Shimmer escrita por scarlite


Capítulo 23
Capítulo 23.




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“Eu posso explicar”

Quantas vezes ouvimos essa expressão quando alguém é pego no flagrante em algo proibido ou constrangedor?!

Foi exatamente nessa frase que pensei quando encontrei os olhos cobradores de Alice na porta do quarto. Mas, não estava em meio a uma situação constrangedora e nem sentia culpa como se estivesse errado.

Estranhamente, nunca me senti tão certo em algo do que acolher Bella para mim. No entanto, tive uma sensação diferente ao notar que outra pessoa além de nós dois, partilhava daquele segredo. E pareceu-me que nosso lugar secreto, recém descoberto, havia sido invadido.

Foi então que notei quantos nosso eu usei mentalmente. Mesmo isso não me fez arredar de temor como antes. Diante da perspectiva de estar com Isabella, outras questões pareciam bem menores agora.

Enquanto divagava, minha irmã entrou no cômodo, ainda com os braços em torno do tronco e seu olhar afiado, dirigido especialmente para meu braço em torno de Bella.

– E então? Não vai me explicar Edward?

Quase bufei ao perceber que a ponta do sapato dela estava ritmadamente batendo no chão. Ato que ela fazia sem perceber, quando exigia um brinquedo novo, isso na nossa infancia.

Infância. Minha cabeça de repente se encheu de imagens de mim com oito anos de idade, segurando Bella no colo enquanto Alice reclamava do seu sapato apertado. Na minha cabeça de criança tudo que eu conseguia pensar era em como era irritante essa mania de minha irmã de bater o pé.

No presente, Bella escorregou para fora do meu aperto, no entanto, deslizou a mão quente para a minha, mantendo a ligação. Ela estava calma demais para o meu gosto. Comecei a me agitar, não pela expressão irritada de Alice, nem pelo flagrante, mas por não sentir nem um sinal de que Isabella se importava em ser pega.

Imaginei, como sempre fazia, que caminhos misteriosos a sua mente possuía; assim como, me questionei como alguém pode ter tantas facetas diferentes. Quero dizer, há apensa alguns dias, meu relacionamento com Bella estava completamente estranho e deteriorado. Como de uma hora para outra ela dissolve tudo assim?

Me dei conta de que não encarava Alice, e sim minha prima e sua expressão serena. Isso pareceu irritar ainda mais minha irmã que bateu no meu ombro, esticando-se para alcança-lo com seus pequenos dedos.

Nesse instante, minha consciencia fisgou como um corte que não tinha sido notado. Saí do torpor do beijo, aparentemente, e pude entrar em contato com o pânico da explicação necessária. Abri minha boca duas vezes para fechá-la em seguida. O que eu diria?

A verdade.

Meu lado coerente sussurrou para mim. Mas, ao pensar em qual verdade seria essa, tropecei na incerteza e indefinição. Então, o que seria agora?

Sim, aparentemente estou caído de amores por minha prima. Mas, o que eu vou fazer sobre isso? Ainda não estava preparado para romper com toda a família. Sem contar que se o meu pai ou Emmett desconfiassem disso, eu perderia algum dente – não pelo meu pai, claro, deste eu perderia a confiança e consideração para sempre.

As possibilidades rodopiavam na minha cabeça como poeira levada pelo vento. E não encontrei qualquer frase decente para explicar o que minha irmã havia visto ali.

– Imagine se fosse o Emmett, ou a mamãe? Vocês dois tem de ter mais cuidado.

Então eu fiquei estático no lugar, provavelmente de olhos esbugalhados e expressão vazia. Onde estavam os gritos e a condenação? Alice falava calmamente agora. Até com um certo divertimento.

– Pelo menos por enquanto...

– Er... Hum... ah... – De repente, eu não tinha capacidade mental de produzir palavras com nexo. Me perguntei seriamente se a situação teria me causado um aneurisma.

– Isso é o melhor que pode dizer Eddie? – Alice acentuou o “ddie” porque sabia que, com excessão de Bella, odiava que outra pessoa usasse aquele apelido.

– Estou decepcionada. Eu esperava que você me confrontasse com sua eloquente declaração de amor a Bella.

Sarcasmo.

Era o melhor de Alice. Em situações difíceis ela sempre sabia alivar com algum comentário mordaz.

Com um rodopio, fez menção de sair do aposento com um sorriso divertido no rosto. E eu, obviamente, a parei com a mão. Apesar e tudo precisava conversar com ela. Quem sabe encontrar algum conselho sábio do tipo “Não seja louco, coloque sua cabeça no lugar” agora que mais alguem tomava conhecimento do meu dilema.

– Allie, temos que conversar. – Ela parou e me olhou por tempo suficiente para captar a minha urgencia interna.

Isabella permanecia estranhamente silenciosa. Como se a conversa toda não lhe dissesse respeito. Mas, mesmo assim, sentou-se ao meu lado na beirada da cama quando Alice se comodou na velha poltrona marron do quarto, nos afastando do berço onde Adam ressonava tranquilamente, ignorante do que acontecia ao seu redor.

– Alice, eu... – “O que?” Pensei. Você o que, seu paspalho!? Depois de pensar tanto sobre como me sinto em relação a Bella, depois de tanto tempo sentindo minha pele queimar pelo contato com a sua, de pensar por noites a fio no quanto eu me preocupava por estar afastado dela, não sabia como refinar tudo aquilo numa sentença.

– Você ama Bella, de um jeito diferente do que se ama um parente. – Fiquei abismado com a forma simples que as plavras sairam da boca de Alice.

Minha irmã sorriu para minha prima de um jeito carinhoso.

– Fico feliz que finalmente tenham se dado conta.

– Hãm?

Eu estava confuso. Meus sentimentos pareciam ter mudado apenas há pouco tempo. Era matéria de primavera recente, nada antigo. Porque o “Finalmente”?

Alice pegou uma almofada nas mãos. O tecido trançado com pedrinhas formava um caminho intrincado, como um labirinto, colocou no colo e cruzou as pernas. Numa posição relaxada.

– Vocês são diferentes de qualquer dupla que eu já tenha visto. Nem mesmo irmãos tem esse tipo de laço. Deviam saber disto.

– Não sei do que está falando... – Era mais fácil pensar que tudo era recente. Ainda não estava certo sobre o que fazer com todo aquele sentimento. Que futuro teria, nada disso.

– Não importa. Bella fico feliz que seja com Edward. Não confiaria em mais ninguém. E você tenha cuidado com toda essa intensidade, Edward. Saiba que, de agora em diante, estarei de olho em você o tempo inteiro – Apenas para ilustrar seu tom persecutorio, Alice aponto o dedo indicador na minha direção, marcando seu poder na situação.


O restante da noite transcorreu sem mais problemas. A única dificuldade era manter meus olhos longe de Isabella. O som estalado da madeira na lareira rimava perfeitamente com o vento batendo no mensageiro lá fora. Eu estava impaciente, Tudo em mim queria que a noite passasse rápido; essa impaciencia vinha do desejo insano de ficar sozinho com Bella. Não tinha pensamentos sórdidos com ela, nem nada dessa coisa ardente. Bem, pelo menos não só isso.

Bastava ficar encostado nela, sentindo sua respiração regularizar com a chegada do sono. Aquele calor encontrando minha mão era tudo que eu precisava para sentir que ela estava ali, comigo. Era o bastante para que eu me sentisse poderoso.

Entre uma conversa e outra, Olhava furtivamente para Alice, tentando encontrar algum vestigio de algo que devesse me preocupar. Não consegui encontrar nada. Não sei se isso me deixava mais nervoso ou relaxado. Não consegui pensar em mais nada que se comparasse a minha situação, além de um homem pendurado pelo braço na beira de um precipicio. A mesma sensação de incômodo quando quebramos algo muito precioso de alguém e não queremos contar. A pergunta era: De quem tenho que esconder? De mim mesmo?

Bella olhou para mim e tocou minha mão discretamente. Como todos pareciam estar envolvidos nas proprias conversas, não notaram como prendi meus olhos nos dela, e como envolvi seus dedos delicados nas minhas mãos. Ela me era preciosa, tão preciosa quanto o maior dos tesouros. Tocar agora tinha outro significado, outra coloração e aquilo me pareceu o maior consolo de todos: poder estar com ela, sobrepujava toda culpa que pudesse ter.


Horas mais tarde, estava no meu banheiro tentando me livrar dos malditos pelos da barba que insistiam em crescer na velocidade da luz. Praguejei uma ou duas vezes, quando a lâmina cortou minha pele. Vi que já era tarde, e o sono não me aparecia. Pudera, aquele dia havia se convertido num dos mais agitados da minha existencia. Caminhei para o meu quarto e pensei em Bella, e em como seu olhar parecia maduro e pronto e o meu totalmente inerte. Imaginei porque ela nao apareceu no qurto com um livro embaixo do braço. Talvez tivesse tarefas para fazer da escola. Ri de minha propria suposição. Isabella nunca tinha tarefas pendentes, era impecável na escola.

Sob a luz mortiça da lua, o mundo era um tapete escuro e gelado do outro lado da janela. Me livrei das gotas remanescentes no meu rosto agora barbeado. Me preparei para passar uma noite insone na companhia do tic tac do relogio no criado mudo, quando meus olhos caíram sobre um exemplar de um dos livros de Bella. Foi assim que o sono chegou, melhor do que um benzodiazepínico, Edgar Allan Poe. Mas era incrível que o nome e a voz, pele, olhos, tudo de Bella me acompanhassem até no sono.

Sonhei que levava Isabella pela mão num enorme campo. O vento gelado não incomodava; olhavamos ambos para a mesma direção como se a nossa frente uma batalha romana nos esperasse. Ao nosso redor uma densa camada de neve se acomodava entre os fios dourados do que parecia trigo, pelas penugens que balançavam vazias e pastosas pela umidade.

Senti meio entre o sono e a lucidez, algo gelado contra as minhas pernas, instintivamente me encolhi, imaginando se ainda era parte daquele sonho. Mas, uma respiração dura e firme pousou sobre meu rosto, e senti duas mãos também frias no vão entre minhas costas e o colchão.

Fui sendo despertado pela agitação de arrepios regulares de alguem deitado ao meu lado. Grogue, me virei na cama apenas reconhecendo. Recolhi o cobertor que havia se entulhado nos meus pés e envolvi nós dois. Ela se encolheu como um cão perto do fogo. As mãos juntas ao meu peito e os pés enroscados com os meus. A aconcheguei melhor ali, deixando que minha temperatura estabilizasse a sua.

Fora dos quartos o aquecimento era um horror. Durante a madrugada, quando o fogo apagava, a sala era tão gélida quanto o Alaska. Sempre diziamos que precisava ser concertada a condução, mas, nunca sobrava tempo. Praguejei mentalmente pela nossa falta de memória ou seja lá o que for, e prometi a mim mesmo mandar que alguem consertasse aquele maldito aquecedor.

– O que estava fazendo fora do quarto, moça? – Minha mão estava em seu quadril, e podia sentir os tremores leves aquietando-se.

– Só lendo.

– Porque não leu no seu quarto? – minha voz soava grave pelo sono; meus olhos fechados.

Ela inspirou algo na minha camisa limpa e esfregou a testa no meu peito, um gato se aninhando.

– Porque eu me distraí na frente da lareira.

– Porque isso não me surpreende?!

O latido abafado de Maggie me fez pensar nela trancada no abrigo. No inverno sempre deixávamos a porta do abrigo aberta, caso ela quisesse sair. A medida que o frio aumentava, passamos deixá-la trancada para evitar incidentes desagradáveis, como ter de encontrar com o cadáver congelado da amiga de Bella por aí.

Suspirei novamente, me sentindo confortável com ela ali. Sentindo nossas temperaturas se igualarem junto com nossas respirações. O silencio no quarto era quebrado apenas pelo vento, e estalos ocasionais da casa. Estava quase adormecendo quando senti algo quente em meu rosto. Devolvi o beijo, só que na boca. Eu estava mais ousado a cada dia e isso me deixou muito bem.

– Boa noite Edward.

– Boa noite Bella.

Estava caindo na inconsciencia, por isso não sei se delirei ou realmente a ouvi dizer baixinho “Eu te amo”. Mesmo que fosse só um sonho, respondi. “Amo muito mais.”


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