Cripta - o Silêncio das Gárgulas escrita por Pedro_Almada


Capítulo 7
Capítulo 7




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Capítulo 7

 

            Agora o porão estava ocupado, não apenas pelo estranho Pietro, mas também Lorelai, Chad, Klaus e Kari. O quarteto que chegara a pouco havia se acomodado em cadeiras velhas, enquanto o anfitrião, pouco a vontade, permanecia à frente de sua escrivaninha, segurando o jogo de palavras cruzadas com um apego fora do normal.

            - Quem é esse, Lorelai? – perguntou Chad – E por que ele tem tanto medo de nós.

            Lorelai sorriu, servindo-se de um dos docinhos espalhados no chão. Mordeu-o e, sentindo o gosto azedo, cuspiu fora.

            - Ele se auto-intitula O Conspirador – respondeu ela, limpando os lábios – possui um dom que, nós Criptos, nunca vimos antes. Ele nos teme porque... Bem, ele tem medo de tudo.

            Kari arqueou uma sobrancelha, enquanto Chandler permanecia estudando o estranho rapaz em sua escrivaninha, que tentava inutilmente ignorar o grupo recém-chegado.

            - O que O Conspirador faz? – foi Kari quem perguntou dessa vez.

            - Ele possui um talento, digamos, apreciável. Ele pode...

            - Eu posso ver o mundo – Pietro interrompeu, olhando diretamente para Chad e, em seguida para Lorelai – posso ver todas as respostas que os homens procuram. Tudo o que preciso fazer é ficar atento aos sinais.

            Ele se levantou, caminhando aos tropeços até a parede onde seus recortes estavam fixos com pregos e fitas adesivas.

            - Aqui... – ele estendeu os braços, abrindo-os como se quisesse abraçar a sua estranha decoração – todas as respostas... Afinal... Como me encontraram?

            Ele virou-se para Lorelai mais uma vez, sem nunca perder o brilho de medo em seus olhos púrpuro.

            - Você precisa cuidar para que seus informantes sejam mais cautelosos, Pietro – avisou Klaus – um de seus informantes, o mesmo que traz os recortes de jornais e as palavras cruzadas...

            - Magno...

            - Esse mesmo... Bem, ele não resiste a uma pressão psicológica. Não foi difícil arrancar dele o que queríamos saber...

            - Odeio aquele cretino... – falou Pietro para si mesmo, como se fizesse uma anotação particular.

            - Precisamos de você, Pietro – avisou Lorelai, sem mais delongas – precisamos saber quem invadiu a cripta de Berserker. Não se preocupe, pagarei bem por esse serviço. Eu sempre fui generosa, e sabe disso.

            Os olhos de Pietro saltaram de órbita, em um pavor congelante. Seus olhos, antes púrpura vívidos, haviam se perdido em um torpor negro, engolindo seus sentidos por um breve momento. Lorelai sabia que o choque era esperado.

            - A cripta... – murmurou Pietro – então é isso... O governo que cai, como o “comet”... Outro que se ergue... Um que cai, “papa baleado”... Outro que se ergue... “Socialismo”...

            Pietro abriu, novamente, o jogo de palavras cruzadas, fitando a palavra-chave seguinte. “Epidemia que se estende em proporção nacional, ou mesmo, global”.

            O rapaz engasgou, fitando Lorelai mais uma vez, seu tom violeta, agora restaurado, queimando de pavor em sua retina.

            - Pandemia... A queda do governo... A queda de algo poderoso... Uma pandemia... Medo... Cripta de Berserker? Vocês têm certeza?... É claro que tem ou não teriam tido o trabalho de me procurar.

            - O que isso significa, Pietro? – perguntou Klaus, já impaciente – Não temos tempo, você sabe disso.

            - Uma visita... Teremos uma visita...

            - De quem?

            Pietro olhou para o seu mural, onde uma foto de um navio no Píer chamara a atenção de seus olhos minuciosos.

            - Nas docas da cidade... Ao lado da Catedral du Lourette.

            - Está mentindo – disse Klaus – quer nos enganar.

            - Ele não tem motivos – replicou Chad – esse rapaz deve saber muito bem a gravidade do problema em se ter uma Cripta violada.

            - Eu não confio nele.

            - Ótimo. Fique aqui. Eu e Kari vamos buscar esse visitante.

            - Absolutamente! – Lorelai adiantou-se, de braços cruzados – vamos eu e você, Chandler. Acha que vou deixar os Berouros cuidarem de uma peça importante como essa?... E, Pietro, é bom estar certo.

            - Tenho certeza... – murmurou o jovem, amedrontado – eu nunca erro... Para o meu desgosto.

            - Kari, você fica. E fique atenta ao Klaus – Chandler disse sem nenhuma preocupação – não confio nele, você também não deve confiar.

            Kari assentiu. A partir daquele momento, seu olhar se colou ao “braço-direito” de Lorelai, decidida a não perdê-lo de vista.

 

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            - Como aquele rapaz sabe tanto? – perguntou Chad para Lorelai.

            Eles estavam correndo sobre os altos edifícios, em direção ao litoral. Seus pés pousavam com um silêncio incomum sobre o concreto, como se flutuassem sem nunca tocar o chão.

            - Não sei. Acho que esse resposta nem mesmo ele sabe. Mas o fato é que a habilidade dele é preciosa. Ele nunca controla os sinais, apenas os recebe. Um evento importante como a violação da Cripta de Berserker, cedo ou tarde, serviria se sinal para Pietro. Como você mesmo viu, eu estava certa.

            - E como encontrou o garoto?

            Ela deu de ombros.

            - Um dia encontrei um bebê chorão do Forte das Raposas. Os olhos dele eram os mais lindos que já vira. Eu era mais jovem, cuidei dele até a adolescência como uma irmã mais velha faria. Então, quando me dei conta que o garoto não tinha nenhum talento para a lutar, me afastei dele. Era um peso.

            - Era apegado a ele?

            - Ora, Chad... O único sentimento verdadeiro que senti até hoje foi por você. E isso me incomoda. Por isso, quando essa bagunça estiver arrumada, irei matá-lo.

            Chad sorriu, divertido. Em seu íntimo, guardava a mesma opinião, mas não era hora para a discussão entre eles.

            Finalmente alcançaram as Docas. Um barco de pesca acabara de chegar. Chad e Lorelai ficaram observando a distância,  o movimento abaixo deles. Então, como esperado, viram uma movimentação incomum.

            Um grupo de pescadores carregavam um estranho volume preso aos fios da rede. Chad percebeu no primeiro instante ser uma pessoa amarrada aos fios.

            - Aqui! – gritou um deles – Um garoto! Encontramos um garoto em alto-mar!

            Outro grupo de pescadores, entre eles um homem de terno com uma prancheta, veio com urgência, acudir o afogado. Chad apurou os ouvidos.

            - Vamos nos aproximar... Eles estão murmurando – avisou Lorelai – não podemos ouvir daqui.

            Eles saltaram e, discretamente, aproximaram-se das docas um pouco mais. Deslizaram entre os caixotes repletos de peixe, correram até um carro-de-carga e, quando ninguém mais observava, saltaram para dentro de uma redoma de metal, onde costumavam jogar os peixer, naquele momento vazia.

            - Estávamos pescando, quando alguma coisa explodiu no céu. – falou um dos pescadores.

            - Era como se estivesse chovendo fogo.

            - E então alguma coisa caiu no mar, bem no meio da nossa rede.

            Os pescadores falavam todos juntos, agora.

            - Afugentou todos os peixes, rasgou a rede e libertou todos os malditos peixes!

            - Esse garoto caiu do céu! – falou um deles, atônito – como um cometa!

            “Comet”. Chad lembrara-se de ouvir Pietro falando algo a respeito.

            - É ele... – murmurou Lorelai.

            - Você acha? – falou Chad, veemente.

            O homem de tenro ria, ouvindo a história descabida do grupo de pescadores.

            - Ainda bem que pescadores não têm crédito algum – riu Lorelai.

            - Ok. Acha que pode usar um pouco do seu poder, e distrai-los?

            - Posso tentar...

            Lorelai fitou, seus olhos astutos em direção a embarcação. Direcionou sua mão ao mastro. Um pulso de energia percorreu seu corpo e, como um filete prateado rasgando o céu, um relâmpago brotou das nuvens, acertando em cheio a vela. As chamas começaram instantaneamente.

            Estilhaços voaram em várias direções, alarmando os pescadores que, por um breve momento, esqueceram o garoto enrolado em meio à rede, caído no chão como um boneco de trapos molhado.

            - Fogo! – gritou um deles!

            Alguns tentaram acudir, conter as chamas, mas era impossível. Decidiram, então, encontrar um lugar seguro. Um dos pescadores abaixou-se para tirar o garoto do alcance do fogo. Quando olhou para o chão, ele não estava mais lá. Alguém já tinha feito o serviço.

            - Alguém viu o garoto? – perguntou o pescador.

            Ninguém respondeu.

 

            A poucos metros dali, Chad carregava um garoto nas costas, com Lorelai correndo logo atrás dele.


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Notas finais do capítulo

deixem reviews com suas sinceras opiniões, ok?
abraços!