Ciclo Vicioso escrita por SlipperySanity


Capítulo 1
Hipóteses? Não, são fatos


Notas iniciais do capítulo

Texto antigo, de 2008. Apenas repostei. Obviamente, a escrita está um pouco diferente do habitual. Espero que compreendam e apreciem. Estória curta.



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Ciclo Vicioso,

por

Slippery Sanity

Julho, 27 2010

 

 

  A fria luz da Lua transpassava a janela e sulcava o chão de pedra crua. Seu fulguro bruxuleante dançava entre as pernas de Harry Potter, cujo observava, preso entre lembranças de um tempo frígido e pensamentos de quão mais sombrio o futuro seria. Os tentáculos da Lula-Gigante moviam-se na superfície da água, causando pequenas ondas oscilantes e decorativas no ápice do Lago Negro.

 

  Dormitório masculino de Gryffindor. Na torre mais alta, Ronald roncava sonoramente. As outras camas estavam com as cortinas fechadas e um assobio suave era abafado. Harry suspeitou de Seamus.

 

  Ele não queria pensar, precisamente. Apenas ficava com medo de dormir, agora que era atormentado com pesadelos cada vez mais freqüentes. Voldemort não se cansava e tentava invadir a mente de Harry todas as noites, incumbindo-o do desprazer de reviver a morte de seus entes queridos e imagens torturantes de seus amigos — vivos — sendo mortos sangrentamente.

 

  Entretanto, Harry estava treinando continuamente com o próprio Dumbledore e, apesar de ser obviamente mais fraco que Voldemort, conseguia repeli-lo para fora de sua mente o mais rápido possível. E o mais rápido possível não era exatamente rápido. Afinal, a má vontade do professor Snape não tinha ajudado em seu aprendizado — apesar do garoto saber que o homem era um talento nato quando não se tratava do filho de James Potter.

 

  Quando concretizava tal ato, suas forças mentais se contorciam e o cansaço penetrava-o até o último fio de cabelo. Neste momento tinha uma noite de sono decente, sem o tormento de Cedrico alvejado por uma maldição da morte, os gritos de sua mãe na noite em que foi morta, um reflexo verde fúnebre e Sirius sendo jogado contra o véu.

 

  Correlativamente a eles, Harry já havia superado. Decidiu que iria ser forte e lutaria por todos que morreram por sua causa. Mas, escarnecedoramente, sempre ficava atormentado com os letargos. Era triste. Não haveria mais momentos alegres de companhias carinhosas. Nunca mais voltariam, e só isso bastava para Harry ficar um dia inteiro de mau humor, caminhando cabisbaixo pelos corredores.

 

  Os anoiteceres em Hogwarts eram dos mais solitários e Harry mordia os lábios se controlando. Nunca conseguia. As lágrimas sempre escapavam, resvalavam em seu rosto e traçavam seu rumo ao chão duro, como seu coração deveria ser. Limpavam-no de impurezas, mandavam embora o desespero. Momentaneamente.

 

  Cada lágrima era um alvitre, e Harry às vezes pegava-se choramingando descontroladamente novamente. O pouco conforto de ter Hermione e Ronald, espontaneamente, perto de si. O fazia pensando em Minerva — que lhe ajudara secretamente todos os anos, com lições de duelo e transfiguração avançada —, toda a família Weasley. Hedwig. Compulsivamente; depressivamente.

 

  Dali a pouco, Harry sabia que pegaria no sono e dormiria encostado na parede fúnebre. Alguém o acordaria e ele estaria com o pescoço dolorido, as costas ardendo e os olhos vermelhos. Hermione discutiria com ele protetoramente e o faria prometer ir até a enfermaria.

 

  Iria para o grande salão e tomaria seu café. Malfoy o desdenharia até cansar. Aprenderia coisas inúteis nas aulas e o loiro ainda o seguiria, com dois armários atrás de si — Crabbe e Goyle. Hermione o confortaria às cegas e ele agradeceria. Iria para a biblioteca fazer seus deveres e até isso o dia brilhante de Sol estaria em seu fim, e o globo cintilante subiria aos céus em sua glória constante. Ele voltaria a seus aposentos e adormeceria em contato com a pedra fria e tudo se repetiria. Dia após dia.

 

  Alguém morreria em combate, ele choraria. Ele choraria mais e mais, sem motivo algum, porque ele precisava. Ele tinha que fazê-lo. E Harry teria que lutar até o fim, enquanto outros apenas se divertiam com comentários maldosos de “o Menino-Que-Sobreviveu procurando por atenção”, vivendo suas vidas fúteis enquanto ele treinava como um soldado de chumbo para seus futuros. Típico.

 

  Era um ciclo vicioso, um ciclo maldito e maligno. Um ciclo que pesava às suas costas, e sempre pesaria. Nunca acabaria enquanto ele sobrevivesse. Harry nunca ganharia aquela guerra, e no íntimo ele sabia. Não tinha motivos. Seus amigos morreriam.

 

  Tudo começaria novamente.

 


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