chão novamente em sua forma original se contorcendo de dor. A adaga a acertara exatamente em seu coração, mas aquilo não iria matá-la... O vampiro seguiu então em sua direção. Ele definitivamente não estava com total controle de si próprio. Ele se sentia perdido em um frenesi de puro ódio. Sua única vontade era destruir aquela Gangrel.
Arrancou a adaga de seu peito e começou a cortar o corpo dela com fúria e requintes de crueldade, procurando lhe causar quanta dor fosse possível antes de finalmente degolá-la e fazê-la virar cinzas.

Aquela fora a primeira vez que Bernard matara alguém, e fora justamente um membro.

Passado um pouca da euforia que ele estava sentindo, lembrou-se que Jean estava ferido. Correu na direção dele e o tateou para descobrir quais eram seus ferimentos. Desesperado, com lambidas tentou cicatrizar aquelas feridas, sem muito sucesso. Cortou seu pulso e deu um pouco de seu sangue, conseguindo despertá-lo, acabando também por reforçar o laço de sangue que tinham.

-Jean, como estás te sentindo? –Perguntou preocupado.

-O senhor está machucado. –Constatou ao ver o profundo corte no ombro de Bernard, sem se importar com sua própria condição.

-Isso não é nada, eu estou preocupado com você. Vamos voltar para casa antes que amanheça...

-Jura não me deixar mais sozinho?

Bernard pediu desculpas e deu um suave beijo nos lábios de Jean.

-Juro.

***
Enquanto esperava Jean recuperar-se dos ferimenos, Bernard pensava a respeito do ataque. Por que alguém haveria de querer matar seu progênito? Lembrou-se então daquela Nosferatu que lhe disse que deveria tomar muito cuidado com sua cria. Só podia ter sido ele!

Assim que Jean se recuperasse totalmente, ele daria um jeito de encontrar aquela besta nojenta para acertar contas.

***

-Oh, então finalmente veio me procurar! –O horrendo Nosferatu mostrou-se para os dois vampiros que foram procurá-lo na estrada onde se encontraram pela primeira vez. Sem um capuz para cobri-lo, mostrou para Jean sua face horrenda e deformada, horrorizando-o. -Já era hora... E parece que tua cria ainda ta inteira... Talvez tu não seja tão inútil quanto aparenta. –Provocou.

-Sua besta miserável e fedorenta, -falava tentando preservar sua calma; ele não podia perder a pose, embora sua vontade fosse de atacar aquele verme na mesma hora. –é melhor dar-me as respostas que quero, ou te preparar para virar cinzas e finalmente livrar o mundo dessa tua presença indigna

-Hahaha. –Ele riu debochado. –Tu és tão ingênuo! Só porque conseguiu matar uma vampirinha de nada, acha que pode sair por aí cometendo assassinatos? Hahaha. Tua cria só tá viva porque o príncipe acredita que tu és muito fraco, ou não teve competência de mandar alguém melhor. Nunca se sabe... Só te afirmo uma coisa: Não fui eu, se é o que está pensando.

-Deixe de falar sandices! Sei que estás envolvido!
-Tu realmente acredita que o príncipe come na tua mão, né? Ah, se tu fica aí te fiando só nesse teu rostinho de boneca tu vai te dar muito mal. Tu ainda tem muito que aprender sobre ser vampiro, e ainda se acha na condição de ter uma cria? É patético!

-O que estás insinuando? –Perguntou muito irritado.

-Tu tava sempre usando charme pra conquistar o que queria com aquele lordezinho metido... E bem, conseguiu deixar ele mais obcecado do que era... Por que você acha que o Forngrants nunca quis te apresentar para ele?

-Conhecestes meu senhor? –Não pôde esconder sua surpresa. Embora soubesse da fama de seu senhor, era difícil imaginar ele se relacionando com um Nosferatu.

-Ele era meu regente. Huhu...

-O quê? Mas que absurdo! –Bernard sentiu-se muito ofendido. Seu senhor jamais daria seu alguém como aquele Nosferatu.

-Difícil de acreditar, né? Mas Forngrants era mesmo único... O único Toreador com cérebro que já vi... Perverso e degenerado, mas muito inteligente...

-Não! Ele era gentil!

Jean apenas observava a conversa dos dois, sem entender muita coisa, mas sentido uma pontada de ciúmes pela maneira como Bernard defendia seu antigo senhor.

-Gentil? Só porque ele te salvou da morte, não pense que ele era um santo. Ele também me salvou da morte, quando eu estava em torpor com uma estava enfiada no peito, ele me deu do seu sangue. Mas aquilo não foi bondade, não... Ele queria apenas me submeter ao seu laço de sangue e me ter sob seu controle.

-Quem haveria de ter pena de alguém como você, afinal...

-He... Imagino até que ponto chegaria essa tua arrogância se tu convivesse mais com os degenerados... Seria cômico! Bem, é fácil saber o que Forngrants queria quando te deu o Abraço... Ou você achava que era amor?

Nesse ponto Bernard perdeu a calma, e correu na direção do Nosferatu, empunhando sua adaga, mas quando foi atacar, teve o braço agarrado pelo monstro. Jean correu em seu auxilio, mas antes de fazer qualquer coisa, o Nosferatu soltou seu senhor.

-Eu já disse que não quero te matar... E não conseguiria mesmo se quisesse... Tudo culpa daquele maldito Forngrants! Antes de morrer, o desgraçado me deixou com a missão de te proteger do príncipe... E nem a morte dele tirou isso de mim! Tu tem noção de como é ruim isso?!

-Como assim?

- Forngrants era muito egoísta... Não gostava de dividir seus brinquedos... E conhecia muito bem as perversões do Henri... Sabia que tu chamarias a atenção dele... E foi o que aconteceu. Resumindo tudo, para tirar Forngrants do caminho, o seu estimado príncipe só precisou matá-lo. Desde então ele tenta te levar pra cama, mas não consegue... Pra piorar, tu fica seduzindo ele sempre que pode... Então, como toda criança mimada que não consegue o que quer, ele mata quem tentar se aproximar de ti, e vai ser o que ele vai fazer essa tua cria.

-Estás insinuando que Von Forngrants foi assassinado por Henri? Mas que bobagem! Foi o Santo Oficio que o matou! Eu vi a luz da fogueira!

-Santa é essa tua burrice! Achas que o príncipe, poderoso como é, ia deixar a Igreja agir assim tão livremente? A verdade é que ele a utiliza como um instrumento para eliminar seus inimigos... É uma bela técnica, bem discreta, não acha?

-Não pode ser... Se for assim, porque ele mandou uma assassina para matar Jean, e não a inquisição?

-Pressa, e receio de tua cria te delatar... Ele não queria que tu fosse morto, afinal, aquele doente te deseja. E digo mais... Aposto que tu não teve coragem de ver Forngrants queimando, né?

-Claro que não!

-Por isso não sabe que o corpo queimado naquela noite não virou cinza, e sim uma massa de carne e ossos...

-O que? –Perguntou realmente impressionado.

-Forngrants era um vampiro muito poderoso... E os vampiros poderosos são as perfeitas vítimas da Diablerie...

-Estás dizendo que meu senhor foi morto por Amarante?!

-Finalmente está começando a entender. Francamente... Se tu não perder logo essa inocência, vai ter muitos problemas para sobreviver, e manter essa tua cria aí...

Bernard lembrou-se da vez que conheceu formalmente o príncipe... Fora pouco tempo depois da morte de seu senhor. Naquela época ele ainda era muito jovem, ainda não conseguia sentir as auras... Mas lembra-se de ter sentido algo estranho na presença do príncipe. Uma sensação ruim, que o incomodava, mas que depois de algum tempo se desfez.

O que o aquele Nosferatu disse fazia muito sentido.

-Qual teu nome?

-Pensei que não perguntaria nunca... Já estava querendo saber para onde foi a tal da etiqueta da qual os fúteis tanto se orgulham... Meu nome é Frandique.

-Bem Frandique, se tudo que querias era me proteger do príncipe, já sei tudo que preciso. Se não tens mais nada para me falar, simplesmente desapareça de minha vida.

-É o que farei... Só não morra, ou vire amante daquele príncipe, pois eu não quero o desgraçado do Forngrants me perseguindo pela eternidade. –E então sumiu.

-Jean, quero que me faças um favor...

***

-Oh, meu caro Bernard não esperava por tua visita... O que o traz até mim? –O príncipe parecia contente em recebê-lo.

-Ah meu príncipe, recentemente meu domínio foi atacado, e quase mataram meu progênito.

-Mas que coisa terrível. Já desconfias de alguém? –Ele não parecia de fato preocupado.

-Sim... Um Nosferatu nojento chamado Frandique abordou-me pouco tempo antes do ataque, falando que eu deveria tomar cuidado... Falou muitas sandices, mas eu apenas o ignorei.

-Frandique? Hum... Se quiseres, posso descobrir algumas coisas sobre ele.

-Eu apreciaria muito, meu príncipe. –Falou mostrando sua satisfação.

-Mas eu gostaria de uma coisa em troca.

-O que o senhor quiser, afinal, o senhor já me ajudou tanto... Tens sido meu único apoio desde que meu antigo senhor me deixou... Eu sou muito grato por isso.

-Então demonstre sua gratidão passando uma temporada comigo. Sabes do apreço que tenho por ti. –Falou levantando-se do seu trono e dirigindo-se para perto de Bernard.

Desde que conhecera aquele vampiro, Henri o desejara. Aquela face pura como a de um anjo o excitava muito. Ele era um verdadeiro pervertido... Transformara muitas crianças em sua progênie, mas nenhum deles era como Bernard. Bernard era gracioso e de uma beleza única, além de preservar muito de sua humanidade, o que lhe dava cada vez mais vontade de corrompê-lo.

Mas Bernard nunca permitiu que ninguém e aproximasse muito dele... Pura fidelidade à Forngrants. Mas isso apenas aumentava o desejo que Henri, fazendo-o querer cada vez mais ter Bernard só para si. Uma vez que olhar nos olhos de Bernard para tentar dominá-lo não adiantaria, sua estratégia para conseguir o que queria fora deixar Bernard em débito, fazendo tudo que o jovem vampiro pedia... E usar sua influência para afastá-lo dos demais membros também foi uma boa estratégia, não apenas para deixar Bernard cada vez mais escravo de seu auxílio, mas também para evitar sua degeneração, afinal, era aquela suposta ‘pureza’ que o atraia.

Estava funcionando muito bem, até ele ter a idéia de criar um companheiro. Todos aqueles anos de paciência estavam indo por água abaixo, então Henri decidiu que não perderia mais tempo.

-Sabes muito bem que gosto de ti... –Sussurrou sensualmente ao ouvido do pequeno vampiro. Sua voz era muito sedutora, e inspirava os mais luxuriosos pensamentos. –Se tu querias tanto companhia, eu posso conceder a minha. –Ele falava de forma verdadeiramente fascinante.

-Mas... –Bernard tinha que se esforçar para resistir às investidas de Henri. –Mas eu quero amar...

O príncipe não sabia se considerava aquela declaração ridícula ou encantadora. Escolheu considerá-la então uma prova de que aquele vampiro ainda não havia sido corrompido, e que era exatamente o que ele procurava. O sadismo de corromper era um prazer difícil de se obter entre os imortais, uma vez que suas bestas não costumavam demorar muito para começar a transformá-los.
Bernard convivia a quase 200 anos com sua besta, mas ainda era capaz de falar de amor com aquela inocência.

-Se queres me amar, basta tomares do meu sangue. –Aquela era sua chance de ter Bernard só para si. Prendê-lo por um laço de sangue era o que ele mais desejava.

-Posso mesmo?

-Sim... –Aproximou-se mais dele e abaixou-se um pouco para que Bernard pudesse alcançar seu pescoço.

E assim o pequeno o fez, deixando suas presas penetrarem a carne macia, para então sorver aquele sangue tão doce e delicioso. A ultima vez que tomara o sangue de outro membro foi quando seu senhor ainda era vivo.

-Está bom, Bernard... Bernard... – Para o príncipe também aquele Beijo era prazeroso, mas o pequeno vampiro já havia tomado mais do que devia. Porém ele não parava. –Pare, Bernard!

O príncipe tentou se desvencilhar de Bernard, mas este se recusava a solta-lo, e mordia ainda mais forte. Mentalmente chamou Jean, que estava todo o tempo espreitando, em posse de uma estaca de madeira, a qual ele apreçou-se em enfiar no coração do príncipe, paralisando-o.

Bernard prosseguiu em sua Diablerie, sugando todo o sangue do Príncipe, e depois, com muito esforço, conseguiu arrancar-lhe até a alma.

Bernard e Jean voltaram o mais breve possível para o feudo deles, afim de que o primeiro pudesse esconder de todos a evidência que o terrível crime que cometera havia deixado em sua alma.

O príncipe merecera aquilo por ter sido tão imprudente, e por ter feito o que fez com seu senhor... Mas volta e meia ele se perguntava se tudo que sabia era verdade, se ele não havia sido manipulado... Afinal, quem ganharia de fato com a morte de Henri?

Finalmente, depois de tanto tempo, Bernard estava aprendendo verdadeiramente sobre o que era ser um vampiro, e porque aquilo era de fato uma maldição.

-Jean, você me ama de verdade?

-Sim, meu senhor...

E nesse ‘sim’ morava a dúvida...

Até onde ia o poder do sangue?


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