Why escrita por Kyra_Spring


Capítulo 1
Capítulo único




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- Axel, o que você acha que acontece quando um de nós desaparece?

            A pergunta de Roxas pegou o outro desprevenido. Aquele era mais um dia como outro qualquer. E, como um dia como outro qualquer, os dois estavam novamente na torre do sino de Twilight Town, tomando sorvetes e falando sobre nada.

- De onde veio isso? – o outro disse, com uma risada sarcástica – Um dia lindo como esse e você quer falar dessas coisas mórbidas?

- Nah, não é isso – Roxas deu uma risadinha – É só que... eu estava pensando, sabe?

- Aprenda uma coisa, pensar demais faz mal – Axel deu de ombros.

- Estou falando sério – o outro insistiu – Bem... não temos corações, mas temos um corpo, e uma alma, não é? Então... se o corpo morre, a alma parte, não é?

- Hum... – Axel ficou pensativo – Eu não sei. Não temos um corpo normal, entende? Acho que o fato de não termos corações atrapalha o equilíbrio entre o corpo e a alma. Mas não sei... – e, então, deu outra risada, enquanto emendava – E, se quer saber, eu é que não quero descobrir isso tão cedo!

- Será que existe um paraíso para aqueles como nós? – então, Roxas murmurou, como se perguntasse para si mesmo.

            A pergunta pegou o ruivo completamente desprevenido. Ele não sabia o que dizer. Já tinha desenvolvido suas próprias teorias sobre a vida e a morte dos Nobodies – e, dentro dessas teorias, não havia espaço para perspectivas otimistas, como um paraíso. Ele não sabia o que os aguardaria, do outro lado, mas de uma coisa ele tinha certeza: com certeza o que quer que fosse seria também mergulhado em sombra e escuridão, exatamente como a vida deles já era.

            Mesmo assim... Axel decidiu perguntar algo ao outro.

- Roxas... como seria o paraíso, para você?

- Ah, eu não sei – ele deu de ombros, tirando outro pedaço do sorvete – Seria um lugar bom, claro. Um lugar bom e ensolarado... Onde pudéssemos viver em paz.

- Você acabou de descrever essa torre, bobalhão! – o outro deu uma risada alta.

- Pois é... – o primeiro também riu – Mas... eu gosto daqui. Gosto da vista, e do vento, e de como a luz do sol bate nos sinos... esse lugar me dá paz.

- É, eu entendo... Também me sinto assim.

            Os dois ficaram em silêncio, apenas observando o céu. Então, Roxas perguntou:

- E você, Axel? Como seria o paraíso, para você?

- Acho que seria mais ou menos como você falou – ele respondeu – Mas... sabe, acho que se eu pudesse pedir uma coisa... eu pediria o meu coração de volta.

- O seu coração? – Roxas ergueu uma sobrancelha.

- O paraíso só seria bom de verdade se você pudesse senti-lo plenamente – explicou Axel, a voz se tornando repentinamente séria – Estamos tentando conseguir corações aqui, mas... eu queria o meu, o que eu tinha antes de me tornar o número VIII. Como ele seria? Aliás, como eu era, quando ainda o tinha? É estranho pensar nisso, mas... acho que todos nós já pensamos nessas coisas, em algum momento.

- Isso, vindo de alguém que me disse que pensar demais faz mal, é bem irônico – foi a vez do outro rir.

- Mas, para ser bem honesto... – então, o ruivo abriu um sorriso amargo – ...eu realmente não acredito que haja nada além de escuridão para nós, do outro lado. Os humanos nascem do pó e ao pó retornam. Conosco é a mesma coisa, a diferença é que é a escuridão, e não o pó, que irá nos engolir.

- Isso é bem pessimista... – murmurou o louro.

- Eu sei – Axel deu de ombros – Mas, por outro lado, é meio libertador. Você só tem uma vida, certo? Isso quer dizer que você deve fazer tudo o que puder, agora. Não há tempo para hesitar, não há tempo para se arrepender. Agir, não pensar. Quando você pensa por esse lado, percebe que tem que fazer o seu tempo valer a pena.

- É... pensando por esse lado, você está certo – concordou Roxas – Mas... ainda acho que há algo além daqui. Não sei... é uma sensação que tenho.

            Então, ele sorriu. O sorriso de Roxas fazia com que Axel se sentisse surpreendentemente bem. Era um sorriso tão sincero, tão... gentil. Era estupidez falar sobre sentimentos em relação a qualquer um deles mas, quando se tratava de Roxas, era diferente. Não era apenas uma lembrança enevoada como as que os outros tinham. Não. Era algo mais profundo.

            Será que aquilo era o que eles chamavam de carinho?

            Não importava. O sorriso de Roxas era bom. E, sempre que pensasse nele, lembraria-se das tardes preguiçosas na torre do relógio, dos sorvetes, do pôr-do-sol...

            Da sua própria imagem de paraíso.

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            Já fazia muito tempo que Axel não via o pôr-do-sol.

            A noite em The World that Never Was era eterna. Eterna e quase sempre chuvosa, o oposto completo do sol agradável de Twilight Town. E isso era deprimente.

            “Deprimente” era uma palavra estranha para alguém como ele usar. Ela implicava que o sentimento de depressão existia. E isso, por sua vez, implicava que ele era capaz de sentir. Há até alguns meses atrás, Axel riria disso, mas agora não sabia mais em que pensar. Se aquelas emoções e sentimentos eram falsos, como a lógica dizia que eram, então sua mente era realmente brilhante para fingir aquilo.

            E tudo ficava pior. Porque não era apenas a sua dor que o feria.

            Havia a de Roxas, também. Uma dor que ele, inconscientemente, abraçara para si mesmo, em segredo.

            Ele também estava confuso. Roxas tinha muito mais em que pensar do que Axel, muito mais para entender e decifrar. Não era mais uma conversa distante sobre o paraíso, era algo sobre a sua própria existência. Algo muito mais concreto, muito mais presente... Mas, mesmo assim... mesmo assim...

            Axel não queria que Roxas partisse.

- Ninguém iria sentir a minha falta... – o louro murmurou, com a voz tingida de amargura. Aquela frase foi como um soco para Axel.

            Como ele ousava dizer aquilo? Como, depois de tudo?

            Eles eram amigos, não eram? E isso significava que sentir falta um do outro era parte do contrato.

- Isso não é verdade... – foi o que ele conseguiu murmurar – Eu iria...

            Sim. Ele iria.

            Porque sempre era muito mais fácil encarar seus próprios dilemas quando havia alguém com quem compartilhá-los.

            E porque ele já não precisava mais tentar explicar a si mesmo aquela sensação estranha, mas agradável, que tinha sempre que Roxas estava por perto. Aquela sensação de finalmente estar... completo. E só depois que começou a sentir isso, percebeu que realmente havia algo lhe faltando.

            Como seria... sentir de verdade?

            Isto é... será que aquilo era mesmo apenas uma lembrança? Ou era algo real?

            Naquela noite, ele ficou ali. Sozinho, sob a chuva, apenas... pensando.

            E imaginando, mais uma vez, como seria o seu paraíso.

            O sorriso de Roxas estaria presente lá, não estava? Sim... isso não podia faltar.

            Mas, por alguma razão, não conseguia se lembrar dele, justo quando mais precisava.

            Que piada. Para alguém que dizia “got it memorized?” a cada quinze palavras, se esquecer logo da coisa mais importante de todas era simplesmente imperdoável.

            Então, ele se lembrou do motivo. Sim... provavelmente era isso.

            Aquela era apenas a prova que procurava. Seu paraíso não existia mais.

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            Axel não esperava que aquilo fosse doer tanto.

            Ele realmente era poderoso. Pena que não era resistente ao seu próprio poder.

            Tudo aconteceu muito rápido. Todos cercados por Nobodies, e ele, Sora, tentando se defender. Aquilo era demais para eles. E Sora precisava continuar em frente. Axel já não se importava muito com a Organization ou nada do tipo, e naquele momento, passou a se importar ainda menos.

            Quem diria... depois de tanto tempo, sentir-se completo outra vez.

            Por isso, não foi uma decisão realmente difícil. Agir, não pensar. Não se arrepender. Fazer tudo o que pudesse. Dar tudo de si em nome de algo. Era nisso que acreditava, não era? Era isso que deveria fazer, não era? Então, não havia muito em que pensar.

            Tudo o que fez foi dar tudo de si. A sensação foi dolorosa, como se as múltiplas chamas rasgassem seu corpo em pedaços. Não importava. Aquilo apenas... parecia a coisa certa a se fazer.

            E então, terminou. Estava trêmulo, fraco... os joelhos atingiram o chão no segundo seguinte. E o resto do corpo veio depois. A dor era intensa. Mas, pouco a pouco, ela ia se tornando entorpecida, diluída em meio a uma névoa de inconsciência. Axel não havia imaginado que fosse daquela forma. De certa forma, parecia tão... humano.

            Sora se aproximou dele. Engraçado... os olhos dele eram iguais aos de Roxas.

            E tudo foi girando, e sumindo, lentamente. Então essa era a sensação. Agora, ele sabia a resposta para a pergunta que Roxas lhe fez. Parecia fazer tanto tempo... tanto tempo...

            Será que aquilo o transformava num herói, de certa forma?

            Será que isso faria diferença para alguém?

            Então, finalmente, ele conseguiu colocar em palavras o que sentia em relação a Roxas...

- Ele fazia com que eu sentisse como se eu tivesse um coração – ele estranhou ouvir a si mesmo dizendo aquelas palavras, mas depois percebeu que não havia outra forma de definir aquilo. E, depois, ainda acrescentou – Você faz com que eu sinta o mesmo.

            E, nessa hora, ele finalmente compreendeu.

            Roxas estava ali. Aqueles olhos eram os dele.

            Agora, naqueles últimos minutos, Axel se permitiu mentir para si mesmo. Ele podia dizer, agora, que sentia aquelas coisas. E, também, que Roxas, de certa forma, sentia o mesmo. Como se os dois tivessem corações, e como se eles batessem na mesma freqüência. Não importava se era verdade ou não. O que importava era que aquilo dava a ele uma sensação confortável e gentil.

            A sensação de não estar sozinho... de ter alguém ao seu lado.

            Ele se lembrou, então, da última coisa que disse a Roxas.

            “Nós nos encontramos na próxima vida”.

            E ele havia dito que sim, que eles se encontrariam. Ele não havia mudado, de verdade.

            “Tolo”, Axel disse, naquela vez. “Só porque você tem uma próxima vida”.

            Roxas agora vivia em Sora. E Axel desapareceria em meio às sombras.

            Mas desapareceria por sua própria vontade. Abraçando seu fim com suas próprias mãos.

            E, de certa forma, não era ruim. Não estava sozinho. Naquele momento, Roxas estava ao seu lado. E isso lhe bastava. Tê-lo por perto já tornava tudo mais fácil.

            E, naqueles últimos segundos, em que ele permitia sua mente vagar por onde quisesse, finalmente encontrou aquela lembrança perdida.

            A última peça que precisava. Aquela peça que havia desejado tanto encontrar.

            Porque, na sua mente, o sorriso dele agora brilhava como um sol. Ele estava lá, ele existia!

            O sorriso dele... ele parecia muito mais gentil agora.

            Seria aquilo... um chamado?

            Axel não sabia. E, naquele momento, não importava.

            Porque ele apenas fechou os olhos, mantendo aquela imagem em sua mente enquanto seu corpo se desvanecia. Os dois seguiriam em frente, cada um à sua forma.

            E foi com aquele sorriso que ele partiu, enfim. Dando um sorriso por si só.

            Um sorriso de quem não precisava mais acreditar no paraíso. Porque sabia que ele era real.

 

Why kodoku na sora wo miageru no? (Por que você olha para o céu solitário?)

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Notas finais do capítulo

Nota da autora: É, eu vou me arrepender disso... são quase meia-noite e vinte e eu só consegui terminar a fic agora. Admito, ficou um lixo, me perdoem, mas foi o melhor que eu consegui. Beijos a todos, deixem reviews e até a próxima! E, claro, FELIZ AKUROKU DAY! =D



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