Kumo no Ito escrita por M4r1-ch4n


Capítulo 1
Prólogo




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          O cabelo negro caía sobre os seus olhos, desfiado com navalha de um jeito que não era recomendável para ninguém na sua posição. Posição essa, aliás, que ele já não tinha mais.
          Amassando o pequeno bilhete que ele tinha nas mãos, o jovem acabou por cair no chão, apoiado nos seus joelhos e mãos. Sozinho no pequeno quarto onde ele havia passado as últimas semanas, o chão de terra batida começou a ser marcado por pequenas lágrimas, jóias cristalinas que caíam nas próprias mãos ou no pedaço de papel que tinha preso de maneira firme entre os dedos de vez em quando.
          Ele era o culpado por tudo aquilo. Ele sabia que era e ninguém poderia dizer o contrário. Mordendo o lábio inferior enquanto deixava que as lágrimas caíssem sem ninguém por perto, logo o chão também ficou enfeitado com pequenos filetes vermelhos.
          Ouviu batidas na porta. Erguendo a cabeça, apenas a parte direita do seu rosto era visível, não estando atrás das mechas de cabelo escuro como a noite. Usando as costas da mão direita para limpar o sangue que havia no seu lábio por causa do corte que havia feito em si mesmo com os dentes, ele pediu que ninguém entrasse. Ainda.
          Nenhum samurai deveria ser visto naquele estado, com as mãos sujas de terra, a roupa em desalinho e o rosto marcado por lágrimas. Bom, ele realmente não era mais um samurai, mas nada impedia que ele continuasse a se comportar no dia a dia como um deles.
          O bilhete foi rapidamente enfiado em uma das dobras do seu obi enquanto ele atravessou o quarto em direção à pequena bacia com água que ficava em um dos cantos. Abaixando-se na frente da mesma, ele lavou as mãos e o rosto, esfregando os lábios com cuidado. Agora, apenas uma pequena linha vermelha poderia ser vista nos mesmos, mas ele não tinha um espelho para conferir.
          Colocando uma pequena adaga que sempre carregava consigo dentro do próprio kimono, ele arrumou seu cabelo com as duas mãos, as mechas negras caindo do lado do seu rosto ainda jovem e na frente da parte esquerda novamente. Olhando para a porta, ele se dirigiu para a mesma, abrindo-a sem aviso.
          A jovem que estava do lado de fora olhou para cima, assustada com o repentino movimento. Muda com a súbita alteração que enxergou no rosto do jovem que estava no quarto, a simples moça não disse nada, assistindo ao modo eficaz como o rapaz andava pelo quarto, recolhendo seus pertences.
          Nem parecia que ele havia sido acometido por uma febre terrível semanas antes. Ou que havia chegado muito perto de perder a vida nessa batalha contra a doença.
          Perdida nos seus pensamentos, a dona da casa abriu a boca para protestar quando viu que a katana do jovem samurai já estava presa ao seu corpo, da mesma forma que estava quando ele havia chegado àquela casa ardendo em febre, mas nenhum som saiu. Ele passou sem um segundo olhar pela mulher, caminhando em direção a porta da humilde casa.
          De repente, ele parou, calçando suas sandálias. Do último cômodo onde estava, praticamente fora da casa, ele fez uma mesura profunda para a moça, ainda sem saber o que estava acontecendo. Finalmente, ela conseguiu murmurar uma sentença coerente, quando rapaz moreno estava pronto para se desvirar e sair dali:
          - Mas... Baba-san. O quê aconteceu? O quê era aquele bilhete?
          - Meu mestre morreu.
          Ela se calou imediatamente, levando as duas mãos ao coração, espalmadas contra o mesmo.
          - Kami-sama... Mas e o senhor? Ainda não está totalmente recuperado!
          - Não se preocupe comigo, eu não corro mais riscos. Sou eternamente grato por todo o cuidado que teve comigo, mas não posso mais ficar aqui. - ele respondeu com a voz séria, embora seus olhos começassem a dar indícios de que ele poderia começar a chorar em breve - Se me descobrirem aqui, com certeza sua casa será desonrada. Hontou ni arigatou gozaimasu.
          Com mais uma reverência, o jovem saiu para a rua, virando à esquerda e iniciando a sua caminhada, para algum lugar que nem mesmo ele conhecia. A mulher correu para a rua também, olhando a figura que diminuía enquanto caminhava.
          O agora ronin sentia o olhar terno queimando nas suas costas, mas não se voltou. Ele não tinha mais um lar, não tinha mais para onde retornar. Seu mestre havia sido morto em uma batalha onde não pudera participar, e agora, sua simples presença em uma casa poderia desonrar famílias inteiras.
          Sua jornada para remediar esse problema havia começado. E o jovem Baba Yuji, samurai de futuro promissor mas agora somente um ronin desprezado, não tinha a menor idéia do que o amanhã lhe reservava.



Continua...

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Notas finais do capítulo

Nota: Yuji (nome) Baba (sobrenome) é o nome verdadeiro do Ni~ya. Todos os nomes verdadeiros serão utilizados.



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