Dias sem Sol escrita por M4r1-ch4n


Capítulo 1
Prólogo




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          O corpo do futuro duque de Liechtenstein balançava levemente dentro da carruagem que se dirigia para a sua casa, o rosto sério de Ludwig virado para a janela para que seus olhos pudessem acompanhar o desenrolar da paisagem ao lado de fora. No entanto, o gesto era meramente mecânico; nem mesmo os minutos finais do belo entardecer daquele dia conseguiam distrair o jovem dentro daquele veículo, absorto como sempre em seus pensamentos. Ele tinha quase certeza das razões que levaram seu pai a chamá-lo de volta, mesmo com uma visita de Sua Majestade tão próxima de ocorrer à Academia Rosenstolz. E, se ele estivesse correto, os próximos dias seriam sombrios.
          As mãos enluvadas de Ludwig pressionaram gentilmente a capa de um livro que tinha no seu colo; ao fazer isso, seus olhos se voltaram para o pequeno volume encadernado em um marrom escuro, com uma etiqueta no canto superior esquerdo onde o nome da obra e do autor estavam marcados: O Príncipe, de Nicolau Machiavelli. Freqüentemente o futuro duque se perguntava por que Orpherus era tão idealista ou puramente inocente; decerto ele também conhecia os mesmos livros clássicos da política, e deveria saber que o povo nunca era unânime o suficiente para conseguir chegar a um consenso sobre suas necessidades e...
          De repente, os olhos violetas de Ludwig se arregalaram ligeiramente, sua cabeça virando para a esquerda no mesmo momento em que a carruagem parava de se locomover. Colocando o livro no banco ao seu lado, o estudante aproximou-se da porta à sua esquerda, afastando a cortina de veludo vermelho que enfeitava o interior para tentar enxergar o lado de fora.
          O tom de laranja que coloria o horizonte já havia desaparecido para aquele lado, fazendo com que os esforços de Ludwig para ver qualquer coisa fossem inúteis, apesar da luz que uma das lanternas presas à carruagem do lado de fora emitia. Em segundos, o rosto assustado do cocheiro apareceu na janela, o homem nervosamente batendo no vidro da porta sem perceber que a cortina estava aberta e que o futuro duque o via muito bem.
          - Senhor Ludwig! O senhor ouviu isso?
          Um suspiro praticamente inaudível deixou os lábios do nobre, que optou por abrir a porta do veículo e descer os pequenos degraus que o separavam do piso de paralelepípedo da rua. Confirmando rapidamente com a cabeça a pergunta que seu cocheiro havia feito, ele estendeu o braço esquerdo, o dedo indicador protegido pela luva apontando uma ponte mais à frente.
          - O tiro veio daquele lado.
          - Então era mesmo um tiro?
          - Sim.
          Os dois não trocaram mais palavras, simplesmente porque Ludwig não achava isso necessário e porque o velho cocheiro estava com medo. Motivos opostos, no entanto, não impediram ambos de notarem que alguma coisa parecia estar descendo o rio, vindo para perto da segunda ponte que a carruagem havia acabado de atravessar.
          Sem qualquer palavra, o futuro duque retirou a lanterna que ficava presa ao veículo, levando-a na sua frente enquanto avançava na direção da margem do córrego. O cocheiro, aterrorizado, foi atrás, temendo que a vida do filho de seu patrão sofresse algum dano.
          A correnteza dali era bem fraca, de modo que demorou até que o que quer que estivesse no rio entrasse no raio de alcance de iluminação da lanterna que Ludwig segurava com o braço estendido, suas botas centímetros distantes da margem do rio.
          - Meu Deus! Um corpo, senhor Ludwig! É um corpo!
          O jovem duque apenas fechou os olhos por um momento, reabrindo-os em seguida e olhando para o cocheiro que agora cobria a boca com as mãos, assustado e claramente querendo sair de perto da margem. Com um olhar duro, ele deu apenas um passo para perto do rio, de forma a iluminar um pouco mais o lugar.
          - Retire esse corpo da água. Imediatamente.
          - Mas, senhor Ludwig...!
          - Eu disse imediatamente.
          - Senhor Ludwig, nós não temos que nos intrometer nesses...
          O rosto de feições severas mas notadamente atraentes do estudante virou-se uma última vez na direção do cocheiro, ligeiramente pálido após a visão do corpo boiando na água. Os olhos de Ludwig se estreitaram, brilhando com a ferocidade que lhe era característica quando estava realmente irritado, um ato presenciado raramente.
          - Se você não retirar esse corpo da água agora e colocá-lo na carruagem, você deixará de servir não só aos Liechtenstein, mas qualquer outra família nobre também. Então entre na água... Imediatamente.
          A ameaça surtiu o efeito desejado, fazendo com que o cocheiro murmurasse alguma coisa enquanto dobrava as mangas da sua camisa e entrava no córrego, andando devagar por desconhecer a profundidade do local. Felizmente o corpo havia deslizado justamente para o lado onde os dois homens se encontravam, e não foi difícil para o velho cocheiro puxar a figura de um rapaz para a margem, assustado ao constatar quão jovem a vítima deveria ser.
          Uma vez que o corpo havia sido colocado na relva da margem, Ludwig trocou a lanterna de mão, voltando lentamente para a sua carruagem. Atônito, o cocheiro recolheu o corpo resgatado do rio nos seus braços do melhor jeito que pôde, andando atrás do filho de seu patrão. O futuro duque recolocou a lanterna no seu lugar original, e entrou graciosamente na carruagem, ajeitando sua longa capa violeta antes de ajudar o cocheiro com o corpo, deitando-o sobre o banco que ficava à sua frente. Uma grande mancha de sangue tingia o uniforme do jovem inconsciente, indo do canto direito superior do seu tórax até próximo do seu ombro.
          - Retorne o mais rápido possível à mansão dos Liechtenstein. Se essa pessoa morrer, a culpa será colocada única e exclusivamente sobre você.
          - Senhor Ludwig!
          - Vá!
          Piscando depois daquele comando subitamente enérgico e tão diferente dos normais do seu jovem patrão, o cocheiro apenas concordou e correu de volta para seu lugar, incitando os cavalos a prosseguirem viagem imediatamente. O futuro duque voltou a se sentar no lugar de antes, cruzando as mãos enluvadas sobre o colo enquanto observava o corpo que lhe fazia companhia na carruagem.
          Calculando o tempo de viagem dali até sua mansão, Ludwig acreditava que iria encontrar todos presentes na sua casa, incluindo um dos seus tios por parte de pai que estava passando aquela semana com o irmão. Ele era um médico formado na Alemanha que provavelmente lhe seria muito útil dentro de alguns minutos.
          Porque Ludwig certamente não desejava perder seu maior rival e oponente para o ingresso no Strahl de uma maneira tão infame quanto aquela; Orpherus deveria viver para aí sim ser derrotado por ele.



Continua...

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