Shimmer escrita por scarlite


Capítulo 2
Capítulo 2




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CAPÍTULO UM (Edward)

            Era um dia chuvoso quando ela chegou à fazenda. Estávamos discutindo sobre o projeto da casa da árvore. Emmet como o mais velho queria fazer tudo do jeito dele, mas eu e Alice não permitiríamos isso.

 

- Eu sou o irmão mais velho, eu que decido como vai ser. Seus pirralhos!

- Nunca que eu vou deixar você fazer do seu jeito Emm, você vai deixar tudo feio.

Alice dizia isso tentando inutilmente roubar a folha de caderno que o cabeçudo segurava no ar. Ali, muito mais baixa que o irmão não conseguia pegar o rudimento de planta, que o bisonho segurava.

- Emmet! A mãe disse para construirmos a idéia juntos, você tá sendo idiota!

Tentei argumentar. O peso da palavra “idiota” pareceu causar uma ira a mais no meu irmão, que num ímpeto me empurrou contra uma montanha de feno.

- Não se mete, seu bobão, você não pode me chamar assim!

Quando olhei para minhas mãos notei que as havia ralado na queda, e, com os olhos molhados avancei em cima de Emmet com uma raiva descomunal. Nós nos engalfinhamos na lama como dois porcos. Era um absurdo o fato de eu querer derrotá-lo em uma disputa desse gênero.

Emmet foi por dois anos seguidos eleito o melhor jogador da liga de futebol americano durante a faculdade. Considerado o atleta do ano na última temporada. E não foi a toa. Desde criança era muito forte. Além de ser dois anos mais velho que eu e Ali.

Não éramos muito de brigar. Mas, você sabe irmãos sempre arranjam um jeito de se desentenderem. Algumas vezes, nunca se entendem de fato. É como tentar forçar a convivência pacífica de um cordeiro e um alce. Têm o mesmo gênero, porém, em algum momento as diferenças se pronunciarão.

- PAREM, PAREM! – Alice choramingava tentando nos separar, mas, acabou caindo no chão como um morango velho. E como é típico de meninas, começou o chororô.

 

Logo minha mãe apareceu para pôr ordem naquela confusão. Vi apenas o avental tremeluzindo ao vento frio. Caí perto dos seus pés, e mesmo de ponta a cabeça, pude ver a expressão zangada do seu rosto. E eu sabia bem o que aquela expressão significava, e era uma palavrinha bem desagradável para mim: C A S T I G O.

- Parem já com isso vocês dois. – Ela falou com assustadora calma. Não precisava gritar para nos fazer parar qualquer traquinagem. Bastava um olhar de desapontamento ou reprovação, e lá estávamos nós nos sentindo as piores criaturas do mundo.

Alice correu e abraçou as pernas da mamãe. E eu tentei me levantar, notando finalmente, as condições em que estava: sujo dos pés a cabeça. Emm não parecia melhor que eu.

- Os dois já sabem a conseqüência de brigar um com o outro não?

De cabeça baixa, apenas assentimos, sabendo exatamente o que aquilo significava: Humilhação e punição.

O fato é, deixem-me explicar melhor, que Esme tinha o costume de forçar-nos a pedir perdão um ao outro por qualquer coisa que ela considerasse ofensivo. Odiávamos isso! Eu confesso que preferia mil vezes mais castigos, orgulhoso como sou.

Quando me lembro dessas coisas, não posso evitar pensar como é infinitamente mais interessante e sábia a infância. Os rancores eternos não duram mais que um dia. As crises nunca resistem a uma brincadeira, e o bem maior é a diversão. Muitas vezes hoje, adulto como sou, sinto falta da minha mãe me obrigando a abraçar Ali ou Emm a força.

Nossos rancores duram uma vida, as rupturas são eternas em muitos casos. O orgulho deixa as escolhas muito mais restritas, nada parece mais tão simples até mesmo as coisas mais tolas é motivo de separações...

 

            Com apenas um aceno leve de queixo, me voltei contrariado para o Emm. Ele retorceu o nariz enquanto me abraçava, derramando lama no meu cabelo em sua blusa já tão enlameada.

- Agora me digam o porquê de estarem se engalfinhando como dois porcos na lama? São os meus filhos?

Ninguém resistia a esse olhar condenador de Esme. Logo estávamos mesmo envergonhados. Ficamos em silêncio, sem ânimo para falar.E lá estava ela de pé, com as mãos nos quadris nos dando a última ordem do dia:

- Vão já os dois! Pro banho! Depois quero explicações

Mal minha mãe fechou a boca, ouvimos meu pai buzinar na entrada da fazenda em sua picape vermelha. Aquela maldita lata velha fazia tanto barulho que nem entendia o porquê de se anunciar com outro som.

Ele buzinou novamente como se quisesse nos avisar algo mais. Eu não entendi nada. Nem mamãe, pois ela nem se moveu.

Era um código que tinha o meu pai e minha mãe. Sempre que ele trazia uma visita ou algo bizarro, ele a avisava para não a surpreender.

Lembro-me de certa noite que ele trouxe um filhote de urso na caçamba. Foi a noite mais empolgante da minha vida! Mas, Esme ficou irada. Queríamos ficar com o animal, - inclusive meu pai – mas, fomos forçados a deixá-lo no zoológico da cidade na semana seguinte.

Mas, naquela manhã havia algo diferente. Não sei; algo no ar mudou com a chegada dele. Não sabia eu que TUDO na minha vida mudaria depois daquele dia. Vi quando ele estacionou aquele troço enferrujado na frente da entrada da casa. Descendo, deu a volta e parecia desprender algum objeto do banco ao seu lado. Fiquei ainda mais curioso quando o vi erguer um embrulho grande de panos. Alice foi a primeira a iniciar uma corrida na direção do papai. Olhei para Emmet questionadoramente ele ergueu uma sobrancelha enquanto começava também a andar calmamente em direção ao jardim da frente, onde agora papai caminhava cuidadoso e até meio atrapalhado. Alice o alcançou agarrando as suas pernas.

- Oh! Oi pequena! Cuidado, o papai não pode deixar isto cair! – Ele olhou então para a mamãe que parecia meio apreensiva, como se já soubesse do que se tratava e estivesse com receio de nos revelar.

A princípio pensei se tratar de algum outro filhote. Mas, então, porque Esme estaria com aquele cuidado todo?

- Esme, querida, venha aqui e traga os meninos! – Ele gritou já da varanda da frente. Todos nos olhamos entre si,

- Vamos.

 

Seguimos Esme, vi aparecer entre os arbustos e as plantas, atrás do corrimão branco da escadaria, uma mecha de cabelos chocolate, bem curtos, agitados pelo vento como penugens delicadas.

Alice já estava mais que ansiosa, tagarelando enquanto olhava a ação do papai de bater os pés no assoalho para retirar a sujeira.

Mas, afinal o que era aquele embrulho? Que tipo de animal tinha cabelos? E porque meus pais assumiam agora um ar grave?

Minha mãe olhou para o papai com entendimento estendendo as mãos para alcançar o invólucro de tecidos. Ergui meus olhos e ela me pareceu branca como neve, e meio assustada. Os grandes olhos castanhos profundos e brilhantes, observando de um modo estranhamente consciente tudo ao seu redor. Estava muito frio, e papai a cobriu melhor enquanto a passava para Esme. Era um bebê.

Um bebê!

 

Meu Deus! Meus pais teriam adotado uma criança? Sem nos contar?

Meus pensamentos tomaram eco pelas expressões dos meus irmãos.

A pequena menina moveu-se graciosamente em nossa direção. E o ato foi como uma bola de neve em minha cara. Ela era branca e tinha olhos muito profundos. Estranhamente profundos para alguém da idade dela. Como se carregasse segredos. Isso aliado ao leve rubor e o sorriso com pequenos dentes, fazia uma composição interessante.

Ela fitou minha mãe e, por alguns momentos parecia que seus olhos tinham perdido o foco. E eles foram crescendo e ficando mais e mais brilhantes, e isso me encantou, até que vi uma lágrima escapando. Fiquei mais confuso ainda com o que aquela garota falou depois:

- Mom!

 


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