Missing escrita por M4r1-ch4n


Capítulo 9
Capítulo 9




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         O moreno piscou várias vezes, vendo uma figura alta entrecortada pela luz que vinha de fora da igreja. Sem prestar atenção direito no quê fazia, Ken se levantou do banco, sem perceber que os olhos de Farfarello o acompanhavam e que Schuldig não parecia exatamente empolgado com a novidade.
         Os seus passos eram normais e controlados, mas o ex-Weiß tinha a sensação de que o seu coração batia mais alto do que nunca, e que Aya poderia ouvi-lo da porta, se a atenção do espadachim já não houvesse sido despertada pelo barulho dos passos.
         Quando o ex-jogador de futebol se aproximou da porta, encontrou olhos ametistas; tão familiares e tão desconhecidos ao mesmo tempo. Ken havia se acostumado com azuis zombeteiros ao invés daquele violeta frio ao longo dos últimos dias. Sentiu seu corpo parar de se mover, e ficou a poucos metros de Aya.
         O ruivo tinha seu contorno iluminado pela luz do sol de fora, enquanto Ken permanecia na sombra. De uma certa forma, aquilo causou uma analogia involuntária na cabeça do moreno, já que ele estava em companhia de dois ex-membros do Schwarz, viajara uma boa distância com um deles e de certo modo confiava em ambos.
         De repente, o ex-jogador de futebol percebeu que muito mais coisa o separava de Aya, além da distância.
         Aya piscou algumas vezes, ainda sem falar, e se aproximou por fim. Ainda não perto o suficiente para que o seu antigo colega de equipe pudesse tocá-lo, Ken sentiu que os olhos ametistas suavizaram sua expressão desconfiada de início, assim como analisavam o ex-jogador de futebol com cuidado, vendo as roupas que ele vestia e não conseguindo relacioná-las com o jeito clássico de se vestir de Ken.
         Tirando uma mecha de cabelo chocolate da frente dos olhos, duas turquesas cintilaram nas sombras da igreja, e dessa vez, o mais novo dos dois assassinos avançou alguns passos, Aya ao alcance das suas mãos se assim desejasse. A igreja permanecia vazia, somente a presença de Schuldig e Farfarello além deles ali dentro. Mas naquele momento, os dois Schwarz estavam completamente esquecidos para Ken.
         - ...Aya?
         A voz do moreno foi a que soou primeiro, ecoando pelo imenso espaço vazio. Um pequeno aceno de cabeça se seguiu, e Ken notou que provavelmente, a longa trança que Aya usava não voltaria a ser vista tão cedo, seu cabelo ainda curto como quando se despediram da forma mais estranha possível no aeroporto.
         Despedida, aliás, que machucava demais para o mais novo dos assassinos. Memórias doloridas.
         - Ken.
         Não era uma pergunta, não era um questionamento. Era uma simples afirmação, e não havia surpresa nenhuma na voz de Aya. Como se o ruivo soubesse que cedo ou tarde, seria encontrado pelo seu ex-colega de time. Não era possível saber, afinal, Fujimiya Ran nunca deixava suas emoções aparecerem facilmente.
         O moreno chegou a abrir a boca para falar alguma coisa, mas o próximo gesto do ruivo calou-o em menos de segundos. Antes que Ken pudesse registrar o quê estava acontecendo, ele foi puxado para os braços de Aya, sendo rapidamente preso contra o corpo do ruivo. Turquesas se arregalaram o máximo que podiam antes de voltar ao tamanho natural, enquanto mãos hesitantes deslizaram pela cintura do outro homem e se enlaçaram atrás, completando o abraço. A cabeça de Aya afundou perto na junção do seu ombro com o pescoço.
         - ...Ken.
         Um desabafo.

         Um sorriso divertido tomou os lábios pálidos do irlandês, que continuava olhando para a frente e aparentemente ignorando o que acontecia nos fundos da igreja. Ele não precisava virar para a sua direita para saber que o telepata tinha uma expressão ácida e profundamente perigosa no seu rosto.

         "Schuldig. Seus pensamentos são interessantíssimos."
         "Farfie. CAIA FORA."
         "Mastermind... Você está tão perturbado que esqueceu de encerrar o link telepático entre nós dois."


         Um som de pura irritação se seguiu e o homem de cabelos laranjas se virou para o lado oposto de Farfarello. Mas o gesto não impediu que o silêncio entre os dois fosse quebrado.
         - Por que você está tão incomodado com tudo isso?
         - Eu não estou incomodado.
         - Claro que não. - o irlandês loiro assentiu, o sorriso ainda na sua cara - O fato de Abyssinian e Siberian estarem abraçados no fundo da igreja é completamente irrelevante.
         - Farfarello. - o telepata se virou para encarar o homem ao seu lado no banco, um brilho perigoso no olhar - Se você sabe o quê me atormenta, por que se dá ao trabalho de perguntar?
         - Oportunidades assim são raras, Schuldig.
         Barulhos incompreensíveis, que o viajante astral supunha serem xingamentos em alemão, escaparam dos lábios do ruivo. Quem diria que aquilo aconteceria.
         - No quê Siberian está pensando?
         - Pouco me interessa.
         Farfarello olhou de lado para o ruivo.
         - Schuldig. Você não deve ter saído um minuto da mente do seu novo brinquedo durante a viagem de vocês. Você sabia que isso iria acontecer quando ele se encontrasse com Abyssinian.
         - ...Farfie. - o tom de voz do ruivo indicava que aquilo era uma ameaça. Mas ameaças surtiam pouco efeito no irlandês, ainda mais se envolvessem algum tipo de castigo corporal.
         - Não imaginava que isso aconteceria tão cedo? Ou não aceita a idéia de perder o seu gatinho para outro?
         Sem mais palavras, Schuldig se levantou apressadamente do banco e andou em direção a saída, refazendo o caminho que Ken havia feito minutos atrás. Na cabeça de Farfarello, mais palavras ofensivas ecoaram, e bem alto.

         Ken abriu olhos que ele não se lembrava de ter fechado quando passos furiosos soaram na igreja, e ele sentiu o corpo de Aya se descolar do seu segundos antes de um Schuldig em péssimo humor passar pelos dois. O cabelo flamejante do telepata roçou de leve no braço do moreno, e o alemão parou na porta da igreja.
         - Eu espero que você saiba o caminho de volta para o hotel, mein Kätzchen.
         Olhos violeta se arregalaram enquanto o moreno tentava entender o que tinha acontecido, e quase pulou de susto quando sentiu a voz calma do irlandês atrás de si.
         - Eu acho melhor você não deixá-lo sozinho, Siberian.
         Lançando um olhar de desculpas para Aya, Ken saiu correndo da igreja. Ele não sabia por que estava indo atrás da pessoa que havia lhe enganado e transformado os últimos três dias da sua vida em uma irritação sem fim, mas ele acabou seguindo o conselho de Farfarello.
         Porque ele ouviu o quê o irlandês disse também era outro mistério.
         Assim que Ken saiu do lugar, Aya instintivamente assumiu uma posição defensiva e encarou os olhos dourados do ex-Schwarz com ferocidade. O viajante astral meramente sorriu de volta, quase imperceptivelmente.
         - Assim que eles voltarem, temos muito a conversar, Abyssinian.
         Embora o irlandês tenha falado com calma, isso em nada contribuiu para mudar a sensação estranha que havia tomado conta do espadachim. Sem mencionar que Schuldig estivera ali dentro também até segundos atrás, e ele havia visto a cara nada amigável do telepata quando este havia saído da igreja.
         - Se não se importa, eu prefiro esperar do lado de fora. Igrejas me deixam inquieto.
         O ruivo deixou os seus braços caírem ao lado do corpo e fez um pequeno sinal afirmativo com o cabeça, saindo de volta para a rua. Era bom que Ken voltasse logo e explicasse o quê estava acontecendo, porque o fato do moreno confiar ou estar temporariamente aliado aos seus antigos inimigos era o único motivo que havia levado Aya a não atacar Farfarello.

         O ex-jogador de futebol saiu correndo para a rua, parando depois de descer os degraus da igreja e olhando para os lados, imaginando para onde Schuldig poderia ter ido. Olhando para as pessoas na rua, viu que a maioria delas estavam olhando para o mesmo lado, cochichando entre si.
         Claro, o telepata tinha cabelo laranja. Alguém enfurecido, com o cabelo de uma cor tão discreta deveria ter chamado atenção.
         Seguindo os olhares, Ken refez os passos do seu companheiro de viagem, percebendo que eles iriam dar no parque onde estiveram mais cedo, para o encontro com Farfarello. De fato, uma massa de cabelo flamejante se destacou da vegetação, e o moreno vislumbrou a figura de Schuldig sentada em um banco. O mesmo em que eles estavam antes.
         O ex-membro do Weiß nem se preocupou em disfarçar sua presença; o alemão já deveria ter percebido que era seguido há alguns minutos, e muito provavelmente já sabia que Ken estava ali. Suspirando, o moreno deu a volta no banco e parou de frente para o ruivo, olhando para baixo.
         - Schuldig.
         O telepata simplesmente se levantou e começou a caminhar, deixando o outro assassino perplexo.
         - Schuldig, estou falando com você!
         Sem receber resposta, o moreno avançou a segurou o outro homem pelo pulso, forçando Schuldig a se virar para ele. Ken quase deu alguns passos para trás quando viu os olhos azuis tão ferozes.
         - O quê foi agora?
         - Vamos voltar. Precisamos conversar.
         - Como assim, "precisamos"? - o ruivo contorceu os lábios em um sorriso cínico - Eu acho que a sua conversa com Abyssinian ia bem demais e que realmente, nossa presença era insignificante ali.
         - Schuldig... Você está com ciúmes?
         - Claro que não. - foi a resposta curta e rápida demais do outro homem, que tentou andar e se desvencilhar de Ken, mas sem sucesso.
         - Me ouça, vamos voltar.
         - Por que você se deu ao trabalho de vir atrás de mim, Ken?
         - Schu...
         - Responda.
         O moreno soltou o pulso do telepata, suspirando pesadamente.
         - Porque Farfarello pediu.
         Uma emoção que Ken não conseguiu decifrar passou pelos olhos do alemão.
         - Ah, ele pediu? E desde quando você sai acatando ordens dele?
         - Schuldig! Quer parar de agir desse jeito? Quer ser mais adulto?
         - Olha quem fala, o senhor maturidade.
         Isso fez Ken perder a paciência, segurando o outro homem pelos dois ombros.
         - Escute aqui, Schuldig. Eu vim atrás de você porque Farfarello pediu, sim. Mas eu também vim porque não sei se você esqueceu ou se subitamente eu virei o mais esperto da dupla, mas nós dois corremos risco de vida. - o moreno falou rapidamente e em um tom de voz baixo, tão incomum que dava medo - E acho que você não quer voltar para Rosenkreuz, e eu muito menos quero conhecê-la.
         A menção do nome "Rosenkreuz" fez o ex-Schwarz sossegar, mais calmo agora. Ele olhou para o lado, observando um lago antes de voltar-se para Ken.
         - Então são esses os motivos que trouxeram você aqui?
         O moreno sentiu vontade de arrancar os cabelos. O quê Schuldig queria ouvir?
         - Foram. Mas se você quer saber se não existe mais nada no fundo, eu digo que existe. Eu me preocupo com você. Você... - o mais novo dos assassinos levantou uma mão, cutucando o peito do ruivo com o dedo indicador - De alguma forma conquistou minha confiança.
         Um curto período de silêncio se seguiu.

         "Confiança?"
         "Não consigo evitar. Eu confio fácil nas pessoas... Mesmo sabendo que elas vão me apunhalar pelas costas eventualmente."
         "Você acha que eu faria isso?"
         "Você já tentou me apunhalar pelas costas antes. Literalmente."
         "Eu estou falando sério."
         "...Não sei."


         Ken desviou o rosto não querendo mais ficar sob o olhar penetrante de Schuldig. Nesse momento, sentiu a sua mão ser pega pelo outro homem.
         - Eu achei que você ia dizer, por um momento, que havia vindo atrás de mim porque eu beijo bem.
         - Schu...
         Não houve tempo suficiente para o moreno corar ou protestar, sendo rapidamente jogado contra o corpo do alemão. Embora o mesmo gesto houvesse acontecido minutos atrás na igreja com Aya, dessa vez não foi um simples abraço e sim um dos beijos completamente estonteantes do ruivo.
         Antes que Ken pudesse se dar conta do quê estava acontecendo, Schuldig já o tinha presto pela cintura, suas bocas coladas e os lábios do assassino mais novo se partindo quase que por instinto quando o alemão correu a sua língua pelo lábio inferior do outro homem, pedindo entrada. A submissão por parte do moreno melhorou o humor do telepata de forma espantosa.
         Quando se separaram, um rubor adorável tingia o rosto de Ken, que murmurou:
         - Tem gente olhando, Schuldig.
         - Eu não me importo. - ele respondeu, citando as palavras do moreno mais cedo, quando quase havia sido enforcado contra o banco.
         - Baka. - Ken sussurrou, voltando a cor normal - Vamos voltar?
         - Vamos.
         Em mais alguns minutos, ambos estavam de volta a igreja, onde Aya e Farfarello esperavam do lado de fora, formando um par bem estranho. O irlandês apenas correu os olhos de um para outro e deu um pequeno sorriso para o ex-companheiro de equipe quando viu que o humor deste estava totalmente diferente.
         Aya, pelo outro lado, preferia não entender o quê havia acontecido.

         Muito a contragosto, Aya conduziu os outros três pelas ruas de Londres até o local onde o seu novo time de assassinos estava instalado. Ele não parecia nada à vontade em andar com dois antigos inimigos lado a lado pelas calçadas, mas ele sabia que muito provavelmente, a nova floricultura já deveria ser conhecida de um dos dois, e era inútil negar a informação.
         Ao chegarem na porta do novo lugar, um garoto relativamente baixinho e animado veio ao encontro de Aya, olhando para os outros três recém-chegados com curiosidade. Ele rapidamente abriu um sorriso e voltou para dentro da floricultura, chamando outras pessoas.

         "Mein Gott! Eles têm um clone do Tsukiyono!"
         "Schu!"
         "E ele pensa em francês!"


         Ken deu um olhar gelado para o alemão, que se comportou temporariamente até comentar:
         - Koneko no Sumu Ie.
         - Huh? - Ken se virou para Schuldig, piscando.
         - O nome da floricultura em inglês é esse.
         O moreno engoliu em seco. Por algum motivo, ele não gostava de ver outra floricultura com o mesmo nome.



Continua...


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