The Chosen One escrita por Ducta


Capítulo 27
Drumming Song




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E de repente tudo o que acontecia ao meu redor acontecia rápido demais pra que eu me importasse. Eu senti quando Gállates saiu do meu lado, eu vi pela minha visão periférica quando foi para um canto com Thalia e quando Lucas se juntou a eles, então Jean saiu com Leon. Ficamos Justin, Sarah e eu. E Justin me olhou por um longo tempo enquanto eu tentei fugir dos seus olhos, mesmo que minhas pernas estivessem bambas demais para que eu saísse da sua frente.

- Nós precisamos conversar.  – Ele disse por fim.

- Justin! – Sarah disse baixinho. Justin a ignorou.

- Não. – Eu disse com esforço. – Eu não tenho nada pra falar com você.

- Mas eu tenho. Pelo menos me escute.

- Não!  - Eu disse mais alto do que pretendia.

- Você vai me ignorar?

- Como você fez comigo.

- Desculpe.

- Não fala mais comigo, eu na quero ouvir sua voz! – Eu gritei e finalmente consegui me mexer.

Ele não veio atrás de mim como ele costumava fazer. Eu me sentei em uma mesa no fundo do salão, Gállates se levantou da mesa onde conversava com Thalia, mas antes que eu dissesse pra ele ficar, Jean interveio.

- Eu cuido dela.

Então ela se sentou na minha frente e me encarou.

- Você vai ficar fazendo ceninha com ele até quando? – Ela perguntou como se estivesse prestes a me dar um soco.

- Não fiz por querer. – Resmunguei.

-Tanto faz. Ele é um idiota. Vocês dois são.

- Eu estou te ouvindo. – Justin disse. Então eu percebi que ele nos encarava descaradamente.

- IDIOTA! – Jean gritou.

- Eu não sei o que fazer com ele. – Eu disse.

- Você tem namorado agora. – Ela disse como se isso resolvesse o problema.

- Ele também.

- Não, ele não.

- Como não, e a garota? – Perguntei confusa.

- Ele beijou ela uma vez e depois disse ele começou a deixar ela andar segurando na mão dele. Aí ela começou a chamá-lo de “namorado”, ele ficou irritado no começo, tentou argumentar, mas ela levou ele na conversa então ele parou de dscutir.

- Mais que diabos aconteceu com vocês?

- Nada!  Só falamos com o Drake e pronto, aqui estamos.

- Como?

- Nós mandamos uma mensagem de Íris pro Acampamento e a Rachel disse que você pediu pra ir buscar o Drake, aí o Drake disse o que a Dani disse pra você e nós usamos nossa inteligência e aqui estamos.

- E o que vocês pretendem fazer agora?

- Não faço idéia, deve ser por isso que você está aqui. – Ela disse quase sorrindo.

Eu olhei para Gállates e Thalia. Eles não pareciam estranhos... Thalia falava no momento e ela agia como se estivesse comentando sobre como o tempo estava quente. E ela tinha toda a atenção de Gállates e a de Lucas também, mas Lucas olhava pra Thalia com um olhar de pura adoração. Eu sorri. Como ele era bobo... Do que será que eles estavam falando? E então eu olhei para Leon. Eu devia achar estranho o fato de ele ainda estar ali, mesmo depois de ter tentado me matar. O que será que aconteceu com ele aquela noite? Ele parecia diferente. Quando eu pensava em Leon, sempre me lembrava daquele cara que me tirou o fôlego quando nos conhecemos, lindo, inteligente, encantador... E eu então eu me lembrei do jeito que ele agiu sob aquela chuva... E então eu o via agora sentado em um canto afastado com um livro nas mãos... Pálido, com olheiras profundas sob os olhos cinza que estavam escuros, os ossos da maçã do rosto começando a marcar, o cabelo tão sem brilho quanto o meu. Mas de algum jeito ele parecia pior. Como se alguma coisa o estivesse sugando de dentro pra fora. Então um arrepio subiu pela minha espinha. Era como um aviso de que eu devia ter medo dele.  Eu tive uma súbita vontade de falar com ele, apesar do aviso.

- O Leon está bem? – Perguntei finalmente voltando minha atenção a Jean.

E eu me assustei quando realmente prestei atenção nela. Ela tinha os mesmo sintomas de Leon, só que menos atenuados. O que será que estava acontecendo com eles?

Jean olhou para Leon e quando ela olhou pra mim seus olhos estavam marejados.

- Não sei. – Ela disse, sua voz falhou.

Então ela olhou para baixo e segurou o choro.

- O que foi? – Perguntei assustada.

- Eu não sei o que é, ele não me fala... Mas eu sinto como se ele estivesse passando por alguma coisa difícil sabe? Eu quero ajudar, mas ele não me deixa nesse assunto.  – Então ela deixou as primeiras lágrimas correrem. Eu estiquei meus braços e peguei suas mãos em cima da mesa.  – Eu estou com medo por ele. – Jean sussurrou chorosa.

Eu apertei suas mãos.

- Vai ficar tudo bem. – Eu disse. Então eu percebi que sentia o mesmo que ela.

- Será?

- Shh. Pare de pensar nisso. – Eu disse.

 Mas eu não consegui parar de pensar. Meu cérebro trabalhava a mil por hora tentando entender o que acontecia com Leon.

- Gállates, vamos embora. – Eu disse ficando de pé de repente.

Gállates me olhou surpreso por um momento, mas então ele levantou e jogou minha mochila nos ombros outra vez.

- O quê? – Jean perguntou confusa.

- Pra onde vocês vão? – Thalia perguntou.

- É, está à noite e só tem o deserto lá fora. – Lucas disse.

Gállates parou ao meu lado e pegou minha mão.

- Estou com você até o fim. – Ele sussurrou no meu ouvido.

Eu assenti em agradecimento.

- Não vai. – Justin disse ficando de pé. Sarah logo em seguida. – O seu lugar é com a gente. Você começou isso com a gente.

- Esse é problema. – Eu disse. – Eu gosto de vocês, de verdade... Pelo menos da maioria... Mas é muita gente. Vocês não viram o sufoco que é pra manter esse monte de gente junto? É muita loucura pensar em tanta gente! Eu não tenho condições mentais pra agüentar isso!

- Mas ninguém tá pedindo isso pra você. – Sarah disse.

- Você nunca passou por isso, então é melhor ficar quieta! Você não sabe o que a gente já passou junto. Não tem como você não se importar se alguém ficar pra trás! Por isso eu vou embora.

- Você sabe pra onde ir? – Thalia perguntou.

- Sabemos. – Gállates disse. – E não vamos dizer a vocês.

- É. – Eu concordei. – Voltem pro Acampamento... Vocês não sabem como é ver um amigo morrer.

- Você viu a Dan? – Lucas perguntou com a voz falha.

- Vi.

- Ela sofreu muito? – Lucas perguntou com olhos marejados.

- Ele mordeu muito ela? – Sarah perguntou.

- Sim. – Eu disse sem olhá-la.

- Eu vi quando ele a levou.

- Quem? – Gállates perguntou.

- Dev. – Justin respondeu.

- Dev? – Jean perguntou.

- Devorador. – Sarah respondeu.

 Ninguém disse nada por um tempo, então um choro começou a encher o cômodo. Era um choro baixo, mas alto o bastante para provocar curiosidade. Era Leon. Ele estava sentado no chão com as costas na parede e os braços ao redor dos joelhos. Ele se esquivou de Jean quando ela se ajoelhou ao seu lado. Ninguém fez mais nada com relação a eles, então eu achei que era o momento de quebrar o silêncio.

- A propósito Justin, Dean está morto.

- O quê? – Justin perguntou chocado. – Como assim?

- Ele me encontrou no caminho, tentou me dizer alguma coisa... Mencionou sobre termos sidos despertados, mas depois ele simplesmente caiu morto.

- Caiu morto? Como assim caiu morto? – Justin perguntou se aproximando de mim com os olhos marejados.

- Não adianta falar nisso, ele está morto. – Eu disse seca enquanto tentava segurar minhas lágrimas.

Todo mundo ficou em silêncio de novo, a não ser Justin que chorava baixinho com o rosto escondido nas mãos.

Lucas colocou a mão no ombro de Justin em um sinal de solidariedade e então olhou pra mim:

- Você só quer o Gállates com você porque ele é seu namorado ou porque ele é melhor do que nós?

- Nem um, nem outro. Eu só quero vocês longe daqui, salvos disso.

- Como você pode querer nos salvar de algo que nem você sabe o que é? – Jean perguntou.

- Justamente por isso.

- Sinto muito, mas vocês não vão se separar ninguém que quiserem. – Disse a moça no balcão, na qual eu reparei pela primeira vez. Ela já era uma senhora por volta dos 40 ou 50 anos, cabelo cor de vinho e jaqueta de couro.

- Desculpe? – Thalia disse de cenho franzido.

- Garoto me dê seu mapa. – Ela disse apontando para Gállates, que por sua vez arregalou os olhos tamanha a surpresa.

- Como você sabe do meu mapa? – Ele perguntou.

- Apenas me dê, garoto!

Todos nós nos movemos até o balcão meio devagar, até Leon e Jean que ainda estavam no canto.  A primeira vez que Sarah desgrudou de Justin desde quando eu cheguei foi quando ele tomou a frente do movimento. Nós estávamos meio hesitantes e um pouco tensos, mas chegamos lá.

Gállates tirou o mapa da minha mochila e o entregou a mulher.

- Porque você está dizendo isso? – Leon perguntou.

- Porque vocês não se encontraram aqui por acaso. – A mulher respondeu abrindo o mapa no balcão. – Alguém viu o nome desse lugar?

- A última placa estava lá atrás na bifurcação. – Thalia disse – “Bem vindo à Última Decisão”.

- Quem diabos coloca o nome de um lugar de Última Decisão? – Lucas perguntou.

- Porque é naquele ponto onde a estrada se divide que algumas pessoas tomam a última decisão.

A mulher não respondeu em um tom sombrio, mas mesmo assim um arrepio subiu pela minha espinha.

- Explique-se. – Leon disse secando as lágrimas com as costas das mãos.

- Aqui. – A mulher disse apontando o lugar onde a estrada se dividia no mapa. – Seguindo a partir desse ponto, o que acontece com a estrada? – Ela perguntou, agora indicando o caminho pelo qual seguimos até chegar àquele restaurante.

- A estrada no mapa acaba alguns centímetros depois daqui. – Justin disse com o cenho franzido.

- Mas o mapa continua. – Jean disse olhando por cima do ombro de Lucas.

- Com um grande espaço vazio até a borda do papel. – Leon completou.

- Isso não é nada bom. – Thalia disse.

- Agora seguindo a outra estrada, o que acontece? – A mulher perguntou.

 - A estrada segue normalmente até chegar a uma cidade. – Eu respondi.

- Por quê? – Gállates perguntou. – Como nós chegamos aqui?

- Você e ela – Ela disse apontando pra mim - por uma decisão errada do motorista daquele ônibus. Os outros por um feliz engano.

- Ah, eu já não estou certo sobre o “feliz”. – Lucas disse.

- Mas se a estrada acaba daqui uns metros, o que aconteceu com aquele ônibus? – Gállates perguntou.

A mulher deu os ombros.

- Não sei nem se Deus sabe. – Ela disse.

E então eu tive certeza que não dormiria mais.

- Certo, isso é loucura. – Jean disse. – Vamos voltar para trás e mandar tudo isso à merda.

- Não dá pra voltar. – a mulher disse.

- Oi? – Jean perguntou.

- Não dá pra voltar. – a mulher repetiu. – Ou vocês seguem sempre em frente ou ficam aqui até morrer.

- É, amigos, nós vamos morrer. – Lucas sentenciou. – E juntos. – Ele acrescentou olhando pra mim.

 - Tem certeza que só tem essas duas opções; morrer aqui ou morrer lá? – Thalia perguntou.

- Só. – A mulher respondeu.

- Bem, pelo menos morrer não é tão ruim quanto parece. – Justin disse.

- Como você sabe? – Sarah perguntou.

- Porque eu já morri. – Justin disse dando os ombros.

- Verdade. – Eu concordei. – É rápido. Mas fácil que fechar os olhos e dormir quando você está morrendo de sono... Bem, na maioria das vezes porque a minha foi meio dolorida.

- Você também morreu? – Sarah perguntou.

- Morri de mão dada com seu namorado. – Eu disse.

- O que vocês são afinal? – Lucas perguntou meio chocado – Zumbis, mortos-vivos, espíritos?

Então eu vi que todos estavam nos olhando meio tensos, menos Thalia. Gállates se afastara de mim uns dois passos.

- Nós estamos vivos, Lucas. – Justin disse quase rindo. – Pode vir checar meu pulso se quiser.

- Beleza, mudando de assunto porque eu já to ficando assustada com o rumo dessa conversa. – Jean disse. – Já que só temos a opção “morrer”, vamos decidir onde pelo menos?

- Você não foi muito longe sabia? – Lucas disse sorrindo.

- Calado. – Ela disse sorrindo de canto. – Então?

- Pro mim nós vamos em frente. – Justin disse logo.

- Por mim também. – Thalia concordou.

- Porque? – Sarah perguntou. – É mais seguro ficarmos aqui.

- E morrer de tédio? – Gállates disse. – Prefiro morrer fazendo algo de útil.

- Ou tentando fazer. – Completei.

- Concordo com a Barbie. – Jean disse. – Leon?

- Eu vou onde você for. – Leon respondeu.

- Lucas? – Justin perguntou.

Lucas mordeu o lábio inferior e virou-se para a mulher do balcão:

- Nenhuma dica?

A mulher balançou a cabeça.

Lucas suspirou e deu os ombros:

- Seja o que os deuses quiserem.

Justin sorriu para Lucas e então se virou para Sarah.

- Só falta você.

- Eu não quero ir, eu estou com medo.

- E você acha que nenhum de nós está? – Eu perguntei. – Olha tem muito que se fazer agora ok? Decida-se, por favor, nós temos que nos preparar.

- Tá bom! Eu vou! – Ela gritou.

- Não grita comigo ou eu acabo você. – Eu gritei de volta me virando para Sarah já alterada.

- Ah é? Quero só ver! – Sarah gritou.

Eu dei um passo na direção dela pronta para pular em seu pescoço quando Lucas entrou na minha frente e segurou o topo dos meus braços.

- Woah, vamos nos acalmar? – Lucas perguntou. – Vocês dois, controlem suas namoradas. – Ele completou apontando para Gállates e Justin.

- É, não quero ver a Barbie Malibu e a Barbie California puxando os cabelos. – Jean completou.

Gállates começou a rir quando me puxou pelo braço com gentileza.  

- Vamos lá pra fora, nós temos que decidir uma coisa séria. – Ele disse.

- Você continua rindo. – Eu disse.

Ele segurou o riso sem sucesso por um tempo, mas quando chegamos ao estacionamento seu sorriso sumiu.

- Nós vamos contar à eles? – Ele perguntou.

- O que?

- O que aquele cara nos disse na loja de mapas.

- Oh. Acho que sim. Qualquer ajuda agora é bem-vinda não?

- É... – Ele suspirou.

- Como você está? – Perguntei.

- Não sei. É estranho saber que no próximo anoitecer eu estarei morto.

- Tenta não pensar nisso.

- Meio difícil. Será que vai doer?

- Para de pensar nisso.

Ele me olhou por um momento e eu encarei seus olhos.

Eu me senti tão bem por saber que ele estava lá comigo, por que quer que aconteça. Era até reconfortante saber que eu morreria com ele por perto. Ele tinha sido uma espécie de anjo pra mim. Eu fui invadida por uma onda de sentimentos quando ele sorriu. Era como se eu o conhecesse há muito tempo agora... Como se nós estivéssemos a séculos juntos, não apenas dias.

Gállates pareceu entrar em uma espécie de transe enquanto me olhava. Sua mão acariciou meu rosto e então caiu em meus cabelos onde ficou por um tempo. Então eu me vi pensando que se saíssemos dessa por um milagre, eu deveria ficar com ele. Eu estava me sentindo mais confortável com a idéia de passar o resto da minha vida com um estranho do que com Justin; e isso me pegou de surpresa.

Gállates estava a apenas um passo de distância, sua mão ainda estava no meu cabelo e ele ainda sorria pra mim. Porque esperar um milagre quando eu sei que ele não viria? Eu não tinha mais tempo pra me arrepender.

Eu evitei pensar, apenas senti e deixei fluir.

Eu coloquei minhas mãos no rosto de Gállates e o trouxe para perto até que nossas respirações se cruzassem. Não pensar no que você está fazendo é quase como ver uma cena de filme: você apenas espera para ver o que acontece. Tudo entrou em câmera realmente lenta quando nossos lábios secos roçaram um no outro.

- O que você está fazendo? – Gállates perguntou em um sussurro baixo quase sem mexer os lábios.

- Não fala nada. – Eu respondi no mesmo tom.

A mão de Gállates deixou meu cabelo e deslizou pela lateral do meu corpo, a outra se juntou ao percurso quando ele chegou à minha jeans, então ele me puxou até que meu corpo batesse no seu.

Gállates estava a meio centésimo de segundo de me beijar de uma vez quando alguém chamou meu nome.

Nós nos separamos meio frustrados e encontramos Justin estupefeito no parapeito da porta.

- Desculpe. – Ele disse se recuperando e deu as costas.

- O que você quer? – Perguntei.

- Não... Nada...  Deixa pra lá. – Ele disse.

- Eu vou lá dentro contar você sabe o quê pro pessoal. – Gállates me disse deslizando os dedos ao longo do meu cabelo e então sumiu na porta.

E estávamos eu e Justin sozinhos sob um céu estrelado e a morte à frente.

- Então? – Eu disse.

- Thalia pediu o jantar e Jean pediu pra que eu viesse ver se vocês estavam com fome.

- Ah, ok. Obrigada.

Justin não disse nada, apenas me deu as costas. Eu deveria tê-lo deixado ir, mas eu não pude me conter.

- É sério esse seu relacionamento com a Sarah? – Perguntei.

Justin se virou pra mim, mas só me olhou depois de um tempo.

- Não. Não é.

- Então?

- Então nada.

- Como assim “então nada”? Porque você deixa ela dizer que é sua namorada então?

- É sério que isso interessa pra você?

Eu hesitei.

- Não. Claro que não importa. – Eu respondi finalmente– Mas é que é estranho você estar com alguém que você não gosta.

- Eu acho que não te importa mais os meus sentimentos, não é?

- Não tente me fazer passar como má. Você parou de se importar primeiro.

- Então não importa mais a nenhum de nós. – Justin disse seco.

De novo ele deu as costas. De novo eu não o deixei ir.

- Você terminou comigo de um jeito muito estranho sabia?

Dessa vez Justin suspirou antes de se virar pra mim.

- É, eu sei. É que eu precisava de um motivo pra ir embora.

- Um simples “tchau” era o bastante.

- Não era não. Nada está sendo simples pra mim.

- O que você está escondendo? Não é de hoje que eu estou vendo você se comportar de um jeito estranho.

- Se eu pudesse contar você não acha que nós ainda estaríamos juntos? – Ele perguntou exasperado passando as mãos pelos cabelos.

- Você nunca experimentou me contar. Apenas me jogou para os lobos quando teve oportunidade. – Eu disse perdendo o foco.

- Eu precisava te manter longe até que tido esfriasse na minha cabeça!

- Me matando? – Eu perguntei em voz alta.

- Eu nunca pretendi que você morrese! – Ele respondeu no mesmo tom – Eu sabia que você ia dar seu jeito e que ia sumir depois.

- Como você sabia disso?

- Porque eu conheço você como a palma da minha mão, eu sei do que você é capaz quando precisa se defender e sei que você sempre dá a volta por cima. Mesmo que seja sempre por cima de mim.

- Não é minha culpa que é sempre você quem me obriga a fugir.  – Eu disse baixinho.

Justin me encarou e eu o encarei de volta.  E nenhum de nós disse nada por um longo tempo.

- Porque você não experimenta me contar o que te atormentou todo esse tempo? – Perguntei ainda em voz baixa.

- Eu queria tanto. – Justin respondeu. – Mas eu não posso. Sério.

- Você ainda está um passo à frente de todos nós?

- Não. Fui deixado no escuro como vocês.

- Ok...

Nós ficamos em silêncio um longo tempo outra vez, então ele quebrou o silêncio:

- É serio seu namoro com aquele cara?

- E a história de que nossos sentimentos não interessam mais um pro outro? – Perguntei. Mas eu não fui rude, fui suave, quase sarcástica.

- Certo, desculpe. Vamos jantar? Vai acabar esfriando.

Justin deu as costas pela terceira vez.

- Não. –Eu disse e ele se virou pra mim.

- Não?

- Hum-hum.  – Confirmei.

- Então?

- Ele queria mostrar pra você que eu também dei a volta por cima, foi na surpresa.

- Ah... – Justin fez. E por um breve momento eu achei que ele sorriu.

- E então, vamos jantar?

- Você precisa guardar segredo. – Eu disse rapidamente.

- Mas o segredo não era pra mim? – Justin perguntou sorrindo.

- É... Droga. Mas guarde, Gállates ia ficar chateado de saber que eu contei a verdade.

- Ah é, falando nele, eu vi o quanto ele estava querendo de ajudar a dar a volta por cima.

- Fui eu quem começou. – Eu disse.

Justin pareceu chateado por um momento.

- Anda, vamos jantar. – Eu disse.

- Espera. – Ele disse puxando meu braço quando eu passei ao seu lado. Eu o olhei e ele sorriu. – Posso te abraçar?

Eu fui pega de surpresa com esse pedido, eu não me sentia segura o bastante pra ariscar um contato tão próximo com ele. E eu disse isso a ele. Ele pareceu desapontado, mas me deixou ir sem mais.

Quando eu entrei no salão do restaurante eu vi que Gállates reuniu todo mundo e ele ainda falava quando me olhou e franziu o cenho por um momento quando viu Justin com a mão em meu ombro. Eu me esquivei de seu toque e me juntei ao grupo. Lucas foi o primeiro a falar e ele parecia assustado:

- Queda das almas? Sério isso? O bicho joga o corpo eu sei lá aonde e se alimenta das almas que caem pela queda d’água?

- Pelo visto... – Eu disse.

Lucas xingou em voz alta.

- Não tem como a gente lutar contra isso? – Jean perguntou.

- Não quando a gente não sabe o porquê de tanta proteção. – Leon disse.

- Droga, nós estamos ferrados. – Thalia disse.

- Quando nós vamos? – Justin perguntou.

- Amanhã mesmo.  – Gállates disse.

- Porque tanta pressa? – Sarah perguntou.

- Concordo com Gállates. – Thalia disse. – Quanto antes, melhor.

- Você fala isso porque é imortal. – Sarah resmungou.

- Eu não sou imortal, só não envelheço aparentemente.

- Ouviu Lucas? – Leon perguntou. – Ela tem idade pra ser sua mãe.

- Não enche o saco. – Lucas resmungou corando violentamente.

- Amanhã cedo então? – Eu disse.

Todos assentiram.

- Então tá, vamos comer e dormir então.

- Eu não estou com fome, vou direto dormir. – Leon disse se retirando rapidamente.

- Leon espera. – Jean chamou, mas ele sequer olhou para trás e sumiu pela escada ao lado do balcão.

Eu olhei para Jean a tempo de ver seus olhos marejarem.

- Leon! –Ela chamou de novo e então saiu atrás dele escada acima.

- Ela não merece o que ele está fazendo. – Thalia disse.

- O que será que deu nele? – Lucas perguntou.

Justin deu os ombros.

- Vai jantar? – Gállates me perguntou.

- Não quero mais. – Eu disse.

Gállates pegou minha mão e me afastou do grupo.

- Nós podíamos continuar de onde paramos, você não acha? – Ele perguntou com um sussurro no pé do meu ouvido.

- Não sei se tenho clima pra isso mais.

- Amanhã vai ser um dia cheio...

Então eu olhei em seus olhos.

- Você está querendo mais de mim do que um beijo. – Eu concluí.

- Você não?

- Talvez. Mas eu não queria fazer isso assim, às pressas, só porque nós vamos morrer amanhã.

- É uma boa razão pra mim.

- Não seja um escroto nojento, Gállates. Você não é assim.

Gállates pareceu se dar conta do que disse.

- Desculpe. Você tem razão.

- Tudo bem. E aí, você vai comer ou dormir?

- Os dois. – Ele sorriu. –Me acompanha?

- Não, desculpe.

Ele sorriu, deu os ombros e voltou a se juntar aos outros.

Eu voltei ao estacionamento e me sentei no chão e comecei a pensar em tudo o que eu poderia fazer para que saíssemos vivos amanhã. Eu não cheguei a conclusão nenhuma porque eu nem sabia se onde entraríamos teria saída.

A noite começou a esfriar conforme ficava mais tarde, ocasionalmente eu olhava para trás e via que cada vez mais dos outros haviam ido dormir, na minha última olhada sobrara apenas Justin e Lucas. Antes disso Gállates viera me dar boa noite e beijou meu queixo quando Thalia apareceu pra dizer que havia uma cama vazia em seu quarto, que eu poderia ficar lá.

Em torno de uma hora depois Lucas gritou um “boa noite” da porta e em questão de segundos, Justin estava sentado ao meu lado.

- O que eu disse sobre contato próximo com você? – Perguntei.

- Foda-se. – Ele disse. – Eu não tenho tempo pra me arrepender.

Eu me virei para retrucar, mas ele pegou meus pulsos em suas mãos e antes que eu pudesse me dar conta ele me beijou.

Enquanto ele pressionava seus lábios nos meus, meu coração começou a bater tão rápido que por um tempo eu achei que ele havia parado. Meus olhos ainda estavam abertos e mesmo que eu estivesse sentada, meus joelhos fraquejaram.

“Esquiva!” – Gritava alguém em minha mente ao mesmo tempo em que outra pessoa gritava “sem tempo para se arrepender!”

- Sim tempo para me arrepender. – Eu repeti mentalmente e com um suspiro eu retribuí o beijo.

Justin sorriu brevemente sem separar os lábios dos meus. Então ele começou a se levantar e me puxava com ele ainda segurando meus pulsos. Mas assim que estávamos de pé e sua língua enroscava na minha ele sentiu que eu não fugiria então passou seus braços para a minha cintura e me puxou com certa brutalidade para mais perto.

Foi um beijo longo e gostoso uma vez que não tinha absolutamente nada entre nós e eu precisava dos braços dele ao meu redor para que eu não me estatelasse no chão. Eu achava que lembrava como era estar com ele daquele jeito, mas ali, com as minhas mãos em seu cabelo, eu percebi que o que eu tinha era uma lembrança fraca e sem vida. Ele passou a me beijar com mais voracidade, mais profundamente a cada segundo que passava e tudo o que eu podia querer era mais. Eu queria que ficássemos assim para sempre, queria voltar a sentir tudo o que eu estava sentindo agora, principalmente sentir que era a mulher dele, a garota que ele havia escolhido e que ele amava...

Então eu o empurrei para longe.

- Você precisa parar de fazer isso. – Eu disse sem fôlego.

Ele sorriu. Então eu me afastei meio tonta.


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