The Chosen One escrita por Ducta


Capítulo 12
Independente do Quanto Doa




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Naquela noite eu tive um sonho com um rapaz moreno, mais alto que eu, seus olhos cor de chocolate brilhavam a luz da lua, contradizendo o que sua boca gritava pra mim repetidamente.

— Socorro!

Eu estava longe, no alto de um penhasco, eu o podia ver no fundo, chorando e gritando, acorrentado a parede rochosa, repuxando as correntes prateadas inutilmente.

— Quem é você? – Perguntei tão desesperada quanto ele.

— Embry.

— Quem fez isso com você?

— Por favor, me tira daqui!

— Como?

— Por favor! – Ele repetiu com sua voz morrendo até finalmente sumir.

Embry caiu nos próprios joelhos e chorou mais que antes, ainda implorando, agora mais para as correntes do que pra mim.

Eu acordei sobressaltada, chorando, tremendo e sentindo uma dor talvez tão forte quanto a daquele rapaz.

Mas a memória do sonho só durou até eu sair da cama.

Quando eu fui até a fonte próxima a janela, dei de cara com o sol brilhando, morno e convidativo. Sorri para ele.

Eu costumava me sentir extremamente linda e poderosa quando acordava, hoje não deveria ter sido diferente. Afinal, agora eu era um dos três semideuses mais poderosos que existem. Mas a sombra do dia anterior e a sombra de ter conhecido Jean e ainda ter as filhas de Afrodite para encarar, eu não me sentia lá muito animada em me arrumar.

E só quando eu abri minha mochila e notei que tinha posto realmente muitas poucas roupas lá, eu senti vontade de gritar. Obviamente em todo o furor da fuga eu não me lembrei dos meus estojos de maquiagem nem das minhas melhores roupas de campo. Aliás, eu sequer havia lembrado das minhas melhores roupas.

Suspirei pesadamente para não ter um ataque de raiva e comecei a fuçar as poucas roupas que tinha trazido. Foi quando bateram na porta.

Eu passei as mãos pelos meus cabelos para colocá-los no lugar antes de abrir a porta.

— Bom dia semideusa! – Jean gritou radiante.

Droga! Ela estava mais bonita do que ontem. Seus cabelos dançavam com a brisa, seus olhos brilhavam refletindo o sol, seus dentes eram perfeitamente alinhados e brilhantes, a maquiagem era leve e muito bem feita, ela usava a camiseta do acampamento, um short mais curto do que o de ontem de tactel preto e um all star branco. Ela trazia um pacote nas mãos.

— Bom dia, filha de Hermes. – Eu disse sem sequer a metade do ânimo dela.

— Me chama de Jean, “filha de Hermes” é muito comprido. Dormiu bem?

— Pesadelo.

— Normal.

— Vai se tornar.

Ela sorriu.

— Bom isso é pra você. – Ela disse oferecendo o pacote em suas mãos.

— Que é isso?

— O pacote contém suas camisetas do Acampamento e seu colar. E – ela se aproximou de mim e baixou a voz – eu embuti uns kits de maquiagem que meus irmãos... Ganharam das filhas de Afrodite.

— Oh. – Eu não pude evitar sorrir pra ela. – Obrigada!

Jean me deu uma piscadela.

— E tem uns shortinhos que eu peguei do varal delas mais cedo.

Eu abri a boca para protestar.

— Relaxa aquelas peruas nem usam e elas não vão reconhecer, eu os customizei.

— Hm, obrigada... Eu acho.

— Não me agradeça ainda. Eu sou sua professora de esgrima.

— Eu já sei esgrima.

— Você sabe matar?

— Não.

— Então você não sabe esgrima.

— Eu fiz 12 anos de esgrima.

— E não sabe matar? Por Hermes, você morreria se virasse a esquina. Não sei como sobreviveu ao Basilisco.

— Quem te contou do Basilisco?

— Leon, é claro.

— Oh, Leon.

— Enfim, o café da manhã é daqui a meia hora e o Quíron vai passar seu horário depois do café.

— Ok.

— Ah! Leon me disse que você é a namorada do filho de Hades, verdade?

— Sim, por quê?

— Hoje bem cedinho, quando eu fui olhar o varal das filhas de Afrodite, um grupinho delas estava olhando pela janela da cabine 13.

— Hm. – Eu fiz e ergui uma sobrancelha. Iria tomar providências mais tarde.

— E ele dorme de cueca boxer não é?

— Ei! Como você sabe?

Jean pigarreou e fez uma voz de falsete:

— Vocês viram aquele filho de Hades? Pelos deuses, ele é muito sexy! Eu vou fazer o impossível pra ficar com ele. Vocês viram aquela cueca como é apertadinha? – Jean voltou a sua voz normal – Aí Dalila começou a se abanar e morder os lábios, já devia estar exitada, a vadia.

— Como é essa Dalila?

— É a Conselheira Chefa de Afrodite, ela senta na ponta da mesa e fala alto, você vai a ver jogando charme pro seu namorado, não se preocupe.

— Obrigada por tudo, Jean.

Ela tornou a sorrir aquele sorriso perfeito.

— Não se preocupe. E apropósito, você não precisa se preocupar com muita coisa, Dalila vai querer se matar quando te vires, você é uma deusa grega! – ela disse rindo.

— Vindo de você, isso não tem preço, acredite.

Ela tornou a sorrir e se foi, jogando os quadris pra lá e pra cá e fazendo os cabelos dançarem ainda mais com a brisa.

 

Enquanto avaliava o conteúdo do pacote de Jean, eu pensava na tal Dalila e em sua ousadia. Por conta disso escolhi o short mais curto que encontrei, marquei bem meus olhos com lápis preto e rímel e achei um gloss desses que dá o efeito de lábios maiores.

Jean conseguira até brincos pra mim.

Por mais que eu achasse difícil, eu saí da cabine 3 me sentindo muito bem e bonita.

No caminho até o refeitório eu fui cumprimentada por alguns campistas que ficaram boquiabertos a me ver sair do Chalé Três, mas mesmo assim não me encheram de perguntas e me desejaram boas-vindas.

E quando eu pisei no pavilhão do refeitório eu me lembrei que não sabia as regras na questão de “namoro” e lembrei também que deveria estar brava com Justin.

Logo que encarei as mesas, eu vi Jean em pé ao lado da mesa onde Leon estava sentado com os irmãos (quatro meninas e três meninos, o mais novo aparentava 10 ou 11 anos, Leon com certeza era o mais velho), todos tinham os olhos no exato tom de cinza de Leon.

— Você vai pra esgrima comigo. – Jean informou a Leon em um tom de voz meloso.

Algumas pessoas já se serviam enquanto eu me encaminhei até a mesa de Poseidon observando os outros campistas. Meus olhos se prenderam em uma garotinha na mesa de Afrodite. Ela era loira, os olhos castanhos, boca rosada e não aparentava mais de 10 anos, mas ao contrário dos irmãos, ela estava quieta, de cabeça baixa mirando alguma coisa acima da minha cabeça.

— O nome dela é Sarah, ela chegou tem poucos dias. – Disse um rapaz de pele bem clara, olhos cor de avelã, cabelos negros bagunçados pelo vento, debruçado em minha mesa. – Ela é linda não é?

— Que ela tem?

— Foi violentada por um vizinho.

Minha boca se abriu em um perfeito “o” de tão surpresa que eu fiquei. Eu comecei a xingar e praguejar uma morte bem dolorosa ao infeliz que tinha feito aquilo com Sarah.

— Não se preocupe com a morte dolorosa, ele teve.

— Como você sabe?

— Logo que ela contou à Conselheira de Hermes, alguns garotos mais velhos se juntaram e foram atrás do infeliz. O matamos sem dó.

— Obrigada.

Ele sorriu de canto.

— Não a encare com pena, ela começa a chorar.

— Você não parece ter idade pra ser “um campista mais velho”.

— Eu tenho 17.

— Com carinha de 14.

— Isso é um elogio?

Nós dois rimos.

— Eu sou Lucas, filho de Hefesto.

— Todo semideus se apresenta com a sua filiação?

— Acho que sim.

— Então, prazer, Alethia, filha de Poseidon.

O garoto ergueu as sobrancelhas antes de sorrir.

— Mais uma vez Poseidon quebrou o pacto?

— Parece que sim. E Hades também.

— Wow, temporada de fertilização aberta?

Nesse momento um trovão muito forte pegou todos de surpresa. Todos no pavilhão olharam ao redor procurando alguma coisa.

— Desculpe! – Lucas gritou.

Uma menina na mesa de Apolo sorriu para Lucas, mas ele não viu.

— Até convidaria pra sentar, mas não sei se pode.

— Até posso, se eu quiser meu pai me perguntando se eu não estou satisfeito com o que sou. “Se você não está satisfeito em ser meu filho, eu peço a Poseidon para te adotar, rapaz!” – Ele riu-se – Posso até imaginar.

— Ainda bem que eu não convidei.

Lucas riu outra vez.

— Bom, foi um prazer conhecer você filha de Poseidon, nos vemos depois.

— Alethia. E nos vemos depois.

Ele saiu sorrindo para a mesa de Hefesto onde cumprimentou com a mão espalmada um de seus irmãos.

— Já fez amigos? – Disse Justin se aproximando da minha mesa para assumir a posição de Lucas.

— Não, ele só veio me contar sobre uma das filhas de Afrodite e... E falando nisso, eu já volto. – Eu disse me levantando da mesa.

— Você vai atrás da Dalila?

— Como você sabe?

— Leon foi me entregar minhas camisetas e me disse que Jean havia visto elas me espiando pela janela.

— Aprenda a fechar suas cortinas de agora em diante.

— Pois é, mas eu só posso agradecer que não estava com aquela samba-canção do Pernalonga.

Eu tive que rir.

— Mesmo assim, que história é essa de “fazer o impossível” pra ficar com você?

— A deixe tentar. – Ele disse mudando o tom de voz para algo mais dengoso. Eu sorri de canto. – Afrodite não estava muito inspirada quando a fez. – Justin disse passando os braços ao redor da minha cintura.

— Ih Dalila, não teve nem tempo de tentar assediar o rapaz – Jean gritou da mesa de Hermes, eu e Justin a olhamos. Eu ri. – Ele já chegou com dona!

— Jeaniny! – Disse uma garota de olhos e cabelos castanhos sentada na ponta da mesa, suas bochechas ficando vermelhas de raiva ou vergonha. – Sua fofoqueira!

— Fofoqueira, eu? Hum. Pelo menos eu não levantei às quatro da manhã pra espiar o filho de Hades dormir!

Algumas pessoas começaram a rir alto, outras cochichavam com os irmãos. Dalila se levantou e saiu do refeitório a passos fortes. Então todos os olhares se voltaram para nós. E antes que pudéssemos fazer alguma coisa, o Sr. D. e Quíron adentraram o pavilhão.

— Largue a senhorita Amélia e vá para a sua mesa, José. – Sr. D. disse sem sequer nos olhar.

— De onde ele tirou Amélia e José? – Justin sussurrou antes de me soltar.

Eu dei os ombros e ele se foi sorrindo para o outro extremo do refeitório.

 

Quando eu finalmente decidi o que iria comer e me levantei para oferecer uma parte a Poseidon, eu sei que não fiz o que diabos fosse que eu tivesse que fazer.

— Talvez nem seja sua culpa, se não for, me desculpe por isso. Mas se for, espero que você ouça e considere: Meu pai é e sempre vai ser Perseu Jackson.

Eu me senti bem em dizer aquilo, mas foi por pouco tempo. Logo que cheguei a mesa já sentia o peso na consciência e senti um desejo imenso de correr até a praia e gritar, implorar por desculpas à Poseidon. Mas me segurei e tentei comer o que restara do meu café-da-manhã.

Enquanto eu comia as torradas eu me lembrei de Annabeth, ela me contava sobre as detenções que pegara com Percy, no jeito que ela contava como ele era profundamente irritante e burro, mas ao mesmo tempo inteligente e perspicaz. E pensei no jeito como ela dizia isso e que sempre me mostrava o quanto ela o amava.

E uma lágrima correu.

Eu tentei passar todas as minhas lembranças de volta a primeira pessoa, mas sem sucesso, mesmo assim pensei nas vezes em que ela disse que eu era a coisa mais importante da vida dela, da vez que ela brincou pela primeira vez dizendo que para ser a coisa mais importante da vida dela, tinha que ser muito mais especial que Percy. Eu lembro que ele riu e eu ri e, por fim, Annabeth riu. Eu tinha cinco anos.

Lembrei-me de Percy me ensinando a nadar, a andar de bicicleta, segurando minha mão quando eu tive medo de entrar na escola quando Justin estudou em um colégio só para garotos, me lembrei de quando ele me levava aos parques e fazia o balanço ir bem alto. Do dia que ele me deixou destampar Anaklusmos e a espada de um metro se abriu em minha mão.

E outras tantas lágrimas correram.

— Meu amor, que foi? – Justin perguntou preocupado, chegando perto de mim e colocando meu rosto em suas mãos, me obrigando a olhá-lo.

— Nada.

— Você não chora por nada.

— Eu choro agora.

— Alethia.

— Justin.

Ele hesitou.

— Quero ficar sozinha.

— Você vai me contar depois?

— Acho que não.

Justin pareceu levar uma bordoada. E eu não podia culpá-lo, eu contava tudo para ele. E eu queria contar o que eu estava sentindo. Mas como dizer ao seu namorado que você não o quer por perto sem o magoar?

— Ok, faça o que você achar melhor. – Ele disse tristonho e me deu as costas.

E eu voltei ao Chalé 3 depois do café-da-manhã e escrevi cartas. Angie me ensinara isso, ela me disse que quando estiver com saudades de alguém, que lhe escrevesse cartas e deixasse em um lugar que elas gostassem de estar. E que nunca chorasse. “Se você chora, essa pessoa chora. Se ela ficar triste, você ficará triste. E ficar triste não é bom.” Eu acho que eu tinha seis anos e a peguei escrevendo uma carta para a mãe dela no Natal.

Eu escrevi a meu pai dizendo que me sentia com tanto medo quanto tentei andar de bicicleta sem rodinhas pela primeira vez. E disse que o amava, mesmo que agora seu espírito fosse 18 anos mais novo do que eu lembrava, que ele sempre seria meu pai, porque eu nunca me esqueceria de quem eu realmente era.

E escrevi a minha mãe que sentia falta dos cafunés dela, agora mais do que nunca, que sentia falta do leite com biscoitos que ela me dava quando eu não conseguia dormir e em como eu queria que ela me contasse a história do Último Olimpiano de novo.

Coloquei a carta de meu pai embaixo do colchão porque eu sabia o quanto ele gostava daquele Chalé.

A carta de minha mãe eu deixei na biblioteca. Talvez o motivo seja óbvio a essa altura.

E quando eu voltei ao Chalé 3 e abri a gaveta, tinha um embrulho endereçado a mim.

Dentro dele havia um colar com um pingente em formato de coração, ambos de ouro, um gloss Rosa 18 e um bilhete:

“Você saberá a força do seu coração na hora certa.”

— E o gloss? – Eu perguntei ao bilhete. – Enfim.

Eu peguei o gloss, mas antes que eu terminasse de tirar a rosca da tampa, o gloss se transformou em uma espada de quase um metro, metade de bronze celestial e metade de ouro como o pingente.

— Um gloss. Que criativo. – Eu disse para a espada. – Kimberly riria e diria que é a minha cara.

Eu sorri para a espada.

— Mas obrigada pai, nenhum monstro vai desconfiar de um gloss não é?

— É isso que eu espero. – Disse uma voz grave dentro da minha cabeça, me sobressaltando.

Eu olhei todo o comprimento da espada e machuquei meu dedo indicador ao testar o corte da espada, do lado dourado é claro. E no punhal eu descobri um botão que transformava a espada de volta em gloss.

Eu olhei meu reflexo na fonte no fundo do quarto e disse a mim mesma o que Annabeth me disse várias vezes: “Uma guerreira nunca chora. Independente do quanto doa.”

 


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