Shimmer escrita por scarlite


Capítulo 15
Capítulo 15




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Summer.  

Querido Deus.

         A primavera chegou. Agora não tenho que me preocupar com toda a neve. Faltam três meses para meu aniversário de onze anos.

Cinco.

Esse foi o número de vezes que caí no gelo na última quinzena. Reduzi pela metade o que é uma boa média.

Não encontro o meu livro de física, acho que aconteceu de novo. Penso que com o tempo eles desistam de mim e atormentem outra pessoa... Às vezes gostaria que eles...

         Há dias, como hoje, que ficar em casa parece melhor do que qualquer coisa. Imagino se quando eu for adulta poderei decidir não sair. Quem sabe possa construir um castelo como o do livro que lemos ontem à noite.

Edward leu, na verdade. Eu acho a narração muito mais bonita na sua voz, ou na da tia Esme.

Alice me disse que amanhã tomaremos sorvete até explodirmos! Estou feliz e ansiosa por isso.

         Aprendi um novo jogo, encontrei num dos livros da biblioteca. A senhora Schimmit me mostrou ele quando estava passeando por lá. Ela parece gostar de mim, não sei. Gosto do cheiro que ela tem: Poeira de livros e café. Café me lembra o tio Carlisle e o seu jornal, que me lembra lareira e cócegas.

         Entre as estantes com pilhas de letras, me sinto tranqüila. Penso em todas aquelas páginas sempre que volto para casa, tanto para conhecer... Tantas estórias saltando do meio das capas envelhecidas. Para mim é a mais empolgante de todas as coisas.

         Outra coisa feliz para a lista de hoje: Edward e Emm gostaram do meu corte de cabelo. Disseram que ficou bem em mim assim curtinho. Peguei os dois ganhando bronca, e ouvi que queriam bater nas meninas que colaram o chiclete. Titia disse que não é certo um homem bater numa garota, não importa a razão.

Eu não me importei depois que todos disseram que ficou bom assim como está e Alice me falou que logo meu cabelo vai crescer novamente.

         Trec, trec, trec... Esse é o som da chuva na minha janela. Tem um monte de carinhas engraçadas desenhadas nela com pincel. Edward desenhou para me animar quando voltei pra casa chorando ontem.

Hora de dormir.

         Vou indo.

         22 de junho.

         *****

            Berço;

            Fraudas;

            Enxoval;

            Mamadeiras;

            Banheira...

            Quantas coisas eram necessárias para receber uma criança? A lista parecia enorme e ainda cheia de fissuras para Alice.

            O verão nos encontrou agitados pela chegada do bebê de Rosalie. Todos os preparativos foram feitos e meus pais pareciam duas crianças na véspera de natal: às voltas com os sorrisos de antecipação.

Era como se a casa tivesse sido invadida por um raio de sol, tudo reluzia: desde os olhos brilhantes de Emmett até a excitação de Alice frente a função de tia. A amizade entre as mulheres – Alice, Rosalie e Esme – se deu numa veloz corrida. Entre idas ao shopping e organização do quarto, ficamos nós os homens a parte de tudo. Claro, havia Bella.

Por mais que Rosalie minha mãe e irmã tentassem trazê-la para dentro do turbilhão de atividades, ela simplesmente se esquivava, agradecia e se afastava. Andava então muito estranha, na medida em que era possível para Isabella. Seus hábitos nunca comuns agora me intrigavam. Ela era avessa a que lhe quebrassem a rotina, no entanto, por vontade própria criava um caminho diferente para os seus dias.

A começar pelas horas que passávamos juntos depois da escola, o que andava me incomodando demasiado. Desde bem pequena, o momento em que pisava os pés em casa era o que ela mais esperava. Seus olhinhos apareciam brilhantes e cheios de expectativa para estar tranquilamente sentada comigo ao piano ou no jardim respondendo as minhas perguntas com discursos universitários sobre as plantas.

Mas, nos últimos dias, andava sempre apressada em sair para caminhadas longas e solitárias. Mesmo quando Alice se ofereceu para acompanhá-la certa tarde, ela negara educadamente. Minha irmã apenas deu de ombros continuando sua tagarelice com Esme. No entanto, para mim aquele comportamento intrigava deveras.

            Em certo ponto, - pareceu-me ridículo o que fiz -, mas, segui-a discretamente para essas suas tardes de passeio. Não seria estranho se não fosse incomum. Queria descobrir o que a prendia por tantas horas longe de casa e do conforto de seu quarto.

Penso que andava tão distraída que não me notou andando pela trilha entre o bosque. Felizmente, Maggie seguia ao lado dela saltitando entre os arbustos sem demonstrar qualquer interesse em me denunciar. Segui ambas por entre as bétulas e pinhos, mas Bella não parecia ter destino certo. Apenas caminhava através das ondulações de folhas e terreno pedregoso.  

            Caminhamos por vários minutos, e o entardecer ficava mais evidente. Mesmo que não se pudesse enxergar muito através das copas das árvores, era claro que estava escurecendo. Quando estávamos já a uma boa distância de casa, escutei-a conversando alto e gesticulando. Imaginei que estava falando com Maggie, mas, quando ela apontou o dedo para o lado oposto de onde a cadela se refestelava com alguns galhos de plantas rasteiras, tive a constatação de que não era este o caso.

            - Não se atreva a fazer isso!

Ela parou impacientemente.

            - Eu não quero isso... – A voz de Bella se abrandou e eu estranhei um pouco mais. Olhou para o fim da trilha e aquietou-se.

Franzi a testa sem compreender. Conversar consigo mesmo não é uma pratica incomum, eu sei. Porem, ninguém fica tão energético, irritado ou gesticula tanto para a própria consciência. Olhei ao redor, tentei ouvir uma segunda voz e descobrir que talvez Rebeca saltasse dentre os troncos. Mas, não havia nada além de árvores e pedras.

            Depois um silêncio profundo se instalou no bosque, e eu me encolhi quando seus olhos passaram pelos meus entre um arbusto e um abeto. Pensei ter sido descoberto, mas, não. Com um salto, Bella sentou sobre um tronco caído, e permaneceu ali com os pés balançando, os olhos no chão. Ia me revelar do meu patético esconderijo quando a vi fechar os olhos depois de erguer a cabeça para a copa das árvores. As mãos se moviam como se estivesse acariciando as teclas de um piano. Então me encantei percebendo que era assim que ela compunha.

            A forma como a luz tênue, que escapulia entre as folhas lhe tocava o rosto a fazia parecer uma pintura impressionista. Salpicada por cores claras e escuras, as faces rosadas... Foi nesse ponto, que percebi que eu estava escorregando da minha resolução de pôr fim as estranhas emoções que me acometiam; a forma até exageradamente poética como enxergava Isabella demonstrava isso.

            A espreita, estava a preocupação pelo comportamento dela. Recordei-me sem permissão da conversa sob o cedro-vermelho. Mas, foi apenas uma tolice que me cruzou o cérebro e logo escapou.         

Falar sobre resoluções é fácil... Quando me aproximei dela sorrindo e fazendo uma brincadeira qualquer a respeito de perder o jantar de Emmett, o sorriso suave desenhou uma áurea etérea. Engoli em seco, e ofereci meu braço para ela.

- Você está aí a quanto tempo? – Me olhou com desconfiança e temor sutil.

- Não muito. – Ela pareceu relaxar, segurando firme meu braço me seguiu pela trilha. Até murmurava uma canção por mim desconhecida.

- Com quem você estava conversando? – Minha voz soou descontraída, e ela não demonstrou surpresa pela revelação de que estava a mais tempo do que lhe disse, no bosque.

- Ninguém importante... – Vendo o escuro se assomar, apressei o passo chamando Maggie com um assovio.

            - Vamos pequena, antes que seja tarde demais.

Eu estava sendo mais sincero do que nunca. E não me referia ao jantar.

E estava errado. Mais errado do que nunca em não me preocupar.


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