Capítulo 23 – Artimanhas

- O que houve? – Esme perguntou. – Onde está a Bella? Essa é a Leah? – Ela disse desnorteada.

- Fomos vítimas de uma emboscada. – Edward disse azedo, enquanto ajudava tirar a pantera do carro. – Pai, abra o caminho até o quarto de Leah, por favor.

Carlisle voou escada acima, retirando alguns móveis do caminho e deixando a cama livre para que a pantera fosse colocada. Edward, Matt e Jasper carregavam-na, enquanto Alice, agora com a ajuda de Esme, empilhavam algumas coisas na garagem. Eles se reuniram no quarto onde Leah estava, enquanto Carlisle verificava o estado da transmorfa.

- Edward, querido, antes que Carlisle diga qualquer coisa, não se preocupe com Bella. Não agora. – Esme instruiu.

- Esme tem razão. Não adiante querer invadir as terras deles e tomá-la de volta, isso só vai piorar as coisas. Nós vamos pensar em como agir. – Carlisle falou, enquanto olhava atentamente o dardo que Matt lhe entregara. – Usaram um tranqüilizante comum, mas uma dosagem alta até para um animal desse porte...

- Quanto tempo vai durar o efeito?

- Não sei, Matthew. Cerca de umas quinze horas se eu estiver certo sobre a dosagem e o medicamento usado. – O vampiro falou. – Se usaram o mesmo medicamento em Bella, provavelmente ela irá dormir em torno de seis à oito horas.

- Eu duvido que tenham usado só isso. – Matthew disse baixo, afagando as orelhas da felina. – Jacob é o tipo que procura fazer mais para prevenir. Bella vai dormir por no mínimo oito horas, se não mais.

- Então durante essas oito horas e provavelmente mais duas, ela estará salva. – Esme sorriu.

- O que Esme quer dizer é que quando ela acordar, ainda vai estar grogue. Ele não vai fazer mal a ela. Lembre-se que ele também precisa dela.

(...)

Jacob andava de um lado para o outro na sala de estar. Estava sozinho, eram mais de nove horas da noite. Todos os funcionários haviam se retirado e ele ficara encarando o retrato de sua família na grande sala, enquanto parte de si se debatia sobre como agir a partir do que ele fizera na tarde do mesmo dia. Algumas imagens eram repassadas em sua cabeça, ele se lembrava dos golpes que o vampiro Edward lhe dera e dos golpes que a própria Bella havia desferido.

Ela está mais forte. Mas o quão mais forte? Ele se perguntava.

Em seu quarto, Bella dormia quase profundamente, alheia ao que acontecia ao seu redor. Seu corpo estava pesado e sua cabeça parecia querer desligar também. Mas havia um resquício de sua mente, bem lá no fundo, como se fosse um grão de areia num espaço vazio, havia um sinal de consciência, mas que não era suficiente para despertá-la por completo.

- Você vai ficar boa o suficiente para nos darmos bem, Bella. – Jacob deslizou um dedo por sua face tranqüila. – Você vai ser muito dócil daqui para frente.

(...)

Alice estava sentada no sofá da sala com o olhar distante. Desde que Bella fora seqüestrada, impôs a si mesma que tentaria ver as opções que o futuro lhes reservava. Edward focava sua mente a buscar por um sinal de que Bella estivesse bem ou uma forma de se comunicar com ela, mas ainda não era possível. Desde o atentado, passaram-se em torno de oito horas. Eram cerca de duas horas da madrugada quando Emmett, Rosalie e Tanya chegaram à mansão.

- Eu não vejo nada. – Alice murmurou. Porém Edward ficou em silêncio, concentrado naquele fraco sinal que ele sentia. Era como se uma pequena luz estivesse piscando no horizonte em meio a uma forte tempestade.

- Bella. – Ele deixou o nome escapar pelos seus lábios.

- O que foi? –Alice saltou para o lado dele.

- O que sente? – Esme perguntou.

- Como se fosse um farol piscando bem distante. Eu acho que é Bella. – Edward disse devagar.

- Espera! – Alice soltou um assovio baixo. – Eu estou vendo um lobo, normalmente eu não consigo vê-los.

As imagens passavam rapidamente perante Alice, porém, eram nítidas o suficiente para que ela soubesse que aquele lobo estaria envolvido, cedo ou tarde, com aquela guerra. Edward observava os flashes na mente da vampira, porém nenhum deles mostrava algo mais significativo, a não ser um lobo.

- O que você está vendo?

- Eu não tenho certeza, Jazz. – Ela falou. – Mas eu vejo um lobo e Bella.

- Jacob? O lobo preto é Jacob?

- Esperem! – Matt desceu a escada. – Você disse lobo preto. Jacob não é preto. É castanho. O único lobo preto que tinha no bando era Sam Uley, mas ele foi...

- O que houve com ele? Morreu? O vira lata o matou? Ele fugiu? – Emmett rosnou.

- Não! – Matt exclamou. – Ele foi “afastado”.

- Como assim... Afastado? – Tanya perguntou.

Matthew deu um suspiro longo e começou a explicar.

- Algum tempo depois da última guerra, da qual vocês estavam presentes, Sam contestou uma ordem de Jacob. Sam Uley era o segundo lobo descendente direto dos verdadeiros lobos da tribo, então quando ele foi contra algo que Jacob dissera, ele reclamou para si o poder de um alfa. – Matt tremeu por um instante. – Só que Jacob já era ambicioso demais e resolveu afastá-lo.

- Oh céus, querido! – Esme encarou Matt com um olhar de compaixão extrema. – Foi isso que tentaram fazer com você?

- Existe uma lenda da tribo que diz que o grande líder da tribo fez seu espírito guerreiro assumir a forma de um lobo, então um dos membros da tribo inimiga encontrou o grande lobo. Eles mataram o lobo, deixando o espírito vagando. – Matt explicou novamente, ignorando o comentário de Esme. – Com Sam fizeram o mesmo, só que não mataram sua forma de lobo.

Alice voltou às visões que tivera anteriormente e ficou repassando-as em sua cabeça. Agora com a explicação de Matthew, a figura do lobo preto aparecia mais vezes e em uma das visões, ele parecia dormir em algum lugar. Novamente, a visão de Bella surgiu.

- Eles não mataram o lobo, eles o mantém sedado. – Alice suspirou.

- Faz sentido. O sedativo o mantém desacordado e o deixa fora. Assim ele não atrapalharia... – Carlisle pensou.

- Mas ainda resta saber como Jacob vai manter Bella sob seus cuidados, já que ela consegue fazer estragos. – Rosalie falou. – Quando ela acordar, ela pode muito bem fugir de lá.

- A não ser que a mantenham sedada, no máximo grogue. – Esme falou.

- Não faz sentido...

- Nada faz sentido, Rosalie. – A matriarca disse. – Para alguém como Bella, o sedativo vai deixá-la com o corpo grogue, não vai desligá-la completamente...

- Então poderemos dar um jeito de pegá-la. – Edward falou.

- Qual a função do lobo preto na sua visão?

- Não sei Emm, minhas visões não vêm com manual de instruções. –Alice disse baixo.

- Só se o objetivo for colocar ele no lugar do Jacob. – Matt falou. – Não tem outra coisa a ser feita. Sam era contra tudo aquilo que Jacob faz. Acho que nós precisamos encontrá-lo e tentar tirá-lo desse estado que ele se encontra...

- Mas antes vamos ver Leah...

Os vampiros subiram até o quarto. Matt foi o primeiro a chegar e viu que Leah começava a mexer sua calda. Ele ajudou-a a se erguer, depois sentou-se ao lado dela. A pantera olhava a sua volta atordoada com o que havia acontecido.

- Ela ainda está meio grogue. – Carlisle falou. – Mas o metabolismo dela é acelerado, por isso acordou antes.

- Lee, como se sente? – Matt perguntou.

Não... Não sei. Meu corpo está pesado. Ela pensou.

- Ela está com o corpo pesado. – Matt falou. – Consegue desfazer sua transformação?

Seja lá o que me deram, deixa meu corpo muito pesado. Não consigo, Matt. Ela disse mentalmente a ele.

- Querida, por favor, tente. – Esme disse gentilmente. – Os meninos sairão do quarto, assim te ajudamos com um banho e te vestimos.

- Vai se sentir mais confortável, Leah. – Rosalie falou suavemente.

(...)

- Hum... – Um grunhido saiu dos lábios de Bella.

- Acordou querida? – Jacob disse de uma forma extremamente carinhosa. – Sabe, não gostei de ter fugido e se juntado aos frios. Isso me magoou, muito.

Bella quase não tinha forças para piscar, ela queria responder, gritar com ele, porém seus lábios pareciam querer ficar mudos. Jacob riu calorosamente ao ver o esforço que ela fazia para pronunciar uma sílaba.

- Assim como Sam, vou manter você quietinha. – Ele disse maliciosamente. – E então, depois que tudo estiver pronto, poderemos desfrutar de uma noite deliciosa juntos. – Ele traçou o contorno das bochechas e depois do rosto de Bella, que fechou os olhos e grunhiu novamente.

Bella ponderava. Não sabia se o melhor seria não mostrar a ele o quanto estava forte, ou se poderia achar alguma forma de mostrar a Edward que estava bem. Mas Bella não sabia quanto tempo iria agüentar toda essa melação que Jacob armara, não sabia também se ela iria durar tanto tempo assim nas mãos dele, uma vez que Jacob assumira uma posição totalmente diferente de antes. Agora ele parecia um verdadeiro tirano.

- Pena que não pode falar, mas prefiro que você fique quieta. – Ele disse baixo, com um sorriso diferente nos lábios e um brilho escuro no olhar.

Pena que só o meu corpo não responde. Bella resolveu sair da mudez mental. Mas ainda bem que eu posso fazer você me ouvir.

- Como é que é? – Ele rosnou. Eu não contava com isso.

Pois é, parece que está surpreso. Sabe que isso não vai durar muito tempo né? Eles vão me encontrar. Ela falou mentalmente. E eu vou voltar para os braços de Edward. Ela completou, mas decidiu omitir esta parte.

- Eles não vão ter coragem de passar pela fronteira.

Eles não. Mas Leah tem. Bella deixou uma risada fluir por sua mente, ao mesmo tempo em que a mente de Jacob parecia se encher de um barulho ensurdecedor. Novamente, aquela pontada atingia sua cabeça. Ele sabia que Bella estava fazendo aquilo, mas dessa vez ela parecia não querer parar.

- Pare! – Ele rosnou.

Já vou avisando. Não vai conseguir chegar perto de mim, Jake. Eu não vou deixar. Ela teimou e ele saiu do quarto batendo a porta. Edward, Esme, Leah, qualquer um... Estou bem, mas eu acho que ele me deu algum calmante forte. Não sei quanto tempo mais vou agüentar.

“Vai dar tudo certo querida, Edward saberá que você está bem.” A voz de Renée soou na cabeça de Bella e ela se sentiu aliviada. “Relaxe, nós vamos estar de olho e você saberá se ele tentar alguma coisa.”

Obrigada, mamãe. Bella agradeceu e deixou sua mente relaxar um pouco.