Towards The End escrita por sutekilullaby, izacoelho


Capítulo 2
Capítulo 2




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  Eu já havia tido sonhos mais estranhos que aquele, mas isso não quer dizer que aquele fosse muito normal, pelo contrário. Eu estava subindo a Colina Meio-Sangue correndo... Ou tentando. Eu carregava alguém comigo, uma pessoa desmaiada. Algo estava me perseguindo, mas eu não sabia o que era, só ouvia os grunhidos estranhos do monstro atrás de mim. No topo da colina, algumas pessoas me esperavam. O chão estava embarrado, como se tivesse chovido, e eu estava machucada. As pessoas em cima da colina me chamavam, até que tropecei e caí. Senti o monstro se aproximando mais e mais de mim, e um dos vultos no topo arrancou uma espada da mão de outro e veio correndo me defender. À medida que ele se aproximava, pude vê-lo melhor: alto, não muito forte, todo de preto, com cabelos pretos curtos e cacheados, pele bronzeada, um olhar determinado. Ele lembrava muito Nico, mas não era ele.

  Acordei quando o monstro, seja lá o que fosse, estava prestes a me atacar. Fiquei intrigada com aquilo. Quem era aquele garoto tão parecido com Nico? Por que ele estava me defendendo? Resolvi deixar as dúvidas de lado e me levantei para pegar uma roupa e me vestir. Mas nesse exato momento, um pequeno furacão meio ruivo invadiu meu chalé e pulou em cima de mim.

  — BOM DIA, FLOR DA NOITE! — Gritou Heidi no meu ouvido. — QUE SAUDADE DE VOCÊ, CARA!

  — Sabe o que seria legal, Heidi? — Perguntei enquanto tirava aquela peste das minhas costas. — Se você esperasse até que eu estivesse totalmente acordada e apresentável pra me cumprimentar.

  — Tá bom, desculpa eu existir. — Disse ela com um falso olhar magoado. Revirei os olhos e tentei inutilmente enxotá-la de lá, mas ela simplesmente me ignorou e ficou pulando na minha cama como uma criança que ela com certeza não era.

  — Pra que toda essa felicidade? — Perguntei enquanto revirava meu armário atrás de alguma roupa.

  — Nada, ué. Só estou animada por voltar aqui. Rever os amigos, os irmãos pentelhos, o Quíron, o adorável Sr. D...

  — Quem é você e o que você fez com Heidi Jansen? — Perguntei, me virando para ela e colocando as mãos na cintura. Heidi parou de bagunçar minha cama e fingiu observar o céu falso do teto do meu chalé.

  — Ah, você me descobriu. Na verdade eu sou a Medusa, e vou transformar você em uma pedra! — Heidi fez uma careta, e eu revirei os olhos. Meu humor ao praticamente ser acordada por uma maluca pulando em cima de mim não era o melhor para piadas... Além de que as dela já haviam sido melhores.

  — Por que você só chegou hoje? — Perguntei, mudando de assunto. Heidi provavelmente estava tendo apenas uma crise de bipolaridade. No dia seguinte ela certamente estaria depressiva ou com raiva do mundo, ou em seu humor mais normal.

  — Minha filha, caso você não tenha notado, Winnemucca é quase do outro lado do país! Eu tinha que ir de carro a Las Vegas, e de lá pegar um avião pra cá, e...

  — Tá, tá, já entendi.

  — Deuses, que humor é esse, menina? — Heidi veio até mim com uma expressão confusa, como se eu estivesse sempre alegre e saltitante como ela estava naquele momento. — Tá de TPM? Brigou com o Nico? Teve um pesadelo?

  — Na verdade eu tive sim, mas não é essa a razão do meu humor. É só que não é nada agradável acordar e ter uma louca pulando em cima de você e berrando no seu ouvido, sabia?

  — Nossa, desculpa se eu sentia falta da minha amiga ingrata que ficou isolada da sociedade por seis meses. Ei, espera aí. Você teve um pesadelo?

  Contei a Heidi meu pesadelo, enquanto pegava uma blusa e uma calça pretas. Assim que terminei meu relatório do sonho esquisito, ela ficou me olhando com cara de paisagem.

  — E aí? O que você acha disso? — Perguntei.

  — Não sei. — Respondeu ela, parecendo finalmente ter voltado ao seu estado normal. — Sonhos de semideuses geralmente prevêem um futuro próximo ou veem coisas que estão acontecendo no momento. Já que você obviamente não estava sendo perseguida por um monstro enquanto sonhava, isso é algo que vai acontecer.

  — Sim, mas... O que você acha disso tudo? O monstro, o garoto...?

  — Eu não sei de nada. — Disse ela, levantando-se da beira da minha cama, onde ela havia sentado para me ouvir. — Você certamente me acha uma amiga péssima, mas é isso. Eu não tenho opiniões formadas sobre o assunto.

  — Como você é cretina. — Falei de brincadeira, mas meu tom voltou à seriedade logo em seguida. — O mais estranho de tudo foi que eu me senti como se conhecesse aquele garoto, mas não por ele ser parecido com Nico, mas como se eu realmente conhecesse ele. E eu sentia algum tipo de... Ligação com ele.

  Heidi pareceu pensar sério por um momento, mas qualquer pensamento sério que ela possa ter tido se foi dois segundos depois, dando lugar a um olhar infantil.

  — Que é isso, Melanie? Peraí, já vou te lembrar de quem é seu homem de verdade.

  — O quê?! Heidi...

  Parei de falar, pois aquele pequeno furacão já havia saído correndo porta afora. Fechei a porta do chalé e penteei meus cabelos. Eles continuavam lisos bem escorridos, mas eu havia mudado o corte. Agora ele estava mais curto e repartido para um lado, e não no meio.

  Quando eu estava prestes a começar a me vestir, o furacão invadiu de novo o chalé.

  — Tá aí ele, Mel! — Disse ela, empurrando Nico para dentro e fechando a porta atrás de nós.

  — O que essa garota pensa que está fazendo? — Perguntei, encarando a porta, indignada. Nico não me respondeu, mesmo que a pergunta fosse retórica. Seu rosto estava mais vermelho que os cabelos de Rachel, e ele olhava para os lados como se não soubesse onde enfiar a cara.

  — Que foi? — Perguntei, e então percebi. Ah, eu ainda estava de pijama. Pijama que era, por acaso, uma blusa sem mangas justa demais e um short minúsculo. Revirei os olhos. Nico era tão envergonhado. Menos quando estava me beijando.

  — Er... Bom dia, Mel. — Disse ele, sem jeito. A voz meio arrastada e o cabelo bagunçado indicavam que ele provavelmente também havia sido acordado por Heidi.

  — Bom dia, Niquinho! — Falei animadamente, indo até ele e lhe dando um beijo rápido. Não pude deixar de perceber o olhar dele percorrendo meu corpo inteiro à medida que eu me aproximava. Dei um leve sorriso, e a timidez dele pareceu evaporar de repente.

  — Você fica ótima assim, sabia? — Disse, passando um braço na minha cintura.

  — Nossa, obrigada. Você também fica ótimo com o cabelo assim. Muito sexy.

  — Eu não estava sendo irônico.

  — Nem eu.

  Nico sorriu e me beijou, mas eu o afastei.

  — Se não se importa, eu tenho que me vestir decentemente se quiser sair daqui, Sr. Di Angelo. — Falei com uma pitada de ironia. Ele me olhou um pouco desapontado, mas substituiu a decepção por humor.

  — Acho bom mesmo. Aqueles filhos de Ares já ficam te olhando demais, imagino se te vissem assim...

  — Ah, é! — Falei com ironia, quase empurrando-o em direção à porta. — Não sei de onde você tirou isso. Eu nem sou atraente, nem bonita demais.

  — Cala a boca! Se você não fosse linda e atraente, aquele Johnatan imbecil não teria dado em cima de você ano passado. E não é só ele, porque os irmãozinhos dele também...

  — Você sabe que só tenho olhos pra você, idiota. Agora sai daqui que tenho que me vestir.

  Nico sorriu com o tom de humor que usei na frase, mas me obedeceu. Eu me vesti e saí do chalé.

  A ala dos chalés dos deuses primordiais ficava mais afastada dos outros devido ao espaço. Não eram chalés grandes, mas eram vários, e já havia tantos outros para os deuses menores. Na caminhada até a parte principal do acampamento, a área dos doze principais chalés e da Casa Grande, passei por Summer, que estava novamente com aquele filho de Apolo a tiracolo. O garoto a olhava e mexia no cabelo dela, e ela só dava risinhos tímidos. Passei também por um grupo de ninfas que brincavam de pega-pega com alguns sátiros; Percy que ensinava seu irmão a controlar a água no lago de canoagem; alguns filhos de Ares que gritavam com alguns de Éris — uma briga da qual eu passei longe assim que avistei —, os gêmeos Stoll que fugiam do chalé de Hécate com olhares típicos de ladrões e uma bolsa na mão; e Heidi, que paparicava a Sra. O’Leary junto do único filho de Deimos, um garotinho de uns dez anos que despertava um olhar angustiado na cadela cada vez que a tocava.

  Tive minha maior surpresa ao chegar na ala dos chalés principais foi ver uma velha conhecida junto dos gêmeos de Zeus.

  — Hey, Thalia! — Gritei assim que vi a tenente das Caçadoras em frente ao seu chalé, conversando com seus irmãos menores.

  — Mel, há quanto tempo! — Cumprimentou-me Thalia. — Linda, Tom, essa é minha amiga, Melanie. Melanie, esses são meus novos... Irmãos, Linda e Thomas.

  — Ah sim, eu vi eles ontem, quando Quíron os apresentou. — Olhei as duas crianças. Ambos eram surpreendentemente parecidos. Tom parecia uma miniatura de Zeus,e  Linda parecia uma miniatura de Thalia, ambos com seus cabelos pretos curtos e seus olhos azuis. A diferença entre Linda e Thalia, além de mais ou menos cinco anos de idade, era que Linda usava um vestidinho branco e o cabelo tinha um corte comum e comportado, enquanto a irmã tinha cabelos repicados e usava roupas punks e camisetas declarando morte à Barbie e coisas do gênero.

  — Pois é, Ártemis me deu uma folga com as Caçadoras e me mandou pra cá. Ela devia saber deles. Agora tenho que ser bab... Tutora dos meus irmãozinhos.

  — Por que você fala de nós como se não estivéssemos aqui? — Perguntou Tom com os pequenos olhos azuis voltados para a irmã. Thalia fingiu não ter ouvido.

  — E você, o que fez nesse tempo todo? — Ela me perguntou. Tom tocou a mão dela e o braço dele estremeceu, mas nada aconteceu a Thalia. Ele provavelmente devia ter lhe dado um choque, mas como ela também é filha de Zeus, e muito mais experiente, não deve ter sentido nada.

  — Treinei com a minha mãe. Assim como Nico e Heidi passam tempos com seus pais no Mundo Inferior, passei uns tempos com minha mãe na “casa” dela.

  — Treinar? Por quê?

  Hesitei um pouco, sem saber se devia contar ou não a Thalia. Ela era uma garota legal, mas eu não tinha nela aquela confiança que tinha em Heidi e Nico. Felizmente, Percy veio correndo até nós, anunciando que Quíron estava convocando uma reunião com os líderes de chalés. Cumprimentei Percy, e ele levou os irmãos de Thalia até as outras crianças menores do Acampamento para passarem o tempo — o irmão de Percy, Cohen; um menino de Hermes, uma menina de Íris, um de Morfeu e aquele garotinho de Deimos. O mais jovem do Acampamento era o menino de Morfeu, que tinha mais ou menos seis anos e passava o tempo inteiro dormindo. Ele havia sido descoberto por Grover em um orfanato e havia chegado ao Acampamento na noite anterior, e desde o momento de sua chegada eu só o via dormindo ou parecendo um zumbi sonâmbulo por aí.

  Thalia e eu entramos na sala da Casa Grande, e Percy entrou logo depois de nós, junto de Ben Simons, líder do chalé de Nêmesis, e Noriko Watanabe, do chalé de Psiquê. Havia 24 líderes de chalé presentes. Para minha surpresa, a líder do chalé de Hécate ali era Heidi.

  — Bom dia, semideuses. — Cumprimentou Quíron. — Sabemos que hoje é nosso segundo dia de temporada, mas temos algumas missões urgentes. Fiquem calmos, pois não é nada muito perigoso: apenas dividiremos os campistas mais experientes em equipes de no máximo quatro pessoas para irem buscar outros meio-sangues.

  — Por que os sátiros não fazem isso? — Perguntou Stella Sparks, do chalé de Astéria.

  — Porque eles têm mais o que fazer. — Respondeu Sonya Davis, de Éris. — Tipo brincar com as ninfas.

  — Sonya, não fale assim dos sátiros. Foi um deles que encontrou você. — Repreendeu Quíron. — Mas estes meio-sangues são mais... Especiais. Os sátiros, sozinhos, não podem protegê-los. Como eu já disse, não serão todos que irão, apenas os mais experientes. São apenas cinco semideuses para buscar, mas alguns estão próximos.

  — O que eles têm de mais? Por que são “especiais”? — Perguntou Connor Stoll, provavelmente se perguntando se eles tinham pertences especiais para roubar também.

  — Eles são... Indeterminados. — Respondeu Quíron, olhando para mim.

  Eu sabia o que aquilo significava. Os deuses haviam jurado reconhecer todos os seus filhos até os treze anos, mas o problema era que os deuses primordiais não estavam incluídos nisso, e as duas únicas indeterminadas que haviam aparecido desde então haviam sido Summer e eu, filhas de deuses primordiais. Quer dizer, é claro que também sempre há alguém para quebrar um trato...

  — Os sátiros conseguiram farejá-los e descobrir informações, mas se assustaram com o poder que eles emanavam e a quantidade impressionante de monstros próximos deles e voltaram. — Continuou Quíron. Sua expressão, antes perdida e preocupada, ficou subitamente decidida e animada. — Agora, vou dividir os grupos. Teremos dois trios e um quarteto. Melanie White, Pollux Johnson e Percy Jackson, vocês irão para o oeste, buscar dois semideuses: Aaron Roberts, no Novo México, e Damon Knight, na Califórnia. Thalia Grace, Clarisse LaRue, Travis Stoll e Heidi Jansen, vocês irão para a Pensilvânia buscar Celina Hollis. E Nico di Angelo, Connor Stoll e Katie Gardner vão para a Carolina do Norte buscar Sean Montgomery e para a Flórida buscar Dylan Wright. Mais tarde darei melhores detalhes e outras informações a cada um dos grupos. Estão dispensados.

  — Ei, ei, espera aí! — Protestou Heidi. — Esses grupos aí... Estão muito mal formados. Tem gente nada a ver nos mesmos grupos! Quer dizer, até parece que vocês mal tiveram trabalho em escolher quem vai com quem.

  — Concordo. — Resmungou Katie, com um olhar feio para Connor. Este simplesmente a ignorou e continuou analisando a mobília com interesse demais.

  — Heidi, minha criança. — Disse Quíron com um jeito que lembrou muito o de um avô. — É preciso aprender a trabalhar com todos os tipos de pessoas. Um dia você pode precisar trabalhar com elas novamente.

  — Não dá pra me mudar de equipe? — Perguntou Nico, com um olhar sugestivo na minha direção. — Pode me trocar com o Pollux.

  — Nico, não creio que isso seja prudente. — Respondeu Quíron com um ar cansado. — Já é um risco colocar Percy e Melanie na mesma equipe, sendo que eles ainda estão indo atrás de dois semideuses poderosos. O cheiro deles já está muito forte, e vai ficar pior ainda. Não podemos arriscar mandando filhos de dois dos Três Grandes junto de uma filha de uma deusa primordial, os monstros acompanhariam vocês o tempo inteiro.

  — E eu não quero ficar de vela. — Resmungou Percy. Chutei o pé dele por baixo da mesa e lhe lancei meu melhor olhar mortífero.

  — Além do mais — continuou Quíron —, pôr você e Melanie na mesma equipe pode causar algumas... Distrações.

  — QUÍRON! — Nico e eu gritamos ao mesmo tempo. Os semideuses em volta da mesa começaram a rir.

  — Nós não nos distrairíamos. Somos muito focados nas missões. — Eu disse, indignada. Como Quíron podia pensar isso de nós? E como ele pensava que a gente ia se ‘distrair’? Com momentos tórridos no meio do mato enquanto Percy fica de vigia em uma árvore ao lado? Pelo amor de Nyx!

  — Sei disso, criança. — Se Quíron não falasse sempre daquele modo gentil e paciente, eu poderia ter dado uma resposta bem feia ou voado na cara dele naquele momento. “Criança”? Eu odeio que me chamem assim. Eu já fiz macumba contra um daemon, já enfrentei a Quimera e Equidna, já fui ao Mundo Inferior e voltei, já lutei com Tífon, já passei seis meses ao lado das Queres, e sou uma criança? Ah, tá.

  — Mas, como eu já disse — prosseguiu ele —, há outros motivos mais importantes. Podem voltar aos seus chalés. Depois do jantar, chamarei cada grupo de uma vez para dar mais informações sobre seus procurados. Podem seguir com sua programação normal.


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Notas finais do capítulo

Aí está, segundo capítulo :B Muito obrigada a todos pelos reviews no primeiro capítulo, aliás n___n

Ah, ao contrário do que a Mel pensa, Heidi não está tendo 'só mais uma crise de bipolaridade'. Quer dizer, mais ou menos. Nesse dia da história a lua é crescente, e li em algum lugar que nessa fase, Hécate está em sua face jovem, representando 'a virgem' (assim como tem o da 'mãe' e da 'anciã'). Logo, é a fase em que Heidi está mais louca, divertida, inconsequente e infantil. rs

Então, o que acharam do segundo capítulo? Provavelmente muitos estão achando que eu só coloquei Quíron prático e apressado assim pra não perder tempo, mas lembrem-se de que para tudo há uma razão... ;3 E aí, o que acharam? Comentem o/