É fria. Triste. Como aquelas dores que vêm de repente e dilaceram sua alma, cortando-a em pequenos pedaços, bem devagar. Pra fazê-lo sofrer mais. Pra tornar a dor maior, como se ela pudesse simplesmente crescer mais. Como se ela já não fosse grande o suficiente.

O golpe da espada, pra dizer a verdade, não doeu. Dores físicas superamos com boa vontade e um pouco de coragem. Com aquela determinação forte que brota dentro de nós nos momentos de desespero e luta. Não, essa dor, esse tipo de dor, é fácil de combater.

A que realmente dói é a dor da perda. É essa que deixa em nossa boca o gosto amargo da desesperança. Porque não há alento nem palavras para diminuir essa dor. Porque ela simplesmente nos invade, tirando de nós a vontade de fazer qualquer coisa. De prosseguir. De continuar o caminho.

E sim, eu perdi muito. Por ser quem sou, perdi tudo. Nunca fui capaz de tocar alguém, que não fosse eu mesmo. Se eu apenas tentasse chegar perto, o pó da morte brotava diante dos meus olhos. No fim, somos isso. Eles eram isso. Apenas pó.

E no fundo, eu desejei ardentemente ser como eles eram. Ser pó. Eu queria poder me misturar com todos aqueles que encontrei em meu caminho. Nunca acreditei que meu destino fosse ser só... por isso sempre busquei companhia. Mas eles não suportaram a minha presença... percebi que era demais para aqueles pequenos seres estar perto de alguém como eu. Eles eram pequenos. Eu um gigante.

Mas escutei uma vez vindo deles que a força que possuíam vinha do fato deles se juntarem. Combinavam suas pequenas forças e com elas eles iam à luta. Todos eles. Eu, por outro lado, não tinha com quem me juntar. Era forte demais, e todos sabem que, nesse mundo, os mais fortes são também os que mais sofrem, pois outros não são capazes de acompanhá-los no caminho.

Esses outros... eles estão fadados a ficarem para trás.

No meu caso, eu não podia me dar ao luxo de sequer olhar pra eles. Se estavam atrás, era lá que deviam ficar.

Mas no fundo, eu tinha inveja. Se um deles cai, o outro o ajuda a levantar. Essa é a grande qualidade que sempre admirei nos fracos. Mas, se um dia eu caísse, quem iria me levantar? Estender a mão para que eu pudesse alcançá-la?

Eu estava fadado a viver uma vida sozinha, pois não era capaz de fazer com que alguém, nem mesmo um verme, caminhasse o mesmo caminho que eu, lado a lado. Por ser forte demais, ele se transformaria em pó diante dos meus olhos. E no fundo eu não queria isso. Não queria mortes. Na morte você está sozinho.

No fundo, nem morrer eu queria...

“Eu estou sozinho...

Eu quero ser fraco. E se isso for impossível, pelo menos quero encontrar companheiros que sejam tão fortes quanto eu...

Não estou mais sozinho...

Perdão Lillynette..."