Missing escrita por M4r1-ch4n


Capítulo 3
Capítulo 3




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         Ken se mexeu no carro, pegando a sacola e abrindo-a. Começou a remexer no conteúdo da mesma, para ver o que encontrava.
         - Você tem algum problema para ficar quieto?
         - Quem, eu?
         - Nein. Eu. - Schuldig respondeu sarcasticamente.
         - Você que é entediante. E eu não sei o que tem aqui dentro!

         "Não? Não é sua?"

         - É minha, mas não fui eu quem deixou na prisão. Quero ver o que colocaram aqui.
         Schuldig deu de ombros e continuou dirigindo na direção do aeroporto de Narita. Embora negasse, estava olhando o que Ken achava na mochila com o canto do olho.
         - Armas, roupa de missão, uma bola de futebol, revistas... Meu MD!
         Ken tirou o MD de dentro da mochila e colocou os fones de ouvido. Não conteve um sorriso quando notou que a bateria do MD estava funcionando. Escolheu uma música aleatoriamente e ficou ouvindo, com a cabeça encostada no banco e de olhos fechados, batendo o ritmo da música com a mão na própria perna.

         "Ken?"
         "Não faça isso. Atrapalha a música."
         "E de que outro modo iria me escutar? Você ouve música muito alto. EU consigo ouvir."
         "Os incomodados que se retirem, Schuldig."
         "Cuidado com o que diz, gatinho. Que música é essa, afinal?"


         Ken pausou a música e olhou para Schuldig.
         - PIERROT.
         - Ah, ja. A banda que tem um vocalista gay?
         Ken assoprou a própria franja.
         - Quando vão cansar desse comentário?
         - Mas ele não é? - Schuldig continuou, enquanto inclinava-se ligeiramente para a frente para ler uma placa - Pelo menos, me disseram isso. Não precisa defendê-lo.
         - Não estou defendendo, estou dizendo que ouvir a mesma coisa cansa.
         Schuldig riu.
         - Tudo bem, gatinho. Não está mais aqui quem falou.
         - Melhor assim. - Ken apertou o play novamente, e continuou ouvindo seu MD calmamente, até o alemão entrar na sua mente novamente:

         "Mas ele beija o guitarrista em shows, Ken!"

         Ken olhou feio para Schuldig, e este olhou de volta, ao parar o carro no farol.
         - Precisa de prática.
         - Prática? - Ken murmurou sem entender.
         - Esse olhar mortífero. Aya fazia muito melhor.
         Ken olhou feio novamente para o alemão.
         - Ainda não. Eu disse que precisava de prática.
         O ex-jogador grunhiu alguma coisa incompreensível e desligou o MD. Desejou que chegasse ao aeroporto logo. Ficar dentro de um mesmo carro com Schuldig estava provando ser perigoso... Para a sanidade ele.
         Schuldig apenas sorriu, e manteve a sua atenção no trânsito. No entanto, ele não conseguia deixar de ouvir os pensamentos do moreno ao seu lado. Sabia que Ken detestava silêncio. Provavelmente, diria qualquer coisa para quebrar o silêncio.
         - Você ama Crawford?
         Mas essa pergunta era a última que o telepata esperava.

         "Gatinho... De onde saiu essa pergunta?"

         Ken insistiu:
         - Ama?
         Schuldig encostou o carro, olhando para o ex-jogador intensamente. Ken mudou de posição, sentindo-se desconfortável e atravessado pelo olhar penetrante do alemão.
         - Ken...

         "O que lhe deu essa idéia?"

         - Bom... Você parece com pressa desde que saímos da prisão. Achei que já tinha reservado passagens para a Inglaterra, razão pela qual estamos indo para o aeroporto... - Ken gesticulava com as mãos, parecendo insatisfeito. Não sabia se estava conseguindo transmitir o que queria - Para ter toda essa pressa, só mesmo gostando muito de alguém.
         Schuldig deu um pequeno sorriso contra a sua própria vontade. Afinal, o gatinho tinha algum cérebro.
         - Gomen nasai, eu não deveria ter pergun...
         Ken se obrigou a parar de falar. Desde quando ele devia satisfações a Schuldig? Desde quando ele merecia tratar o alemão com cortesia, quando ele havia sido sempre atacado pelo telepata?

         "Kätzchen, você não deve satisfações. Mas eu salvei sua vida, ou já esqueceu?"

         Ken engoliu em seco. Era verdade. Schuldig havia tomado a briga com o indivíduo da Rosenkreuz que havia aparecido. Por mais que o jovem assassino detestasse admitir, Schuldig havia salvado sua vida sim.
         - Eu não sei... Ken.
         O ex-jogador encarou o alemão, que estava respondendo à sua pergunta anterior. Ken também estranhou a suavidade com a qual seu nome foi dito por Schuldig.
         - Ele me deu uma razão para viver. Foi quem guiou os objetivos da minha vida por tanto tempo... Eu não me vejo vivendo sem ele, Ken.
         O ex-jogador concordou. Sabia bem do que se tratava.

         "E você ainda foi trespassado pela espada dele, não?"

         Ken assustou-se. Não imaginava que Schuldig soubesse daquilo.
         - Era o único jeito de matar aquele monstro, Schuldig.
         Uma risada amarga foi a resposta.
         - Se fosse outra pessoa, confiaria sua vida assim? Era porque estava diante de Aya, Ken.
         O moreno concordou relutantemente.

         "Acho que você entende porque estamos nessa busca. Porque algo está faltando, em você e em mim."

         Ken decidiu calar-se. Não esperava que Schuldig fosse se abrir para ele. Em parte, era teoricamente justo que o alemão tivesse feito aquilo; afinal, Schuldig sabia de tudo que se passava com Ken.
         Mas ainda sim...

         "Arigatou por se abrir... Comigo."
         "É orgulho o que ouço?"
         "Schuldig..."
         "Quem diria, você consegue impor um certo tom de ameaça nos seus pensamentos..."


         Ken suspirou, olhando o cenário que corria do lado de fora do carro. Quando deu-se por si, percebeu que Schuldig havia voltado a dirigir. Apoiou a cabeça no braço esquerdo, imaginando o que estaria acontecendo com Aya. E por que a Inglaterra. Muitas perguntas... Que nem mesmo Schuldig poderia responder.
         O silêncio na sua mente apenas confirmou as suspeitas do assassino mais jovem. Não haviam respostas por enquanto. Mas pelo menos, se algo faltava neles, com certeza deveria ser pior se ele tivesse de procurar sozinho. Schuldig havia acordado Ken e tirado-o da prisão.
         O jogador sabia que poderia ter saído daquela prisão a qualquer hora, mas não havia feito isso porque... Não havia tido coragem. Teria que agradecer Schuldig mais tarde.

         "Não há necessidade. Ouvi tudo."
         "Você é irritante."
         "Já me disseram isso."


         Quando os olhos azuis do jogador viraram-se para encarar as orbes normalmente sarcásticas do alemão, Ken se surpreendeu. Os olhos de Schuldig brilhavam... Duas lágrimas solitárias haviam escapado dos olhos do telepata. O ruivo rapidamente virou a cabeça.
         Ken estava visivelmente espantado. Schuldig não parecia ligar para situação, ou notar que o jogador estava observando-o.
         O telepata foi totalmente surpreendido pela mão macia do outro assassino no seu rosto, enxugando as lágrimas. O toque desapareceu de repente, e Ken recolheu a mão, ligeiramente corado. Schuldig sorriu tristemente ao ver o outro embaraçado, mas não conseguiu controlar uma sensação esquisita, que não soube definir.
         Balançando a cabeça, Schuldig focou novamente a atenção no trânsito. Enquanto isso, Ken tentava entender porque havia enxugado as lágrimas de Schuldig. Não havia nenhuma razão para tanto, mas... Por um momento, Ken viu sua própria tristeza estampada nos olhos de Schuldig.
         Um arrepio desceu a espinha do moreno. Uma semelhança que ele nunca imaginaria encontrar em um antigo membro do Schwarz.


Continua...


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